Não. Em termos econômicos, o
socialismo é ineficiente e, no longo prazo traz pobreza; em termos políticos,
geralmente está associado com varias formas de despotismo, o que é consequência
da grande concentração de poder e expansão da burocracia. Mas afinal, o que é o
socialismo?
Definindo o que é Socialismo
Há duas maneiras básicas de se
pensar um conceito, do ponto de vista teórico-normativo
e a partir da história, isto é,
através de uma teorização dos experimentos socialistas. No primeiro caso, o marxismo é a principal vertente teórica
aceita mundialmente para definição e defesa do socialismo. E o que Marx dizia
basicamente? Que as chamadas “contradições do capitalismo” – o avanço da
produção de riquezas frente à depauperação geral da condição de vida dos trabalhadores
– iria gerar um processo revolucionário de luta de classes sociais na qual os
proletários (operários e camponeses) tomariam a força, a riqueza que é a posse
dos meios de produção (fabricas,
fazendas etc.) dos capitalistas, burgueses, como eram chamados. Para os
revolucionários comuns, outros socialistas e anarquistas, este processo levaria
a uma sociedade sem estado, o comunismo,
que era baseado em formas autônomas de organização social, como os indígenas do
novo mundo, p.ex. Para Marx, isto não passava de uma grossa ingenuidade. Ele
defendia que para chegar a este estagio ideal, o comunismo seria necessário um estagio intermediário entre capitalismo
e comunismo. E o que seria ele? Exatamente, o socialismo. Em suma, o socialismo de Marx seria um momento
histórico em que o estado tomaria total controle sobre a organização da vida
econômica, incluindo produção e distribuição, já que a principal questão para
os revolucionários do século XIX era essencialmente esta, diferente de hoje em
dia, onde a pauta cultural se faz cada vez mais presente para os
revolucionários. Daí, aos poucos (o que Marx não definiu nem quando nem
como), o estado deixaria de existir e daria lugar a uma sociedade totalmente
igualitária e livre. Desnecessário dizer como nesta parte da teoria Marx se
mostra tão ingênuo quanto seus pares revolucionários ou, vai saber... Manipulador,
para parecer tão ou mais radical que seus pares “socialistas utópicos” e
anarquistas, que também desejavam a revolução, mas com outros protocolos de
ação.
Em termos históricos é bem mais
simples. Basta ver todos os regimes instaurados e autodenominados socialistas
ou comunistas, nenhum deles efetivamente prezou pela democracia, embora
tivessem, volta e meia, o termo “democracia” inscrito em suas denominações oficiais
(República Democrática da Alemanha, p.ex.). Sejam casos de países mais pobres,
como a Albânia ou mais desenvolvidos da Europa central como a Polônia, todos
esses tiveram um subdesenvolvimento relativo aos seus pares ocidentais como França
e Inglaterra justamente por não permitirem a chamada acumulação de capital que
um livre mercado proporciona. Países como a Ucrânia, formalmente membros de uma
“união” como a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, na verdade dominados
pela Rússia detinham baixíssimos índices produtivos na agricultura, embora seus
solos (tchernozion) estivessem entre os melhores do mundo. Isso que nem estamos
comentando os casos bizarros de morte, assassinatos em massa por conta de uma
ideologia sumamente irracional. Stalin, um dos maiores facínoras que a história
já conheceu matou mais do que Hitler e o impressionante é que não tem a mesma
rejeição que este. Mao então foi um dos piores ditadores que o oriente
conheceu, junto com Pol Pot no Camboja também ceifou a vida de dezenas de
milhões de seres humanos. Quando nossos imbecis estudantes de esquerda dizem na
internet “matou foi pouco” mostram o pior lado do ser humano, o do escárnio e
da indiferença e é exatamente por conta desse tipo de espírito podre que essas sociopatias
florescem. Enquanto o canalha cambojano sustentou seus planos ideológicos da
criação do “novo homem comunista” forçando pessoas a migrar e trabalhar no
campo levando a morte por execuções ou inanição, a China de Mao fez o contrário
acabando com a produção e distribuição de alimentos para as cidades ao
urbanizar a força de trabalho compulsoriamente com fins de industrialização.
Este chamado “Grande Salto para Frente” foi, na verdade, um salto para o
abismo.
A Escandinávia teve algo assim? Nada. Então por que chamar o sistema
social que criaram de socialismo?
