terça-feira, janeiro 31, 2017

Lemingues Políticos


Se venda casada for crime, a "venda casada em política" é uma burrice só. O que mais vejo em redes sociais, especialmente no facebook é gente se posicionando visceralmente contra Donald J. Trump ou favoravelmente a este, como se todas suas pautas estivessem umbilicalmente ligadas, como se suas posições fossem um todo harmônico, uma política orgânica. Ora! Isto não existe. O que existe e é plenamente factível e, parcialmente, defensável são tópicos que, para leitores cautelosos podem ser desmembrados, modificados, aprimorados etc. 

Alguns diriam que isto deturpa a política, mas cá entre nós, isto deriva de uma visão purista da política, que bem sabemos ser falsa. Política contém planos, estratégias, acomodações, ponderações, envio falso de sinais, dissimulação etc. Já a fé, a militância apaixonada pouco tem disto, sequer compreende isto. O que não quer dizer que não tenhamos que nos empenhar naquilo que acreditamos como melhor alternativa só porque ela não tem uma essência perene e superior. 

Eu, particularmente, vejo a proposta de avaliação da imigração e maior controle como sensata, mesmo que, infelizmente, se cometa injustiças ao barrar gente honesta a entrar nos EUA. Efeitos colaterais podem ser indesejáveis, mas toleráveis se correspondem a causas maiores. E a segurança das pessoas é uma delas, a maior. Por outro lado tenho uma visão antagônica ao que o protecionismo produz, mesmo que tenha, porventura, efeitos positivos no curtíssimo prazo. Isto não paga o que virá depois.

Quanto à propaganda geopolítica de Trump (já que ainda não entrou claramente em operação) é alvissareira, embora não se trate de nenhuma panaceia. Ter que abraçar às oligarquias que Putin representa na Federação Russa não é nenhum avanço para a causa da Liberdade, no entanto pode ser um remédio amargo contra o caos e a violência reinantes no Oriente Médio que foram, parcialmente, produzidos pelas próprias atuação e pressão externas.

Por outro lado, um acirramento da disputa comercial com a Alemanha e a China pode levar a uma crise maior ainda que favoreça, justamente, economias estatais como a da Rússia e dê uma guinada institucional no próprio EUA. Seus efeitos podem ser imprevisíveis. 

Há pontos interessantes e outros que causam temor, mas não somos experts em vários assuntos para opinar de modo terminante sobre quaisquer um desses assuntos. Quanto mais colocá-los em um bloco coeso que defina o caráter de um governo. Não é porque o sujeito é antipático ou grotesco até que isto irá guiar minha opinião por uma oposição essencial. Se a modinha é tola, uma anti-modinha só por sê-la não é senão um reflexo preguiçoso de quem se incomoda com a especulação e curiosidade. 

Na boa, a impressão que dá é de um bando de desocupados discutindo uma partida de futebol após seu término, como se todos soubessem tudo de antemão. Um conselho, deixem de compartilhar tanto e "curtir" para ler um pouco mais. 

Anselmo Heidrich


quinta-feira, janeiro 26, 2017

A Estratégia de Contenção Americana está Viva e Forte




Then again, campaign rhetoric doesn't always match action taken once in power, especially when it comes to policies rooted in geopolitical realities.

Uma coisa é palanque, outra é ação.                       

Este texto da Stratfor, sobre a estratégia de contenção americana mostra como esta política externa com relação à Rússia foi pouco alterada desde o Pós-Guerra, mas apenas se manteve em stand by quando a Rússia enfraqueceu com o fim da URSS, mas que tão logo ela se refez, os EUA avançaram pelo leste da Europa com novas alianças da Otan.                        

E, ao contrário do que a mídia conservadora repetiu incessantemente sobre Obama, seu governo não foi 'covarde', 'omisso' ou algo do tipo. A Rússia cresceu enquanto os EUA se concentravam (e gastavam) no Iraque e no Afeganistão. Obama tinha que fazer frente a um poder russo ascendente e como fazer isto senão procurar alguma parceria com Moscou (desativação de arsenal atômico) e reduzir a presença americana no Oriente Médio (Iraque e Afeganistão)?                       

Mas ali não tem 'mocinho', são só traíras... Os EUA foram longe demais (em minha opinião) ao apoiar protestos anti-Kremlin no quintal russo: a Ucrânia. Foram responsáveis indiretos pela deposição do presidente ucraniano pró-Rússia Viktor Yanukovich. Aos olhos de Washington, a Rússia cresceu demais e a partir dali, a oposição de Moscou foi sistemática. Resultado da história, EUA tendo que se concentrar demais nesta disputa e perdendo espaço, gastando mais e diminuindo sua influência. Por que Trump? Porque, aparentemente, implica em uma mudança estratégica nisto tudo. E nisto, eu torço pelo seu sucesso, mas nada é tão simples assim...                       

Embora Trump ataque a Otan há aliados importantes na Europa e a divisão pela qual passa o continente, da qual o Brexit - saída do Reino Unido da União Europeia - é só um sintoma vai requerer uma estratégia de defesa, principalmente para os países fronteiriços mais a leste. Não é só a Rússia, há toda uma crise humanitária decorrente da Guerra da Síria e a política sobre o Oriente Médio é parte disto. Como coadunar esta defesa regional (europeia), a influência americana no O.Médio e uma aproximação com a Rússia é que mostrará se Trump veio ao que diz. Torço para que sim, mas isto não significa tietagem ideológica, como se vê por aí e sim ceticismo com reconhecimento das chances que podem surgir.


terça-feira, janeiro 24, 2017

Entrevista de emprego com deus



Bush, Obama and Trump: 

George Bush, Barack Obama and Donald Trump are going for a job interview with God.

God asks Bush: “What do you believe in?”

Bush replies: “I believe in a free economy, a strong America, the American nation and so on ...”

God is impressed by Bush and tells him: “Great, come sit on the chair on my right.”

God goes to Obama and asks: “What do you believe in?”

Obama replies: “I believe in democracy, helping the poor, world peace, etc. ...”

God is really impressed by Obama and tells him: “Well done, come sit on the chair on my left.”

