quinta-feira, agosto 30, 2018

Onde e Porque a Educação dá certo


Não faz muito tempo inscrevi meu filho em aulas de Taekwondo e estou prestes a inscrever minha filha também.[1] Ao final de cada aula há uma orientação, que não é específica para a arte marcial, mas para a vida. Os mestres têm insistido no conceito de gratidão, o que significa e o que produz em relação a nós e como quem recebe nossa gratidão se sente, o bem que isso faz, porque é importante etc. Sinceramente, isto é educação e não me lembro de ter visto isto nos últimos em nenhuma escola que participei como um programa ou sequer princípio da instituição. Exceto é claro pelas ações isoladas de um ou outro professor e, raros casos, de um diretor, pois de coordenadores e supervisores pedagógicos, simplesmente não vejo mesmo.
Por que isso se dá? Podemos aventar várias respostas, como em cursos pagos, como as aulas que mencionei, se valoriza mais, porque não se é obrigado a ir, se “vai porque quer” etc., mas a princípio, um curso de arte marcial não tem isso como chamariz, mas é exatamente o que conecta pais, alunos e professores. E, honestamente, a falta disto levado a sério afasta os mesmos pais, alunos e professores nas escolas normais, sejam públicas ou privadas. E, consequentemente, o ensino de matérias clássicas como Português, Matemática, História, Ciências e Geografia vai pelo ralo, pois a postura que serve de base para o aprendizado é ignorada.
Como em muitos de meus artigos, esse é mais um que valorizo a importância do conteúdo moral para o aprendizado. Mas não é só isso, há duas razões básicas pelas quais nos orientamos na vida, a utilitária e a moral, ou a estratégica e a substantiva, que quer dizer basicamente a mesma coisa. Mas desde que se popularizou o adjetivo ‘moralista’ como algo essencialmente ruim, desatualizado e até preconceituoso, sinto que passamos a perder algo no meio de nossas histórias de vida.
Hoje mesmo tive um papo com outro professor vindo lá de Pelotas, RS e residente em Florianópolis, SC e que para não ficar sem nenhuma ocupação quando aqui chegou, tratou imediatamente de fazer um concurso. Não demorou alguns meses, ele, como educador físico já se bandeou para as academias orientando clientes, não aguentou e com razão. Os alunos não aceitam(sic) e essa é a palavra, não aceitam e não fazem atividades físicas na aula destinada a isso, entre outras razões “porque não querem ficar suados”. Como se uma boa aula de Educação Física não tivesse esse pré-requisito. Bizarro… A autoridade do professor, que se sustenta em uma base moral é lixo para essa gente e grande parte dos pais apoia essa postura. A direção e secretarias de ensino, por sua vez, não querem se indispor e fica tudo por isso mesmo.
Mas é comum vermos políticos, sobretudo em ano eleitoral com soluções mágicas para a Educação. Um deles mesmo acha que “chutando Paulo Freire e acabando com a Ideologia de Gênero” bastaria para pôr o Brasil nos eixos do ensino de qualidade. Claro que Paulo Freire era o “Senhor Embusteiro”, que só conseguiu sua projeção plagiando e deturpando um educador americano bem sucedido nas Filipinas e outros países asiáticos, Frank Charles Laubach (1884–1970). E a Ideologia de Gênero, como sabemos é um projeto político doutrinário que ignora solenemente a questão biológica, já tendo chegado à condição de pré-requisito para se cursar o Ensino Superior no Brasil, quando cobrada em uma questão do Enem sobre o “nascer mulher”. Lembram:
Claro que é uma questão sobre o pensamento de Simone de Beauvoir, uma conhecida feminista dos anos 60, namorada… ÔPS! “Companheira” de Jean-Paul Sartre, um filósofo existencialista com muita influência marxista. Mas insistir nestas questões deixando outras, tradicionais de lado denota uma clara tentativa de doutrinação e cristalização de uma visão. Agora, enquanto as discussões sobre a Educação se resumirem neste pequeno universo, outras gerais e estruturais não são sequer cogitadas. Isto serve como cortina de fumaça para o que é mais importante não seja enfrentado. 
O problema é que quem mais entende do assunto, que está na linha de frente deste campo de batalha tem opinião adversa ao que precisa ser feito: os professores. Eles são contra reformas profundas, como diferenciar salários por desempenho, como é em qualquer empresa. Suas lutas sindicais são por isonomia, sempre e daí requerem aumento salarial sem sua contrapartida na produtividade escolar. E nem querem discutir o conceito de produtividade alegando que isto é “ideológico”. Logo, nesse tiroteio entre fanáticos burocratas que não conhecem a lida em sala de aula e quem conhece, mas não enxerga o caminho para uma mudança real, quem perde é o aluno que realmente não aprende com um processo educacional falido e estagnado.
Uma das leis mais importantes já aprovadas no país em relação à Educação (não, não é o Escola Sem Partido, mesmo porque esta não tem unanimidade) é a chamada Lei Harfouche, lei que obriga pais e responsáveis a assinar um termo de compromisso por seu filho na escola. Na primeira contravenção, o aluno recebe uma notificação, na segunda, ele é obrigado a compensar seu delito com algum “trabalho social”, pintar o muro, se pichou, contribuir com cestas básicas se ofendeu professor e coisas do tipo. Cara… Nada mais moralizador e educativo que isso. Claro que toda corja que vive da vitimização como justificativa sofística para educação não poderia aceitar. Aí se inclui psicólogos, assistentes sociais, militantes de esquerda em geral e, claro, políticos petistas. Toda a trupe que não deseja a responsabilização, pois esta nunca pode ser do indivíduo e sim de uma geleia chamada “social”. Alguém precisa informar a estes animais que o que é social é, antes de tudo formado por indivíduos.
Quanto ao objetivo da educação formar um bom trabalhador, um bom funcionário etc., de acordo. Mas comecemos então por ver como funcionam os Institutos Federais (IFs), como funcionavam e como funcionam. O que eram antes da Era Lula e depois da Era Lula para ver o que ocorreu e já vos adianto, piorou e muito. O critério de seleção que já levava bons alunos (de diferentes classes sociais) para eles caiu, sim o atual detento em Curitiba achou que não precisava restringir a entrada de alunos ruins nos institutos. Isso é bizarro! Um conhecido meu, que saiu do RS e foi para MG trabalhar em um desses institutos me relatou que o nível caiu muito e que agora tem gente entrando apenas pela melhor estrutura, mas nada de se responsabilizar pelo estudo se esforçando para acompanhar as matérias. Isso tem que acabar e se um presidente não toca nessas questões enfrentando a deterioração social causada pelo Estatuto da Criança e do Adolescente que relativiza a culpa e responsabilidade, nada de fato irá mudar.
Nós precisamos de uma mudança geral neste sentido, aquela medida de Trump nos EUA de que para cada nova regulamentação adotada na economia, outras duas tinham que cair, aqui teria que ser copiada, ao menos, com para cada direito adquirido, um dever constituído tinha que ser claramente estabelecido.
Sem esforço não há vitória que valha a pena.
Anselmo Heidrich
30–08–2018
[1]Ela acabou optando por dança, sua maior paixão, mas ainda vou insistir como complemento. Mulheres têm que saber se defender no mundo de hoje.

