quarta-feira, janeiro 31, 2018

Saúde em Cuba? Não, obrigado!

No Manual do Perfeito Idiota Latino-Americano de Apuleyo, Mendoza e Montaner tem uma análise interessante, na qual me inspirei:
“Alguém ainda pode nos sugerir que Cuba, apesar de todos ‘contratempos’ conseguiu desenvolver eficazmente um sistema social de saúde realmente popular… bem, segundo a OMS, a relação médico/habitantes minimamente aceitável deve ser de 1 para 1.000, Cuba tem 1 para 220. Isso nos levaria a uma conclusão imediatista de que a ditadura castrista teria uma notória preocupação com a saúde de seu povo? Vejamos com mais vagar: a Dinamarca que é uma reconhecida nação de primeiríssimo mundo, tem cerca de 1 médico para cada 450 habitantes. O que isto significa? Que Cuba tem um nível social melhor do que a Dinamarca? Será que a Dinamarca teria que fazer uma revolução em direção a um comunismo sanguinário emoldurado pelo paredón para aumentar a oferta de médicos ou Cuba é quem tinha que aprender e aprimorar o conceito de eficácia de seus médicos não inflando a estrutura estatal de funcionários ineficazes? Mas o que se pode esperar de um país que tem como emprego ‘entregador de senha’ para ser atendido em seus botecos com o pôster de Che Guevara emoldurando as paredes? Insano, simplesmente insano.”
Anselmo Heidrich

terça-feira, janeiro 30, 2018

Jordan Peterson, Marcia Tiburi e Kim Kataguiri



Mas o importante é que lá (Canadá, Reino Unido etc.), eles apreciam o debate. Por pior que ela seja, eles discutem. Agora pense, quem de opinião oposta já foi chamado para debater assim? Recentemente, a Márcia Tiburi se negou a debater com Kim Kataguiri. Percebeu como somos diferentes? E nossa direita, anti-petista, os bolsominions repetem exatamente o mesmo padrão dos petistas, esquerdistas etc. Aqui se foge do debate e há uma razão para isso: por que se lê pouco, as palavras têm pouco apreço.



Interceptor: Jordan Peterson "pegando" uma jornalista: Eu gosto desse sujeito e o jeito que ele pegou ela foi uma coisa... Cirúrgica, bonito de se ver mesmo. É esse tipo de senso lógico, de capac...

OPINIÃO: CAOS NO CEARÁ

Excelente análise: https://youtu.be/efhsqM3FmZw, ele ressalta como nossa mídia está apática com a situação de violência no país.

ACHO QUE nunca compartilhei tanto um vídeo quanto esse. Se nota, SE NOTA que tu está sob forte carga emotiva e se contendo para passar a mensagem objetivamente. Difícil, difícil mesmo. Infelizmente por esta situação, mas felizmente por teu trabalho podemos ter noção do absurdo quem que se tornou o "experimento sociológico" chamado Brasil. (minha mensagem e repassem por favor)

Scott Adams on the Cognitive Dissonance of Cathy Newman

Comentário sobre a Dissonância Cognitiva da entrevistadora de Jordan Peterson (ver dois vídeos/postagens abaixo):





O que o filósofo acima diz, neste link aí (acho que é um filósofo...) é muito importante, de como as pessoas 'ouvem' coisas distintas em um mesmo evento, ou seja, como têm percepções às vezes até antagônicas, eu gostei da mensagem dele. Mas, cá entre nós, quando uma pessoa faz um vídeo assim - pensando enquanto fala - e não tem a mensagem toda previamente elaborada fica bem truncado de assistir, porque paramos de prestar atenção no ritmo imposto pelo orador, que também para para elaborar melhor seu raciocínio. De qualquer forma, se trata de um bom toque, uma boa análise. Apenas ressaltei este detalhe porque já cometi estes erros ao fazer vídeos e pensar na pauta enquanto filmava. Vídeos devem ser pensados como aulas, isto é, devem ser previamente pensados. 