Finally, God asks Trump: “What do you believe in”?

Trump replies: “I believe you're sitting on my chair.”


sexta-feira, janeiro 20, 2017

A Cor do Mundo


O MUNDO É MULTICOLOR, multiculturalista para usar um palavrão da moda (na maioria das vezes confundido com sociedade multicultural) sempre foi um agregado e não uma união. Por mais que se odeie o credo muçulmano, como tendo uma essência intrinsecamente violenta (e se esquece com facilidade do Velho Testamento da Bíblia), antes de ajoelhar em direção à Meca, um pashtun cresceu nas suas tradições locais. O talebã, inclusive deu uma “bola fora” ao tentar proibir um “jogo bárbaro”, o polo jogado, algumas vezes, com o crânio do inimigo. As tribos se levantaram e disseram isso não! Mas estas mesmas tribos derrubaram o governo comunista que, dentre outras coisas cometeu o sacrilégio de alfabetizar todas as mulheres do país lá pelos anos 80. É estranho quando se fala que o mundo tem uma cor predominante, que tem uma ideologia vencedora, que tem um devir, seja ele azul ou vermelho, como tolos acreditaram no passado. E agora, todos se rendem ao laranja, menos os eternos dependentes do estado-mamãe-providência, a esquerda em geral. Mas ei! Espere aí, o Rei-de-Topete-Laranja que prometeu financiar obras para restabelecer o crescimento da economia? E isto não é o que, senão o que os Democratas sempre fizeram nos EUA? Só há uma razão para que se doure tanto a pílula trumponiana: por mera oposição aos Democratas, sem sequer ver o que representa um misto de gasto público e protecionismo econômico. Claro que nesta briga de facões ideológicos, o que menos se vê é foco no problema ou situação e basta digitar Donald Trump no buscador que virão escândalos sexuais e discursos contra a imigração ilegal, esta que já era devidamente tratada com rigor pelo seu antecessor (veja porque aqui).
Talvez o governo de Trump seja mesmo uma guinada histórica na ordem política
internacional, mas quem acha que isto tem a ver com anti-globalismo está torcendo por um herói, ao melhor estilo do caudilho latino-americano criado para dar esperança contra outro espantalho político, um verdadeiro hoax ideológico criado para vender livros e vídeo-aulas, uma falácia intitulada globalismo. O mundo não é laranja, no máximo ostenta cores diversas, como na fantasia de um palhaço.




Preconceito rasteiro contra eleitores de Donald Trump



Este texto peca pelo seu extremo simplismo. Em primeiro lugar, não simpatizo com Donald Trump e rejeito, veementemente, seu discurso protecionista que, ao contrário da cortina de fumaça de escândalos sexuais e a questão da imigração, toca em pontos sensíveis à ordem mundial da globalização. Mas acusar seu eleitor de limitação intelectual ou, eufemisticamente, baixo nível de instrução é puro preconceito. Eu gostaria muito de ver a pesquisa, os dados nos quais se baseou a autora, se é que existem e se é que ela visualizou algo realmente... E podem ter certeza que se existissem, teríamos uma surpresa ao ver que muito dos votos ao candidato derrotado podem não ter sido de parcelas "melhor educadas" da sociedade americana. 



A educação é importante, ninguém é louco para negar, mas tecer análises simplistas, unidirecionais, com causa e efeito firmemente detectadas (baixo nível de instrução = voto conservador e/ou posturas pró-repressão) descartam a possibilidade de que o avanço de uma reação à imigração e ao comércio externo tem muito mais a ver com o descontrole das políticas de integração cultural em países que são o principal destino de imigrações e o aumento da criminalidade, bem como o desemprego. Veja que não estou limitando meu comentário aos EUA e o fenômeno Trump, pois se observarmos a Europa como um todo, isto já está acontecendo. 



Portanto, seria melhor que a educação fosse vista sim com sua importância fundamental, mas sem egocentrismo. A educação, assim como outras partes do sistema social é peça de uma engrenagem. Se ela travar ou estagnar, assim como OUTRAS PARTES, põe em risco todo o sistema. 

Cf. Rota 2014 - Blog do José Tomaz: Claudia Costin: "Trump e os presídios, qual o pape...: Evan Vucci/Associated Press Donald Trump discursa em cerimônia em Washington Folha de São Paulo Tivemos uma semana bastante agitada, que...

quinta-feira, janeiro 12, 2017

Movimento de Salvação da Civilização Ocidental o CARALHO!


Ideologia de Gênero não tem raiz na contracultura americana que, aliás, se fortaleceu em função da Guerra do Vietnã, uma burrada americana. Dupla, pois os soviéticos não agiram diretamente e os americanos que se queimaram. Burrada feita, saíram de lá deixando seus aliados do sul serem massacrados. 

Donald Trump não é conservador. Conservador que se preze tem ética e preza pelos valores familiares. Digam-me o que no histórico deste bolinador tem a ver com isso. Para quem defende o liberalismo e é contra o estatismo, nada mais distante também, pois o sujeito é contra a abertura comercial e demoniza seu principal parceiro econômico, a China. Coisa que, aliás, sua rival Hillary dizia o oposto e para ganhar votos foi na onda pregando um protecionismo a la Kirchner também (inclusive para ganhar votos de B.Sanders). 

Le Pen não tem nada a ver com Civilização Ocidental entendendo esta como reformatada pelos princípios iluministas. Sua filiação às ideias nacionalistas e fascistas é explícita e não sou eu quem digo, mas os próprios partidários dela. De defesa da Civilização Ocidental contra o totalitarismo/fundamentalismo islâmico não tem nada, mas só a defesa de um autoritarismo ocidental. Se for isto que pregam, basta pegar modelos dos anos de chumbo na Am.Latina que há de sobra...

Há sim reação, mas ela não é barulhenta, não é histérica. Acompanhem a política feita na Suíça, na Austrália e verão como se reage. Só que isto não dá IBOPE, não dá treta, coisa que virou comum na internet. Infelizmente, nossa nova direita não cresceu, apenas se adaptou para brigar com a esquerda como se estivesse no programa do Ratinho ou da Márcia Peltier.