quinta-feira, agosto 23, 2018

Guri de Apartamento


Tente entender uma visão deturpada para depois debater e convencer.
Quando eu era criança fui o que chamávamos, depreciativamente, de “guri de apartamento”, superprotegido não aprendi a jogar bola e ser bom em outras atividades físicas. A própria Educação Física na escola era uma tortura para mim e naquela época, em Porto Alegre não tínhamos esse corpo mole de hoje em dia… Os professores eram, muitas vezes, jogadores do Inter ou do Grêmio fazendo extra nas escolas. Sim, difícil de crer, não?
Começávamos com corrida, 20 ou mais voltas, depois muito polichinelos, apoios (flexões no chão) e o pior, agachamentos para depois de outros exercícios, se desse tempo haver uns 15 min de jogo para relaxar. Imagine chegar com isto hoje em dia, tem aluno (e pais) que irão denunciar o professor na primeira oportunidade. Mas minha relação com o futebol sempre foi triste, eu gostava, mas não sabia jogar. Se detestasse, estava bem, mas infelizmente não era o caso.
Nos meus 17 anos por aí tinha um baita grupo de amigos que se reunia, religiosamente todas terças-feiras para jogar. Vinha gente até de cidade vizinha e fizesse Sol, chuva, frio, não importava, estávamos lá naquela quadra de areião. Eu, como sempre e um amigo, sem agilidade a quem chamavam de “Robô” sempre éramos os últimos a serem escolhidos. Eu ainda conseguia ser pior do que o Robô e quando o cara me escolhia fazia um meneio com a cabeça, tá, vem… Enquanto o capitão do outro time dava uma risada por já levar uma vantagem ao não me ter na equipe.
Mas nem sempre era assim. Eu na zaga, pois corria muito pouco atrapalhava e sempre tive uma coisa, aliás, minha família de sentir menos dor. Não estou me gabando não, meu filho não é assim, mas minha filha me puxou e fico impressionado como ela não reclama de cada tombo ou machucado que toma. Sei lá, não sei explicar. Então, como eu dizia, na zaga, eu não me importava com as pancadas e atrapalhava mesmo. Não era bom, mas era útil. E o mais engraçado é que quando meu time ganhava, os colegas tinham uma dupla satisfação, não só de ganharem a partida, mas de “ganharem com o Anselmo!”
Bem, saí de casa aos 20 e poucos, fui pra S. Paulo e lá virei mais gaúcho e gremista que era na terrinha. Esse fenômeno é bem mais comum que imaginamos. Note que os conflitos nacionalistas, étnicos etc. ocorrem, justamente, quando há mistura e atritos entre diferentes grupos. Claro que não vivi uma Guerra da Bósnia, mas os paulistas veem a nós, gaúchos como argentinos, o que soa muito estranho, ainda mais sabendo que os gaúchos têm muita rivalidade com nuestros hermanos.
Tudo faz sentido e tem lógica, pois em regiões de fronteira temos dois tipos de homens, aquele que diz “o que será que tem lá do outro lado?” e aquele, talvez mais comum que afirma “não quero nem saber daquela porcaria, aqui é melhor”. E para quem é de fora, os dois bicudos que não se beijam são muito parecidos. Vi isso quando disse a um irlandês que eles se pareciam muito com os ingleses e ele, com um ar estupefato me retrucou “sim, o clima”.
Essa coisa de se colocar no outro lugar, de migrar, de experimentar compreender o ponto de vista alheio se chama relativização. É um exercício muito útil e só te faz crescer intelectualmente. Não adianta ler livros e citar nomes de autores para se envaidecer se tu não é capaz de refletir minimamente sobre as próprias condições de vida e dos outros ao teu redor. Sei, sei que dirão que a “relativização moral” está na raiz de nossos males, com o que concordo, aliás, mas quando falo em se relativizar é para compreender antes de julgar.
O que você já fez nesse sentido? Quando procurou compreender quem pensa de modo diverso e por que o faz? Lembre-se, isto não significa concordar com ele, mas… Tente.
Anselmo Heidrich
23–08–2018

De qual 'gênero' você fala mesmo?

