quinta-feira, janeiro 30, 2020

O que um Ministro da Educação deveria fazer


Anselmo Heidrich[i]
Com a troca do Ministro da Educação, Ricardo Vélez Rodríguez por Abraham Weintraub se esperava substituir um intelectual inapto para as atividades administrativas por um exímio gestor. Esta era a expectativa, esta foi a narrativa, mas passados nove meses não foi o que aconteceu, longe disso.
Na semana que passou, estudantes relataram erros na divulgação das notas do Sistema de Seleção Unificada (Sisu). Após o Ministro minimizar o problema atribuindo falhas a superlotação de inscritos, o Ministério Público Federal solicitou a suspensão das inscrições no sistema e alteração de seu calendário. Sobre as críticas ao Sisu, Weintraub reagiu dizendo que há “tem muita gente maldosa, que tem interesse em fazer terrorismo, espalhando mentira” ou são ligadas a um partido “radical de esquerda”.
Mas nada se aproveita do ministério sob comando de Weintraub? Sim, nem tudo foi em vão. Sua obsessão contra Paulo Freire é justificada. Freire era realmente péssimo, ele tinha uma linguagem diversionista, que não focava em seu objeto que, em tese, era educar dentro da compreensão e competência do ambiente escolar. Ao invés disso, fazia o que se convencionou chamar de “doutrinação”, mas que não passa da manipulação mais grotesca com mensagens subliminares (e às vezes nem tanto) em favor da revolução contra o capitalismo e a ordem democrática, aliada ao desprezo pelos métodos tradicionais de ensino, nem sempre defasados como dizem. Malgrado, isto por si só não justifica a inoperância e inépcia do atual Ministro da Educação.
O que se espera de um ministro de estado é que execute tarefas dirigindo sua área, no caso em questão, a educação, propondo algo a respeito e antes ainda, que tenha pesquisado sobre o assunto. Não é tão difícil quanto parece, existem dois temas que acho pertinentes e mais fáceis de executar. Comecemos com a pergunta: quais são os problemas e dificuldades que atingem a maioria dos professores?
A INDISCIPLINA
Claro que a maioria vai falar sobre salários, mas isto não é algo que seja da competência direta do MEC, como seriam outras demandas. E seja qual for a posição político-partidária ou ideológica dos professores, independente de qual seja sua visão de mundo, algo que os atinge em cheio, na sua maioria, é a malfadada indisciplina escolar.
Como se resolve isto? Como eu disse, o primeiro passo é a pesquisa. E há sim boas experiências no Brasil. Comecemos pelo óbvio, as escolas militares. Sei que alguns leitores irão se opor de imediato dizendo que não há como comparar, pois o militar é um indivíduo que tem todo um preparo prévio que permite a constituição de um ambiente educacional totalmente distinto. Minha discordância a este argumento é que eu não acredito que tenha que ser militar para aprender regras básicas de convivência no ambiente escolar. Eu poderia aqui dissertar em termos teóricos, mas vou ser mais direto: a escola no Brasil já foi muito melhor em termos disciplinares. Simplesmente, algo se perdeu ao longo de nossa história recente e eu tenho algumas dicas e uma delas é o poder de sanção atribuído ao professor.
Em Campo Grande, Mato Grosso do Sul, o promotor da Infância, Adolescência e Juventude do Ministério Público Estadual, Sérgio Harfouche criou um projeto, batizado de Programa de Conciliação para Prevenir Evasão e Violência Escolar (Proceve), que deu origem a um projeto de lei que consistia, basicamente, em obrigar os pais a assinar um termo de responsabilidade pela conduta de seus dependentes. Conhecida como Lei Harfouche, trata da indisciplina escolar. Na primeira ocorrência, o aluno recebe uma notificação, na segunda, alguma forma de ressarcimento deve ser estabelecida em atitudes compensatórias, seja pela depredação do patrimônio público, no caso, a escola, ou pela epidemia que assola o professorado, a ofensa pessoal.
