O planeta simbiótico de Lynn Margulis contém o tipo de teoria que muito facilmente dá ensejo a uma nova filosofia, assim foi com o darwinismo que serviu no passado para sacramentar uma visão liberal simplista do mundo - a competição individual como corolária da inter-espécies - e até mesmo Karl Marx selecionou com conveniência a premissa evolutiva para corroborar sua filosofia da história, etapista mesmo que se auto-denominasse 'dialética' e que, como em um ciclo do eterno retorno da mais pura falta de imaginação os novos liberais, libertarians se empenhem em, novamente, reeditar a analogia auto-explicativa da competição individual como valor máximo da sociedade passando pela filosofia do pleonasmo, o "egoísmo racional" (qual egoísmo não tem sua racionalidade?) de Ayn Rand. O risco é de que esta nova visão também seja assim lida, como uma justificativa biológica para novos "cientistas sociais" explicarem sua mitologia, de que a Terra é um organismo que se auto-regula. Ecos de Gaia? Sim, mas as teorias biológicas não pretendem, mesmo porque não é esta sua meta, apontar um sistema social ideal ou sequer programas político-econômicos a serem seguidos. Já posso antever como se fará novas ilações de que, no fundo, somos partes de um todo com uma lógica ampla esquecendo-nos de que a base da vida não condiciona as ações em cima da mesma. Se temos predisposições, isto não limita as escolhas que fazemos com nossas supostas aptidões. Cuidado portanto com possíveis deturpações que poderão advir de mais uma teoria, por mais interessante e profícua que seja, sobre a natureza, como uma explicação lógica para os casos e fatos sociais. A linha que separa Natureza e Sociedade pode ser tênue, mas existe.
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