Antes de sair por aí querendo morder todo mundo que fala em “GÊNERO”, como se fosse um pit-bull com hidrofobia saiba que a palavra gênero, até pouco tempo antes de J. Butler, a filósofa-ideóloga de tal teoria, nada mais era do que um substituto para o termo SEXO.
Abaixo segue um formulário para procura de trabalho na Nova Zelândia. Atente para a pergunta da primeira linha.
Agora, antes de pagar mico acusando o Novo de “se submeter à Ideologia de Gênero” por causa da Agenda 2030 da ONU faça dois questionamentos simples a si próprio:
1. O QUE EXATAMENTE A ONU QUIS DIZER COM A PALAVRA “GÊNERO”?
2. O QUE EXATAMENTE OS POLÍTICOS QUE ENDOSSARAM A TAL AGENDA ENTENDERAM DO DOCUMENTO?
Como dizia um sujeito que fez muito sucesso em um passado menos caoticamente mental de nosso país, “quem não se comunica, se trumbica…” Antes de arrotar uma pureza pergunte com humildade e talvez, aí sim, tu possa ter alguma razão no que diz.
Fica a dica.
(Fonte da imagem: https://register.newzealandnow.govt.nz/…/RPedZAI_hEGOWQjUGf…)
Anselmo Heidrich
23–08–2018

domingo, agosto 19, 2018

Não frequento o supermercado das ilusões


Independente da cultura, algumas coisas não mudam. Mas com o tempo melhoram…

Vocês nunca sentiram vontade de apelar para os caminhos fáceis? Para os atalhos? Não, não estou me referindo à corrupção ou roubo. Isto seria mais fácil responder. Refiro-me às questões da Vida, ao entendimento do Mundo e suas alamedas, esquinas, avenidas e, principalmente, as encruzilhadas.
Uma maneira de pensar a vida em sociedade em um sentido amplo é a perspectiva evolucionista, de que tudo muda, sempre muda ou, pelo menos o que há de mais abrangente na vida em grupo, a economia, as leis etc. Não está errado, o problema com esta visão é que ela deixa de lado outra visão fundamental, o que nós temos de perene e por que não dizer, essencial?
Não me refiro à essência humana, essa incógnita, mas há traços fundamentais de nossa espécie, como o paradoxal apelo à solidariedade, assim como somos, proporcionalmente, muito violentos, talvez os mais violentos e agressivos dos animais. Nosso senso utilitário temperado pelo código moral ou, como preferem alguns, nossa moral corrompida pelo utilitarismo. Não importa, o que importa é que nossas particularidades intrínsecas nos fazem ver o convívio social e a história em uma perspectiva menos otimista, mas não necessariamente pessimista. Dir-se-ia realista.
Mas com certeza, isto é um banho de água fria nos evolucionistas sociais ou, como alguns preferem chamar, darwinistas sociais que tomaram muitas das ideias de Charles Darwin e sua Teoria da Seleção Natural emprestada para adaptá-la à sociedade, tanto marxistas como anti-marxistas crentes no progresso das instituições do capitalismo. Depois de um breve interregno histórico no Séc. XX, que muitos chamaram de Nova Ordem Mundial, com o fim do Pós-Guerra se acreditou no nascer de uma nova Idade do Ouro regada por pão e mel fartos. O que se viu foi o descontrole das guerras no Terceiro Mundo que antes possuíam um freio da “guerra por procuração” das grandes potências. Potências essas que voltaram a atuar, como se vê no Oriente Médio, com a Síria.
Não dá para descartar os avanços da sociedade, seja na economia (parcialmente) de mercado chinesa, no desenvolvimento econômico africano (quem diria?) e leste europeu. Mas, claro que para nós latino-americanos incrustados no subcontinente da pasmaceira eterna, a antípoda do evolucionismo é bem mais sedutora. De qual cosmovisão estaríamos falando? Da Teoria do Eterno Retorno.
A visão de que nada muda, exceto em sua superfície também é sedutora. E ela não deixa de dar bons frutos, como o famoso dito “se desejas a paz, prepara-te para a guerra”. Eu, particularmente, carrego isto comigo, como se fosse uma arma, pois sempre desconfio de lobos a espreita. E eles existem mesmo.
É fácil observarmos nossa juventude, que se acha tão ilustre e iluminada repetir erros de fanáticos de outrora e concluir que realmente, pouco ou nada mudou. Mas se estaríamos assistindo a uma crônica da tragédia anunciada, também não veríamos isso na religião? Quanto mais ouço estudiosos do assunto falarem, mais similaridades vejo entre seitas de diferentes credos, como se o dom espiritual de se conectar com deus terminou com os apóstolos, no caso do cristianismo, o que não deixa de ser similar aos sunitas, no caso do islamismo. Sabe, as questões teológicas mesmo não me interessam. Aliás, nunca me interessaram, pois leva-las a sério seria dar um ar de credibilidade a invencionices. Mas o que as pessoas, com inteligência veem nelas… Ah! Isso sim me interessa e muito.
Esses padrões de comportamento e crença me fazem ver o eterno retorno como concreto, mas isto porque meu foco se dá no conflito. Se eu fizer um esforço para ver a outra metade do copo, a da paz e da harmonia, sinceramente, não é que ela perfaz mais do que a metade? Costumamos enfatizar a desgraça porque ela chama atenção. E seria estranho se valorizássemos mais a monotonia, mas esta paz tem evoluído positivamente. Mais uma vez, para nós latino-americanos que concentram as 10 cidades mais violentas do mundo no subcontinente e, no caso específico do Brasil, a maior taxa de homicídio do planeta, a Teoria do Eterno Retorno faz todo sentido.
Como diz a Ciência, se há um cisne negro no mundo, o enunciado de que todos os cisnes são brancos cai por terra. E esse é o caso com a hecatombe de violência e agressividade, em termos proporcionais não aumenta, mas diminui. Estatisticamente falando, não dá para dizer que “tudo permanece igual”, tampouco dá para ignorar nossos mais primitivos impulsos animais. Em suma, nem o evolucionismo social, nem o eterno retorno explicam o mundo.
Anselmo Heidrich
19–08–2018

