Porque algo está na moda, então tenho que ser necessariamente contrário? / Because something is in fashion, so I have to be necessarily contrary? |
Sobre: Folha
de S.Paulo - Colunistas - Luiz Felipe Pondé - Marketing social - 03/09/2012. Eu
geralmente gosto dos textos de Pondé, mas neste, o seu “anti-politicamente
correto” pecou pelo tom excessivamente oposicionista ao atual modismo
intelectual. Este texto consegue ser, no máximo, uma caricatura a guisa de
análise.
Em uma das passagens, o autor critica algo sem
especificá-lo: é verdade que nem tudo se aprende com os pais, pois o meio
social é muito mais amplo do que isto, daí que a “dignidade” passada pelos pais
não seria verdadeira. Mas, a qual “dignidade” ele se refere? Então, o paradigma
social é o da indignidade mesmo? Dignidade
do que, indignidade do que? Isto parece mais um arremedo pseudo-filosófico
baseado em um hobbesianismo primário, estilo “o homem é o lobo do homem” ou, na
versão mais popular contemporânea, “está tudo dominado!” Ficou, por demais, impreciso.
Se ele não define qual dignidade se
refere, não dá para saber se o que diz procede, não dá para concordar nem dá
para discordar. É um completo vazio.
Em outra passagem, o autor parece confundir
causa com conseqüência, ou inverter pólos da história, sem senso cronológico. A
moral pública que ele diz “fundada na hipocrisia” é um completo contra-senso,
pois a hipocrisia não aponta para seu início ou fundamento, mas sim para o fim da moral pública. Se acharmos
mesmo que todo um edifício cultural e institucional foi criado com o propósito
de iludir, sinto muito Pondé, mas tu te mostras tão paranóico e
auto-persecutório quanto qualquer medíocre apóstolo de Karl Marx, o que é algo
estranho e anacrônico para quem, como eu, repudia o marxismo.
Por mais que rejeitemos este discurso
pós-socialista que define o bem público como essencialmente superior –
econômica, política e moralmente – à esfera da vida privada, não deixa de ser
ingenuidade, para não dizer tosca percepção mesmo, de que um espaço público,
uma ética profissional de nossos administradores e um código de posturas ativo para
a urbe não só não é desejável como na verdade extremamente necessário. E não me
digam que busco “pelo em ovo”, pois a retórica do autor aponta para esta
conclusão sim.
Ainda temos a tola afirmação de que a um homem
incomoda ganhar menos do que sua mulher. Visto desta forma, tudo não passa de
dominação. Se ele admite isto como uma premissa verdadeira, eu não tenho como
objetar, mas se em outro item ele afirma que mulher solteira não vive bem é
porque de alguma forma vê a família ou o casamento como socialmente salutares.
Então, ou um ou outro, ou uma corrida hobbesiana em prol do descarado domínio
sexual ou a união calcada em valores e uma moral pública lembrando que lá atrás
ele também rejeitou esta ao definir seus apologistas como “hipócritas”. Em
suma, se é tudo uma questão de dominação, por que uma mulher precisaria viver
com um homem, por que gosta de ser dominada? Se Pondé gosta mesmo de argumentos
científicos, qual é a base genética desta afirmação? Ou vai me dizer que a
psicanálise, a mera intuição ou a astrologia podem ser recursos para se afirmar
uma estultice destas? Na verdade, se tomarmos suas críticas em conjunto,
veremos que suas extensões se contradizem mais de uma vez.
Quanto aos gays, eu concordo que há uma
sobrevalorização disso. Agora, também é verdade que há um pavor da simples
presença e manifestação pública deles. Eu sou contra a parada gay, como a que
ocorre em São Paulo
por um motivo bem simples, ele capta recursos públicos para isso. Por outro
lado, não há razão neste mundo que me leve a apoiar a proibição de manifestação
de afeto entre eles. Cada um na sua,
é um clichê, tão simples quanto verdadeiro para ser seguido. E para mim, esta é
minha âncora permanente, o que é e o que não é verdade.
