Leitura obrigatória para quem se interessa por Educação:
9 números que explicam por que a educação brasileira vai de mal a pior http://spotniks.com/9-numeros-que-explicam-por-que-a-educacao-brasileira-vai-de-mal-a-pior/
9 números que explicam porque a educação brasileira vai de
mal a pior – Felippe Hermes
"Em todo o país, mais de 600 escolas públicas estaduais
e federais seguem ocupadas. Greves de professores já são uma realidade em ao
menos sete estados. Movimentos de alunos grevistas paralisam aulas nas três
universidades paulistas. À primeira vista, não parece lá muito difícil entender
o que motiva qualquer protesto. Desde o início de 2015, apenas em escala
federal, a educação já perdeu cerca de R$ 14,7 bilhões em recursos. Programas
como FIES ou Ciências Sem Fronteiras foram congelados ou drasticamente
reduzidos. Vistos mais de perto, no entanto, a maior parte dos movimentos ajuda
apenas a mostrar um grave problema da educação no país: há tempos nos prendemos
à ideia de que mais educação é sinônimo de “mais verba para a educação”.
Não à toa, educação é considerada uma área prioritária por
dez entre dez brasileiros. Na prática, estudar um ano a mais pode lhe render um
aumento de até 15%, em média, na renda. Para cada ano de pós-graduação por
exemplo, a renda média pode crescer até 35,65%, segundo um estudo sobre o tema
elaborado pela FGV. Investir em educação é, portanto, um grande negócio, seja
para o trabalhador, seja para o país, correto? Restam poucas dúvidas disso.
Exemplos como os da Coréia do Sul, que há quatro décadas era mais pobre que o
Brasil, e hoje é três vezes mais rica, não nos deixam mentir sobre o impacto
que a educação pode ter para transformar o futuro de um país. Definir
exatamente o que é “investir em educação”, porém, é a grande questão.
Foi ainda como governador do Ceará que Cid Gomes fez chacota
da greve dos professores, sugerindo que “professor deve trabalhar por amor, não
por dinheiro”. A frase causou revolta e já foi atribuída erroneamente a
diversos autores, como o governador paulista Geraldo Alckmin. Significa, na
prática, o exato oposto daquilo que se considera como o correto para termos uma
educação de qualidade que coloque o Brasil entre os países desenvolvidos.
Não por um acaso, abraçamos com veemência a ideia de destinar
10% do PIB para a educação, ainda que no mundo real este número mágico não siga
estudo algum que o comprove. De fato, o país que mais investe em educação
proporcionalmente ao seu PIB, o Timor Leste, não tem tido grandes avanços com
isso.
Entre 2005 e 2015, vimos o orçamento do Ministério da
Educação crescer 531%, saltando de R$ 15,97 para R$ 85 bilhões em orçamento,
sendo 1/3 dele destinado aos 1,7 milhão de universitários matriculados em
instituições públicas brasileiras. Apesar disso, seguimos sem grande destaque
entre as universidades do mundo. A primeira universidade federal brasileira a
aparecer no ranking das melhores do mundo, a UFRJ, ocupa um modesto 323º lugar.
Quanto nos comparamos ao resto do mundo, o resultado fica ainda mais
preocupante. Nem todo este aumento de verba impediu o Brasil de cair para um
60º lugar no PISA, o exame internacional de educação que mede a qualidade do
ensino em matemática, ciências e leitura. Estamos ao lado de países como
Albânia quando o assunto é matemática, e atrás de Romênia e Bulgária quando
tratamos de leitura.
Entender o que deu errado, ou mesmo por onde as coisas
começam a dar errado na nossa educação, não é algo fácil. Do ensino básico ao
ensino superior, continuamos capengando. Quer saber melhor o tamanho da
encrenca? Estes são alguns dos motivos:
1. INVESTIMOS MAIS DO QUE QUALQUER PAÍS EM ENSINO SUPERIOR,
E MENOS EM ENSINO BÁSICO.
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Ao contrário do que se imagina, gastar com educação não é
algo colocado em segundo plano pelo governo brasileiro. Gastamos cerca de 19%
do total de despesas do governo brasileiro com educação, contra 13% na média da
OCDE, uma organização que reúne alguns dos países mais ricos do mundo, além de
outros países emergentes, como Chile e México, por exemplo.