domingo, janeiro 28, 2018

Jordan Peterson on the plight of Young Men

Qualitativamente diferente da anterior (abaixo), em que não se tentar atacar e acuar o entrevistado, com o mesmo Peterson:

Jordan Peterson "pegando" uma jornalista

Eu gosto desse sujeito e o jeito que ele pegou ela foi uma coisa... Cirúrgica, bonito de se ver mesmo. É esse tipo de senso lógico, de capacidade argumentativa que quebra qualquer um que não esteja orientado pela busca do conhecimento e da verdade.

sábado, janeiro 27, 2018

Por que a Etiópia, Lula?




segunda-feira, janeiro 22, 2018

Algumas Palavras sobre Estratégia Política: marxismo e religião

O teólogo Leonardo Boff é conhecido por ser um dos principais articuladores da doutrinação marxista dentro da Igreja Católica. As ideias da Teologia da Libertação continuam firmes e fortes dentro do território latino-americano.
Um dos grandes erros do pessoal liberal-conservador (eu descarto os libertários, porque acho que nem tudo se explica ou se resolve “pelo mercado”) é que eles não entenderam o que a Esquerda fez, a partir dos anos 80 para crescer e se firmar na sociedade dominando-a. Claro que não se trata de uma dominação completa, mas um processo, no qual detém a hegemonia, seja nos meios de comunicação, universidades, redações de jornais etc. Mas a questão é COMO eles conseguiram atingir o povão?
Eis aqui um claro exemplo de um texto de autores de esquerda, que fazem apologia à tais métodos (confira na imagem abaixo).
DOUTRINAÇÃO POLÍTICO-RELIGIOSA 01
Pois é, surpreendente? Claro que não! Durante décadas, a ideologia marxista teve dificuldades enormes de ser aceita pelo povo, qualquer povo e não me refiro à intelectuais, mas quando seus ‘coordenadores’ sacaram que poderiam fazer ‘mix’ chamemos assim com a religião foram bem sucedidos.
E não é por acaso que a Direita que cresce e se sobrepõe ao discurso de Esquerda seja a própria direita com discurso religioso, a Evangélica.
Antes de tomar partido, o que quero dizer é que se não tomarmos consciência disto, a parcela mais racional, utilitária que vê o liberalismo como uma espécie de “máquina intelectual” que pode otimizar nossa vida produtiva etc. irá ser atropelada, literalmente, pelo povo que sabe utilizar estes referenciais abstratos e mais místicos, seja de que lado for.
O que proponho? Que fundemos uma nova seita, então? Não, mas que conheçamos seus discursos e signos para poder dialogar nas mesmas bases respondendo com estes referenciais e não os desdenhando ou fazendo troça. Teórico demais? Exemplos?
Vejam como um Magno Malta faz… Como poderíamos usar seus exemplos e referências para contestá-lo, por exemplo? E eu não digo isto porque eu mesmo seja um crente, não. Muito pelo contrário… Mas se nós não soubermos nos aproximar da massa como fez a Esquerda nos anos 80 e agora faz esta Direita podem esquecer seus discursos racionais, pois seremos vistos como mais um grupelho que dialoga consigo e não fala a linguagem do povo.
“Falar” a linguagem do povo não é enganá-los bonitinho, mas usar signos e referências caros aos mesmos para passar nossa mensagem.
Boa noite,
Anselmo Heidrich

quinta-feira, janeiro 18, 2018

Caranguejos e Dignidade




Na década de 30, o médico endocrinologista, Josué de Castro fez um estudo sobre a população de baixa renda da cidade de Recife, o que significava 1/3 do total. Esses pobres eram migrantes do interior que não conseguiam área mais adequada para residir e viviam em beiras de rios inundáveis e mangues se alimentando, basicamente, dos crustáceos encontrados ali e na vazante das marés. Como a principal fonte de alimento desses animais era constituída pelos dejetos humanos ali encontrados, as fezes se formava um ciclo descrito por Josué, o "ciclo do caranguejo", responsável pela alimentação com baixo valor nutricional para a população local.

