Quanto a entrevista com o Comandante-Geral do Exército, Eduardo Villas Bôas (abaixo) digo o
seguinte: me surpreende (positivamente), ele ver no chamado fenômeno do
"politicamente correto", uma causa da falta de visão dos problemas
pelos quais passamos e o seu corolário, que é o relativismo moral que se segue
contaminando toda a sociedade. Perfeito. E ele está certo em se impressionar
com a falta de indignação/repulsa da população pela situação de caos e
insegurança que vivemos, com nossas 60.000 mortes anuais. Eu mesmo já me
surpreendi com colegas próximos, de uma certa agremiação política na qual fui
advertido que minhas propostas ou até simples considerações sobre o crime eram
muito 'agressivas' e creia-me, não eram mais do que quaisquer coisas que
falamos entre nós. Ocorre que assim como os ditos de Esquerda são compassivos
com o crime tratando-o como mero efeito de "problemas sociais", o
mundo dos liberais é uma projeção do ideal de "equilíbrio perfeito"
do mercado aplicado às regras sociais, como se tudo estivesse disponível nas
prateleiras de um supermercado teórico: faltou segurança? Compre um kit de
segurança privado e por aí vai... Coisa de libertário, mas esta é a versão
infantilizada de liberalismo que predomina hoje em dia. Por isso que estes não
entendem fenômenos como Bolsonaro e serão (aliás, JÁ FORAM) atropelados por
ele.
Acho, no entanto, que o Comandante-Geral adotou uma postura (correta) de não dar nomes aos bois, pois a Brigada, as polícias militares não funcionam bem só por falta de comando dos governos estaduais? Ora, estes governos ouvem a consultoria dessas corporações toda hora. Se não funcionam, não é só porque "não querem lá em cima", mas por algum outro conjunto de ações, dentre as quais está a legislação, mas não posso crer que seja a única razão.
Outra coisa que me assusta é o medo/receio do Comandante-Geral com a
contaminação das Forças Armadas pelo Crime Organizado. Ora! Se isto é verídico,
então se assume que as corporações policiais militares estão muito sujeitas a
isto e não têm como escapar. Se o próprio Exército
admite sua vulnerabilidade, o que diremos então das polícias militares?! Este é
um sério problema que escapou na fala do Comandante. O que fazer então?
Render-se?
Anselmo Heidrich
2018-01-15
...
Contaminação de tropas por facções criminosas preocupa, diz general
Comandante das Forças Armadas também acredita que força federal não será
necessária para acompanhar julgamento de Lula
iG Minas Gerais | Agência Estado | 15/01/2018
11:18:55
FACEBBOK / REPRODUÇÃO
Comandante-geral do Exército, Eduardo Villas Bôas, comenta a atual
conjuntura política do país
A atuação frequente das Forças Armadas em operações de segurança pública
nos Estados "preocupa muito" pela possibilidade de infiltração do
crime organizado nas tropas, afirma o comandante do Exército, general Eduardo
Villas Bôas. Em entrevista, o general diz que por isso quer evitar o uso
frequente das Forças Armadas e cita um caso registrado no Rio. "Foi
pontual. Está infinitamente distante de representar um problema sistêmico, mas
temos preocupação e estamos permanentemente atentos em relação a isso "
Para o comandante, houve "negligência" em grande parte dos
Estados em relação à segurança pública. Ele avalia que o uso das tropas
federais "não tem capacidade" de solucionar os problemas e se mostra
incomodado com a possibilidade de "uso político" das Forças Armadas
nas eleições. O comandante avalia que, no dia 24, quando está sendo anunciada
uma grande mobilização para acompanhar o julgamento do ex-presidente petista
Luiz Inácio Lula da Silva, em Porto Alegre, a Brigada Militar do Estado tem
"plenas condições" de controlar a situação.
A seguir, a entrevista:
Em algumas
comunidades, as organizações criminosas têm conseguido eleger candidatos e
fazer indicações políticas para cargos públicos. Há preocupação da indicação
política em polícias militares nos Estados?
A escolha de um comandante da Polícia Militar sempre tem o caráter
político. O problema é que houve distorção e adquiriu caráter
político-partidário. Isso acaba provocando sectarismos, divisões e perda da
coesão em instituições militares. A Constituição de 1988 permitiu que houvesse
direito de associações com caráter de sindicato, o que atrapalhou a hierarquia
e disciplina, porque ela é mecanismo de conter a violência e mantém a coesão
das instituições. Sempre que uma instituição perde sua coesão, ela traz
desgraças para ela própria e para a sociedade a que serve.
Há
preocupação de que indicações políticas possam levar o crime para as
instituições?