Os opositores desse projeto insistem na tese de que “o aluno precisa ser conscientizado”. Deixe-me perguntar: quando vocês eram crianças mesmo, acham que os pais paravam no meio da rua e os conscientizavam de que era perigoso atravessar sem olhar para os lados ou acompanhado de um adulto? Antes de conscientizar, há o puro condicionamento por regras básicas de convivência. Depois de assimilado e reduzidas as chances de algo ruim acontecer é que se explica o porquê de se adotar um procedimento específico. Não há como, quando temos uma situação em que outros indivíduos podem estar em risco, explicar tudo a todos. Imagine você se cada um de nós tivesse que ter concordância e consentimento com regras de trânsito só após alguém poder nos explicar sua validade. Assim como temos a obrigação de saber determinadas regras de antemão no trânsito, como condutores ou passageiros, professores e alunos também têm este compromisso antes de pisar em uma sala de aula.
A “DOUTRINAÇÃO”
Outro ponto que considero fundamental em concordância com o Ministro e seu governo é o combate à doutrinação. Este sentido de “doutrinação” corresponde a uma narrativa e método de ensinar com fins escusos, normalmente, ideológicos e político-partidários. Pois bem, exceção feita àqueles legítimos casos de polícia em que professores são denunciados e, corretamente, expostos por fazerem clara apologia a um político, ideais utópicos ou pior, convocando os alunos à ação nas ruas, manifestações etc., há uma “doutrinação fina”, chamemos assim, que passa batido e nem sequer é percebida pela maioria de seus críticos: a que está nos livros didáticos.
Por que é importante combater esta? Porque o livro didático é uma espécie de manual para a maioria dos professores, que depende dele para orientar o conteúdo de suas aulas. Mas (isto é importante), também deveria ser a salvaguarda do aluno quando o professor estivesse fugindo do tema ou fazendo mal uso de sua posição privilegiada enquanto educador. Deveria servir como uma âncora ao aluno para não ser tragado pelas más interpretações e manipulações que alguns sedizentes professores lançam mão. O livro didático também deveria funcionar como aqueles códigos do consumidor que vemos depositados nos balcões das lojas para nossa segurança jurídica.
É difícil imaginar um ministro convocando uma equipe para analisar os livros que o próprio MEC indicou no passado, sugerindo retoques ou renovação de títulos a partir de critérios técnicos não doutrinários? Seis meses para isso, mais seis meses para confecção de novos materiais e em um ano temos uma produção realmente apropriada. Daí, a opção de colocar a bandeira ou o hino, tal como sugerido pelo Presidente da República, é secundária, pois enfatizar símbolos em detrimento do conteúdo literário, como se houvesse “muita coisa escrita” é prova de desconhecimento total do assunto, seus problemas, necessidades e soluções.
Há muito mais, evidentemente, que tem que ser discutido e proposto, mas só estas duas considerações já dariam uma nova cara à pasta e não fariam com que o MEC fosse um dos principais auto-sabotadores deste governo. Ficar batendo o pé ao dizer que quem nos critica é de Esquerda só prova uma coisa, que esse povo da Direita não é tão diferente assim de seus opositores, pois afinal, vivem de propaganda enquanto os problemas permanecem os mesmos. E já que o Ministério é o da Educação, uma boa forma de educar nossa sociedade é mostrar como se respeita o dinheiro público, não perdendo tanto tempo em redes sociais, como faz nosso ministro em seu Twitter. Ninguém precisa vê-lo tocando algum instrumento musical, como se isso fosse uma qualidade para um homem público, sobretudo quando ocorrem tantos sobressaltos em sua administração.