CF. BLOG DO ALUIZIO AMORIM: O MEGA MOVIMENTO DE SALVAÇÃO DA CIVILIZAÇÃO OCIDEN...: Os fatos indicam que nesta segunda década do século XXI o mundo ocidental dará uma extraordinária guinada política com um impacto geopolít...

terça-feira, janeiro 10, 2017

Para que serve o poder público?


Certa vez andava com meu filho na nossa rua, uma dessas ex-servidões em Florianópolis e ele me perguntou por que ela estava toda esburacada. E eu aleguei a ação da chuva, do tempo etc. Daí, na maior ingenuidade me disse, “por que não arrumamos então?” E eu respondi que não era nossa tarefa, que a prefeitura cuidava disso que já pagav... “Prefeitura? O que é prefeitura?”, ele me interrompeu. Essa, eu confesso, foi a pergunta mais difícil que tive que responder. Como explicar algo tão abstrato a uma criança de 3 anos (hoje já com 4) que existe algo que não é alguém ou alguns que são incumbidos de fazer algo por nós, porque nós financiamos e deixamos de fazer nós mesmos o que, se juntássemos esforços locais faríamos melhor e mais rápido? Enfim, passou e faz tempo que não andamos na nossa rua e preferimos trilhas onde fica mais fácil, muitíssimo mais fácil falar de princípios de geomorfologia do que deveres do agente público.
Dias atrás conversava com minha professora, educadora física, uma pessoa que já fez três cursos superiores e não para de estudar. Ela tem um estúdio de pilates aqui no bairro e quer abrir uma clínica de fisioterapia, mas a prefeitura cobra dela que faça adaptações no seu imóvel, pois o segundo andar só tem um lance de escadas e deve ter um elevador para cadeirantes. Mas só a base para ele custa algo em torno de R$ 100.000,00 e só tem três empresas autorizadas pela prefeitura a executar a obra. Adivinhe se não tem esquema aí... Mas espere, não são dois andares, então a situação se resolveria se no andar térreo ficasse a fisioterapia e em cima, o pilates. Simples, qualquer ser racional deduziria isto e, claro que ela mesmo sugeriu isto. Como eu disse, qualquer ser racional, o que não é o caso de um fiscal da prefeitura que age sob outra óptica, outra racionalidade totalmente irracional para um ser humano que busca adequar meios a um fim específico com objetividade e sem deturpações. Ou sem dar chance para a corrupção.
É de um contrassenso absurdo, isto sem falar nas taxas anuais para operação que ela tem que manter já que não tem o habite-se porque não há esgotamento sanitário, assim como não há no bairro, assim como não há para 90% da cidade etc. E claro que haveria recursos se não houvesse tantas pessoas empregadas nesses “cabides públicos” sem fazer absolutamente nada, basta ver o que já foi transferido para a companhia de saneamento, a Casan.
Esta é a sina de ser um brasileiro, cujo poder estatal te obriga à ilegalidade. Faz alguns meses também, a Comcap, companhia que cuida da coleta de lixo e manutenção das vias públicas ficou, nada mais nada menos que 14 dias sem recolher nosso lixo na rua. Reclamação vai, reclamação vem por via telefônica, ouvidoria no site etc., nada resolveu. Mas nesses tempos de exposição on line (abençoado seja Zuckerberg!) procurei o facebook dos caras e em meia hora, o próprio diretor da empresa estava ligando para mim. É fácil deduzir onde e como passa a maior parte do tempo os funcionários da companhia... Inventaram uma mentira grosseira para mim, de que a rua estava muito esburacada, o que não procede. Não que não tenha buracos, pois como já disse, tem mesmo, mas não mais do que a maioria das outras ruas do bairro (a minha é uma das melhores). Daí perguntei se o motorista era novo e era mesmo só que o picareta culpou a via por ter corrido muito e arremessado um de seus colegas da caçamba. Como ficaram com medo de que eu expusesse toda a história vieram no dia seguinte, mas para justificar seu erro vieram podando galhos de árvores (que não tinha sido alegado como motivo do caminhão ter que desviar). Reclamei novamente em seguida porque mesmo assim, nada de coleta de novo! Vieram no mesmo dia às 22h!! Pergunto-me, para que serve o poder público brasileiro?!?!
Não fiquem achando que me refiro, exclusivamente, à Florianópolis. Se isto ocorre é porque resido na cidade há 11 anos. Em meus tempos de S. Paulo também passei por algumas... Naqueles verões na capital chovia aos cântaros e, numa dessas tormentas, os galhos das árvores da rua pressionaram os fios da rede de luz para baixo e batata! Queda de luz generalizada com direito à queima de aparelhos eletrônicos. Que que eu fiz? Liguei para a prefeitura para que providenciasse uma poda imediata, afinal estávamos só no começo da temporada de chuvas e recebi um número do protocolo do atendimento, cujo serviço deveria ser feito em um máximo de 45 dias! Sério?! Ah! Que bom né? Poderia ser um ano... Sempre temos que olhar para o lado positivo da coisa. Inconformado, liguei para a empresa que fazia a distribuição de luz, recém privatizada, AES-Eletropaulo e acredite ou não, em ½ hora os caras estavam cortando os galhos que tocavam nos fios. Não dá para entender quem reclama da privatização. Ou é mal informado ou tem interesses escusos a defender. Como sou obsessivo, próximo ao prazo limite de um mês e meio que me prometeram na prefeitura de S. Paulo, eu liguei novamente para saber se viriam e pasmem! Eles haviam perdido meu protocolo e tive que fazer outro para mais 45 dias! Ou seja, um total de 3 longos meses se passariam para o caminhão da prefeitura com seus incompetentes vir fazer algo, é mole? O verão com suas chuvas torrenciais teria acabado e os parasitas nem aí para quem os sustenta. É simplesmente ofensivo.
Quando os funcionários da AES estavam trabalhando com a poda dos galhos fui investigar e me disseram que quando os americanos compraram a companhia demitiram de cara, metade dos funcionários e viram que funcionava igualmente. Depois demitiram mais metade e continuou funcionando igual e fizeram mais uma vez... Para funcionar igualzinho! Em resumo, com 1/8 do staff da companhia mantinham a mesma produção, eles aumentaram muito a produtividade da empresa. Antes de pensar no lucro que tiveram, pense no prejuízo que nós tínhamos como pagadores de impostos por um serviço público de péssima qualidade. É este o raciocínio que devemos ter, mas como o cidadão brasileiro está tão acostumado (adestrado seria melhor) a achar que o serviço público é isso mesmo, só percebe o que os outros, empreendedores estão lucrando como se isto significasse um prejuízo para si. Uma visão completamente distorcida da realidade.
Florianópolis, São Paulo são as cidades que me lembro melhor, Porto Alegre já saí faz tempo, mas me recordo de meu pai dizendo que algum coitado apaixonado por árvores plantou várias em seu quintal, numa velha casa na Rua Marquês do Pombal, no bairro Moinhos de Vento. Daí, com o tempo é normal querer cuidá-las, fazendo a devida manutenção, mas não! Alguma repartição pública com uma pomposa sigla se dizendo ‘ambiental’, cujos funcionários iletrados passam o dia coçando resolveu sair do buraco mofado onde se escondem para proibi-lo. Típico, não? Pois é... E o sujeito ficou lá, com árvores velhas, apodrecidas prontas pra cair com estes vendavais pondo em risco a vida das pessoas. Mas, o que importa aos burocratas, já que zelar pela vida alheia não tem nada a ver com a tarefa monástica de preencher processos.
Vocês podem estar pensando: este cara escolhe problemas a dedo, exceções que confirmam a regra de que o serviço público no Brasil funciona meritoriamente. E eu pergunto vocês acreditam nesta mentira que contam pros outros? Na verdade eu estou descrevendo o corriqueiro. Quando eu fizer um artigo “o serviço público brasileiro que dá certo” é que estarei tratando de exceções que confirmam a regra. Então se alguém nunca simpatizou com teorias anarquistas de organização social saibam que é um bom momento para tanto. Não são minhas primeiras opções, mas no Brasil de hoje se impõem como necessidade, não há como confiar nos serviços públicos brasileiros que via de regra são um lixo mesmo. Mas por que é assim? Em primeiro lugar devido ao corporativismo com este monte de leis protecionistas visando garantir os direitos dos trabalhadores, mas direitos esses que se opõem aos direitos de seus consumidores, clientes, usuários etc. A sociedade brasileira opta por garantir direitos a si, enquanto categorias profissionais e não como indivíduos tratados com isonomia. Esta é nossa característica, cuja cultura política solapa qualquer projeto de desenvolvimento.
Esses dias um amigo meu teve a moto roubada aqui perto de onde resido. Obviamente, na vã esperança de que nossos serviços de segurança fizessem algo digno de seu nome, se guiou para a delegacia de polícia fazer um B.O. Chegando lá teve que ouvir um sermão do escrivão praticamente dizendo que ele era o responsável porque “deu mole” ao não ter alarme, nem cadeado na moto. Acabaram discutindo e o escroto do funcionário jogou a caneta com força em cima da mesa ao que meu amigo revidou com mais força ainda após assinar. O clima azedou ainda mais e pasmem, o covarde com distintivo ainda fez uma pose ao se levantar para que a camisa subisse mostrando sua arma. Paspalho! E é desses paspalhos que estamos cheios por aqui. Digamos então que isto não corresponda à maioria, que seja, mas a quem podemos recorrer nesses casos? Que tipo de proteção temos? É tão inusitada uma cena dessas em países onde o estado de direito realmente existe que mesmo um servidor escroto desses jamais faria isto, se não estivesse mentalmente perturbado, que as chances de sofrermos este tipo de ameaça são mínimas. Aqui não, basta não baixar o olhar para algo crescer e sermos intimidados por gente que não se coloca no seu lugar e nesse caso não sabe o que é proteger e servir. A mentalidade não é de proteger e servir, mas de intimidar e se servir.
Bem... Eu acredito no liberalismo e, embora eu ache os sonhos anarco-capitalistas um tanto apressados, sem que tenhamos desenvolvido uma cultura política e instituições começo a rever meus conceitos. Não há como melhorar isto a que chamamos estado brasileiro. Esta podre estrutura estatal precisa ser extinta.