Gastamos com educação 6,1% do nosso PIB, contra 4,5% do
Chile e 4,7% da Argentina, ambos países melhor colocados no PISA.
Na média, despendemos cerca de US$ 10,9 mil por cada aluno
no ensino superior, já excluídos gastos com pesquisa, contra US$ 9,3 mil de
países ricos.
Por aqui, são gastos em média 410% a mais por cada aluno no
ensino superior em relação aos alunos de ensino básico, contra 30% a mais que
gastam os países já considerados desenvolvidos.
Quando comparamos com nosso PIB per capita, gastamos na
média 93% dele por cada aluno no ensino superior, contra 23% gastos com alunos
do ensino básico.
2. TEMOS 3 VEZES MAIS BUROCRATAS NA ÁREA DE EDUCAÇÃO DO QUE
A MÉDIA MUNDIAL.
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Quantas pessoas trabalham na área de educação no Brasil?
Aparentemente essa pergunta possui pouca ou nenhuma relevância quando nos
preocupamos em “como investir em educação”. O exército de 5,1 milhões de
funcionários da educação no Brasil, no entanto, dá uma boa pista de para onde
vai todo nosso “investimento”.
Temos hoje cerca de 2 milhões de professores, contra 3,1
milhões de “não professores”, ou seja, pessoas que trabalham em escolas,
secretarias de educação e tudo o mais que seja necessário para manter uma
universidade ou escola. Ocorre que esta média, de 1,5 não professor para cada
professor, é considerada única no mundo. Trata-se de um recorde de
consequências poucas conhecidas.
Na média, cada país membro da OCDE emprega 0,5 não
professores para cada professor. Considere por um minuto que as escolas
brasileiras precisassem do mesmo número de funcionários que as bem sucedidas
escolas de países como Finlândia, França ou Alemanha – isso implicaria que
temos por aqui algo como 2 milhões de pessoas trabalhando em um setor sem que
sejam de fato necessárias.
Cerca de 11% do orçamento do Ministério da Educação
destina-se exclusivamente a manter o Ministério e sua burocracia. Nas
universidades, boa parte é gasto também com estrutura. Neste efeito cascata que
começa em Brasília e se estende até as secretarias de educação estaduais,
chegamos a um gasto de quase R$ 46 bilhões apenas com burocracia, que, caso
mantivéssemos o mesmo número de escolas de países ricos, não seriam
necessários.
Na prática, significa que poderíamos, caso destinássemos
estes recursos para aumentar salários de docentes, pagar a eles até 73% mais do
que hoje, fazendo com que nenhum professor no Brasil recebesse menos do que 3
vezes o salário médio de um trabalhador brasileiro.
3. EM ALGUMAS UNIVERSIDADES, ATÉ 102% DO ORÇAMENTO É GASTO
APENAS COM SALÁRIOS.
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Mesmo com autonomia financeira, o que implica que seu
orçamento não depende da boa vontade de governantes, algumas universidades
brasileiras têm tido dificuldades para pagar as contas. Este é precisamente o
caso da Unicamp, a segunda maior universidade paulista e a segunda melhor
universidade brasileira dentre as 500 melhores do mundo.
O caso da Unicamp não se diferencia muito da USP, onde
104,7% do orçamento foi gasto em salários em março deste ano. Por lei, as
universidades paulistas tem à disposição 9,57% do ICMS arrecadado pelo estado,
valor que mantém todos os gastos com os mais de 200 mil alunos das três
instituições. O número é equivalente à metade do gasto total com os 4 milhões
de alunos em escolas técnicas.
Com esta verba, as universidades devem pagar salários,
manter hospitais universitários, financiar pesquisas, investir em
infraestrutura e tudo o mais que se necessite para o seu bom funcionamento.
Como resposta, as universidades paulistas, que hoje
enfrentam greves, pediram ao governo estadual que aumente a cota à qual têm
direito no ICMS para 9,9%.
Em universidades federais, a situação não é muito distinta.