[i] Professor de Geografia e Mestre em Geografia Humana pela Universidade de São Paulo e coautor do livro Não Culpe o Capitalismo.

Imagem “Abraham Weintraub” (fonte): https://www.flickr.com/photos/palaciodoplanalto/47961129173/

sexta-feira, janeiro 24, 2020

Vida nas Cidades: antes era melhor?


Eu cresci numa periferia da zona norte de P. Alegre que, diferente do que a palavra significa hoje, era só uma área periférica e não deteriorada ou perigosa como pensamos. Muitas das coisas mostradas no vídeo abaixo não eram populares, motos para todo o lado, mas outras sim, como brincar e jogar bola na rua, festinhas na garagem etc. Note que o vídeo mostra um fragmento da população e daí pensamos que “antes era tudo melhor”. Enquanto esta parcela vivia feliz e sonhava com um futuro, mulheres com casamentos desfeitos davam a luz filhos de pais diferentes que, sem nenhuma estrutura familiar e emprego volátil tiveram seus filhos que tiveram os seus que tiveram outros, tudo no mesmo padrão sequencial. O resultado é isto que temos aí, uma bomba criminal demográfica. Não dava para imaginar? Claro que dava. Mas onde estavam nossos pesquisadores sociais? Fazendo política. Imagine uma equipe de sociólogos, geógrafos e demógrafos analisando uma série de mapas urbanos das grandes metrópoles e dados de fecundidade disponíveis associados à estrutura educacional, emprego, saúde e habitação por um período de 10 anos, não dava para imaginar a merda que viríamos a ter nos anos 90 e 2000? Dava e dava para prever tudo isso, minimizar ou, pelo menos, mitigar. É isso que os governos militares falharam, é nisso que a Nova República de FHC falhou, os que vieram antes também, foi nisto que os governos petistas falharam e é nisto que o atual governo da “nova era da caneta bic” também irá falhar. Nós vivemos só de retórica e falsas narrativas… Veja você, o que nos disseram os professores de esquerda “não dá para só crescer o PIB, tem que redistribuir”… Pois bem, fizeram isto e o que deu? Alguma satisfação sem crescimento profissional e autonomia individual frente as benesses estatais. Agora veja você o que dizem os direitistas sobre Cuba: “antes do Fidel era melhor” ou sobre a Venezuela: “antes de Chávez era melhor”. Sim, era! Mas não era bom também. A Venezuela vivia a hiperinflação com o crescimento absurdo de favelas, Cuba era só um prostíbulo para turistas com produção de rum e açúcar, nada mais, com a maioria da população vivendo alijada do conforto do século XX como se fossem servos da gleba. Claro que daí vêm os populistas, de esquerda, como Fidel, ou de direita que depois bandearam para a esquerda, como Chávez, e com suas “soluções” imediatistas e redistributivistas sem projetar o crescimento e a educação e pioram tudo. Lembre-se: veneno é quantidade. Enquanto as donas de casa americanas compravam livremente suas drogas nas farmácias décadas atrás não era problema, mas quando o vício se expandiu se tornando um surto de grandes proporções se passou a proibir a droga. O que eu penso com esses exemplos do passado é que, provavelmente, temos hoje fenômenos embrionários que não conseguimos enxergar e que em um futuro não tão distante serão vistos como epidemias, pragas, “doença social” e por aí vai. Foi o que aconteceu com a favelização que na minha época ficava depois da Av. Sertório na Zona Norte, mas sempre me chamou atenção como se fosse um outro mundo proibido e que: AS PESSOAS EVITAVAM COMENTAR. Não passaram 10-15 anos as submoradias já tinha penetrado como metástase nos “bairros bons” e hoje se expandem, metamorfoseando a cidade e levando o mercado imobiliário a se adaptar, com as pessoas mandando às favas os códigos de posturas e transformando suas habitações em mini-bunkers. É isso que temos pro jantar… Claro que no meio disso tudo, coisas boas nascem e podem melhorar nossa vida no futuro (o uso de capacetes, p.ex., cuja ausência no vídeo é mostrada com saudosismo, desenhos animados muito bacanas que existem hoje em dia que criam novas sensibilidades etc.).
Só sei que no futuro, ainda teremos pessoas como eu e tu olhando para trás, nesta época atual que vivemos e conversamos em redes sociais, dizendo “como em 2020 era melhor”.
Anselmo Heidrich
24 jan. 20

Imagem “Planta do núcleo urbano inicial da cidade, 1840, ainda com a linha de muralhas assinalada” (fonte): Por Desconhecido – [1], Domínio público, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=7561089

quinta-feira, janeiro 23, 2020

O FMI e o acordo do gás para a Ucrânia


A Ucrânia e o Fundo Monetário Internacional (FMI) assinaram um acordo no dia 7 de dezembro de 2019, de 5,5 bilhões de dólares* válidos por três anos. As negociações ainda dependem de reformas estruturais que visem o aumento da confiança de investidores. Conforme estas avancem, o Conselho Executivo do Fundo poderá aprovar o acordo ainda no primeiro trimestre deste ano (2019).

