Por que sou contra as cotas raciais para o ensino público superior e serviço público?
O assunto obviamente é
polêmico, mas se formos objetivos e quisermos, realmente, minorar as distorções
existentes no país, quiçá em um futuro distante extingui-las mesmo, o critério
para incentivos de toda ordem (educacionais, emprego, distribuição de renda
etc.), não deveria ser racial e sim, social, i.e., de acordo com a renda
familiar. Porque, a bem da verdade, dependendo da região e estado, quem está no
patamar inferior da sociedade em termos de renda, nem sempre é de uma raça e/ou
etnia específica e também porque em várias outras áreas do país a tendência
predominante, de longe, não é o negro ou o branco, mas sim o mestiço, no caso,
entre brancos e negros, o mulato que, estranhamente parece ter sumido de nosso
vocabulário social cotidiano onde todos que se veem como 'excluídos' preferem a
designação negro, mesmo sem nem sempre ser um. Nada contra, mas esta divisão
rígida é sim uma importação cultural de outra realidade onde a cisão foi muito
mais abrupta. E antes que me acusem de insensiblidade, não se trata de negar o
racismo, mas de compreender a forma fluída e diferenciada com que ocorreu no
Brasil. Precisamos ser mais específicos quando se trata de criar institutos
para desenvolvimento social no país, sob o risco de, se não o fizermos,
criarmos outra segmentação que anule os propósitos para os quais foi criada. Se
em determinada região, a maioria mais empobrecida da sociedade é constituída
por negros, então, as cotas sociais, melhores e mais abrangentes do que as
cotas raciais atingirão o objetivo de ajudá-los e, se em outra região for outro
grupo étnico, branco, não-branco, pardo, amarelo etc., as cotas sociais
novamente serão mais justas que as raciais. Estas ainda têm como efeito
deletério o fato de criar um estigma de incapacidade associada à raça, enquanto
que se trata na verdade, apenas de falta de oportunidades devido à desigualdade
de renda, uma vez que, geneticamente falando, todos temos as mesmas condições.
O que nos separa é o abismo socioeconômico que pode ser sanado por institutos
com melhor foco e menos ideologia.