Adeus,
amigo[i]
Eu
conheci o Janer num jantar na casa de um dos colegas articulistas do MSM.
Depois intensificamos a troca de mensagens através das antigas comunidades do
Orkut, quando me divertia com as provocações que ele destinava a turma de
fanáticos religiosos. Não só estes, mas preferencialmente estes. Mais tarde
passei a frequentar bares e restaurantes com o Janer, com conversas muito
agradáveis. Às vezes saia algo dali para a tela do computador. E eu sabia muito
pouco da vida do Janer, exceto pelo que ele escrevia ou comentava conosco por
alto. Então eu era um amigo que lhe encontrava episodicamente e ultimamente
sempre que ia a S.Paulo após me mudar para Florianópolis. Desnecessário dizer
quanto prazer obtive lendo teu pai e o quanto aprendi. Como também já se tornou
comum dizer, não concordávamos sobre tudo, mas o que discordávamos (e no meu
caso era mais a música ou como encará-la), não havia diferenças substanciais,
menos sobre objetos do que por condutas. O Janer fugia de sectários, como até
garotos de visão liberal bastante lúcida, mas amarrada demais que tentaram
aliciá-lo ideologicamente. Enfim, eu já sabia e tinha visitado duas vezes nos
últimos meses, de seu estado de saúde. Eu costumo apostar na permanência e
justifico que poderia viver bastante ainda em estado crítico se pudesse ler e
escrever. E justamente por causa disto, conhecendo teu pai, imagino só o
tormento que deve ter sido estes últimos dias para um homem que vivia isso. Que
vivia a liberdade de expressão e a comunicação escrita. O amor que ele nutria
por sua ex, pela festa e alegria com seus amigos, pelas viagens, pelas
lembranças, pelo aprendizado e vivência nos colégios de padres, por mais
paradoxal que fosse, pelos pagos de Martín Fierro, pela literatura que ora
desdenhava, pela precisão de quem se baseou no direito e leis, pela força e
vigor teórico proporcionado pela filosofia, pelo profundo conhecimento de
história e humildade em achar que não era especialista, em sua paixão por
conhecer e aprender outras culturas, pelo pago da fronteira, por Estocolmo,
Paris e, sobretudo, Madri. Uma pena que não conheceu a Austrália, que indico
fortemente, mas pelo menos foi para a Irlanda, que recomendei. Embora talvez
nem lembre de que eu tenha sugerido. Enfim, como disse um amigo em comum:
"Certamente, é o tipo de pessoa que há quem goste e uma minoria que não goste dele, mas não há quem o despreze. É a mais nobre avaliação que se pode fazer de uma pessoa."
E eu não poderia deixar de dizer a ti como ele te amava. Parecia um pai bobão (como eu sou um) que se gaba de cada detalhe do filho(a), do tropeço, da caminhada, do emprego, do sucesso, de que aprendeu etc.
Enfim, vou me lembrar muito dele como certa vez comentando sobre fanáticos irados nos ameaçando no Orkut, eu disse "vocês se estressam a toa com o Janer, ele está lá na frente do computador levantando uma taça de vinho enquanto que dá um sorrisinho de satisfação", ao que ele me respondeu "ah Anselmo! Como tu me conhece tanto assim?" Pois é, não tanto, mas o suficiente para saber o que te move e apaixona.
Adeus amigo e um abraço, Isadora Pamplona. Levante a cabeça, te erga que a vida deste cara foi uma que valeu a pena.
Anselmo Heidrich
ResponderExcluir"Essa notícia me bateu como um tapa na cara.
Anselmo, seu texto é tocante. Sensível. Dá para sentir como vocês eram duas mentes na mesma sintonia.
A última vez em que fiz um contato com Janer Cristaldo, eu havia sugerido a ele que escrevesse um artigo sobre um capítulo específico do "Guia do Politicamente Incorreto da História do Mundo". Ou então que nós três o fizéssemos. Ele me respondeu que nem ia ler o tal livro, mas que os argumentos que eu buscava já estavam disponíveis no site dele, para consulta e divulgação. Eu agradeci e segui a sua sugestão.
Sempre divulguei os ensaios de mestre Cristaldo, recomendando a todos como um tesouro de informações. Coletei muito conteúdo dele em minhas pesquisas e compilações de textos, sempre com o devido crédito do autor.
A última vez em que visitei o blog dele foi recentemente, quando pesquisava os desvios ideológicos de um certo escritor baiano que saltou do barco naufragado do stalinismo para o recém-nascido carlismo. Um artista pop star celebrado como unanimidade, que se dizia "ateu supersticioso" mas era flexível ao "sincretismo" o bastante para flertar com a religião do candomblé... veja só.
Para minha surpresa, o velho Janer já tinha feito um ensaio detalhado com todas as informações raras que eu precisava sobre o sujeito desde os anos 1930, revelando todos os podres inimagináveis de hipocrisia e imoralidade que a mídia esconde. E, de quebra, nos brindando com aquelas alfinetadas elegantes de puro sarcasmo, bem ao estilo de um esgrimista talentoso, como o grande escritor que ele sempre foi: leve e inteligente, ferino e subversivo.
Descanse em paz, mestre Janer Cristaldo. Você era um guerreiro da razão."
Ernesto Ribeiro
Eh eh, só para quem não entendeu, Jorge Amado.
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