Não faz muito tempo inscrevi meu filho em aulas de Taekwondo e estou prestes a inscrever minha filha também.[1] Ao final de cada aula há uma orientação, que não é específica para a arte marcial, mas para a vida. Os mestres têm insistido no conceito de gratidão, o que significa e o que produz em relação a nós e como quem recebe nossa gratidão se sente, o bem que isso faz, porque é importante etc. Sinceramente, isto é educação e não me lembro de ter visto isto nos últimos em nenhuma escola que participei como um programa ou sequer princípio da instituição. Exceto é claro pelas ações isoladas de um ou outro professor e, raros casos, de um diretor, pois de coordenadores e supervisores pedagógicos, simplesmente não vejo mesmo.
Por que isso se dá? Podemos aventar várias respostas, como em cursos pagos, como as aulas que mencionei, se valoriza mais, porque não se é obrigado a ir, se “vai porque quer” etc., mas a princípio, um curso de arte marcial não tem isso como chamariz, mas é exatamente o que conecta pais, alunos e professores. E, honestamente, a falta disto levado a sério afasta os mesmos pais, alunos e professores nas escolas normais, sejam públicas ou privadas. E, consequentemente, o ensino de matérias clássicas como Português, Matemática, História, Ciências e Geografia vai pelo ralo, pois a postura que serve de base para o aprendizado é ignorada.
Como em muitos de meus artigos, esse é mais um que valorizo a importância do conteúdo moral para o aprendizado. Mas não é só isso, há duas razões básicas pelas quais nos orientamos na vida, a utilitária e a moral, ou a estratégica e a substantiva, que quer dizer basicamente a mesma coisa. Mas desde que se popularizou o adjetivo ‘moralista’ como algo essencialmente ruim, desatualizado e até preconceituoso, sinto que passamos a perder algo no meio de nossas histórias de vida.
Hoje mesmo tive um papo com outro professor vindo lá de Pelotas, RS e residente em Florianópolis, SC e que para não ficar sem nenhuma ocupação quando aqui chegou, tratou imediatamente de fazer um concurso. Não demorou alguns meses, ele, como educador físico já se bandeou para as academias orientando clientes, não aguentou e com razão. Os alunos não aceitam(sic) e essa é a palavra, não aceitam e não fazem atividades físicas na aula destinada a isso, entre outras razões “porque não querem ficar suados”. Como se uma boa aula de Educação Física não tivesse esse pré-requisito. Bizarro… A autoridade do professor, que se sustenta em uma base moral é lixo para essa gente e grande parte dos pais apoia essa postura. A direção e secretarias de ensino, por sua vez, não querem se indispor e fica tudo por isso mesmo.
Mas é comum vermos políticos, sobretudo em ano eleitoral com soluções mágicas para a Educação. Um deles mesmo acha que “chutando Paulo Freire e acabando com a Ideologia de Gênero” bastaria para pôr o Brasil nos eixos do ensino de qualidade. Claro que Paulo Freire era o “Senhor Embusteiro”, que só conseguiu sua projeção plagiando e deturpando um educador americano bem sucedido nas Filipinas e outros países asiáticos, Frank Charles Laubach (1884–1970). E a Ideologia de Gênero, como sabemos é um projeto político doutrinário que ignora solenemente a questão biológica, já tendo chegado à condição de pré-requisito para se cursar o Ensino Superior no Brasil, quando cobrada em uma questão do Enem sobre o “nascer mulher”. Lembram:
Claro que é uma questão sobre o pensamento de Simone de Beauvoir, uma conhecida feminista dos anos 60, namorada… ÔPS! “Companheira” de Jean-Paul Sartre, um filósofo existencialista com muita influência marxista. Mas insistir nestas questões deixando outras, tradicionais de lado denota uma clara tentativa de doutrinação e cristalização de uma visão. Agora, enquanto as discussões sobre a Educação se resumirem neste pequeno universo, outras gerais e estruturais não são sequer cogitadas. Isto serve como cortina de fumaça para o que é mais importante não seja enfrentado.
O problema é que quem mais entende do assunto, que está na linha de frente deste campo de batalha tem opinião adversa ao que precisa ser feito: os professores. Eles são contra reformas profundas, como diferenciar salários por desempenho, como é em qualquer empresa. Suas lutas sindicais são por isonomia, sempre e daí requerem aumento salarial sem sua contrapartida na produtividade escolar. E nem querem discutir o conceito de produtividade alegando que isto é “ideológico”. Logo, nesse tiroteio entre fanáticos burocratas que não conhecem a lida em sala de aula e quem conhece, mas não enxerga o caminho para uma mudança real, quem perde é o aluno que realmente não aprende com um processo educacional falido e estagnado.
Uma das leis mais importantes já aprovadas no país em relação à Educação (não, não é o Escola Sem Partido, mesmo porque esta não tem unanimidade) é a chamada Lei Harfouche, lei que obriga pais e responsáveis a assinar um termo de compromisso por seu filho na escola. Na primeira contravenção, o aluno recebe uma notificação, na segunda, ele é obrigado a compensar seu delito com algum “trabalho social”, pintar o muro, se pichou, contribuir com cestas básicas se ofendeu professor e coisas do tipo. Cara… Nada mais moralizador e educativo que isso. Claro que toda corja que vive da vitimização como justificativa sofística para educação não poderia aceitar. Aí se inclui psicólogos, assistentes sociais, militantes de esquerda em geral e, claro, políticos petistas. Toda a trupe que não deseja a responsabilização, pois esta nunca pode ser do indivíduo e sim de uma geleia chamada “social”. Alguém precisa informar a estes animais que o que é social é, antes de tudo formado por indivíduos.
Quanto ao objetivo da educação formar um bom trabalhador, um bom funcionário etc., de acordo. Mas comecemos então por ver como funcionam os Institutos Federais (IFs), como funcionavam e como funcionam. O que eram antes da Era Lula e depois da Era Lula para ver o que ocorreu e já vos adianto, piorou e muito. O critério de seleção que já levava bons alunos (de diferentes classes sociais) para eles caiu, sim o atual detento em Curitiba achou que não precisava restringir a entrada de alunos ruins nos institutos. Isso é bizarro! Um conhecido meu, que saiu do RS e foi para MG trabalhar em um desses institutos me relatou que o nível caiu muito e que agora tem gente entrando apenas pela melhor estrutura, mas nada de se responsabilizar pelo estudo se esforçando para acompanhar as matérias. Isso tem que acabar e se um presidente não toca nessas questões enfrentando a deterioração social causada pelo Estatuto da Criança e do Adolescente que relativiza a culpa e responsabilidade, nada de fato irá mudar.
Nós precisamos de uma mudança geral neste sentido, aquela medida de Trump nos EUA de que para cada nova regulamentação adotada na economia, outras duas tinham que cair, aqui teria que ser copiada, ao menos, com para cada direito adquirido, um dever constituído tinha que ser claramente estabelecido.
Sem esforço não há vitória que valha a pena.
Anselmo Heidrich
30–08–2018
[1]Ela acabou optando por dança, sua maior paixão, mas ainda vou insistir como complemento. Mulheres têm que saber se defender no mundo de hoje.