O legado da teorização
sobre a educação brasileira tem muito a ver com a popularização do pensamento
de Paulo Freire, mas como posso provar que tem a ver com este pedagogo?
Minha resposta não será
satisfatória. Foi Paulo Freire quem iniciou o processo de decadência? Não, mas
os atores responsáveis por isto via de regra são entusiastas de Paulo Freire. É
uma aproximação, "achismo" se preferir, mas todos pedagogos com quem
conversei (e não são poucos devido a minha profissão) foram unânimes em admitir
que PF é a maior referência intelectual que possuem dentro de sua área E o
autor mais lido em seus cursos (na USP e na UFSC). Pedagogos e professores que
cursaram, por obrigação, disciplinas da pedagogia elaboram, anualmente, os
programas curriculares de suas turmas, Isto, anualmente falando. Há aí um
feedback ideológico à isonomia com que são tratados os professores (salários
iguais e diferenciado apenas por tempo de serviço), i.e., com condenação, às
vezes expressa, de qualquer forma de meritocracia que reflete na condenação do
vestibular (que resultou na sua alteração e composição junto com o Enem e as
cotas). Sindicatos adoram isto, não haveria inferno pior do que uma categoria internamente
competitiva e, portanto, competitiva. Há, portanto, como afirmar que a
pedagogia PF é o principal fator de um mau resultado no PISA? Não, pois
teríamos que isolar esta variável e ver como o conjunto se comporta. Nem
acredito que uma pedagogia seja o estopim de origem de uma situação decrépita,
MAS é um fator FUNDAMENTADOR. Tal qual o islã radical que não pode ser restrito
a uma explicação conceitual e literária, ele busca nos conceitos e literatura
próprias seus fundamentos. E, cá entre nós, PF é explícito na sua ojeriza a
qualquer forma de ranking, uma vez que isto seria "a reprodução de um
sistema competitivo e alienante distantes do verdadeiro desenvolvimento".
Como se vê nos resultados de pesquisas como o PISA, o desenvolvimento dos
estudantes brasileiros é pobre, o que implica na formação de uma massa ignóbil
apta ao mercado de manobra político.
“A maior parte dos
professores nunca leu Paulo Freire.”
A maior parte dos
comunistas ou simpatizantes do comunismo ou de ideologias próximas ao comunismo
nunca leu Marx. E, provavelmente, nunca lerão. Veja... Eu li e consigo detectar
marxismo mesmo quando alguém diz "não gostar de Marx", "não ser
socialista" e "odiar o comunismo". Quantas pessoas tu já viu
criticando a URSS ou mesmo Cuba, enquanto que fala da sociedade movida por
classes sociais? Gerida por uma classe? A coisa é tão bizarra que algumas
semanas atrás eu conversava com um corretor imobiliário aqui do meu bairro e
comentei sobre a nossa possível "bolha imobiliária" e esperando mais
informações ou a percepção do sujeito sobre o assunto fiquei boquiaberto com o
rosário de melancolias que ele começou a destrinchar contra a "especulação
imobiliária"! Cara! Ele é um especulador! É o tipo de agente social que
vive da especulação. Via de regra eliminando os atravessadores como ele, os
bens ofertados ficam mais baratos. Mas, o que quero dizer é que não é preciso
se autodeclarar ou ter lido para usar uma lógica pertencente a um pensador ou
escola de pensamento. Quanto ao mérito atribuído por 'experts' em pedagogia ao
Paulo Freire é algo como me dizer que o Clube dos 13 fez uma avaliação positiva
da FIFA. Não sei, mas provavelmente quem avaliou positivamente o legado de
Paulo Freire seja farinha do mesmo saco. Com todo o respeito, não tenho respeito
por pedagogos, se estes não tiverem sido professores com carga horária e
semanal de trabalhador que precisa disto para fazer renda. Há pedagogos que
simplesmente seguiram este caminho fazendo cursos de pós e passando a maior
parte da vida em Faculdades de Educação, sem nunca terem tido experiência em
escolas públicas do ensino básico ou particulares que, no geral, não trazem uma
qualidade de ensino muito superior não.
Abaixo, nosso maldito
legado pela ideologização do ensino e preconceito à meritocracia: