- Anselmo Heidrich
Sempre
comemoramos têm algum significado de aproximação de grupo, comunidade ou
sociedade a qual pertencemos. Chegou a hora de comemorarmos algo um pouco
diferente... Sabe aquele velho amigo de adolescência que compartilhava sonhos e
utopias? Muitas das quais, sem fundamento econômico é verdade, mas que tinha
raiz na ingenuidade e disposição de construir algo novo. Bem, a triste verdade
é que há um lugar -- chamado Inferno --, que está coalhado de boas intenções.
Sem método e coerência, qualquer mundo de Poliana se desfaz como um castelo de
cartaz ao ser abraçado pela mais leve brisa. Distribuir residências, subsidiar
energia e promover "justiça social" com cabides de emprego ou bolsas
sem contrapartida no estudo e trabalho são exemplos do que digo.
Os
anos se passaram e os dois camaradas agora se tratavam como 'colegas', já não
tinham mais as mesmas obsessões em comum, mas divergiam muito nos métodos para
atingir seus objetivos. Enquanto você ainda acreditava no diálogo e na
coerência, o teu distante parceiro tinha um modo ainda mais distante de lidar
com as pessoas se pautando no princípio de que os fins justificam os meios.
Para enfraquecer seu patrão, mesmo que fosse um governante legitimamente
eleito, não desconsiderava lançar mão de greves políticas. Sempre dizia que
mérito, produtividade, avaliações institucionais ou auditorias externas eram
intromissões indevidas na liberdade alheia e em seu "direito
adquirido", mesmo que tal leitura legalista fosse totalmente arbitrária e
sem fundamento. Como eu disse, para o sujeito, os fins justificam os meios.
Agora,
passado os anos, você se esmerou, terminando sua graduação, se especializando
em diversos cursos de pós, estágios e ainda engravidou sua garota e casou,
assumindo a paternidade. O antigo camarada, por seu turno, descolou um cargo de
comissão de um político populista que fez sucesso em um programa de rádio em
que culpava a situação dos pobres pelas "elites", sempre misteriosas,
mesquinhas e medonhas, embora ninguém conhecesse seu verdadeiro rosto... Mas,
para sua surpresa, outro dia ao abrir o jornal, te deparas com o rosto
conhecido do sujeito envolvido em falcatruas, como um “laranja” para a
quadrilha do partido em que trabalha. Como se não bastasse, os recursos
desviados eram para “projetos sociais” e causaram tanta desconfiança que sócios
enganados apelaram para a justiça e retiraram seus investimentos levando a
maior ruína possível.
A
novidade é que quem pagará a conta é você, sentado no sofá, com recursos que
seriam destinados para o seu filho que está aprendendo a engatinhar, para seu
pai, que está perdendo a memória e já não se lembra mais de porque chegamos
onde chegamos. Mas você sempre se lembra quando vê o remédio importado
essencial para o coração da tua mãe ser sobretaxado por tributos necessários
para cobrir os rombos governamentais.
Neste
dia 16 de agosto de 2015 vamos às ruas mostrar nosso descontentamento com
aqueles que sempre atuaram como inimigos públicos número um, embora falassem
muito em prol desse público. Vamos levantar nossas vozes contra aqueles que não
souberam, não quiseram e desdenharam da necessária divisão entre o que é
recurso público e interesse privado. Tu tens essa opção ou, se preferir, se
afundar no sofá para se acomodar com o fundo do poço em que teu país foi lançado.
Minha
sincera dúvida é que se procedermos assim, o que nós temos de melhor daqueles
que sempre nos atacaram e traíram?