Deixo vocês com um belo engraçado vídeo desses que sonhamos que um dia seja nossa realidade:




quarta-feira, janeiro 04, 2017

Se há algum mérito na esquerda...


O fracasso das ideologias de esquerda no Séc. XX não pode ter contra-exemplos do Séc. XVIII, com a Rev. Francesa e Americana a Rev. Gloriosa, no Séc. XVII por serem resultados dos movimentos “de esquerda” de sua época, contra uma aristocracia e estado que subjugavam as liberades. O século passado teve o lugar da esquerda tomado por movimentos de ideologia coletivista diferente daqueles anteriores pautados nas liberdades civis, individuais. Se ainda flexibilizarmos mais o conceito abarcando a Social-Democracia, o primeiro país a aplicá-la teria sido a Nova Zelândia, país colonizado por muitos britânicos do movimento operário, cujo governo surgiu no último ano do Séc. XIX. A Social-Democracia fortalecida no século seguinte era vista, no entanto, como um "desvio à direita" pelos mais puristas dos movimentos comunista e anarquista, tanto que socialismo passa a se definir como uma oposição dentro do movimento operário. A definição marxista de socialismo como um 'estágio' para o comunismo não era consensual dentro do movimento operário, lembremos, mas ela se tornou hegemônica na interpretação intelectual latino-americana devido a sua formação sectária.

