Vou falar sobre uma parte da Esquerda brasileira:
No início dos 80, quando eu me voltei para a política, no plano
meramente teórico eu via gente dizendo coisas como:
1. A Direita domina porque não tem preconceito, eles leem Marx (um dos melhores conhecedores de Marx é Delfim Netto[1]);
2. Havia muita briga interna, muita mesmo. Mais do que entre conservadores e libertários, do que entre ancaps e minarquistas, do que "bolsominions" e liberais que se vê hoje em dia... Era entre trotskystas e stalinistas (Convergência Socialista vs. PCdoB), leninistas pós-Kruchev (PCB) vs. stalinistas (PCdoB), comunistas (Marx) vs. anarquistas (Proudhon, Bakunin etc.) e todos esses ficaram de cara quando gente como Gabeira voltou falando de negros, mulheres e meio ambiente - "ah! mas você quer lutar pelas minorias?!" - refletindo as transformações da esquerda europeia (e americana), a New Left, que é o que domina hoje em dia aqui;
3. Pois bem kamaradas! A esquerda chegou ao poder e ela não teria conseguido sem os sindicatos e o que fez? Aplicou a teoria? NANANINANÃO... Ela SE ADAPTOU!
Agora sabem o que eu vejo? A mesma coisa do outro lado do espectro
político, na chamada "direita" (mesmo que liberais não gostem do
rótulo é assim que eles nos enxergam). E sabe o que vai acontecer quando
tomarmos gradativamente o poder? Teremos que nos ADAPTAR.
AGORA, nós queremos brincar de política, de revolucionário ou
queremos crescer e ser "gente grande"?
Se formos crianças vamos repetir o filme da esquerda só que
defendendo a propriedade privada, talvez a única diferença; se formos adultos
deveremos estudar Teorias do Estado
(ao invés de fazer biquinho e dizer "estado bobo, feio, mal, não gosto do
estado, buáááá") para transformá-lo paulatinamente. Isto leva décadas e
deve começar pelas prefeituras, pois estas estão ao nosso alcance.
Ao invés de tentar mudar a sociedade pense em políticas voltadas ao
seu bairro, ao invés de pensar no meio ambiente amazônico proponha um plano de
saneamento para a cidade, ao invés de só falar no tesouro nacional te informe
sobre as contas públicas do município. Daí, juntando os cacos aqui e ali
teremos informação e experiência para pensar Brasília e outras instâncias.
Se não for isto, tu podes sair cantando Titãs "a gente não
quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte..." para que em 2018
venha um novo Salvador da Pátria. Daí kamaradas
nós teremos muito choro, muita emoção, a bandeira nacional tremulando contra o
azul profundo do céu, abraços, lágrimas, emoção... Mas toda a velha guarda
estará ali, com seu melhor olhar triste treinado de político profissional
pronta, prontinha para o quê? Para se ADAPTAR. E nisto reconheçamos, eles são
muito bons. Fazem há décadas e continuarão fazendo se não mudarmos isto de
baixo pra cima, de fora pra dentro, como qualquer sociedade que evoluiu fez.
[1]
À época visto como um legítimo pensador de ‘direita’, mas não liberal, pois
liberalismo mesmo era coisa entendida como ‘fracassada’. Ser de ‘direita’ era,
simplesmente, ser anti-socialista e isto compreendia tudo, desde o
pró-americano ao defensor de ditaduras militares etc.
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