Com o passar das décadas, alguma coisa mudou, as submoradias foram subindo os terrenos formando as favelas como conhecemos no Rio de Janeiro e outras grandes cidades brasileiras, mas os 'ciclos' são constantemente recriados: se hoje não são caranguejos e fezes temos no país inteiro bolsas-família e populismo que 'nutrem' estas populações com renda, mas de baixa qualidade, pois não provém de um papel produtivo e mesmo que fosse maior não produziria a dignidade que só quem trabalha sabe o que significa. Por isso, o terceiro elemento ausente nos antigos mocambos recifenses, mas abundante nas atuais periferias brasileiras: a ideologia que se faz necessária para nossos miseráveis finalmente acreditarem que merecem as esmolas e toda sua dignidade se resume numa equação assistencialista.

Rompa com isto, rompa com o PT.

Anselmo Heidrich

segunda-feira, janeiro 15, 2018

Neonazismo Sueco : um alerta para o mundo

Membros do Movimento de Resistência Nórdica marcham no centro de Gotemburgo, na Suécia, em 30 de setembro de 2017. Fredrik Sandberg / AP
read more: https://www.haaretz.com/world-news/europe/.premium-1.831763

“O patriotismo é o último refúgio dos canalhas.”
― Samuel Johnson 
Cf. How Sweden became a thriving base of neo-Nazi ideology - https://www.haaretz.com/world-news/europe/.premium-1.831763
Alguém tinha dúvidas de que isto um dia ressurgiria? Nesta rica matéria, que mostra as raízes do nazismo sueco, de meados do século XX, o pior não é saber como pode perdurar por tanto tempo, mas sim, como pôde ressurgir com tanto vigor? Eu tenho minhas pistas e elas são o clima de medo instaurado pelas políticas de “fronteiras abertas”. Veja, como diz no texto abaixo que tais movimentos, como este de Malmö têm os liberais(no sentido distinto do adotado no Brasil) e conservadores, além da esquerda tradicional, seus inimigos. Ou seja, todos aqueles que não são fortemente estatistas, autoritários e segregadores, ou seja, em uma palavra, totalitários são seus inimigos.Como combustível a tais movimentos temos comunidades que já não têm mais segurança, onde se investe mais em uma internacionalização de problemas que no próprio orçamento de segurança local, mais com refugiados que com a própria polícia no país inteiro, p.ex. Uma expressão utilizada no texto abaixo, “espaço vital” que está na origem do movimento nazista, mas que é anterior, remetendo aos políticos e pensadores que defendiam o expansionismo ou justificavam este, como Friedrich Ratzel na Alemanha é utilizada com precisão no discurso segregador. Embora, os novos nazistas suecos não se digam racistas (piada…), eles se baseiam no mito de uma “cultura pura” e esta não admitiria interferências ou competição. Ou seja, se substitui a espécie pela raça e agora pela “cultura” e temos uma nova desculpa para uma luta desenfreada nesta nova “Seleção Natural do Darwinismo Social” engendrado na cabeça desses malucos. Mas a culpa… Ou responsabilidade se preferirem pelo caos social que brota no horizonte tem relação, direta, com o caos que encobre a Europa com o lucro da “indústria da migração de refugiados”. E como reação a um processo marcado pelo conflito e choque cultural não se responde com a firmeza do estado de direito e rigor da lei, mas sim da expansão do estado sobre o indivíduo que já não consegue mais viver em comunidade.
Sempre tivemos mais peso das versões dos fatos do que análise dos fatos, mas agora, com a internet e as redes sociais, as versões se impõem e os leitores não procuram mais por ler e entender o outro, os pontos de vista alheios, nem que seja para criticá-los com mais fundamento. Isto fica evidente quando de um “os judeus não foram as únicas vítimas do Holocausto”, o que é verdade para “existe uma conspiração sionista internacional que torna a resistência física e agressiva contra os governos legítima”, o que é um sofisma e uma mentira grosseira. O doido nessa história toda é que de uma simpatia e interesse mútuo de nazistas e governos muçulmanos no século passado (contra os judeus), o nazismo contemporâneo baseado no mito de uma “cultura pura” que se perde tem a todos os estrangeiros como seus inimigos, sejam imigrantes sejam de alguma religião minoritária em seus países, como os judeus. E a justificativa factual, crimes cometidos por imigrantes que têm sido relevados e um crescente problema com comunidades que não se integram cresce para uma situação caótica em que o medo é explorado em benefício de um movimento que prega o mito do “homem nacional” (similar ao “novo homem” do comunismo), do estado e da “preservação da cultura”, o nacionalismo como refúgio. Os canalhas… Venceram.
Triste.

