Apesar do feito de Vladimir Zelenski em obter 30% dos votos à Presidência da Ucrânia, no segundo turno, a ser realizado em 21 de abril, as dificuldades apontam para a necessidade da criação de alianças, e o mais provável é que ele busque obter apoio de Yulia Tymoshenko, ex-Primeira-Ministra, que obteve apenas 14% dos votos.
O que há de comum entre ambos é a retórica anti-establishment junto a seu rival, Anatoliy Hrytsenko, ex-Ministro da Defesa. Parece simples, mas parte da força da campanha de Zelenski se baseava na ideia de ser “contra todos” e não seria o mesmo se em determinado momento se aliasse com políticos como Tymoshenko, quem já foi acusada de encomendar o assassinato de Yefhen Shcherban, um dos membros do Parlamento e um dos homens mais ricos da Ucrânia, e também de sua esposa, no aeroporto de Donetsk, em 1996. Ou ainda acusações de tentativa de suborno à Suprema Corte do país, em 2004, entre outros crimes.
Isto não exclui os méritos e estratégia de Zelenski. O comediante e político conseguiu se conectar com os ucranianos falantes de idioma russo do Sudeste, que também não são favoráveis à secessão, como querem os separatistas de Lugansk e Donetsk. Por outro lado, ele contou com uma vantagem, que foi a cisão dentro do Bloco de Oposição, pró-russo, que lançou dois candidatos à Presidência em janeiro de 2019: Yuriy Boyko,pela “Plataforma de Oposição — Para a Vida”; e Oleksandr Vikul,pelo “Bloco de Oposição — Partido da Paz e Desenvolvimento” (renomeado como “Partido Industrial da Ucrânia”).
No entanto, se os pró-russos estão divididos, os pró-ocidente (União Europeia e Otan), na figura de Petro Poroshenko, o atual Presidente, não conseguiram articular uma boa campanha e agora recorrem ao discurso nacionalista que descarta as diferentes culturas baseadas nos idiomas falados no país.
O cansaço do eleitor se explica pelo falido programa de reformas de Poroshenko, considerado muito ambicioso, mas desacreditado por acusações de corrupção. Há pouco mais de cinco anos, em 2014, o Euromaidan, a série de protestos que sacudiu o país e pôs em fuga o ex-presidente Yanukovych, que era pró-Rússia e está com paradeiro desconhecido, levou a um processo de euforia e posterior desilusão.
Acredita-se que com a ocupação da Crimeia pela Rússia e a irrupção de violência separatista no Leste, o voto em Zelenski se mostrou uma tentativa de buscar alternativa para evitar a divisão que assola o país: entre Leste e Oeste, entre diferentes idiomas, e entre Rússia e Ocidente.
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Fontes das Imagens:
Imagem 1 “Yulia Tymoshenko” (Fonte): https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Yulia_Tymoshenko_November_2009-3cropped.jpg
Imagem 2 “Mapa Etno–linguístico da Ucrânia” (Fonte): https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Ethnolingusitic_map_of_ukraine.png
Originally published at ceiri.news on April 9, 2019.
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