Por que querem um Hulk Gay?


Querem um Hulk gay, querem um Super-Homem andrógino, querem um Homem de Ferro currado, querem um Homem-Aranha michê? Não, eles querem mais do que isso, querem alterar a tua sensibilidade. Totalmente.
Mas quem são eles?
Essa matéria da BBC mostra a visão artística de quem está cansado ou se ofendeu com a “imagem sexista” dos super-heróis em quadrinhos:
BBC News — 100 Women: The artist redrawing ‘sexist’ comic book covers https://www.bbc.co.uk/news/entertainment-arts-45149478
Mas por “sexista” se entenda aqui um homem (ou super homem) másculo, por “sexista” se entenda aqui uma mulher (ou heroína) sensualmente feminina, atraente para a maioria dos homens. É como se a visão de um herói masculino efeminado também não fosse um apelo sexista, é como se a visão de uma heroína destituída de atributos que tornam uma mulher atraente fosse “não sexista” e pior, algo “justo” por si só. A Mulher Maravilha não pode mais ter curvas acentuadas e usar fio dental porque “A artista indiana Shreya Arora ficou chocada quando viu a imagem”. Ela diz:
“Para Hulk, a representação visual concentra-se em sua força. Para a She-Hulk, tudo o que vemos é uma ênfase na sexualidade”, diz Arora, que cresceu lendo histórias em quadrinhos.
Então, a sua solução é alterar esta percepção, tipo assim ó…

Não, ainda não é lei, mas quem quer apostar que ainda surgirá um maluco dizendo que “isso tem que ser levado em conta, que nossas crianças precisam optar, que precisamos educar e disponibilizar alternativas”, enfim que o gênero é uma construção social e tudo o mais? Exagero de minha parte? Então me digam o que acham disso:
Concurso da PM do Paraná tem quesito polêmico: masculinidade https://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2018/08/13/concurso-da-pm-do-parana-tem-quesito-polemico-masculinidade.ghtml?utm_source=twitter&utm_medium=share-bar-desktop&utm_campaign=share-bar
No meu entender, o edital não se equivoca em exigir masculinidade entendendo essa como coragem e determinação, mas o melhor seria colocar esses atributos já que o termo “masculinidade” não é consensual… Hoje em dia. O mesmo edital dizia que o candidato não deveria demonstrar interesse em histórias românticas e de amor, o que me parece uma besteira, pois agir contra o mal pressupõe valorizar o ideal de amor. Enfim, ele já foi retificado, mas se eu fosse mais paranoide diria que o brucutu que o escreveu quis mesmo ajudar na pauta LGBTI (não me perguntem o que é o “I” dessa porra de sigla):
A Aliança LGBTI e o Grupo Dignidade publicou nota afirmando que a exigência é um retrocesso discriminatório. Segundo trecho, “Fere a Declaração Universal de Direitos Humanos e a Constituição Federal Brasileira no que diz respeito à igualdade de todas as pessoas, além de estar na contramão dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas (ONU) em relação ao alcance da igualdade entre os gêneros”.
Cf. Concurso PM PR causa polêmica ao exigir masculinidade
Isso foi dar pano pra manga para essa hiper-sensibilidade afetada. E o ataque vem de todos os lados. Aqui em Florianópolis teremos uma exposição de tatuagens (até hoje) e, ao invés de chamarem atenção para a beleza artística das tatuagens em si, não! O que fizeram? Mais mimimi se auto-vitimizando:

