Muitas coisas que me deixavam infeliz na política
partidária, mesmo entre os ditos liberais é a mania de só enxergarem grandes
temáticas. Fernando Gabeira quando retornou do exílio e se disse inclinado a
lutar por causas ambientais, raciais ou sexuais foi acusado de "se
preocupar com as minorias" por seus colegas de partido. Pois bem, qual
retórica está viva hoje em dia? A da luta de classes ou a de gênero, meio
ambiente ou cotas? Quem "estava certo" em estabelecer um programa
ideológico? Não estou afirmando que Gabeira estava certo quanto ao objeto em si
de sua preocupação, mas que esta preocupação o levou a uma estratégia
vitoriosa. Aliás, tão bem sucedida que hoje nem sabemos a paternidade.
Paternidade essa que nem é dele. Para dizer a verdade foi gestada pela New
Left, só não sei se europeia ou americana. Tendo a achar que foi europeia
devido aos frankfurtianos (Adorno, Horkheimer, Marcuse etc), mas como sempre
'amplificada' nos EUA, país que exporta tudo de bom e de ruim também.
Michel Foucault, de quem não gosto nas premissas e conclusões,
mas aprovo (parcialmente) no método de estudo foi muito feliz no título de sua coletânea,
Microfísica do Poder porque dá importância a aspectos legados a segundo
plano (ou terceiro ou quarto...) pelas esquerdas. Dentre os quais, a
arquitetura e conformação dos espaços urbanos – o urbanismo – como formadores
(ou pretensamente formadores) de padrões comportamentais, em suma, domínio. Tentei
em vão chamar atenção de meus colegas sobre, p.ex., a importância das calçadas,
dos espaços públicos como fomentadores, instrumentos que facilitam a
sociabilidade de cidadãos na constituição de uma sociedade que valorizaria o
respeito, a tradição e se oporia a corrupção já nos pequenos e constantes
serviços urbanos. Sabe quando te olham como se tu estivesse aramaico? Pois é...
Mas é justamente aí que a coisa se cria e reflete em marcroestruturas da
sociedade, uma coisinha que os militantes desconhecem, o cotidiano. Quando discutia isto, inclusive com ancaps
(anarco-capitalistas, supostamente mais sensíveis às práticas anárquicas),
cheguei a ouvir que prefeituras não eram interessantes de se assumir, pois não tinham
autonomia frente ao poder federal. Ora! Se não se muda padrões de comportamento
(prestação de serviços e gastos) aí, em outro nível não é que vai se
convencê-los do contrário. Óbvio que nem discuto com socialistas, mais
centralistas que quaisquer outros, mas os liberais deveriam ser mais atentos a
isto por princípio. No entanto, ainda são muito pouco sensíveis a aspectos
cotidianos que não passam por questionamentos clássicos.
Bem... Com o tempo espero que isto mude. Mas que fique
claro, nada muda naturalmente, mas por insistência erosiva da ideias contra as rochas
da ignorância.