Tais observações se fazem necessárias para contextualizarmos o que vem a ser ‘direita’ ou ‘esquerda’. Dependendo do contexto histórico podemos ser uma coisa ou outra... Eu não me defino como "de direita", embora não me sinta incomodado em ser chamado assim por um esquerdista, de jeito nenhum. Acho didático, aliás, apesar de empobrecedor... Quando vemos a miríade de movimentos direitistas, muitos dos quais de tom claramente estatistas (proibição das drogas, contrários ao casamento gay, antiambientalistas etc.) me posiciono, claramente, como um "acorde dissonante". Recentemente fui chamado de 'comunista' por uma fanática, porque muito do que vem a se chamar de 'direitista' hoje em dia é uma massa acéfala de naipe religioso que transmutou deus e diabo para a esfera política resumindo tudo em Ocidente vs. Comunismo ou, para alguns ainda, Ocidente (cristão) vs. Islã. Ignoram solenemente a contribuição (decisiva) do Renascimento e do Iluminismo à formação do Estado Laico que permitiu um maior desenvolvimento do capitalismo. Esquecem, alguns convenientemente... Que o capitalismo não iria longe sob o peso da Igreja devido à oposição desta ao comércio fora de sua direção e restrição:

“(...) Decididamente os comerciantes ocupam grande espaço na Idade Média desejosa de mutação. Apesar da Igreja. Sejamos justos: o preconceito anticomercial não é unicamente dela. Vai ao encontro de uma inveterada desconfiança popular contra o intermediário, que vende o que não foi produzido por ele mesmo: ‘Capelista que vende de tudo nada faz’, diz o provérbio. A Igreja não se priva de ir ainda mais longe.“Ela decreta a proibição da atividade ‘comercial’ a seus próprios membros. O cânone 142 do Código de Direito Canônico é drástico: ‘É proibido aos clérigos exercer, para si ou para outrem, atividade nos negócios ou no comércio, seja em seu benefício, seja em benefício de terceiros’. “A proibição não tem em mira os leigos, mas predomina a ideia de que não se pode ser, ao mesmo tempo, comerciante e bom cristão: ‘Raramente, talvez nunca, um comerciante pode agradar a Deus’” (Alain Peyrefitte. A Sociedade de Confiança: ensaio sobre as origens e a natureza do desenvolvimento. Rio de Janeiro : Topbooks : IL, 1999, p.90. Grifos meus).

Acho importante estudarmos as ideologias, mas mais como representações e entendimento do mundo pelos diversos grupos do que explicações de fato. Ideologias podem ser poderosas forças motivacionais, mas o curso dos acontecimentos dificilmente sai como previsto idealmente. Por isto, o que quer que o movimento operário tenha defendido durante os séculos XIX e XX não foi obra de sua exclusividade, mas resultado de uma conjunção de forças que sem a acumulação capitalista da qual muitos se opunham, não teria sido possível realizar. Avanços legislativos tais como horas trabalhadas, direito à férias, licença-maternidade etc. atribuídos como resultado dos movimentos de esquerda não teriam sido possível sem o avanço daquilo que os comunistas mais demonizavam: a acumulação capitalista. Se isto pode ser visto como “mérito da esquerda”, também o é todo resultado disso desalinhado da produtividade, isto é, sem preocupação com o caixa, a responsabilidade fiscal e a capacidade de distribuir após o crescimento sustentável economicamente. Preceitos caros à chamada 'direita' são consenso hoje no mundo desenvolvido, mas não para sociedades marcadas pelo populismo. 

E o Brasil sofre com essa sanha legiferante, na qual uma casta informal, os juristas definem para si o que é o desenvolvimento. Se há um lugar onde o ethos capitalista não chegou, foi neste cancro estatal brasileiro.



terça-feira, janeiro 03, 2017

Despacito, despacito, o mundo melhora


O cientista cognitivo Steven Pinker, professor da universidade de Harvard, é um dos autores que mais forneceram dados em defesa dessa tese. Seu livro Os Anjos Bons da Nossa Natureza (Companhia das Letras) busca demonstrar que vivemos na época mais pacífica e próspera da história. “As pessoas, em todos os cantos do mundo, estão mais ricas, gozam de mais saúde, são mais livres, têm mais educação, estão mais pacíficas e desfrutam de uma maior igualdade do que nunca antes”, diz Pinker ao EL PAÍS. “Todas as estatísticas indicam que melhoramos. Em geral, a humanidade se encontra melhor que nunca.”
O escritor e historiador sueco Johan Norberg é outra das vozes destacadas dessa corrente de pensamento. Defende em seu livro Progress: Ten Reasons to Look Forward to the Future (“progresso: dez motivos para olhar para frente”) que o capitalismo é o sistema que mais fez o ser humano progredir, e que vivemos no melhor momento da nossa história. “O mundo está melhorando rapidamente. Na verdade, nunca antes o mundo melhorou tão rápido. A cada minuto desta conversa, cem pessoas saem da pobreza”, argumenta.
 Paradoxos do progresso: dados para ser otimista http://brasil.elpais.com/brasil/2016/12/29/internacional/1483020328_085937.html?id_externo_rsoc=TW_CC via @elpais_brasil
 

Fonte: El País
Esta visão que o S. Pinker e outros citados tem, eu já tinha visto com o B. Lomborg (se lembra dele? das discussões ambientalistas?) e é fato reconhecido nos meios liberais que as sociedades estão melhorando mesmo, embora haja aqueles com situação crítica, eles não representam a maioria, nem abaixam a média do desenvolvimento mundial. E ele também está certíssimo sobre a desigualdade não ser o problema, pois se falta água na África do Sahel, se há baixa ingestão de calorias no Subcontinente Indiano, isto não se dá porque suas elites bebem ou comem mais, mesmo porque se forçássemos uma redistribuição destes recursos, provavelmente ainda faltaria o suficiente para a maioria. A questão é outra, se refere ao tipo de sistema e isto não tem nada a ver com comparar Capitalismo com Socialismo e outras dicotomias simplistas, mesmo porque há tantas sociedades diferentes, até díspares que entram no bojo do que chamamos "capitalismo" que soa inócuo discutirmos a posse dos meios de produção como causa última do desenvolvimento. Poderíamos enumerar o grau de livre-comércio dessas sociedades; sua segurança jurídica; o acesso à propriedade privada; o grau de burocratização; a criminalidade; a transparência pública; a liberdade de expressão etc. Quantas sociedades chamadas de capitalistas tem estes detalhes em muito baixa conta? Várias. Portanto, se faz necessária uma discussão mais técnica e detalhada que aponte as falhas. 
Alexis de Tocqueville já observara que o capitalismo contém um
paradoxo, o paradoxo da riqueza, pois só em sociedades afluentes vamos encontrar pedintes nas ruas. Alguém por acaso já viu mendigos pedindo esmola no sertão paraibano? Claro que não, eles estão acumulados justamente onde a riqueza aflui, nos grandes e prósperos centros urbanos. Então, é absolutamente natural que a pobreza persista. A questão não é, no entanto, se ela existe ou não, pois ser pobre, em termos relativos, até eu sou. A questão de verdade é quanto desta pobreza pode ser considerada absoluta, isto é, que não atinge as condições minimamente satisfatórias de sobrevivência. E aí, cada dia mais, seu número diminui proporcionalmente. Proporcionalmente, sempre é bom observar, pois em termos absolutos podemos ter mais pobres do que em 1950, pois também temos uma população absoluta maior do que em 1950. Mas reitero, quanto a fatia desses considerados pobres cresceu? Se é que cresceu... 