O que esses hiper-sensibilizados devem aprender é que não, não somos preocupados com a sua cor de pele (deveriam dizer desenho, enfim…), mas fazem isto de propósito, para confundir racistas com preconceituosos com tatuagens, para ampliar o público anti-racista como adeptos de tatuagens e incrementar seu negócio. O que vemos é depois do capitalismo mercantil, do industrial e do financista, esses xaropes criaram uma nova categoria, a do Capitalismo Ressentido. Vá ter paciência assim nos infernos…
Acho que esse movimento cobrando uma postura “correta” na capa dos gibis será só o início e poderá por fim a liberdade artística que ainda existe nesse nicho. Muito preocupante! Aceitar que o homossexualismo existe é uma coisa, mas empurrarem a androginia como pauta obrigatória nas artes devido a uma “postura politicamente correta” é algo que todos nós deveríamos nos revoltar. Isso é o início do fim da liberdade artística que é o fim da liberdade de expressão. O que falta a esses canalhas agora que investem contra o traço nas revistas em quadrinhos?!
O que fazer? Ridicularizá-los, mas nunca tentar proibi-los. Isto seria, justamente, agir como eles querem que façamos. Isto, nunca.
Ah! Antes que eu me esqueça, essa é para você que é gay: tua liberdade e vida não deve ser da conta de ninguém, mas enquanto esses aproveitadores de causas políticas usarem seu modo de vida como instrumento, a população em geral irá identificá-los como parte dessa estúpida militância. Meu conselho: 
Lute contra a imposição a seu modo de vida, mas o faça também contra quem quer usá-lo como massa de manobra fazendo com outros exatamente o que não quer que façam com você. Não aceite ser instrumento de causas escusas. 

Anselmo Heidrich
19–08–2018

sábado, agosto 18, 2018

A Economia não determina o Pensamento


A economia possibilita maior ou menor acesso às diferentes escolas de pensamento, mas escolas de pensamento podem plantar o sucesso ou fracasso de economias inteiras.
A posição de um indivíduo na escala social, na sua posição de classe determina seu modo de pensar? Não. Pode sugestionar devido ao padrão usual dentro de um grupo, mas nunca determinar taxativamente.
Em termos gerais, a posição que se tem em um dado estrato da sociedade, seja uma classe, casta ou estamento faz com que se defenda a mesma se se tem vantagens nela. Aí haveria um traço comum em vários grupos privilegiados ou mais abastados de diferentes sociedades, mas os projetos de vida de cada indivíduo em grupos A ou B são muito variados, não podendo ser enquadrados em um modelo ou padrão uniforme. Eles podem variar em função de regiões, religiões, seitas, culturas regionalizadas, subculturas internas a outra geral (guetos, imigrantes etc.). Para dar um exemplo, dentre tantos outros, o movimento trabalhista na Inglaterra é bem mais moderado do que seus irmãos não-siameses, os socialistas continentais, particularmente na França, celeiro de grupos mais radicais.
Vamos pensar em outros casos? Tome um popular russo e veja quantas diferenças em relação a um americano médio (e outras similaridades, por seu turno) e mesmo dentro dos EUA, quão distintos são um californiano de um texano. Esquecemos mesmo que os Estados Unidos são estados diferentes, muito diferentes. E o vizinho ao norte, o Canadá? Se tomarmos um quebecois como exemplo, como ele tem particularidades diferentes do mundo anglófono e por aí vai… A própria religião é menos dominada pela economia e mais um fator determinante para o sucesso ou insucesso desta, como se pode distinguir claramente entre povos protestantes e católicos no passado.
As classes podem ter similaridades em diferentes sociedades, mas as combinações com outros fatores que são peculiares a estas diferentes sociedades produz efeitos diversos. A maneira de ver o mundo sob uma óptica economicista guarda muitos paralelos com o marxismo, quando Marx dizia que uma classe “pensa” de certo modo ao se descobrir ou descobrir o projeto histórico do qual faz parte, como quando passa de uma classe em si para classe para si.
Existem leis gerais sim, mas correspondem a determinações sobre indivíduos, como regras de sobrevivência. Mas se tais agentes estiverem em diferentes classes, regiões, culturas se adaptarão a outras influências ou responderão conforme seu aprendizado, não sendo meros ecos de uma posição conforme a renda ou na estrutura produtiva.
Eu convivo com pessoas com mais ou menos recursos, com mais ou menos dinheiro e já vi algumas, endinheiradas entrarem em ambientes mais pobres se sentindo ameaçadas, seja porque chamam atenção, seja porque não foram criadas com o mesmo espírito de defesa e não sabem como agir. Mas outras, tão ou mais ricas que têm uma espécie de talento inato para relações públicas se adaptam bem em diferentes ambientes tirando de letra qualquer incômodo. Mas eu posso dizer que em função da renda se acaba convivendo com pessoas com padrões de vida semelhantes assimilando ou adquirindo pensamentos e desejos correntes no grupo, mas isto não pode ser chamado de determinação e sim de condicionamento.
Existe um debate interessante datado do Século XIX na Geografia, a oposição entre Determinismo Geográfico Possibilismo Geográfico, o primeiro original da escola alemã e o segundo da francesa. O Determinismo sustentava que a Natureza levava o homem agir de determinada forma, que o impelia a determinadas ações e condicionava o desenvolvimento de um povo inteiro. Já, o Possibilismo mostrava a Natureza ofertando possibilidades ao desenvolvimento humano, ou seja havia espaço para margem de manobra. Embora o Possibilismo tenha ganho debate, até mesmo pela própria evolução tecnológica ignorar completamente o peso da Natureza seria um erro análogo ao ignorar completamente o peso econômico da vida em sociedade.
A pluralidade na percepção dos fatores e combinações sociais não deve nos levar ao extremo oposto que é o da inferiorização ou desprezo por fatores econômicos e geográficos. Eles existem, mas são mediados por outros fatores.
Bem, se não dá para ignorarmos o fator econômico na influência cultural restringir a cultura e o pensamento a uma determinação econômica está totalmente fora de questão.
Anselmo Heidrich
18–08–2018