Anselmo Heidrich
15/01/2018

Entrevista com Eduardo Villas Bôas, Comandante-Geral do Exército Brasileiro


Quanto a entrevista com o Comandante-Geral do Exército, Eduardo Villas Bôas (abaixo) digo o seguinte: me surpreende (positivamente), ele ver no chamado fenômeno do "politicamente correto", uma causa da falta de visão dos problemas pelos quais passamos e o seu corolário, que é o relativismo moral que se segue contaminando toda a sociedade. Perfeito. E ele está certo em se impressionar com a falta de indignação/repulsa da população pela situação de caos e insegurança que vivemos, com nossas 60.000 mortes anuais. Eu mesmo já me surpreendi com colegas próximos, de uma certa agremiação política na qual fui advertido que minhas propostas ou até simples considerações sobre o crime eram muito 'agressivas' e creia-me, não eram mais do que quaisquer coisas que falamos entre nós. Ocorre que assim como os ditos de Esquerda são compassivos com o crime tratando-o como mero efeito de "problemas sociais", o mundo dos liberais é uma projeção do ideal de "equilíbrio perfeito" do mercado aplicado às regras sociais, como se tudo estivesse disponível nas prateleiras de um supermercado teórico: faltou segurança? Compre um kit de segurança privado e por aí vai... Coisa de libertário, mas esta é a versão infantilizada de liberalismo que predomina hoje em dia. Por isso que estes não entendem fenômenos como Bolsonaro e serão (aliás, JÁ FORAM) atropelados por ele. 

Acho, no entanto, que o Comandante-Geral adotou uma postura (correta) de não dar nomes aos bois, pois a Brigada, as polícias militares não funcionam bem só por falta de comando dos governos estaduais? Ora, estes governos ouvem a consultoria dessas corporações toda hora. Se não funcionam, não é só porque "não querem lá em cima", mas por algum outro conjunto de ações, dentre as quais está a legislação, mas não posso crer que seja a única razão. 

Outra coisa que me assusta é o medo/receio do Comandante-Geral com a contaminação das Forças Armadas pelo Crime Organizado. Ora! Se isto é verídico, então se assume que as corporações policiais militares estão muito sujeitas a isto e não têm como escapar. Se o próprio Exército admite sua vulnerabilidade, o que diremos então das polícias militares?! Este é um sério problema que escapou na fala do Comandante. O que fazer então? Render-se?

Anselmo Heidrich
2018-01-15
...

sexta-feira, janeiro 05, 2018

Bolsonaro VS. Livres


Movimento Livres deveria enfocar naquilo que pode influenciar dentro do PSL sem se indispor com Jair M. Bolsonaro: a economia, a desburocratização, a segurança etc.