O ocaso das ideologias explica algo assim? Para mim ele reflete sua irrelevância em termos práticos. Uma vez configurado o fracasso total de qualquer ideologia de esquerda ter tido sucesso no século XX, antigos apologistas como Daniel Bell vaticinaram o fim das ideologias, mas eu me pergunto, só ele que não viu isto antes? Basta ver a baixa qualidade de um veículo produzido na era soviética em comparação com qualquer outro da antiga Alemanha Ocidental ou na força de trabalho chinesa puxando arados no lugar de bois durante o período comunista para sabermos que aquilo foi uma farsa do início ao fim. E dentro do capitalismo, quem insiste em não mudar, física e condicionalmente tende a padecer na miséria. Recentemente doei muitas roupas a uma família da serra catarinense com quem minha mulher mantém contato. E lhe perguntei o que acharam, ela me surpreendeu dizendo que a mãe dos garotos usava meias diferentes, ambas com furos nos dedões, mas feliz da vida por manter os pés aquecidos durante o inverno. Agora pergunto, onde isto acontece em uma favela brasileira? Nas "comunidades" em que jovens usam celulares e os poucos sem acesso à internet em suas casas ainda frequentam lan houses. A realidade mudou muito e estes pobres desconhecidos das periferias brasileiras tem sua realidade ignorada pela maioria de nossos (pseudo-)cientistas sociais que deveriam estar mapeando-os, classificando e quantificando suas condições e hábitos. Muito pouco disto é feito, é uma vergonha manter uma casta de inúteis professores de humanas nas universidades que contribuem com mera produção ideológica ultrapassada. Puro lixo teórico.

Aos trancos e barrancos, o mundo melhora sim. Não como desejaríamos, em velocidade e qualidade, mas evoluiu positivamente. O que não podemos ter em mente é a mera comparação com os demais, sejam países, regiões, estados, cidades etc. Temos que manter nossas comparações, fundamentalmente, com nós mesmos, pois é aí que buscamos forças para ir além. Por isto, o orgulho não é um bom sentimento, ele sugere uma estagnação, um "estou satisfeito porque sou melhor do que...", ao invés da ambição, esta sim, uma condição do espírito que te impulsiona, sempre e te faz conquistar mais e mais para si e para os outros com quem interage. 


Não existem revoluções na educação


A sensação de novidade que produz qualquer estímulo tende a desaparecer depois de 10 minutos. Com essa ideia na cabeça, Jon Bergmann (Chicago, 1964), reconhecido em 2002 pela Casa Branca como o melhor professor de matemática e ciências dos Estados Unidos, rompeu com a metodologia de ensino tradicional. Deixou de basear suas aulas no discurso para não entediar os estudantes e começou a usar o chamado Flipped Classroom (em português, classe invertida). Desde 2007, os alunos de química do instituto Woodland Park do Colorado começaram a aprender a teoria em casa, com vídeos curtos feitos pelo próprio Bergmann e dedicar o tempo na aula para resolver dúvidas, pesquisar ou trabalhar em projetos.
Segue em Aprender ao contrário é mais eficiente http://brasil.elpais.com/brasil/2016/10/28/economia/1477665688_677056.html?id_externo_rsoc=TW_CC via @elpais_brasil

