domingo, janeiro 18, 2015

Você realmente quer pena de morte para traficantes... de qualquer tipo de droga?



"A lei é assim na Indonésia, então que se aceite a situação, pois mesmo que a rejeitemos, de nada adiantará. Portanto, não se trata de protestar contra a legislação indonésia, mesmo porque seria totalmente inócuo." Agora... E é aqui que quero atenção de vocês ou, ao menos dos leitores que sabem entender o que está escrito: se o raciocínio for o de que tem que se acatar a pena de morte imputada ao traficante brasileiro na Indonésia PORQUE ESTA É A LEI, então, da mesma forma, analogamente, seguindo a mesma linha de raciocínio, ninguém pode protestar porque, diabos! ... Quando uma mulher é morta a pedradas acusada de adultério (Irã) ou com um tiro na cabeça (como tem feito o ISIS) porque afinal "ESTA É A LEI". Se a barbárie serve para um caso deve servir para outro neste princípio de que "tem que se respeitar a lei" tout court. Agora, se a justificativa for outra, de que tem que se condenar o brasileiro a morte sim porque o tráfico ceifa a vida de muitos "inocentes" devido ao efeito maléfico das drogas, seus prejuízos a vida do indivíduo, para sua saúde e o crime que andam junto, então, me espanta que estes mesmos indignados sedentos de sangue não passem, na verdade, de meros hipócritas porque não consideram imputar o mesmo castigo à indústria do cigarro, uma droga perfeita porque vicia e desenvolve enfermidades, o câncer dentre elas mais tarde. Ou seja, uma droga que maximiza a vida útil do condenado. Onde estão os indignados aí? Por que não protestam contra esta indústria suja?
Sobre a liberação das drogas, para quem acha que meu protesto é uma defesa dela, não me conhece. Sou contra sua liberação incondicional, mas sou favorável a sua liberação condicional. A liberação para mim deve vir depois da extinção do SUS, pois não é legítimo que se libere algo, cujo tratamento posterior de seus dependentes químicos tenha custos partilhados por quem é contra seu uso. E mais, o uso tem que ter espaço adequado, afinal, não quero pisar em seringas usadas em parques públicos ou praias. Quem quer usar, que seja livre para isto, assim como se matar, mas em local apropriado. Civilizar é permitir o uso de substâncias tóxicas, inclusive, mas também proteger quem não quer sua liberdade ameaçada por externalidades negativas da liberdade alheia.

2 comentários:

  1. PERFEITO. Uma aula de sensatez e equilíbrio, pensando em todas as consequências. Enfim, um ensaio ADULTO. Muito além dos radicalismos infantis de direita ou esquerda. Senhor Anselmo Heidrich, são ensaístas brilhantes como você que deveriam estar escrevendo na VEJA. E sendo debatidos nas polêmicas da grande mídia. Torço para que este espírito adulto enfim cresça em influência nos debates públicos. Senão agora, então a médio ou longo prazo. Saúde!

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  2. Pronto. Devidamente compartilhado no meu canal Google +

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