3 set. 12
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About: FSP
- Columnists - Luiz Felipe Pondé - Social Marketing - 03/09/2012. I
generally like the texts of Pondé, but in this, his "anti-political
correctness" has sinned from the tone overly intellectual opposition to
the current fad. This text can be, at most, more a caricature than a serious
analysis.
In one passage, the author criticizes something
without specifying it: it's true that not everything is learned with their
parents, because the social environment is much broader than that, hence the
"dignity" passed by the parents would not be true. But that
"dignity" he refers to? So, the social paradigm is the same
indignity? What dignity, what indignity? This seems more an imitation
pseudo-philosophical, a Hobbesianism based on a primary style "man is a
wolf to man" or, in the more popular contemporary, "everything is
dominated!" He, too, inaccurate. If he does not define what dignity
refers, you can not know if what you say comes, I can not agree or disagree to
give. It is a complete void.
In another passage, the author seems to confuse
cause with consequence, or reverse poles of history, no sense chronologically.
The morals he says "founded on hypocrisy" is a complete nonsense,
because the hypocrisy does not point to the beginning or foundation, but by the
end of public morals. If we find even a whole cultural and institutional
building was created with the purpose of deceiving, Pondé sorry, but thou art
shows so paranoid and persecutory as any mediocre apostle of Karl Marx, which
is something strange and anachronistic to whom, as I, repudiates Marxism.
As much as we reject this post- socialist
discourse that defines the public good as essentially superior - economically,
politically and morally - to the sphere of private life, is nonetheless naive,
not to say rude same perception, that a public space, a professional ethics of
our officers and a code of active postures to the metropolis is not only
desirable but actually extremely necessary. And do not tell me that I look
"hair on the egg" because the rhetoric of the author points to this
conclusion yes.
We still have the silly assertion that bothers
a man earning less than his wife. Seen this way, everything is just domination.
If he accepts this as a true premise, I'm not as objects, but if another item
he claims that not a single woman living well is because somehow sees the
family or marriage as socially salutary. So one or the other, or a Hobbesian
race in favor of blatant sexual dominance or union grounded in values and
morals back there remembering that he also rejected this by defining its
apologists as "hypocrites." In short, if it's all a matter of
domination, why would a woman have to live with a man, who likes to be
dominated? If Pondé really likes scientific arguments, what is the genetic
basis of this statement? Or tell me that psychoanalysis, mere intuition or
astrology can be resources to affirm a folly of these? In fact, if we take his
criticisms together, we see that contradict their extensions more than once.
As for gays, I agree that there is an
overvaluation that. Now, it is also true that there is a fear of simple
presence and public expression of them. I am against gay parade, as occurs in São Paulo for a simple
reason, it captures public resources for this. Moreover, there is no reason in
this world to take me to support a ban on display of affection between them.
Each to their own, it is a cliché,
as simple as true to be followed. And for me, this is my permanent anchor, what
is and what is not true.
Eu gosto das críticas do Pondé ao politicamente correto e ao marxismo, mas me incomoda em certos textos dele um vício que é típico de filósofos e escritores: fazer opiniões subjetivas soarem como se fossem raciocínios rigorosos e fundamentados só por serem expressas em textos bem escritos e provocativos. É como Schopenhauer escrevendo sobre as mulheres: ele reproduzia inúmeros preconceitos comuns à época em que viveu, usava como "fonte" suas experiências cotidianas pessoais, mas, por ser um filósofo, falava o tempo todo como se estivesse demonstrando teses. O Pondé faz a mesma coisa nesse texto: dizer que todo homem acha ruim ganhar menos do que a mulher é uma afirmação gratuita, e ponto. No máximo, uma opinião pessoal, mas ele faz afirmações desse tipo sempre em tom categórico, como se fossem afirmações objetivas. Aí não dá...
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