Sobre esquerdas e direitas – O Diagrama Scar http://t.co/UeHz8Yonok
A questão de
que a chamada direita atual ter sido a esquerda do passado, séculos atrás está
correta, assim como a caracterização da evolução subsequente. Neste sentido, o
artigo é rico e bastante informativo. Como relatado, lá pelos idos do séc. XIX,
ainda existia quem defendia a monarquia contra a democracia. Estes eram os
direitistas de então, mas... Veja que ele não cita esta palavra, Democracia,
sua análise está totalmente centrada no Capitalismo e esta é uma falha.
Os
anarco-capitalistas -- ancaps --, autoproclamados 'libertários' que estariam na
extrema direita para ele seriam a favor da liberdade total, totalmente pelas
vias do mercado livre, mas atente que sendo assim, discordam da democracia como
meio de regulação. E os comunistas na extrema esquerda também não ligariam para
ela, a democracia. Deste ponto de vista, quando o poder individual ou, na
oposição, o coletivo descartam a negociação e equilíbrio de aceitar pontos
divergentes para manutenção da ordem, de meu ponto de vista, não estão
separados, mas próximos. Então, eu trocaria o Diagrama Scar, que ele propõe por
outro, uma ferradura. Que aliás, não é ideia minha... Conferir aqui a Teoria da Ferradura (Horseshoe Theory). Os extremos,
anarco-capitalistas e comunistas descartam a negociação e se tornam
autoritários, um para o indivíduo e outro para o coletivo. Adicionaria aí
também o detalhe que a extrema esquerda também sempre foi lembrada pelo movimento
anarquista que, antes dos ancaps era tido como essencialmente de esquerda.
Estes rótulos enfim, cansam porque estão sujeitos a interpretações diversas --
quem os define, define como lhe convém e fica nítido que o autor, Scar, tem uma
queda pelo liberalismo. Nada condenável, aliás, pois também tenho, mas se tem
que assumir este dado e não tratá-lo como se fosse objetivo e imune a nossa
subjetividade na escolha. Por exemplo, já ouvi um liberal dizer que a
social-democracia (se referindo aos nórdicos europeus) "não dá
certo"... Patético, tanto "não dá certo" que existe há décadas.
E outro erro é tomar o que eles definem como "socialismo" como algo
socialista na teoria de Marx. É bem diferente. A propósito, a Nova Zelândia, um
país que prima pelas excelentes avaliações em rankings de liberdade econômica
foi colonizada por imigrantes trabalhistas e socialistas. Quem diria...
Então mais
cuidado e cuidado especialmente ao definirmos o que é algo a partir de um
simples nome, pois este pode não significar aquilo que uma velha teoria queira
nos dizer. E sim, não sou isento, eu critico o teor do artigo porque discordo
que possamos construir uma ordem duradoura sem democracia e senti a ausência do
termo no mesmo.
Mesmo que se
diga que a democracia não define um sistema econômico por inteiro (o que é
verdade), também é verdade que enfatizar a dicotomia Capitalismo v. Socialismo
é por demais pobre... Eu prefiro discutir "Sistema Social" e aí não
entra somente o modo como a propriedade é regulada, mas também a cultura e sua
organização jurídica. Importante porque há países, regiões, estados (em fortes
federações) ou até cidades e condados nos quais se pode ter razoável ou forte
liberdade econômica sem paridade na liberdade política (Singapura, p.ex.),
embora o contrário seja difícil.
Enfim, eu
endosso o liberalismo e me defino como liberal, mas sem os arroubos e delírios
anarco-capitalistas ou anarquistas, cujo ódio e preconceito contra tudo que
enseja a palavra estado não conseguiram construir nada melhor do que sociedades
clânicas (como a Somália) e chegam ao absurdo de dizer que na monarquia se
tinha maior justiça econômica que na democracia. Claro que sim, para o senhor
feudal...
Dizem que o
espaço é curvo. Talvez o espectro ideológico político também não fuja disto e
necessitemos de uma revolução epistemológica na ciência social...