domingo, agosto 19, 2018

Não frequento o supermercado das ilusões


Independente da cultura, algumas coisas não mudam. Mas com o tempo melhoram…

Vocês nunca sentiram vontade de apelar para os caminhos fáceis? Para os atalhos? Não, não estou me referindo à corrupção ou roubo. Isto seria mais fácil responder. Refiro-me às questões da Vida, ao entendimento do Mundo e suas alamedas, esquinas, avenidas e, principalmente, as encruzilhadas.
Uma maneira de pensar a vida em sociedade em um sentido amplo é a perspectiva evolucionista, de que tudo muda, sempre muda ou, pelo menos o que há de mais abrangente na vida em grupo, a economia, as leis etc. Não está errado, o problema com esta visão é que ela deixa de lado outra visão fundamental, o que nós temos de perene e por que não dizer, essencial?
Não me refiro à essência humana, essa incógnita, mas há traços fundamentais de nossa espécie, como o paradoxal apelo à solidariedade, assim como somos, proporcionalmente, muito violentos, talvez os mais violentos e agressivos dos animais. Nosso senso utilitário temperado pelo código moral ou, como preferem alguns, nossa moral corrompida pelo utilitarismo. Não importa, o que importa é que nossas particularidades intrínsecas nos fazem ver o convívio social e a história em uma perspectiva menos otimista, mas não necessariamente pessimista. Dir-se-ia realista.
Mas com certeza, isto é um banho de água fria nos evolucionistas sociais ou, como alguns preferem chamar, darwinistas sociais que tomaram muitas das ideias de Charles Darwin e sua Teoria da Seleção Natural emprestada para adaptá-la à sociedade, tanto marxistas como anti-marxistas crentes no progresso das instituições do capitalismo. Depois de um breve interregno histórico no Séc. XX, que muitos chamaram de Nova Ordem Mundial, com o fim do Pós-Guerra se acreditou no nascer de uma nova Idade do Ouro regada por pão e mel fartos. O que se viu foi o descontrole das guerras no Terceiro Mundo que antes possuíam um freio da “guerra por procuração” das grandes potências. Potências essas que voltaram a atuar, como se vê no Oriente Médio, com a Síria.
Não dá para descartar os avanços da sociedade, seja na economia (parcialmente) de mercado chinesa, no desenvolvimento econômico africano (quem diria?) e leste europeu. Mas, claro que para nós latino-americanos incrustados no subcontinente da pasmaceira eterna, a antípoda do evolucionismo é bem mais sedutora. De qual cosmovisão estaríamos falando? Da Teoria do Eterno Retorno.
A visão de que nada muda, exceto em sua superfície também é sedutora. E ela não deixa de dar bons frutos, como o famoso dito “se desejas a paz, prepara-te para a guerra”. Eu, particularmente, carrego isto comigo, como se fosse uma arma, pois sempre desconfio de lobos a espreita. E eles existem mesmo.
É fácil observarmos nossa juventude, que se acha tão ilustre e iluminada repetir erros de fanáticos de outrora e concluir que realmente, pouco ou nada mudou. Mas se estaríamos assistindo a uma crônica da tragédia anunciada, também não veríamos isso na religião? Quanto mais ouço estudiosos do assunto falarem, mais similaridades vejo entre seitas de diferentes credos, como se o dom espiritual de se conectar com deus terminou com os apóstolos, no caso do cristianismo, o que não deixa de ser similar aos sunitas, no caso do islamismo. Sabe, as questões teológicas mesmo não me interessam. Aliás, nunca me interessaram, pois leva-las a sério seria dar um ar de credibilidade a invencionices. Mas o que as pessoas, com inteligência veem nelas… Ah! Isso sim me interessa e muito.
Esses padrões de comportamento e crença me fazem ver o eterno retorno como concreto, mas isto porque meu foco se dá no conflito. Se eu fizer um esforço para ver a outra metade do copo, a da paz e da harmonia, sinceramente, não é que ela perfaz mais do que a metade? Costumamos enfatizar a desgraça porque ela chama atenção. E seria estranho se valorizássemos mais a monotonia, mas esta paz tem evoluído positivamente. Mais uma vez, para nós latino-americanos que concentram as 10 cidades mais violentas do mundo no subcontinente e, no caso específico do Brasil, a maior taxa de homicídio do planeta, a Teoria do Eterno Retorno faz todo sentido.
Como diz a Ciência, se há um cisne negro no mundo, o enunciado de que todos os cisnes são brancos cai por terra. E esse é o caso com a hecatombe de violência e agressividade, em termos proporcionais não aumenta, mas diminui. Estatisticamente falando, não dá para dizer que “tudo permanece igual”, tampouco dá para ignorar nossos mais primitivos impulsos animais. Em suma, nem o evolucionismo social, nem o eterno retorno explicam o mundo.
Anselmo Heidrich
19–08–2018

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