Imagem: Pinheiro-do-Paraná (Wikipedia). |
Faz algum tempo fiz algo raro para os dias atuais: comprei uma revista na banca. Encadernação luxuosa, a Revista de História Catarina em edição sobre “História Ambiental de SC” me deixou curioso, pois é um tema raramente tratado por historiadores, embora exista uma tradição disto, especialmente no exterior.
Como adquiro livros e os deixo em stand by para ler, até anos depois, com esta revista não foi diferente. Havia lido uma matéria sobre o desaparecimento das lagoas catarinenses, processo ligado ao assoreamento em que a urbanização e retilinização dos canais eram apontados como causadores. Mas… Quando fui ler a matéria principal, sobre as secas de 2003-2004, 2007-2008 e 2011-2012 relacionando-as com o fenômeno climático La Niña, que corresponde ao resfriamento das águas do Oceano Pacífico (ao contrário do El Niño) achei que estava lendo um artigo, realmente, científico focado no assunto. Enganei-me…
Nas suas seis páginas lá estavam as descrições generalistas dos danos causados pelas secas e suas causas. Dentre elas, o desmatamento. Até aí, ok, desmatamento leva ao empobrecimento do solo e dependendo da atividade que substitui a cobertura vegetal há um uso mais intenso da água. O desmatamento também pode diminuir a umidade local, que influencia no clima regional produzindo menos chuvas, mas a área reflorestada não é causa disto, até onde sabemos. E o reflorestamento para fins comerciais é necessário para que não se desmate a vegetação superior (florestas) remanescente.
Na metade do artigo, lá pela 4ª página começa a ladainha que aponta as causas das secas “pela introdução contínua de métodos capitalistas de produção”; “não há lastro para expansão de fronteiras agrícolas”; “este panorama produtivo, orientado para uma pecuária artificial sustentada por uma oligocultura para ela dirigida, é altamente insustentável ambientalmente”; “políticas públicas carentes de um planejamento adequado, costumeiramente direcionadas a facilitar a autorreprodução do capital”; “as calamidades resultavam da contraditória relação homem/natureza”; e como se não bastasse essa enxurrada de bordões de esquerda marxista, o autor conclui:
“Os registros de estiagens no Oeste, assim como o registro de outros desastres ambientais, têm crescido em decorrência da ação antrópica, com o aumento da população e a introdução de técnicas e utilizações dos solos, voltadas para a produção capitalista.”
Esta é a súmula e no parágrafo seguinte, como se fosse uma decorrência natural do capitalismo, o autor adiciona:
“Dentre as mudanças na paisagem que contribuem para o recrudescimento das estiagens, há que se destacar a aglomeração de edificações, a impermeabilização do solo e a poluição atmosférica, nos ambientes urbanos; a compactação do solo, o assoreamento dos rios, o desmatamento, e as queimadas, nas áreas rurais.”
Edificações decorrem do aumento populacional, não necessariamente do capitalismo. Ainda assim, pode se ter edifícios com mais áreas verdes intercaladas, o que não deixa de valorizar os imóveis diga-se de passagem, como apreciam os capitalistas ().
Impermeabilização do solo tem soluções fáceis e conhecidas, com a substituição de mantas asfálticas por lajotamento e paralelepípedos. As empresas não deixarão de existir, nem uma revolução comunista será necessária para isso.
As queimadas (coivara) em áreas rurais é tradição indígena adotada pelos colonos, não é prática do agribusiness. O que tem a ver o capitalismo com isso?
Assoreamento dos rios seria sensivelmente reduzido, caso houvesse uma melhor fiscalização por parte dos agentes ambientais e penalização pecuniária salgada e regular que adestre o agente produtivo criando incentivos à preservação parcial. O que, aliás, em uma perspectiva inter-temporal redunda em lucro, pois evita agregação de custos de fertilização e desassoreamento necessários.
A compactação dos solos pode ser evitada com o rodízio de culturas, técnica medieval.
Essas e outras causas antrópicas podem ser discutidas pela perspectiva TÉCNICA e não, IDEOLÓGICA ou SOCIOLÓGICA, como propõe o autor. Acontece que autores marxistas são reféns do método que advoga a TOTALIDADE. Só que por “totalidade”, eles entendem uma determinação imaginada por Karl Marx, com todos os eventos sociais, sim TODOS, inclusive as técnicas produtivas decorrentes da necessidade de acumulação capitalista e destruição ambiental. Para quem acha que estou imaginando, o próprio autor é quem diz quando:
“[A]s ações humanas (…) são frutos de demandas socialmente determinadas, não podem ser separadas das questões ecológicas, como se o meio ambiente não fosse transformado e formatado pelo Homem e como se este fosse um ser supranatural.”
Aqui fica clara a tentativa de domar a ciência ecológica à teleologia marxista, de que tudo que existe de destrutivo ou impactante decorre de um ciclo de expansão capitalista, como se esta mesma destruição inexistisse no mundo socialista ou que inovações menos impactantes, sustentáveis, tecnologias limpas não fossem criadas, justamente, no capitalismo.
Em suma, esta é a verborragia que vem em papel couché, com financiamento de empresários catarinenses que querem posar para fotos publicadas junto ao editorial de uma revista, cujas páginas eles sequer entendem e que alguns desavisados saem repetindo, doutrinariamente, como papagaios e arautos do fim do mundo. Este é o lixo reproduzido nos cursos de humanas de universidades públicas.
Urge privatizá-las e urge a nós, que vomitamos com tudo isto estabelecermos nossos próprios think tanks independentes que não se limitem a repetir cânones liberais (na economia) e conservadores (na cultura), mas que vamos além, propondo um diálogo com os especialistas de áreas técnicas para um trabalho de media watch não limitado ao jornalismo, mas que alcance e desmistifique essas produções pseudo-científicas.
Faço isso há anos, mas preciso de parceiros… Quem vem comigo?
Precisamos de subsídio e não me refiro à grana, não quero criar mais um meio de enriquecimento e formação de clubinho fechado, igrejinha ideológica. Preciso de parceiros para local de palestras, alguém que saiba filmar e editar vídeos e se proponha a fazer um trabalho de formiguinha em conjunto para destruirmos esta hegemonia obscurantista.
Se quiserem, contatem-me por aqui mesmo ou via e-mail: aheidrich@gmail.com
Anselmo Heidrich
2 fev. 19
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