O dilema do PSL: Bolsonaro entra enquanto o Livres sai https://exame.abril.com.br/brasil/o-dilema-do-psl-bolsonaro-entra-livres-sai/ via Exame

Se os membros do Livres realmente saírem do PSL sem ao menos tentarem influenciar a equipe de Bolsonaro, como o próprio possível Ministro da Fazenda, Paulo Guedes terá sido uma enorme perda de oportunidade.

Eu me desliguei do movimento ‘Livres’ assim que vi posições simpáticas às mostras artísticas com erotização infantil e bestialidade e mantive minha posição de que tais só seriam admissíveis com censura à menores de idade.

Agora, se há a possibilidade de sair uma resultante do que querem os adeptos de Jair Bolsonaro e os membros do Livres, esta seria obviamente, na área econômica, com as devidas ressalvas que já fiz em relação aos preconceitos econômicos do deputado[1].

Eu parto do princípio de que um bom acordo é aquele onde as partes NÃO saem completamente satisfeitas, pois me parece impossível que cada um dos partícipes ganhe 100%. Na melhor das hipóteses há 50% de ganhos para cada lado e, como pressuposto, um bom acordo é aquele onde ambas as partes TÊM que ceder. A questão, óbvia, é que agora, UMA das partes está com a faca e o queijo nas mãos. Então, se ainda acham que vale a pena é necessário cautela para negociar e, como aventei, influenciar.

Lembre-se que como já foi demonstrado pelo próprio Bolsonaro, ele é volátil em suas posições que mudam com a conjuntura política. Ele cresceu e se manteve com a retórica mais antagonista de identificar e atacar um inimigo claro – o crime, a esquerda etc. – e, portanto, o trabalho protagonista de propor e construir pode vir muito mais de sua equipe do que do próprio ex-capitão. Mas, para tanto, se faz necessário entrar e influenciar a dita equipe, mesmo que em escalões subalternos.

Chegou a hora de fazer política ou, do contrário, ficar reclamando em redes sociais.

Anselmo Heidrich


[1] Vamos Falar de Bolsonaro
https://anselmoheidrich.wordpress.com/2017/11/24/vamos-falar-de-bolsonaro/ via Anselmo Heidrich


