Imagem: e-farsas.com |
A imagem acima foi tirada em
Manila, Filipinas em 2012 quando da passagem do tufão Saola. O que parece ter
sido uma brincadeira tem algo de revelador, a infra-estrutura para evitar
inundações é deficitária em grandes cidades ou em áreas sujeitas à fortes
chuvas, como estamos acostumados nas regiões litorâneas brasileiras. Embora sua
solução seja difícil, não é algo impossível, sobretudo se pensarmos na melhor
localização urbana e coibição da ocupação em áreas de risco. Na imagem, ainda
temos uma lan house, que talvez nem estivesse funcionando, mas seus equipamentos estão
lá. Como esta parafernália eletrônica pode ser montada em comunidades pobres
(eu estou intuindo que seja uma área pobre, como tantas assim no Brasil) e ter
seus equipamentos, conexões e consumo do serviço em ordem, enquanto que uma
infra-estrutura urbana se mostra tão difícil de ser sequer planejada, quando
mais implantada? Para entender a lógica deste processo, eu sugiro que assistam
à concisa apresentação de Paul Romer. É um vídeo inspirador. Realmente, muito,
muito bom.
A idéia radical de Paul Romer: Cidades-Manual http://on.ted.com/f044y #TED
Agora
vejamos como uma conhecida teórica do urbanismo lida com a questão:
A situação da mobilidade nas cidades brasileiras
assemelha-se muito à de Los Angeles, descrita por Mike Davis. Nas nossas
ruas, o direito à mobilidade se entrelaçou fortemente com outras pautas e
agendas constitutivas da questão urbana, como o tema dos megaeventos e
suas lógicas de gentrificação e limpeza social. As palavras de Ermínia
Maricato – “os capitais se assanham na pilhagem dos fundos públicos
deixando inúmeros elefantes brancos para trás” – me lembraram um cartaz
que vi em uma das passeatas: “Quando meu filho ficar doente vou
levá-lo ao estádio”. A questão urbana e, particularmente, a agenda da reforma urbana,
constitutiva da pauta das lutas sociais e fragilmente experimentada em
esferas municipais nos anos 1980 e início dos anos 1990, foram abandonadas
pelo poder político dominante no país, em todas as esferas. Isso se deu em
prol de uma coalizão pelo crescimento que articulou
estratégias keynesianas de geração de emprego e aumentos salariais a
um modelo de desenvolvimento urbano neoliberal, voltado única e
exclusivamente para facilitar a ação do mercado e abrir frentes de
expansão do capital financeirizado, do qual o projeto Copa/Olimpíadas é a
expressão mais recente… e radical.[1]
O
que chamam de “modelo de desenvolvimento urbano neoliberal” se assemelha mais a espasmos de liberalização, que na verdade é mais periclitante que cíclico.
Uma das razões é a necessidade econômica de gerar valor, o que o
intervencionismo estatal acaba abolindo ou secando a fonte com o passar do
tempo. A excessiva atuação estatal é a norma, nossa constante em diversas
nações do mundo e na América Latina em particular. Enxergar uma “guinada
neoliberal” a partir dos anos 90 é criar um espantalho para iludir cidadãos
acerca de nossos problemas, que residem exatamente no mau uso da máquina
pública. Apesar das reformas propostas no período da gestão FHC terem sido
tímidas e pontuais, sucessivas análises feitas por socialistas e assemelhados
têm afirmado que os problemas de nossa economia (assim como as crises mundiais)
foram conseqüência da globalização mundial e opção neoliberal de vários
governos.[2]
E
quais seriam estas “estratégias keynesianas de geração de emprego”? Por acaso
estamos assistindo a uma intervenção cada vez maior do estado na economia na
produção de setores básicos? Na execução de infraestrutura? Na criação de
mecanismos de promoção social via geração de
emprego?[3] Nem sequer temos
uma orientação de investimentos setorial. Estas são algumas características
mínimas para definirmos a atuação estatal nacional, sobretudo em âmbito urbano
como keynesianas e, sinceramente, não é o que se observa. Intervencionismo?
Sim, ocorre. Estatismo, burocratização? Sim, mas nada que se configure como um
planejamento centralizado dotado de um mínimo de racionalidade visando o
desenvolvimento a longo prazo, mesmo com possibilidades de déficits públicos e
alta inflação que o próprio Keynes subestimara.[4]
[1] “Cidades Rebeldes.” Blog da Raquel
Rolnik. Disponível em: <http://raquelrolnik.wordpress.com/2013/08/06/cidades-rebeldes/>.
Acesso em: 12 fev. 14.
[2] “A maré estatista
na América Latina e a Teoria do Intervencionismo.” Instituto Ludwig
Von Mises Brasil. Disponível em: <http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=1715>.
Acesso em: 22 fev. 14.
[3] A única exceção é a
redistribuição de renda via programas federais, mas que não tem o emprego como objetivo explícito.
[4] BRASSEUL, Jacques. História Econômica
do Mundo: das origens aos subprimes. Lisboa,
Edições Texto & Grafia, Ltda., 2012, p. 388-389.
De fato, desde a Constituição de 1988, o Estado brasileiro vem investindo cada vez menos e gastando cada vez mais com transferências de renda de cunho social, no âmbito do LOAS, sistema previdenciário e, a partir de 2001, dos programas que vieram depois a formar o Bolsa Família. Por isso, o nosso crescimento econômico vem sendo medíocre desde então. Ainda assim, os teóricos de esquerda têm a cara de pau de dizer que o abandono desta ou daquela política, como a tal reforma urbana que eles querem, se deve a uma combinação de políticas keynesianas com estratégias "neoliberais", o que é uma contradição em termos! Se eles queriam que o Estado tivesse investido mais em política urbana, deveriam ter defendido a reforma da previdência já durante o governo FHC. Caso esse problema tivesse sido atacado de forma mais efetiva há vinte anos atrás, hoje haveria muito mais recursos para investir. A ideologia leva essa gente a fazer sempre o diagnóstico errado e a propor as soluções erradas!
ResponderExcluirMuito interessante o video do Paul Romer sobre a criação de cidades novas, com novas regras para levar desenvolvimento a lugares atrasados. Interessante ainda ele incluir o Brasil, porque muitos americanos estão achando que o Brasil será um potência mundial um dia, mas a nossa realidade em muitos aspectos está mais próxima daquela do africano estudando sob o posto, com o detalhe de que um brasileiro estaria, com maior probabilidade, tentando roubar os fios de cobre e não estudar sob a luz do poste do aeroporto. A gestão macroeconômica do país, feita pelos keynesianos de quermesse, tem deixado bem visível que aquela turma toda qe apoiou o PT nunca entendeu nada de economia. Se eles continuarem, a coisa só vai piorar.
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