Na UFRJ, 95% do orçamento é gasto com salários. A universidade chegou a
enfrentar problemas como corte de energia, uma vez que as contas se encontravam
atrasadas por falta de recursos. Nove universidades federais já acumulam
déficits que chegam a R$ 400 milhões, a despeito de seus orçamentos terem mais
do que triplicado na última década.
Transformadas em meras pagadoras de salários, as
universidades brasileiras investem cada vez menos.
4. O NÚMERO DE ADOLESCENTES ENTRE 15 E 17 ANOS QUE ABANDONA
A ESCOLA SALTOU DE 7,2% PARA 16,2% NA ÚLTIMA DÉCADA.
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Manter um aluno na sala de aula deveria ser em tese o
primeiro objetivo de qualquer plano educacional. Na prática, porém, este
resultado está longe de ser alcançado.
Entre 1999 e 2011, o número de jovens que abandonam as
escolas no Brasil saltou de 7,2% para 16,2%. Destes, cerca de 60,5% estão
empregados e outros 33,8% estão em busca de trabalho. Como aponta a pesquisa
realizada pela FGV, abrir mão de complementar o ensino médio pode impactar em
até 40% o salário médio do trabalhador no futuro.
Nenhuma área é hoje tão problemática para desenvolver a
educação no Brasil quanto o ensino médio – é o que tem apontado a UNICEF, órgão
das nações unidas para a infância e adolescência.
O currículo inchado com 13 disciplinas e 5 outras
complementares é um dos fatores considerados primordiais e afasta os jovens das
salas de aula. Para boa parte, ir à escola significa apenas obter um diploma.
5. 38% DOS UNIVERSITÁRIOS BRASILEIROS SÃO CONSIDERADOS
ANALFABETOS FUNCIONAIS.
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Expandir o número de matrículas no ensino superior foi por
muitos anos o principal objetivo do Ministério da Educação para o setor. Por
meio de financiamentos como o FIES, ou programas como o Reuni, dedicado à
expansão de vagas em universidades públicas, o MEC colaborou ativamente para
elevar em 81% o número de vagas nas universidades brasileiras.
A qualidade dos alunos que entram ou saem, porém, ganhou
pouco destaque. Segundo uma pesquisa realizada pelo Instituto Paulo Montenegro,
feita com 2 mil alunos em universidades do país, cerca de 38% deles apresenta
dificuldade em compreender um texto e fazer associações entre o que leram e
aquilo que é perguntado. Quando levados em conta apenas alunos com mais de 50
anos, o índice chega a 52%.
O número é semelhante também ao de brasileiros que jamais
completaram o ensino fundamental, cerca de 1 em cada 3.
6. 35,4% DOS PROFESSORES DO ENSINO FUNDAMENTAL NÃO DEVERIAM
PODER DAR AULAS POR FALTA DE QUALIFICAÇÃO.
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“Um país pode ir tão longe quanto o nível de seus
professores permitir”. A frase do coordenador do PISA, o exame internacional
que mede a qualificação dos alunos em 65 países ao redor do mundo, evidencia
exatamente um dos maiores desafios do Brasil: superar a falta de interesse dos
jovens brasileiros pela carreira do magistério.
Com salários baixos e uma rotina considerada estressante,
apenas 2% dos jovens brasileiros querem seguir carreira na área. Daqueles que
efetivamente se tornam professores, cerca de 1 em cada 3 não o fazem por meio
de uma graduação – apenas dão aulas após completarem o ensino médio. Entre o 6º
e 9º ano, cerca de 35,4% dos professores não fez licenciatura ou graduação em
Pedagogia.
Quando o assunto são questões mais específicas, como a
educação para indígenas, por exemplo, a situação piora e muito. Cerca de 12,1%
dos 8 mil professores concluíram apenas o ensino fundamental e 9,9% deles
sequer concluíram. Quase metade das escolas não possui material didático
apropriado.
Um professor brasileiro ganha 43% menos do que a média na
América Latina e 50% a menos do que em países como o Peru.
7. APENAS 0,6% DAS ESCOLAS BRASILEIRAS TEM CONDIÇÕES
CONSIDERADAS IDEAIS.