Olha... Não existe uma única forma de dar aula, já vi professores diferentes, com métodos diferentes agradando, mas esta obsessão pela novidade é algo que me incomoda. Algumas coisas na vida e creio que a maioria, na maior parte do tempo são entediantes mesmo. Quando fiz meu vestibular, eu acreditava que uma vez na faculdade seria só prazer. Não foi. Algumas matérias como cartografia, álgebra e estatística eram entediantes e outras que supunha não serem como geografia agrária também o foram, talvez porque o professor não tenha me agradado. Agora eu pergunto: há como saber disto sem uma pesquisa de opinião (subjetiva) e outra de resultados aferidos em testes (objetiva) e cruzá-los? E o que é válido para uma época e lugar pode ser comparado com outro? A cultura e visão de mundo (ideologia, chamemos assim) não muda também? Já vi de professores que na antiga URSS não havia sinal de troca de aula ou de fim de turno, mas qual o preço de um enregramento desses para a própria sociedade? E no extremo oposto, já ouviste o volume dos sinais tocados em escolas brasileiras?
Releia o 2º parágrafo para ver como se expressa esta nossa ilusão contemporânea, em determinado momento diz que "nenhum estudante é deixado para trás" para ao final completar com "a revolução deste método pedagógico é não assumir que todos os estudantes vão avançar na mesma velocidade". Muito bonito isto, mas eu enxerguei uma contradição aí, flagrante aliás... Se não há a mesma velocidade (e sabemos que não há, de jeito nenhum) e há ciclos de estudo, como acreditar que nenhum ficará para trás? Qual o problema em repetir de ano quando isto se faz necessário para aprender e reforçar conteúdos? A verdade é que quando se põe esta condição de passar, passar e passar como prioritária se faz em detrimento da absorção do conteúdo, como se o conteúdo fosse algo menor. Ora, vejam como um pedagogo moderno chama um professor tradicional, entre outras coisas: conteudista. E eles enchem a boca para falar como se estivessem apontando uma chaga que se explica e aponta caminhos para sua solução. Besteira total, se não se absorve conteúdo mínimo não há ensino. Agora, se este conteúdo precisa ser discutido e redefinido, eu sou totalmente de acordo... Sou contra obrigar alunos de ensino médio com vocação para exatas estudarem humanas de modo exaustivo, para mim, como já disse várias vezes, eles tem que aprender linguagens que permitam avançar em qualquer área, como gramática, matemática e idiomas. 
Pelo que entendi do método inovador "Vire Sua Sala", em que pese toda tecnologia aplicada (vídeos), ele consiste basicamente em um antigo preceito: a tarefa de casa. E me pergunto, o que há de inovador nisto? Só é inovador porque ele traz de volta algo que foi praticamente abandonado pela maioria de meus colegas. Quanto aos vídeos, eu sou totalmente favorável, meu filho aprende um monte com o YouTube, eu mesmo quando estudo para provas de concurso etc. E fora disto, o conteúdo em geral disponibilizado pelos youtubers é fantástico, seja em um Pirula que aborda diversos temas (focalizando a biologia), seja em um Pondé na filosofia (assim como Karnal e Cortella), seja em música com Márcio Guerra Canto (este divertidíssimo) há um mundo, uma selva de conhecimentos nesta rede social. Isto é inegável e só um toupeira para não admitir que um vídeo da NatGeo ou da Discovery torna uma aula de geografia mais interessante que só o mapa, a lousa e a voz, assim como negar que o mapa, a lousa e a voz foram avanços inegáveis para uma época desde os gregos em que havia o quê? A voz e talvez alguns rabiscos no solo. Não podemos ignorar o que agrega conhecimento, mas não podemos ignorar que a rotina, o treino e o professor que é um comunicador são importantes. E qual matéria que se fala nisto? Nenhuma. Qual livro revolucionário com um método 'inovador' que comenta isso? Nenhum. O que me incomoda nessas matérias jornalísticas não é a informação (aliás, bem vinda) de novidades, mas sim este glacé narrativo em que se descobriu a roda, que tudo agora daqui pra frente pode ser diferente quando não executamos corretamente o passado. Esta verborragia é que me dá náuseas. 
Eles falam contra o "monólogo do professor e o aluno passivo"... Ah! Que tal fazer matérias em exaustivas aulas para ver, realmente, que o professor raramente é ouvido e se condiciona a passar metade da aula (ou mais) enrolando. A começar pela ridícula chamada... Se perde tempo precioso nessa atividade monástica, sem sentido algum. Que se faça um controle por catracas eletrônicas e se não há recursos para tanto que se faça um por cadeiras vazias etc. Isto, claro, quando a escola não for tão ridiculamente a toa que não faz um espelho de classe com assentos específicos para cada aluno. Mas elas são assim, majoritariamente, a toa. 
Para finalizar (mas não acabar o assunto) me pergunto como seria o Flipped Classroom em um treino de basquete? Ou para um estudante de ballet? Policial, bombeiro, médico etc. Será então que só os professores e seus alunos passivos sofrem com uma educação errada e todos os outros podem insistir em antigos modelos? Veja... Reitero o que disse, o método descrito de tarefas com mais criatividade deve ser muito útil, o que me oponho é à visão de achar que isto resolve os problemas e torna tudo muito fácil de fazer, como se todos nós fôssemos burros por não ter tentado algo tão óbvio.
Quanto às crianças que "ficam para trás" não estou advogando que fiquem para trás e ponto, mas que a diferença nos resultados sempre vai existir e se isto se torna um problema para a vida do indivíduo é porque sua visão pessoal de mundo está determinada pela sequência formal de estudos. Aí sim há um problema e não se pode resolvê-lo somente em sala de aula (embora possa se fazer muito aí também). Valorizar habilidades e desempenhos diferentes é papel da escola, mas se não houver um cultura familiar que valorize a evolução individual sem se comparar aos demais como se isto for uma competição teremos só ensino sem educação. Querem mudar isto com vídeos em casa? Acho que agrega conhecimento, mas desconfio de qualquer proposta revolucionária porque a visão de revolução é uma visão que ignora o passado. É uma visão arrogante, no fundo, de que não há nada de bom ou de útil no que já foi feito até aqui.
 
Segundo o autor, este método revolucionaria a educação (imagem: washington.edu).
Tens Netflix? Assine, é barato e muito bom. Daí assista à série Rita, uma professora na escola pública dinamarquesa. Imperdível. TÁ AÍ! Uma tarefa pro jornalista que escreveu esta matéria: assistir à série.




segunda-feira, janeiro 02, 2017

Subindo no vagão


Acabo de assistir à Homeland, esta fantástica série sobre espionagem, terrorismo e Oriente Médio, imperdível mesmo. Quem já pode assistir vai ficar na memória a excelente atuação de que interpretou Carrie Mathison (Claire Danes), a agente bi-polar da CIA, bipolar mesmo, pois sofria desse transtorno mental. A série tem quatro temporadas e ao cabo da terceira, a personagem principal – Carrie – perde quem se apaixonara, um fuzileiro (e ex-congressista... confuso?), Nicholas Brody (Damian Lewis) que havia se convertido ao islã e se preparava para cometer um atentado. Claro que neste ponto ele já estava em pleno dilema e atuava coagido, “cooptado” pela agência de inteligência. Na quarta e última temporada (até o momento, Netflix no Brasil) que, não sei porque me disseram que seria a menos interessante, pois achei justamente o contrário, o cenário é menos americano, iraniano e se passa em pleno Paquistão contra o Talebã. Nesta temporada, os dilemas de quem tem que atuar pela Razão de Estado, muitas vezes se aliando com antigos inimigos intensifica. Enfim, é muito para comentar aqui, mas uma coisa ficou clara para mim, quando tudo termina e um novo acordo parece se configurar entre um terrorista antes procurado e agora, um aliado da CIA, que vê nele alguém com potencial de estabilizar a região. “Que mundo nós criamos que nenhuma opção é correta?” pergunta Carrie, ao seu comparsa e nova paixão, Peter Quinn (Rupert Friend).