O que existe em países como
Dinamarca, Suécia, Noruega – a chamada Escandinávia – e vizinhos (não
considerados como Escandinávia), Islândia e Finlândia é um sistema de elevada
tributação com fornecimento de serviços públicos de boa qualidade que foi
desenvolvido ao longo da história por partidos
socialistas. Aqui, “socialista” se prendia a uma definição do termo pelos
chamados socialdemocratas (guarde
esse nome) que acreditavam, diferentemente dos marxistas, socialistas old school e comunistas, que a melhoria da qualidade de vida dos cidadãos não se daria por processos
revolucionários, mas sim pela tributação em cima de empresas capitalistas. Socialdemocratas
ou socialistas no sentido anticomunista sabiam que o capitalismo era
irreversível como melhor sistema produtivo e que, isto é importante, não podiam
matar sua “galinha dos ovos de ouro”.
Mas se trata de um sistema autoritário também, só que por vias
indiretas?
- o caso sueco
A Suécia, p.ex., uma monarquia
constitucional tem seus deputados vivendo na capital do país em apartamentos de
40m², com lavanderia comunitária sem direito às serventes. Outros têm menos
espaço ainda, vivendo em apartamentos de 18m² com cozinha comunitária. Que diabo
de sistema autoritário e despótico, socialista em termos clássicos seria este
que não premia sua elite política? Esta é uma das diferenças gritantes que
vemos quando comparamos a burocracia privilegiada dos tempos da antiga União Soviética
p.ex., a chamada Nomenklatura. Até os
anos 90, os deputados viviam em sofá camas no parlamento, sem direito a carros
oficiais ou coisa que o valha. Ainda hoje, prefeitos e governadores sequer têm
direito às residências oficiais e deputados estaduais podem ganhar apenas um
computador para trabalhar. Deputados federais não têm verba indenizatória e
recebem apenas o equivalente ao dobro do salário de um professor. E, mais
importante, um político sueco não tem imunidade parlamentar. Para se ter uma
ideia do nível de seriedade desse sistema, uma vice-primeira ministra teve seu
cargo cassado porque comprou uma barra de chocolate com verba parlamentar, o
chamado “Caso Toblerone”.
Agora ninguém discute que se trata
de uma economia altamente tributada. Normalmente, 40% ficam com o governo e se
você for rico pode ser algo em torno de 55%. A diferença é o alto grau também
de transferência dos impostos, o estado sueco cuida da aposentadoria, da saúde
e do seguro-desemprego. Isto se estende também à educação que garante os estudos
por vias públicas até o doutorado. Há toda uma rede de assistência, como
creches e cerca de 80-85% dos impostos retornam a você, como pagador de
impostos. Assim, não há uma prioridade em
transferir renda para os mais pobres, como a esquerda gosta de nos fazer crer e
sim, uma transferência para todos pagadores de seus impostos. Importante
lembrar que não se trata de um sistema
que procura homogeneizar as classes sociais e, exatamente, por isso não é
socialismo. Chame do que quiser, estado de bem-estar social, capitalismo de
bem-estar social, mas não é socialismo.
Saúde
Se tomarmos o exemplo da saúde,
este é o setor que mais gera problemas. As filas só aumentam demonstrando
claramente o que Hayek já dizia, as demandas são infinitas e, portanto, os preços
são decididos politicamente de tal modo que muitos suecos preferem se tratar no
exterior. Se a saúde dos suecos é boa, se a expectativa de vida é longa se deve
mais aos hábitos do povo que não ingere muita porcaria na alimentação, assim
como não fuma demais. São hábitos que fazem o monge, como se diz e isto
explica, p.ex., como a epidemia de sobrepeso atinge certos estados americanos,
o Alabama, mas não o Colorado. São os hábitos, a cultura local que devem ser
investigados e não somente uma análise dos gastos com medicina e saúde.
Avanços e Recuos
Muitos argumentam que o
enriquecimento deste país se deveu aos seus minérios, ou ao seu não
envolvimento na I Guerra Mundial, ou ao seu Estado de Bem-Estar Social – o Welfare State –, que é na verdade uma consequência
e não a causa. O que levou ao seu sucesso econômico entre 1870 e 1970, de um
dos países mais pobres da Europa ao posto de 4º mais rico do mundo foi o
capitalismo aplicado. No entanto, esse crescimento todo não pôde defender as
maiores empresas suecas (pense em Volvo, Ericsson, Ikea...) da ideologia
esquerdista dos anos 60, que passou a influenciar todos os partidos do país,
mesmo os de direita. Com o alto nível de tributação e, especialmente,
regulamentações sobre a atividade produtiva, o inevitável iria ocorrer: a crise
dos anos 70 em que os indicadores econômicos começaram a piorar. Esta crise
levou a reformas necessárias nos anos 80 e 90, com redução de impostos para o
capital e aumento no consumo. A razão é simples, o capital com alta tributação
foge do país, o consumidor não. A ideia é retomar o tripé de desenvolvimento
que levou o país ao seu pico máximo, o trabalho, o comercio e a inovação.