O MST e Eu


Quando eu tinha 18 anos, no início do meu curso de Geografia, na UFRGS visitei o acampamento do MST, na Fazenda Annoni, próximo a Passo Fundo, RS. Aquilo era o embrião do que seria um pólo nacional de um dos mais influentes movimentos sociais da política nacional, o que não é necessariamente um elogio porque não explica que tipo de influência se trata. Antes de migrar filosófica e ideologicamente, eu, como a maioria dos jovens de nossa geração tínhamos desprezo pela ditadura no poder e ignorávamos solenemente a história do país, exceto aquela contada maniqueisticamente por nossos professores… De História. Então é claro que ao visitar o acampamento de sem-terras, nós fomos com o olhar totalmente enviesado, mente doutrinada e sentimento condicionado.
O acampamento me impressionou, pois vi um nível de limpeza que não via em outro lugar. Os cães de guarda (sim, eles tinham um esquema de vigilância) não andavam soltos e, os que vi, ficavam na corrente. Também vi escolas e postos de saúde e perguntei de onde tinha vindo dinheiro — de fora, de grupos, associações no estrangeiro — foi a resposta. Mais tarde entendi perfeitamente o porquê, com o nível de ingerência da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e diversas campanhas internacionais que a era da internet nos mostra, já dá uma ideia do que ocorria nos bastidores em que não participávamos, embora com menos velocidade e interação múltipla do que ocorre em nossas páginas e sites de hoje em dia.
Sabe… Quando Paulo Freire, Frei Betto, Leonardo Boff e todo esse pessoal se aproximou da Esquerda, este foi um presente dos céus (ou dos infernos) para ela. Sem o apelo religioso, nada disso teria atingido o sucesso que conhecemos. Quer, portanto, achar um grande culpado por nosso estado de coisas não olhe apenas para a CUT, o PT e os sindicatos, mas para os padres de esquerda. Foram eles que permitiram este salto quântico na força da esquerda latino-americana. Como uma força de reação a evangelização missionária dos americanos, a Igreja Católica se repaginou se vestindo com as cores, uniforme, boina e discurso automático dos companheiros de Fidel.
Só para ilustrar um fato curioso desta época, quando estive no acampamento da Fazenda Annoni, as crianças de lá me seguiam e riam, pois nos anos 80 não era comum ver um sujeito com cara de hippie e cabelo até a cintura no interior. Daí, em meio ao alvoroço ouço uma dizendo “judeu!” Quase brinquei respondendo “judeu não, só ateu!”, mas deixei quieto. Vai que me chutam de vez dali. Na época achei estranho, mas depois entendi claramente, as aulas deles eram doutrinação explícita e a “visão social” associada à religião precisa de um bode expiatório. Até chegar no Capitalismo e a “zelite”, a doutrinação começa culpando os judeus por tudo que há de ruim no mundo. E vocês sabem onde isso acaba…
Quando migrei para S. Paulo para ingressar no mestrado em geografia na USP, me afastei gradualmente desse pessoal de Esquerda. Quanto mais eu convivia com eles, mais me dedicava a conhecer visões alternativas e opostas. O resto da história é conhecida de muitos, de esquerdista se passa a moderado e depois a anti-esquerda. Hoje migro para o equilíbrio moderado novamente devido ao crescimento de estupidez que vejo nos extremistas, mas isto fica para outro artigo.
Com o tempo, o MST se expandiu e agregou mais militantes que não tinham raízes, nem conhecimento, nem experiência na atividade agrícola. Ou seja, eram “sem terra” tanto quanto eu e você. Mas a rigor, como se definia um “sem terra”? Alguém que trabalhava na agricultura e não tinha mais propriedade ou nunca teve? De Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, o MST ficou mais conhecido pela sigla e não pela pureza de sua causa, também equivocada, diga-se de passagem. Porque não é importante ter terra, mas sim ter renda, trabalho e a maneira de obtê-la pela atividade na terra é uma visão condicionada por uma atividade do passado.
Aprendi a repetir muitas mentiras de meus professores, como arrendatários e empregados rurais terem pior condição de vida do que posseiros, como se o simples acesso à terra para trabalhar te elevasse a uma condição de vida superior. O que é um mito, o mito da “terra liberta”. Com o tempo, o MST se tornou uma indústria, a “indústria dos títulos de propriedade” adquiridos em conluio com agentes do estado que criaram critérios de produtividade que não condiziam com a realidade rural. Em um país com a 5ª maior extensão territorial do planeta, se briga pelo acesso a terras trabalhadas por quem chegou primeiro e que muitas vezes não tem seu título de propriedade por razões óbvias, a burocracia dificulta. E é claro que em um país de insegurança jurídica como o Brasil, a população se arma na medida do possível, os conflitos e choques são compreensíveis, mas não justificáveis. A ausência do estado e de leis corretas induz ao conflito e ele acontece.
Com a maior Reforma Agrária do Ocidente já feita no governo FHC (os petistas foram medíocres perto dele), a pobreza no campo não diminuiu, pois não há mais espaço para o sonho de uma agricultura de subsistência onde o produto excedente vale cada vez menos. Isto é condenação a morte por inanição a prazo. E o agricultor não o percebe, mas o líder do MST sim. Essas lideranças de movimentos usam e abusam deles com manifestações e cobrança de parcelas dos subsídios governamentais para seus assentados. Só que os governos doam dinheiro no primeiro ano de assentamento, depois cobram 20% de volta aumentando essa parcela gradualmente com o passar dos anos. E o MST é contra isto, é contra a inserção do assentado no mercado, como um produtor normal que toma crédito e paga por ele. Quando o MST fala em “ampliar recursos” entenda como “não pagar dívidas”, pois os recursos já existem. E nunca são suficientes.
O que não se divulga (e a oposição ao PT foi trouxa de não explorar o fato) é que há uma grande evasão de terras para assentados. Como a maioria dos sem-terra hoje já não tem mais nada a ver com agricultura, o pobre ou remediado das periferias urbanas preenche o exército de reserva para os movimentos sociais. São perfeitamente manipulados e tomam parte nisto porque há um claro incentivo governamental para tanto. É um jogo em que produtores reais perdem e pagam o pato pelos outros, oportunistas.
Colocados na parede, MST, sindicatos, teólogos de esquerda, “da libertação”, deputados e senadores petistas, professores universitários, estudantes que não estudam, artistas que não leem, toda essa horda irracional só terá uma saída: endossar a violência e o caos, pois já perderam na racionalidade.
Mais histórias tenho para contar e elas virão…
Anselmo Heidrich
18 ago. 2018