 

Corta agora... 2016 foi um ano de avanço e choque para o Brasil. Choque no freio ao projeto de poder do PT, cujas manifestações de rua foram um forte combustível para queimar a legenda e pressionar nosso judiciário. E um avanço paulatino, pois muita coisa não mudou e só vai mudar se os movimentos políticos que encabeçaram a pressão pelo impeachment e outros que , porventura venham surgir, evoluírem em propostas e métodos mais claros do que precisa ser mudado no país: nossa opacidade institucional, hipertrofia estatal e desigualdade sim, mas não a desigualdade socioeconômica que tanta alardeia nossa imaginativa esquerda e sim, a desigualdade jurídica. Em que pese nossas pollyannas, mais conhecidas como “operadores do direito” gostam de acreditar no contrário.

Alguns dos críticos, simpatizantes petistas, simpatizantes inconfessos e niilistas em geral dizem “o que mudou?” Realmente, se buscarmos uma revolução, nada mudou, apenas amenizou. Mas quando uma revolução foi bem sucedida no Brasil e na maior parte do mundo, mesmo? Este é o cuidado que devemos ter, a sedução revolucionária, como a de um enfermo com câncer que prefere acreditar em panaceias em um chá milagroso de medicina oriental a enfrentar uma arriscada cirurgia com pós-operatório complicado. O que irá mudar para as complicadas alianças da CIA com um Trump, só o tempo dirá, mas é este tipo de experimento que queremos com a sociedade brasileira? Ainda mais com o tipo de posologia intervencionista que fanáticos de direita (que não saem da frente do micro, nem tiram seus pijamas fedidos) propõem? Uma luta armada sem meta, sem projeto, apenas com o vago mote de acabar com a corrupção e defender o Brasil? Por acaso isto é diferente, em carga sentimental, do que a esquerda – os “comunistas” – fazem? Todos que não rezam a cartilha de direita são comunistas para eles. Esta gente sofre de verdadeiro tenesmo intelectual...

Imagem: blogfa.com
Se há algum sentido em marcarmos o tempo serve para perceber mudanças, tímidas que sejam, mas não para abandonar o passado, jogando fora o bebê com sua aguinha suja. Por que nos embasamos tanto em marcações de tempo chamadas datas? Justamente porque temos necessidade de entender uma transformação com uma expectativa de mudança, uma esperança. Mas quando se fala em ciclo da vida, não se espera por esta ascensão progressista, mas sim em um nascimento, crescimento, ápice e a inefável morte. No fim das contas, parece que nada mudou em nossa perspectiva de tempo, mas talvez sim em um prazo que não vislumbramos. É como se estivéssemos em um trem vendo a monótona paisagem da planície se descortinar ao nosso lado na janela, mas se pudéssemos subir no teto de um dos vagões e sentir toda sua amplitude e panorama teríamos outra visão, outras conclusões.

Esta necessidade de entender ciclos, além da esperança que constitui o que realmente não sabemos, mas desejamos, também corresponde ao nosso medo do desconhecido quando achamos que entendemos a mudança, que temos uma previsão de algo que está por vir. Daí que era esperado que nas manifestações e movimentos que formamos ao longo desses anos (de 2014 para cá), os mesmos fantasmas ressurgissem, ciclicamente, para nos atormentar, a esquerda burra, com seus sindicalistas de Q.I. de psitacídeo e uma direita igualmente limitada, paranóide e intervencionista. Se analisarmos por este ângulo, a pergunta vem novamente, o que mudou? Talvez nada de significativo, se não imprimirmos nenhum novo significado ao que percebemos. Ter fé para ver pode ser mais do que negar a fé que traz nossa visão, pode ser o que falta para experimentarmos algo novo. Despacito, despacito... Como deve ser todo ensaio e erro.



domingo, janeiro 01, 2017

Feliz 2017, com cacofonia e tudo!


FOTOS DE BEBIDAS me passam a sensação de hospitalidade, como se eu quisesse estar com amigos em minha varanda bebendo e rindo. É como gosto de expressar meus desejos, embora alguém possa achar que não passa de um teatro, como se eu criasse uma projeção de alguém ou algum momento que eu quisesse passar. Pode ser, mas posso dizer que é terapêutico mesmo... De ontem para hoje, alem do sertanojo e funk-punk ao fundo, ruas acima (antigamente era pior, ao lado de casa), meu vizinho antipático, um comerciante de S.José adora tocar violão e, como se não bastasse o faz com uma caixinha de som para se achar mais ‘profissa’. São músicas de acampamento, Legião, Cazuza e alguma coisa que força minha azia. Daí, conforme ingressa o álcool naquele organismo sujo, o sujeito se empolga na voz com notas e mais notas e mais notas fora de tom. Pelo menos o volume se mantém igual... Mas, em minha outra divisa, cuja residência é alugada por um simpático casal de engenheiros florestais, um deles trabalha no IBAMA e se meteu a tocar um tipo de percussão pobre de alguma tribo aborígine. Deve ter levado a sério os princípios ideológicos da turma, pois em plena noite de ano novo executou um recital tonitruante com seu bumbo acompanhado de uma flauta com duas ou três notas. Desnecessário dizer que aquela cacofonia acordou meu filho, mas antes disso com muita bebida ficava divertido ouvir aquela mixórdia de sons e gente se iludindo. Se eu tivesse saco gravava tudo e mandava pro Marcio Guerra Canto[1] fazer um de seus divertidos vídeos debochados no quadro Desafinação Bizarra. De qualquer forma, a turma aqui já acordou faz horas e brincamos de “luta de cavalinho” na piscina. Se os vizinhos foram alertados em seus leitos com nossos gritos de guerra não foi nossa intenção, mas uma “reação comunitária”, digamos assim. Antigamente chamávamos de desrespeito, mas isto está tão embrenhado em nossa cultura brasileira que prefiro caracterizar como condicionamento mesmo. Como dizia minha avó VAI RACHANDO! FELIZ 2017!



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