O comentário acima foi extraído de um guia para estudo de geografia americano. E diferentemente do que se diz por aqui, o “analfabetismo geográfico” do americano médio não deriva de um preconceito infundado por este cidadão em relação ao resto do mundo, mas por uma proposta educacional equivocada.
A Geografia, assim como outras disciplinas análogas, História, Economia, Sociologia e Antropologia são incluídas em um conjunto genérico chamado Estudos Sociais e, consequentemente, o nível de especialização cai. Ainda mais se levarmos em conta de que a própria Geografia já é, de per se um estudo generalista (contemplando desde a climatologia aos estudos urbanos, p.ex.), a generalização suplanta qualquer tentativa de aprofundamento e especialização. E o tipo de profissional requisitado será menos expertise e mais conhecedor de assuntos gerais.
Não desprezo esta perspectiva, mas temos que reconhecer suas vantagens e limites. Para um mundo em crescente Globalização, a ignorância sobre outras regiões globais fecha um tipo de ciclo. Líderes populistas como Donald Trump que advogam uma espécie de isolacionismo e egoísmo diplomático — A América em primeiro lugar — reforçando a ignorância sobre seus vizinhos e outros problemas mundiais que estão relacionados à própria atuação de seu país. Não precisamos ir longe para percebermos que a última grande leva migratória de refugiados à Europa tem a ver com a Guerra da Síria promovida, em parte, por EUA e Rússia.
Em que pese a importância que dou ao tema discordo da obrigatoriedade do ensino de geografia. Acho que os currículos modernos em um mundo de crescente especialização e demanda por mão de obra especializada deveria ser modular. Mesmo porque o básico sobre conhecimentos gerais pode ser obtido pelas diversas mídias e canais disponíveis, dentre os quais o YouTube é um dos melhores, ou sites como Quora para pesquisas etc.
Mas este alerta deve ser estendido aos brasileiros, cujas tentativas de reformulações do ensino pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC), cujas tentativas remontam ao Governo de FHC, com os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) que enfatizavam o estudo por eixos temáticos, como meio ambiente, sexo, ética etc. Temas transversais são úteis e conectam diferentes disciplinas, mas o risco de um mau uso é quando se diminui a riqueza e profundidade em torno de um discurso simplista e homogêneo, coisa distante da realidade e da verdade.
Muitas narrativas acadêmicas, que não passam de elaborações ideológicas mais rebuscadas acabam sendo empurradas por pedagogos em tais reformas. Dos ditos PCNs se passou para a atual Base Nacional Comum Curricular (BNCC) nos governos petistas, especialmente com a direção de Renato Janine no MEC e agora permanecem no governo Temer.
Muitos grupos de oposição, sejam liberais ou conservadores têm posição claramente contrária a imposições e conteúdos como a Ideologia de Gênero inscritas na BNCC, mas não atentam para o conjunto que deteriora a visão tradicional e mais ampla. O governo sinaliza de modo ambíguo introduzindo disciplinas como filosofia, sociologia que em uma grade curricular saturada de disciplinas sobra pouco tempo para o aprofundamento das que já existiam. Então, ao invés de enriquecer as disciplinas de Geografia e História temos menos tempo para elas e mais para outras que são costumeiramente utilizadas por doutrinadores marxistas. E isto que nem cheguei a mencionar a redução das disciplinas de biológicas e exatas durante a semana.
Meu alerta vai para vocês que dizem se preocupar com a educação em geral: parem de ver só a questão da sexualidade, que tem sua importância inegável, mas vejam o conjunto pernicioso das reformas.
Anselmo Heidrich
21 ago. 2018
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