Ao pensarmos sociedade nos acostumamos com grandes e numerosos atores capazes de fazer história. Ora são as nações, ora as classes sociais, ora as etnias etc. O engraçado é que num mundo tão povoado, cada vez mais povoado por indivíduos sobre tão pouco espaço para esta categoria de análise: o indivíduo.
Pois
o caso em questão aborda precisamente isto: como um indivíduo pode e, de fato,
conseguiu mudar uma larga e tradicional cultura produtiva. O Sr.
Leontino Balbo Junior divergiu
de um arraigado modo de produzir açúcar de cana, divergiu da cômoda taxa de
lucro do curto prazo, de colegas empreendedores que viam com maus olhos sua
campanha contra as queimadas nos canaviais, de uma indústria de insumos que
oferece soluções rápidas a “pragas” e doenças da lavoura... Enfim, trata-se de um indivíduo que divergiu da
tradição. É interessante
notar que ainda soa estranho acreditar que o empreendedorismo, a atuação de um self-made man tenha peso ao ponto de mudar todo um
estado de coisas. Sobretudo quando nos acostumamos a pensar que o modo de
produção capitalista impingiria contradições inexoráveis em sentido contrário
ao conceito de sustentabilidade sócio-ambiental. Então, duas categorias que são
verdadeiras “vacas sagradas” do pensamento social militante, a força do coletivo e a superação do modo de
produção foram postas em
cheque neste caso pessoal.
Uma
questão importante que se põe para nós, portanto, é: será que as grandes
inovações são mesmo processos anônimos, coletivos dependentes de uma lenta e
gradual curva da evolução social ou podem partir de mudanças bruscas que sejam
conseqüência da mera força da imaginação? É difícil para os ecologistas
militantes crer que vários pressupostos seus, como a criação de uma matéria
orgânica (húmus), o retorno da vida selvagem (mais de 100 espécies animais),
independência de produtos químicos etc. não tenha partido de uma superação
econômico-social nem de um pacto social entre governos, empresários e
movimentos sociais, mas simplesmente da vontade de um indivíduo que não abdicou
do lucro, como empresário que é, mas planejou sua atuação para auferir uma
maior lucratividade no longo prazo. Então, como fica todo discurso de que
capital e meio ambiente não combinam, neste caso?
Mais
difícil ainda para os militantes de esquerda, com os quais, grande parte do
discurso ecologista se confunde, é admitir que a sustentabilidade econômica e
ambiental seja possível com uma empresa que detenha 14.000 hac, 90% do mercado
de açúcar orgânico nacional, mais de 60% do internacional, atue em 67 países.
Portanto,
o mais fácil é crer que se não temos uma solução definitiva para a problemática
ambiental, ao menos temos indicações que nos levem a um processo. E este, ao
que sugere a experiência do Sr. Balbo não é pré-determinada segundo um script
político, não segue um deducionismo rigoroso, mas se pauta na velha e boa tentativa e erro. E por trás deste empirismo
ocidental, uma boa dose de paixão e fé.
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