quinta-feira, agosto 16, 2018

A Inveja como Fator Histórico

Por conta do meu penúltimo texto, sobre a Suécia, eu recebi um comentário:
As elites as quais a esquerda se refere são os verdadeiramente ricos, os que dão as cartas, não á classe média que compra carro e casa á prestação e pensa que é elite. As cotas são um meio ineficiente de diminuir o gap social entre etnias historicamente desprivilegiadas, escravizadas no caso do Brasil. Isso é diferente de imigração, portanto, o problema sueco é completamente diferente. Lá existia um equilíbrio que foi quebrado com a imigração, no Brasil nunca houve equilíbrio a ser quebrado. A sociedade sueca sempre foi igualitária até a chegada dos refugiados, enquanto a sociedade brasileira foi construída em torno da desigualdade, com base na mão de obra escrava, de uma escravidão que foi abolida sem levar em consideração as massas de desempregados que veio com ela. O problema sueco está na incapacidade de fazer prevalecer a sua cultura, enquanto o Brasil precisa consertar erros do passado pra que sua cultura seja construída de forma igualitária. Não gosto de cotas, penso que essas perpetuam a desigualdade, mas reconheço que algo precisa ser feito pra mudar essa condição, pra que no futuro possamos nos orgulhar de ter construído uma sociedade justa…
Antes de mais nada, independente do teor da crítica ou comentário, eu aprecio o tipo que ataca o conteúdo e não apela para a forma ou desvirtua denegrindo seu oponente. Eu discordo do comentário acima, em quase tudo, mas o ponto é que vale a pena discutir com gente assim. Simplesmente, vale a pena, pois se aprende mutuamente ou, se no limite, não se aprende com o ponto de vista adverso, se aprende ao tentar rebuscar nosso argumento. Então vamos lá…

Quem são os ricos que a Esquerda destesta?

A Esquerda se refere a ricos, ricos sim quando pensa em termos marxistas, como uma classe detentora dos meios de produção extraindo a mais-valia de outra, ou seja, explorando-a. Mas isso que está fundamentalmente errado, pois não há uma classe com posse de meios de produção necessariamente com maior renda que aqueles que não os têm. Por duas razões: a composição e o modo como as classes se estruturam mudou bastante desde a época de Karl, hoje em dia nós temos muito mais gerentes e grandes acionistas que dividem seus investimentos em vários fundos sem, necessariamente, deter os meios de produção de grupos industriais, agrícolas ou extrativistas específicos. Em se tratando de Brasil, a burocracia governamental ou para-governamental tem muito mais poder e dinheiro do que empreendedores privados, o que denota que este terceiro elemento, o estado não é levado na devida conta pelos marxistas (basicamente porque Marx não tinha uma Teoria do Estado). Veja aqui quem pertence a posição dominante na estratificação social brasileira:
Elite estatal ocupa 6 das 10 profissões mais bem pagas @estadao: https://economia.estadao.com.br/noticias/geral,elite-estatal-ocupa6-das-10-profissoes-mais-bem-pagas,10000081214
Por outro lado, os esquerdistas de hoje estão mergulhados de tal forma em um mar de ignorância e imbecilidade que seus argumentos (se é que se podem chamá-los disso) beiram o puro preconceito e antipatia irracional. O caso mais conhecido é de Marilena Chauí, professora de filosofia da USP e típico exemplo de elite estatal, muito bem remunerada, diga-se de passagem. Vejamos o que ela diz:
https://youtu.be/svsMNFkQCHY
Entre outras asneiras, a professora opõe a classe média aos “trabalhadores”, como se ela própria não fosse constituída, majoritariamente, por membros da População Economicamente Ativa (P.E.A.), isto é, trabalhadores de fato. Marilena Chauí perdeu uma maravilhosa chance de calar a boca e demonstrou toda sua ignorância em (a) termos marxistas, pois as classes médias não faziam parte do “motor da história”, não executavam a exploração, nem eram exploradas; (b) em termos conjunturais, pois contradiz a própria alegação auto-meritória de seu partido, o PT, que diz “ter aumentado a classe média brasileira” ao colocar milhões de brasileiros no mercado consumidor com seu Bolsa-Família:
35 milhões de pessoas ascenderam à classe média https://exame.abril.com.br/brasil/35-milhoes-de-pessoas-ascenderam-a-classe-media/ via @exame
Muito embora, a incorporação dessas dezenas de milhões a um estrato social intermediário tenha sido mais a um estratagema estatístico do que à distribuição de renda compulsória:
Depois de inventar a classe média dos R$ 300, PT está prestes a declarar oficialmente o fim da miséria que, a rigor, já não existia. Veja como e por quê https://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/depois-de-inventar-a-classe-media-dos-r-300-pt-esta-prestes-a-declarar-oficialmente-o-fim-da-miseria-que-a-rigor-ja-nao-existia-veja-como-e-por-que/ via @VEJA

