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Por Anselmo Heidrich
De acordo
com a matéria Onze erros comuns entre os
professores de Geografia - Educador Brasil Escola http://educador.brasilescola.com/estrategias-ensino/onze-erros-comuns-entre-os-professores-geografia.htm,
são erros da prática de ensino em geografia:
1. “Não
esclarecer o conceito de geografia e seus objetivos”. O engraçado é que a geografia,
etimologicamente falando, deveria ser um dos campos do conhecimento mais claros
que há, de maior simplicidade em seus objetivos. No entanto, com a afluência do
marxismo nas ciências sociais e na geografia desde os anos 70, não é. Alias,
ficou bem confuso saber o que é e o que não é a chamada geografia.
Mas, a geografia é uma “ciência social”? o problema começa justamente
aí. Em minha opinião, não. Não porque ao tratar da distribuição e relação entre
fenômenos na superfície terrestre, este campo do saber não se limita às
praticas humanas e suas influências e consequências, por mais abrangentes que
sejam hoje em dia. Um terremoto no Nepal, p.ex., pode ser estudado do ponto de
vista do impacto que teve na sociedade nepalesa e seus vizinhos, bem como nas relações
políticas e econômicas regionais e globais, mas também pode ser visto e
analisado eminentemente por suas razões físicas, geológicas e impactos geomorfológicos,
hidrológicos, biogeográficos etc. Ora, isto não é fugir da “realidade
social”, mas avaliar algo que está ali há bilhões de anos que existe e
continuará existindo por mais afetada que seja, a biosfera terrestre. Como
já foi dito inúmeras vezes pelos marxistas, “a geografia não é uma ciência de síntese”,
que queriam enfatizar o estudo da chamada Segunda Natureza, conceito presente
na obra de Marx para enfatizar a lógica social do Capital que analisava. Mas o
fato é que ela é sim, se situando na intersecção de vários campos do saber e
esta é que é a sua especificidade, força e beleza, se me permitem a licença poética.
Soa engraçado hoje em dia, quando a demanda do mercado por este tipo de
profissional se torna crescente, os geógrafos neguem seu papel, consequência de
seu ensino marxista. Não é a toa que surjam cursos como “administrador de
cidades”, “gestor ambiental”, cujas atribuições e currículo são aquelas que já foram
marcas registradas dos geógrafos. Depois não adianta reclamar que outras
categorias “roubaram suas atribuições”. Na verdade, elas competem e ao ver a
inoperância, inépcia e até negligência de muitos geógrafos aproveitaram a
deixa.
No entanto, por mais atraso que os ideólogos acadêmicos causem aos
estudantes, as necessidades e interações humanas falam mais alto... Após décadas
de doutrinação em salas de aula, congressos, encontros, colóquios etc., o
estudo das informações geográficas, dadas opor imagens de satélite e fotos aéreas
levou ao desenvolvimetno de um novo campo de estudos, o Sistema de Informações Geográficas (SIG, ou GIS na sigla em inglês). Também chamado de geoprocessamento
ou geomática
é ele quem tem fornecido empregos e gerado utilidade para este profissional que
sai fresquinho da academia. Pesquisadores como foi o caso de Aziz Ab’Saber,
dentre outros mostraram a importância da geografia física e fizeram com que
esta ciência não perdesse o bonde da história com o crescimento da problemática
ambiental. Se hoje temos geógrafos atuando ativamente neste campo e sendo úteis
à sociedade se deve em grande medida a estes senhores. E isto que eu não estou
avaliando a opinião de Ab’Saber sobre política ou economia, que
era geralmente deplorável. Mas isto só mostra como sua prática científica
era verdadeira, sendo imune e objetiva frente às suas opiniões. Leia e compare
qualquer obra destes pesquisadores com a vaguidade de marxistas como Milton
Santos e outros para entender claramente o que eu digo.
Lembrar aos alunos qual a importância da ciência que se estuda com casos
práticos e análises não deveria ser responsabilidade de uma única ciência. Se é
cobrado isto da geografia é porque realmente não está claro o que ela faz e
como faz. Isto não depende da definição de
seu objeto, mas da clareza do que vem a ser um método geográfico. De que modo abordar um tema sem ser um estudo geológico,
biológico etc? Esta é a questão.