As facções criminosas no Rio e em São Paulo, que se estendem para outros
Estados e produzem filhotes, e essa estruturação do crime, principalmente em
relação ao narcotráfico e associações internacionais, aumentam em muito a
capacidade de contaminação das instituições. Realmente preocupa porque isso
pode se estender, claramente, em todo o processo político, de forma que eles
coloquem pessoas ligadas a eles ou a seus próprios integrantes em cargos
públicos importantes.
Existe
essa contaminação do crime nas tropas federais?
Há preocupação de contaminação das tropas, e por isso queremos evitar o
uso frequente das Forças Armadas. Recentemente, no Rio, verificamos desvios do
nosso pessoal. Foram pontuais, restritos a um ou outro indivíduo, de nível
hierárquico baixo. Está infinitamente distante de representar um problema
sistêmico ou institucional. Mas temos preocupação e estamos permanentemente
atentos.
O senhor
teme o uso político das Forças Armadas para segurança pública próximo das
eleições?
Há preocupação de uso político das Forças Armadas com a proximidade das
eleições porque governos, não querendo sofrer desgastes políticos com a
população e em determinadas situações por comodidade, solicitam intervenção
federal.
Como o
senhor classifica a situação da segurança pública do País?
Tem havido negligência em relação à segurança pública no País. Mas
também é surpreendente uma certa passividade da população em relação a isso.
Nenhum conflito no mundo hoje faz perder o número de vidas que temos no Brasil,
onde são assassinadas 60 mil pessoas por ano. Há negligência em grande parte
dos Estados. Mas a questão da segurança é muito profunda e está claro que o
simples emprego das Forças Armadas não tem capacidade, por si só, de solucionar
problemas de segurança pública que estamos vivendo.
Onde a
situação é pior?
Nos Estados do Nordeste, os índices de criminalidade são mais altos do
que no Rio de Janeiro. Só que o Rio é uma caixa de ressonância. Por isso, é
difícil dizer onde é mais grave ou não. No Rio Grande do Norte, de onde
sairemos neste fim de semana (a entrevista foi feita na sexta-feira), fomos
empregados pela terceira vez e, neste espaço de tempo, estruturalmente nada foi
feito na segurança pública do Estado. Sabemos que, ao sairmos de lá, os
problemas continuarão, o que indica que proximamente poderemos ser chamados a
intervir. É preciso que se modifique os aspectos na conduta dos governos locais
em relação à segurança pública. Acho que é inevitável que o governo federal
terá de chamar para si a responsabilidade, pelo menos parcialmente, porque o
crime extrapola as fronteiras e o combate está sem integração. Há Estados que
nitidamente negligenciam essas preocupações e, nesse caso, o governo federal
tem de intervir, usando Forças Armadas e Força Nacional de Segurança Pública.
Como
resolver esta questão da criminalidade que afetou a segurança pública?
Somos um País carente de disciplina social, que prioriza os direitos
individuais em relação ao coletivo e ao interesse social. E um ambiente de
pouca disciplina favorece à diluição das responsabilidades. Por isso, há uma
certa resistência a que se busque o saneamento das condutas individuais e
coletivas. Por outro lado, estamos vivendo uma imposição do politicamente
correto, vivendo uma verdadeira ditadura do relativismo e com uma tendência a que
não se estabeleçam limites nas condutas. Isso vai numa onda e volta em um
refluxo que atinge as pessoas e a sociedade como um todo. Isso está na raiz dos
problemas, insisto, do politicamente correto, privilegia e atua reforçando o
seu caráter ideológico e não apresentando a solução dos problemas. Quando nós
vemos agressões a mulheres, abusos, quando vemos desrespeito, na raiz disso
está a falta de limite e de disciplina que existe na sociedade. Precisamos de
muito mais educação e responsabilidade por parte de todos e cada um precisa
cumprir efetivamente seu papel e assumir suas responsabilidades até em relação
à segurança.
É
necessário o uso das Forças Armadas em Porto Alegre no dia 24 de janeiro
durante o julgamento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva?
Este é um problema essencialmente de segurança pública. Não precisa de
decretação da Garantia da Lei e da Ordem (GLO) para isso. Assim como no Paraná
foi muito efetiva a atuação do governo estadual na estrutura de segurança
pública, o Rio Grande do Sul tem plenas condições de fazer face a essa questão.
A Brigada Militar gaúcha é uma corporação capacitada. A estrutura de segurança
pública tem condições de resolver o problema e o pedido do prefeito de tropas
federais é inconstitucional.
Há uma
banalização do uso das Forças Armadas?
Há uma tendência à banalização do uso da Garantia da Lei e da Ordem
(GLO) e isso acarreta desvio de emprego das Forças Armadas
Qual sua
avaliação das eleições este ano?
As eleições, de certa forma, representarão um plebiscito em relação à
Lava Jato.
UAU! matéria de peso urgente aqui no Interceptor. Parabéns, senhor Heidrich.
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