As cotas raciais criam uma elite entre negros, pardos e indígenas

Até do ponto de vista esquerdista, que se apoia basicamente na ideia de transferência de renda, as cotas raciais para serviços públicos ou universidades é um anacronismo. Em primeiro lugar porque no Brasil, pardos não são minoritários. Então, as cotas seriam para a maioria e não para um “grupo desprivilegiado”. Para ser coerente com seu propósito, negros, pardos e indígenas teriam que somar cerca de 12%, como é nos EUA, de onde foi importada a ideia. Em segundo, quando se facilita a entrada desses grupos em universidades concorridas, se privilegia negros, pardos e indígenas que já concluíram o ensino médio, ou seja, justamente aqueles que já se encontram melhor situados do que a imensa maioria que sequer termina o ensino fundamental. Estes, especificamente, não têm nada, não ganham nada e ainda têm que sofrer com um lixo de ensino, haja vista as péssimas colocações que a educação brasileira alcança em rankings e avaliações internacionais. Portanto, se quisessem, realmente, melhorar a condição de vida desses “desprivilegiados”, o ensino básico (fundamental e médio) é que deveriam ser melhorados, muito. Nada disso é feito porque, entre outros problemas, teria que se brigar com uma categoria organizada e extremamente avessa às mudanças formada pelos professores.
Ainda dentro da perspectiva de Esquerda, calcada na redistribuição compulsória de renda, se fosse para atingir resultados mais tangíveis e não estimular o preconceito e retórica racista de “eu sou negro”, “seu mérito e sucesso são herdados da exploração que seus antepassados cometeram contra os meus” ou argumentos similares, as cotas sociais seriam mais eficazes. Mas aí, nem sempre pardos, negros e indígenas seriam os maiores beneficiários. Basta pensar que em estados como Santa Catarina, com maioria absoluta de brancos, os pobres deste grupo é que seriam os mais atingidos por tais programas.

O passado de riqueza da Suécia pode não ser suficiente para garantir sua prosperidade

Muitos acham indevidas as comparações entre a violência étnica na Suécia após a inundação de sua população por refugiados e imigrantes. Deixe-me explicar um coisa, comparar é justamente o que se faz com realidades diferentes para se avaliar causas, processos e resultados similares e/ou distintos. Se procurássemos só realidades próximos estaríamos equiparando, o que não é o caso entre Brasil e Suécia. É claro que as causas da violência neste e naquele país são pra lá de diferentes, ninguém negou isto! O que se tem que avaliar é que há processos similares, quer seja pelo “garantismo jurídico” que trata bandidos como “vítimas sociais” aqui no Brasil, quer seja pelo ressentimento que povos de Primeiro Mundo têm com relação aos imigrantes por vê-los como “vítimas históricas” na Suécia e na Europa Ocidental, o resultado é um: o recrudescimento da violência.
Pode ser diferente? Sim, pode. Mas para tanto, imigrantes e pobres não têm que ter privilégios e benefícios têm que estar computados em um processo de crescimento intelectual e pessoal, isto é, como estudos garantidos para incorporação no mercado de trabalho. O resto da vida cada um resolve e desenvolve como quer, desde que não se agrida quem pensa diferente. Portanto, se a tua religião — ou a maneira como interpreta sua religião — atenta claramente contra o modo de vida do país que o recebeu ou se tua posição na escala social dificulta seu crescimento profissional e qualidade de vida, tu só pode ter um caminho: o trabalho independente com respeito às demais culturas todas sob a mesma lei. Se não for assim, meu caro, volte para o buraco de onde veio.
E, ironicamente, o que está na raiz disto tudo é uma forma inconfessa de elogio, a inveja. Quando eu invejo alguém, eu queria ser esse alguém, mas como não posso, quero destruí-lo. É isso que está na raiz de toda essa violência.
Abraço,
Anselmo Heidrich
16–08–2018