terça-feira, agosto 11, 2015

FELIZ DIA DO INIMIGO

- Anselmo Heidrich


Sempre comemoramos têm algum significado de aproximação de grupo, comunidade ou sociedade a qual pertencemos. Chegou a hora de comemorarmos algo um pouco diferente... Sabe aquele velho amigo de adolescência que compartilhava sonhos e utopias? Muitas das quais, sem fundamento econômico é verdade, mas que tinha raiz na ingenuidade e disposição de construir algo novo. Bem, a triste verdade é que há um lugar -- chamado Inferno --, que está coalhado de boas intenções. Sem método e coerência, qualquer mundo de Poliana se desfaz como um castelo de cartaz ao ser abraçado pela mais leve brisa. Distribuir residências, subsidiar energia e promover "justiça social" com cabides de emprego ou bolsas sem contrapartida no estudo e trabalho são exemplos do que digo.

Os anos se passaram e os dois camaradas agora se tratavam como 'colegas', já não tinham mais as mesmas obsessões em comum, mas divergiam muito nos métodos para atingir seus objetivos. Enquanto você ainda acreditava no diálogo e na coerência, o teu distante parceiro tinha um modo ainda mais distante de lidar com as pessoas se pautando no princípio de que os fins justificam os meios. Para enfraquecer seu patrão, mesmo que fosse um governante legitimamente eleito, não desconsiderava lançar mão de greves políticas. Sempre dizia que mérito, produtividade, avaliações institucionais ou auditorias externas eram intromissões indevidas na liberdade alheia e em seu "direito adquirido", mesmo que tal leitura legalista fosse totalmente arbitrária e sem fundamento. Como eu disse, para o sujeito, os fins justificam os meios.

Agora, passado os anos, você se esmerou, terminando sua graduação, se especializando em diversos cursos de pós, estágios e ainda engravidou sua garota e casou, assumindo a paternidade. O antigo camarada, por seu turno, descolou um cargo de comissão de um político populista que fez sucesso em um programa de rádio em que culpava a situação dos pobres pelas "elites", sempre misteriosas, mesquinhas e medonhas, embora ninguém conhecesse seu verdadeiro rosto... Mas, para sua surpresa, outro dia ao abrir o jornal, te deparas com o rosto conhecido do sujeito envolvido em falcatruas, como um “laranja” para a quadrilha do partido em que trabalha. Como se não bastasse, os recursos desviados eram para “projetos sociais” e causaram tanta desconfiança que sócios enganados apelaram para a justiça e retiraram seus investimentos levando a maior ruína possível. 

A novidade é que quem pagará a conta é você, sentado no sofá, com recursos que seriam destinados para o seu filho que está aprendendo a engatinhar, para seu pai, que está perdendo a memória e já não se lembra mais de porque chegamos onde chegamos. Mas você sempre se lembra quando vê o remédio importado essencial para o coração da tua mãe ser sobretaxado por tributos necessários para cobrir os rombos governamentais.

Neste dia 16 de agosto de 2015 vamos às ruas mostrar nosso descontentamento com aqueles que sempre atuaram como inimigos públicos número um, embora falassem muito em prol desse público. Vamos levantar nossas vozes contra aqueles que não souberam, não quiseram e desdenharam da necessária divisão entre o que é recurso público e interesse privado. Tu tens essa opção ou, se preferir, se afundar no sofá para se acomodar com o fundo do poço em que teu país foi lançado.

Minha sincera dúvida é que se procedermos assim, o que nós temos de melhor daqueles que sempre nos atacaram e traíram?

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