Eu acho que estes estudos existem, que tais métodos e abordagens também existem,
mas se uma gama de profissionais não conseguem fazer algo mais do que um
apanhado de informações sobrepostas da geologia, biologia e sociologia ou
economia não são uma nova espécie de cientistas, sinto muito. No máximo sim, bons
compiladores. Acho que a geografia pode se especializar em relacionar tais áreas
e deve fazê-lo, do contrário abortem-na.
Desde o século XVIII quando a geografia virou saber acadêmico,
inicialmente na Alemanha, depois no resto da Europa até cruzar os oceanos no século
XX, que a geografia não passava de um campo de saber organizado para justificar
ou promover ações de estado, seja com o determinismo
geográfico dos alemães, que seria inspiração para ações invasivas ou o possibilismo dos franceses, que
afirmava, acertadamente, que o homem não é um mero produto de condições climáticas
e/ou escassez de recursos naturais, sendo facultado a ele, a criação e construção
de alternativas.
Como se lê:
O grande erro dos professores de Geografia é realizar essa tarefa em apenas uma aula, durante um período específico do ano. Sempre que possível e necessário, é preciso lembrar aos alunos que a Geografia é a ciência que estuda o espaço geográfico, que aborda os seus aspectos naturais e humanos e que se baseia em importantes conceitos, como o de paisagem, espaço, lugar, região, território e muitos outros.
Dizer que um conceito é importante sem provar com análises sua importância
não passa de doutrinação. Não se precisa dizer que a matemática ou o estudo de
idiomas é importante, ele constantemente prova isto ao ser aplicado. De que modo a geografia é aplicada no cotidiano? Eu sei
que sim, mas é justamente isto que precisa ser evidenciado aos alunos. Algum físico
fala extensivamente sobre o significado e importância do conceito de energia
para a sociedade? Claro que não. Ela mostra como se faz uso contínuo da energia
e seu conceito é esmiuçado em estudos sobre situações. Qualquer caboclo tem noção
do que seja a paisagem, o espaço, o lugar, uma região, o território etc. e há vários
conceitos para isto, não precisamos de um teórico impondo um conceito à
sociedade para com a mudança do significado se maquie uma nova cosmovisão para
com isto empurrar goela abaixo seus objetivos... Escusos. Isto também não é uma
teoria conspiratória porque não se trata de um segredo, algo articulado, pensado
e aplicado metodicamente. Trata-se apenas de um cacoete burro de quem não questiona
sua própria ação. Ao seguir o conselho dado para sanar o primeiro defeito do
professor de geografia, o referido artigo está justamente asseverando vários defeitos
cotidianos de quem não mostra o valor do conhecimento e método geográfico sem
necessidade de propaganda ostensiva.
Quando eu era estudante de pós-graduação na USP, lá pelos idos dos anos
90 perguntei à três físicos como eles estudavam o espaço, conceito em voga e moda
na geografia marxista e pós-moderna da época, e me responderam com cara de
confusos “em que sentido?” Não lhes parece óbvio que sem especificar o problema
não há estudo válido, útil ou realmente importante? A importância de algo está
na razão inversa da necessidade de dizer que é algo importante. Analogamente,
se eu me apresento para uma entrevista de emprego devo deixar que minhas ações,
palavras, provas, currículo falem por si e não minha afirmação de que “sou
importante porque sou importante porque sou...” e assim por diante.
Conceitos como o de paisagem para estudar a seca
nordestina são úteis, mas sem quantificar o que se vê ou se sofre na paisagem
nordestina, o estudo da seca não apresenta nada de novo. O como algo se processa é tão
ou mais importante do que o que é este algo para que saibamos
tirar proveito deste conhecimento. Para além de lembrar conceitos, o método de
estudo é que é fundamental e daí, qualquer objeto pode se ser estudado dentro
da geografia. Lembrar que algo é importante soa como catequização se não há possibilidade
de questionamentos, dúvida e controvérsia até sobre a suposta importância de
algo.
Repetir mantras pode ser útil para prender alunos em sala de aula, adestrar
cães ou estimular a fé de monges, mas não para fazer ciência.
(Continua
...)
14 maio de
2015
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