O Temor

Gueorguieva se referiu às influências de atores privados nos governos ucranianos e possíveis vantagens inadequadas que serão obtidas se as regras não ficarem claras sobre como devem operar as instituições. Segundo analistas do JPMorgan, esta ameaça “vem de poderosos empresários representados em grande parte pela estrutura oligárquica sobreposta a instituições fracas”. Esta não foi a primeira vez que o FMI tentou afastar a Ucrânia desta situação, mas seus êxitos no passado foram parciais e a instituição sabe que grupos de interesse irão resistir às reformas propostas.
Segundo a Investment Capital Ukraine (ICU), “(…) a limpeza do setor bancário ucraniano, sua recapitalização e cessação de práticas de empréstimo e informações privilegiadas foram as principais questões dos programas anteriores do FMI, que a Urânia já cumpriu. A reversão desses ou de outros benchmarks alcançados anteriormente compromete a eficiência dos programas e metas do FMI. Portanto, quaisquer tentativas possíveis de devolver o Privatbank a seus ex-acionistas ou compensá-los constituiriam um ponto de não retorno para o Fundo. No entanto, esperamos que as batalhas legais domésticas e estrangeiras sobre a nacionalização do Banco e a possível fraude no Banco antes da nacionalização levem mais de um ano para serem resolvidas. Durante esse período, é provável que a Ucrânia se abstenha de cruzar as linhas vermelhas para permanecer no programa do FMI”.
O grupo faz referência ao caso envolvendo Ihor Kolomoisky, um dos alegados financiadores de campanha de Volodymyr Zelensky, que teve prisão decretada na Ucrânia durante o governo anterior, de Petro Poroshenko. Kolomoisky foi acusado de fraude bancária e seu antigo Banco, o PrivatBank, foi nacionalizado após o caso. Kolomoisky, que mantém a alegação de inocência, se refugiou na Suíça em 2017 e retornou à Ucrânia em maio de 2019.
Em que pesem os temores do FMI, à primeira vista, a economia ucraniana vai bem. O PIB cresceu mais rapidamente no segundo trimestre de 2019 do que todo o período anterior desde a crise de 2014, o salário médio vem crescendo a dois dígitos em média por vários anos, os investidores têm apostado na Ucrânia e as agências de classificação avaliam bem a situação do país, o que reflete no acesso ao crédito. Por outro lado, com a ameaça de crise global, a desaceleração da produção industrial nacional, a inflação acima da meta, o subfinanciamento público e a alta do dólar servem como sinais de alerta.

O Gás

O ponto sensível da economia ucraniana está na questão energética. Embora o país não importe mais gás natural de seu vizinho russo, ele ainda depende das taxas de trânsito do gás exportado pela Rússia à Europa, são 3 bilhões de dólares** em receita anual, cerca de 2,5% do PIB.
Mas, tudo isso pode ser perdido com a finalização das linhas Nord Stream II no Báltico e a TurkStream no Mar Negro. Estes dois gasodutos passarão em volta da Ucrânia, tornando a passagem pelo seu território irrelevante e permitindo maior poder dissuasório à Rússia, no caso de novos conflitos entre os dois países, ou retomada dos já existentes, como em Donbass ou pela Crimeia.
A energia alternativa e com outras matrizes crescem na Ucrânia, mas ainda são insuficientes para fazer frente às suas necessidades. Como o transporte de gás com toda a capacidade no Nordstream II está previsto para 2022, ainda há uma margem de tempo para a Ucrânia negociar um acordo com a gigante estatal russa, a Gazprom.

Maiores Gasodutos Russos para a Europa

Outro problema se refere à economia e distribuição de energia interna na Ucrânia. Para que os investimentos sejam feitos, especialmente na modernização da infraestrutura, problemas estruturais institucionais, como a corrupção, devem ser combatidos. Este é o ponto chave para que a Ucrânia consiga atrair mais capital e é exatamente nisto que se concentra o acordo do FMI no setor de gás.