terça-feira, janeiro 02, 2018

A Bússola de Kubrick


Em Marxism of the Right, texto de Robert Locke publicado em The American Conservative há um dos temas que me são mais caros: a liberdade total pode ameaçar um regime de liberdade? Ou o verdadeiro regime democrático-liberal pode se sustentar nos moldes ‘libertários’ ou ‘anarco-capitalistas’ onde não se leva em conta o peso da tradição e a limitação a liberdades que possam vir a ser destrutivas?
A democracia não poder se tornar uma ditadura da maioria, nem permitir que, democraticamente, se endosse um governo totalitário que atente contra as próprias liberdades civis é uma posição correlata à oposição a um liberalismo ingênuo que pensa que tudo é uma questão de opção. Como já desenvolvi alhures, eu não posso em nome de minha propriedade privada desenvolver ou praticar algo que venha a ferir um vizinho em seus direitos. Quem regula isto? A tradição e, por extensão, regras, leis que moldam o estado na sociedade. O que alguns ‘libertários’ defendem é que isto deve ser inscrito apenas dentro da lógica do laissez-faire, do próprio mercado. Mas, há problemas insolúveis aí, quando não se tem o judiciário como intermediário.
No entanto, eu discordo do último parágrafo quando diz que:
This contempt for self-restraint is emblematic of a deeper problem: libertarianism has a lot to say about freedom but little about learning to handle it. Freedom without judgment is dangerous at best, useless at worst. Yet libertarianism is philosophically incapable of evolving a theory of how to use freedom well because of its root dogma that all free choices are equal, which it cannot abandon except at the cost of admitting that there are other goods than freedom. Conservatives should know better.
Sim, liberdade requer juízo, com certeza. Mas, todas escolhas feitas livremente são iguais, ao contrário do que diz o autor. O problema é que o peso desta igualdade tem efeitos desiguais. Esta é a verdadeira questão, os efeitos e não as causas ou princípios. Por isto é que uma sociedade representada, legitimamente, por seu governo tem, evidentemente, o direito de reprimir tendências que atentem contra sua manutenção nos moldes que acha desejável. A imigração pode ser boa, mas se ela implicar em uma massa de indivíduos afeitos à políticas socialistas (como foi bem argumentado no texto) é claro que uma restrição à imigração pode ser benéfica.
Mas, é bom que se observe que se a liberdade destrutiva e irrestrita é perigosa, o conservadorismo irrestrito, inclusive aquele de naipe religioso também o é. Qualquer legislação tem que ser mínima, isto é, não “atulhar” de leis uma sociedade tolhendo esta em regulamentos excessivos que venham a estagnar sua atividade econômica. E, igualmente, não deve se propor a conformar tendências ou opções políticas. Pois, daí o risco de gerar insatisfações fica, proporcionalmente, maior. Este é o outro lado desta questão e um delicado equilíbrio entre liberalismo e conservadorismo deve ser almejado.
Faz pouco tempo, assisti novamente ao excelente Laranja Mecânica de Stanley Kubrick, baseado no romance de Anthony Burgess. A passagem em que o padre da prisão vocifera contra o método pavloviano de conformação comportamental do psicopata assassino ‘Alex’ (Malcolm McDowell) é, simplesmente, bárbara. Para ele, o bem não poderia ser condicionado ou inoculado: depende do livre-arbítrio. Esta é uma condição fundamental (que une liberdade e tradição), não sendo possível atingi-lo por pressão externa, engenharia social que seja.
Um filme tão rico assim, evidentemente que tem muitas mensagens. E é de se esperar que os esquerdistas tenham absorvido apenas a crítica ao establishment, a polícia e a política. Mas, visto por outro lado, o filme também permite se deduzir que a punição (tradicional) na prisão não é hipócrita como os métodos de “ressocialização” do criminoso.
Em situações práticas como o que fazer com assassinos-seriais, o libertarianismo se mostra uma tosca fábula do salvo-conduto da irresponsabilidade e covardia no enfrentamento de dilemas da vida.
O entendimento que tenho do anarco-capitalismo ou do ‘libertarianismo’, como preferir chamar, pelo pouco que já li, é de um anti-estatismo virulento. Algumas vezes tentei discuti-lo em comunidades orkutianas dominadas por eles e a experiência foi, realmente, desalentadora. Não porque não concordassem com minha visão liberal… Mais clássica, mas porque me parecia plena de um sectarismo anarquista às avessas. Ou seja, partilhavam dos mesmos erros dos anarquistas clássicos, embora com a pequena diferença de que defendessem a propriedade privada.
Ora, se as leis e, por extensão, o estado moderno se constituiram a partir de reformas induzidas por demandas sociais e articulações intra e interestatais na Europa Ocidental (assim como do outro lado do Atlântico), como se pode descartar a mediação deste mesmo estado (através do judiciário) adotando apenas formas pretéritas de organização social, como as “associações voluntárias”?
Por isto, tomando como exemplo o cenário do famoso filme de Kubrick, me utilizei de um caso extremo, o de assassinos pscicopatas que teriam que ser julgados e punidos, caso vivêssemos em um sistema(sic) anarco-capitalista. Me parece, mesmo que virtualmente, impossível se não tivermos leis, processos e instâncias de julgamento. Pois, no clamor dos acontecimentos, na urgência das medidas de contenção, como idílicas interações entre cidadãos livres permitirão a necessária retidão adotada por profissionais que administram a justiça e vêem casos como estes cotidianamente? Exceto, se estivermos vislumbrando um mundo formado por pequenas comunas, a laRousseau, a ausência de estado levaria a simples anarquia… No caso concreto a que me refiro, um linchamento.

Anselmo Heidrich

(texto de 2008)