sexta-feira, junho 03, 2011

Matando a sociologia


Sociólogo e mestre em ciência política assina a pérola abaixo:


Existe, sim, um nexo efetivo entre a votação do Código Florestal e os novos assassinatos de trabalhadores rurais. Não adianta negar. Por mais que cause irritação em setores do governo, nos donos do agronegócio e nos políticos que lhes prestam serviço no parlamento brasileiro, tal vínculo existe. É ele, aliás, que explica também o surto atual de crescimento das áreas desmatadas.
Quem aperta o gatilho, claro, é um pistoleiro de aluguel. Mata, arranca a orelha para provar a execução do serviço, recebe o pago do mandante e fica acoitado na espera de novas encomendas. Pistolagem, grileiros, contrabando de madeira de lei, desmatamento ilegal, entre outras, são violências antigas no campo brasileiro. Mas flutuam de intensidade a depender das relações de forças na política. Os que assassinam opositores e destroem florestas estão, na quadra atual, certos da impunidade, e se imaginam respaldados de cima.
(...)
Os marcados para morrer que se cuidem, pois a alma do governo está empenhada ao agronegócio.
(...)

O que me impressiona é que hoje neste país fazer "ciência social" não exige análise empírica, apenas uma imaginação pra lá de fértil. O autor das linhas acima desconsidera, por exemplo, que boa parte da pressão pela revisão do Código Florestal parte, justamente, de pequenos e médios agricultores que têm áreas proporcionalmente maiores para preservar. 30m de cada lado de cursos fluviais pode ser insignificante para latifundiários, mas não para minifundiários, óbvio. Esta análise proporcional porém não traz a mesma ênfase mistificadora que dicotomiza a sociedade em classes antagônicas, das quais os mais bem sucedidos devem ser demonizados. Como sociólogo, o estudo da cultura e sua base em estruturas sociais deveria ser levado em conta. Este seria o caso em que regiões mais isoladas dos centros econômicos onde o estado de direito se faz menos presente são mais violentas. A falta de legalidade abre um vácuo de poder que é preenchido pela violência, óbvio também. Mas, não, tudo pelo qual opta o autor é uma ultrapassada teoria entre explorados e exploradores na qual tudo deve se encaixar.

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