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Biblioteca, laboratório de informática, quadra poliesportiva
e adaptação para receber alunos com necessidades especiais podem não parecer um
grande exagero. No fundo, trata-se do mínimo necessário para que um aluno possa
focar apenas naquilo que realmente importa: a qualidade da aula.
Essa, porém, é a realidade de apenas 0,6% das escolas
brasileiras. Escolas elementares, aquelas que possuem apenas água, esgoto,
energia e cozinha, representam cerca de 44% das 194 mil escolas brasileiras. Em
13 mil destas escolas não há sequer energia elétrica. Em 72,5% delas, não há
biblioteca.
Em alguns lugares, como a região Norte do país, os números
são ainda mais preocupantes: até 71% das escolas podem ser consideradas
“elementares”. Na área rural este número chega a 85,2% das escolas.
Em nenhuma região brasileira, porém, o número de escolas com
estrutura considerada “ideal” chega a ser maior do que 2%.
8. A CADA MINUTO, 3 ALUNOS ABANDONAM A ESCOLA NO BRASIL.
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Diminuir o número de alunos não matriculados em nenhuma
série foi por muito tempo o principal objetivo dos sucessivos governos
brasileiros. Ainda assim, cerca de 7 milhões de crianças entre 0 e 17 anos
estão longe das escolas.
Nas creches, o número chega a ser de quase 25%, ou 3 milhões
de crianças. Para resolver este problema, em tese, o governo pretendia
construir 6 mil creches em 4 anos. Um corte de 84% na verba para este tipo de
investimento em 2015, no entanto, inviabilizou os planos.
Entre os alunos já matriculados, o grande problema tem sido
a evasão. Segundo as Nações Unidas, dentre os 100 países com maior IDH no
mundo, apenas 2 possuem taxas de evasão escolar maiores que a brasileira.
Apenas em 2012, 1,6 milhão de alunos abandonaram as salas de
aula, ou 1 a cada 3 minutos. Com cerca de 3,15 milhões de crianças envolvidas,
o trabalho infantil explica parte do problema, porém não todo. A repetência é
um grande incentivo ao abandono. Cerca de 1/3 dos alunos que deveriam estar no
ensino médio ainda encontram-se presos ao ensino fundamental.
Com números como este, o Brasil segue como o país com a
menor média de estudos da América Latina, tendo 45,5% dos seus adultos sem um
ensino fundamental completo.
9. 25 ANOS É O TEMPO QUE LEVARÁ PARA OS ALUNOS BRASILEIROS
TEREM O MESMO DESEMPENHO DOS ALUNOS EM PAÍSES RICOS HOJE.
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A soma entre professores desmotivados, governos que não
sabem onde gastam, escolas com pouca ou nenhuma estrutura, pais que não
completaram os estudos e outros fatores como os citados acima, não poderia
resultar em nada diferente. Para atingir hoje o mesmo nível de alunos de países
desenvolvidos, os brasileiros terão de percorrer ainda longos 25 anos,
mantendo-se o nível de investimento crescente atual.
Para o vice-presidente de educação da OCDE, Andreas
Schleicher, melhorar a educação passa por concentrar-se naquilo “que realmente
importa”. Segundo Andreas, países pobres como Vietnã, o 17º colocado no ranking
do PISA, atingem números considerados “impressionantes”, ainda que seu
dispêndio em educação seja considerado baixo, pois focam em melhorar a gestão
dos poucos recursos que possuem.
O problema é que no Brasil, dispersos entre slogans e frases
de efeito, os jovens brasileiros relegam para segundo plano atributos como
eficiência.
Em estados como o Rio Grande do Sul, o governo tem hoje de
bancar 1,1 professor aposentado para cada 1 professor na ativa. Com
características como essa, o dinheiro destinado à educação se esvai. Em estados
como os do Rio de Janeiro ou Minas Gerais, gasta-se mais com aposentados e
pensionistas do que com educação.
Nem mesmo a crise parece fazer os governos estaduais e
federal repensarem práticas. Em andamento, lidamos agora com medidas que podem
elevar os impostos sobre o setor de serviços, em especial sobre educação. Para
fazer caixa e ajustar as contas, o governo prevê investir menos em educação
pública e arrecadar mais impostos do ensino privado."
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