Bombardeiro russo proveniente da Venezuela pousa em Manágua (Nicarágua) em 2013 (http://mil.ru/conference_of_pro/news/more.htm?id=11862998@egNews). |
“Maduro é o mesmo que Bashar al-Assad, mas em proporção diferente”. Então por que a Rússia perde seu tempo apoiando o falido governo de Maduro?
A Rússia não tem amigos, tem aliados e interesses, os primeiros temporários e os segundos, permanentes. Há sucata que enviou para a Venezuela ao custo de bilhões de dólares — armas ultrapassadas — e investimentos que precisa proteger, mas a China é responsável por muito mais, mais da metade de todo o investimento na América Latina é de origem chinesa na Venezuela. Então, por que a China não envia tropas do maior exército do mundo para o país?
A Rússia foi bem sucedida nas suas ações na Síria. Bashar al-Assad estava virtualmente derrotado pela oposição e aliados de Obama até que Putin, um grande enxadrista, viu nela uma oportunidade de jogar e ganhar a parada. Hoje, Assad está no governo e em dívida com Moscou. Em que pese todas as bravatas de Trump — inclusive a de ter desbaratado o Estado Islâmico, na realidade, obra dos curdos. Só que brincar de novo em “outro playground”, o da Venezuela não é a mesma coisa:
1. Há uma grande proximidade com os EUA;
2. O Caribe funciona como um “Mediterrâneo de Washington”, ele é vital para a segurança nacional da potência;
3. Há envolvimento de outros países fortemente constituídos, como Brasil e Colômbia, ao contrário de países etnicamente divididos como Líbano ou Iraque;
4. A memória da Crise dos Mísseis em Cuba (1962) é muito viva para os americanos. Os EUA não admitirão a instalação de bases com artefatos nucleares na região.
A situação na Venezuela não é segredo para ninguém. Cerca de dois anos atrás, relatório da ONU mostrou que fora o único país do mundo, cuja população perdeu peso devido a crise que atravessam, cães e gatos são comida, não sobrevivem mais e há relatos de canibalismo nas cidades. Manifestantes contra o regime estão sendo mortos, membros da guarda bolivariana — a polícia do regime — quando pegos em desvantagem são linchados pelos populares, um famoso shoppingo de luxo em Caracas se tornou um centro de tortura do regime, o caos está instalado e a única chance de manutenção do regime é pela via da repressão militar pura e simples aliada ao terrorismo, cortes de eletricidade ocorreram recentemente e um jogo de mentiras oficiais visa confundir a população para obter apoio: Maduro acusa Washington e oposicionistas pelo feito.
Este artigo aposta na ignorância russa sobre a realidade venezuelana: https://www.unian.info/world/10492980-will-russia-release-demons-of-war-in-venezuela.html?utm_source=social&utm_medium=share&utm_campaign=site, mas nunca é demais lembrar, como o próprio autor afirma, que ações não intencionais podem levar a uma escalada da violência, pois a presença de 100 militares russos treinados para manter o regime e bombardeiros não serão ignoradas pelos EUA.
Para nós, brasileiros, tudo isto é péssimo, pois são nossos filhos e próximas gerações que estarão na linha de frente deste conflito. Por enquanto, por enquanto… É só o espaço aéreo da fronteira norte até Manaus que virou um stand de tiro, cujas baterias antiaéreas venezuelanas podem derrubar qualquer aeronave. Qualquer uma…
Não imagino uma solução fácil, mas dependemos de Washington. Enquanto que nosso insensato presidente falou em “libertar a Venezuela” com o “apoio bélico” dos EUA, o vice-presidente, inteligentíssimo, Mourão já avisara que “uma intervenção está fora de cogitação”.
O que nos sobra então?
A aliança com o exército venezuelano e a traição à Maduro.
Lembremos que aliarmo-nos ao exército deles (o que inclui a Washington fazer também) significa perdoar alguns dos tiranos que estiveram ao lado do déspota, mas ou é isso ou é um banho de sangue de milhares.
A guerra, goste ou não goste, é um cálculo que usa vidas como peões.
Anselmo Heidrich
28 mar. 19
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