O país passou por duas décadas e
meia patinando e agora a pouco mais de uma década retomou seu desenvolvimento
baseado numa liberalização para as empresas. A química é simples, não há como
sustentar bons serviços públicos sem uma economia bem ajustada. Há um limite
quantitativo e qualitativo para que a atividade não definhe e os suecos
descobriram isto antes que fosse tarde. As desregulamentações também são outro
ponto, de taxis a ferrovias, de telecomunicações a escolas, antes dirigidas
pelos governos, praticamente tudo está se tornando mais livre.
Educação
Na educação que é um setor que me
interessa deveras por ser professor, se trata de um sistema muito interessante
que está sendo instaurado. Há uma liberdade de modelos em que não se tem mais a
direção do estado. Qualquer escola é possível e é financiada pelo estado que
recolhe impostos para isto. O financiamento é público, mas a administração é de
empresas ou prefeituras e, o que é muito importante, pois as verbas de custeio
aumentarão quanto maior for a preferência de pais ou responsáveis por
determinada instituição. É a demanda por
um tipo de serviço que condiciona o gasto público e não, como se faz no
socialismo, o planejamento de uma equipe de burocratas ou de pedagogos dizendo
o que é melhor.
Entre 1980 e 2000, a liberdade econômica só aumentou no país. Isto
significa que se trata de um modelo a ser seguido?
Pense, se os suecos aceitam um
estado agigantado não é porque são burros, mas porque, no caso deles, este
estado é eficiente. Se outro modelo de capitalismo (vamos deixar bem claro aqui),
como é o caso dos EUA não seguem a mesma trilha, talvez seja porque seus
setores públicos não demonstrem eficiência similar e eles sejam bem sucedidos
de outro modo. Qual é o melhor não nos cabe dizer, mas sim ver qual tem mais a
ver com as características sociais e culturais do Brasil. Qual modelo você gostaria
de ver aplicado aqui, a partir da experiência com nosso tipo de estado? Você
crê que um modelo estatista como o sueco é condizente com a realidade de nossa
máquina pública ou o oposto, como na América é que seria mais adequado? Esta é
a questão técnica relevante e não o pobre debate maniqueísta de chamar uma
economia de mercado com administração estatal diferente de socialista que é o
que fazem os esquerdistas. Não caia nesta.
Atenção! Cuidado com a Manipulação!
Vivemos uma época de intensa guerra
cultural onde a esquerda perde em tudo, menos na propaganda. Analise, em 2012,
os EUA atingira 8,2% de desemprego, o que representou “uma grave crise do
capitalismo” para os periódicos de esquerda (Carta Capital, Carta Maior, Caros
Amigos, Revista Fórum e outros), mas 12% de desemprego na Venezuela (o que deveria
ser mais, se não fosse a censura de seu regime autoritário) não representaram
uma crise do socialismo bolivariano ou do estatismo? Como assim?
Assim se compreende facilmente como
um político picareta como Bernie Sanders, que concorreu à candidatura à
presidência pelos Democratas contra Hillary Clinton afirmou que os EUA tinham
de seguir o exemplo “socialista” da Dinamarca, país similar à Suécia na sua
administração pública e econômica. Como a mentira tem pernas curtas, Sanders
foi desmentido pelo primeiro ministro dinamarquês em palestra na Universidade
de Harvard. A questão é ele sabe o que realmente aconteceu e acontece lá ou é
mera ignorância? No primeiro caso, ele estaria manipulando, pois mente sobre o
suposto “socialismo escandinavo”; no segundo, ele seria apenas mais um idiota
útil da esquerda, só que com uma diferença: poder.
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Para que gente assim não ganhe
espaço com mentiras divulgue estes dados e acabe com o germe da mentira em seu
nascedouro.
Obrigado,
Anselmo Heidrich
2017-07-16