O Acordo

Em documento, o FMI diz que as tarifas de gás não eram ajustadas desde abril de 2016, apesar do aumento dos preços internacionais. Como adaptação a esta defasagem, e temendo reações políticas, as autoridades suspenderam os ajustes no verão de 2017. Isto ampliou a diferença entre preços liberalizados para a indústria e os congelados para consumo doméstico, além de recriar oportunidades para esquemas corruptos no desvio de gás doméstico às empresas. Consequentemente, a Naftogaz teve suas finanças agravadas, apesar de conseguir manter saldos positivos de caixa devido às receitas de trânsito.
Para a liberalização do gás, o governo ucraniano em 2018 adotou um aumento de 26% no preço de atacado e de 15% em 2019. Para 2020, a promessa é que as tarifas de gás doméstico sejam totalmente determinadas pelo mercado.
Apesar das projeções do Banco Central da Ucrânia de crescimento real do PIB de 3,5% para 4,0% em 2021, os benefícios do crescimento podem demorar a chegar aos estratos inferiores da sociedade, bem como em regiões mais afastadas e carentes de infraestrutura, notadamente aquelas em conflito, como é o caso do Donbass. E em um país em guerra isto pode servir como combustível para uma maior insatisfação popular e conflagração.

O Dilema

Recentemente, Ihor Kolomoisky, um dos homens mais ricos da Ucrânia e apoiador da candidatura de Zelensky, se mostrou favorável a uma reaproximação com a Rússia. Dada a influência nada desprezível e o crédito que tem Kolomoisky na sociedade ucraniana, sua afirmação é digna de nota. O oligarca ucraniano é reconhecido por fomentar e apoiar milícias pró-ucranianas antes do Exército do país conseguir se organizar para conter a insurgência de separatistas apoiados pela Rússia.
Se esta sugestão de procurar reconciliação e apoio financeiro com Moscou for mais que uma mera manifestação de desejos, o destino da Ucrânia pode não estar selado através de acordos como o do FMI. Por outro lado, o jogo político entre as forças ucranianas pró-ocidentais e pró-russas irá depender do pêndulo do apoio popular. Zelensky terá de ser ágil, enquanto seus índices de aprovação continuam altos, para dar direção ao rumo do país. Resta apenas saber se atalhos são sustentáveis no longo prazo ou indicam um caminho seguro, mas esta é uma pergunta que só o povo ucraniano poderá responder.
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Notas:
O equivalente a 22,89 bilhões de reais, na cotação de 17 de janeiro de 2020.
** O equivalente a 12,531 bilhões de reais, na cotação de 17 de janeiro de 2020.
*** O equivalente a 416,19 bilhões de reais, na cotação de 17 de janeiro de 2020.
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Fontes das Imagens:
Imagem 1Sede 2 do FMI, em Washington, D.C.”(Fonte): https://commons.wikimedia.org/wiki/File:1900_Pennsylvania_Avenue.JPG
Imagem 2 Maiores Gasodutos Russos para a Europa” (Fonte): https://de.m.wikipedia.org/wiki/Datei:Major_russian_gas_pipelines_to_europe.png

terça-feira, janeiro 21, 2020

Uma paixão no rio


Recebi um vídeo de um sujeito se banhando no rio, carinhosamente com uma onça. Não o publico aqui, tem seu nome e porque, evidentemente, se chegar ao seu conhecimento pode não gostar do que vou escrever. O que não seria problema para quem entende o português, mas como vivemos em uma época que se censura opinião por mera discordância e existem profissionais ávidos para lucrar com processos por supostos danos morais, não vale a pena o incômodo. Se vocês fizerem questão de ver, o que é até bonito, o cara brincando com ela, brincando brincando mesmo, sem malícia, basta pesquisar na internet.
Então, ao assisti-lo lembrei de Uma Paixão no Deserto, de Balzac, romance escrito sobre um soldado escondido numa gruta que se apaixona por uma pantera.
“O soldado perdido no deserto acha refúgio em uma gruta e consegue domesticar uma pantera pela qual sente alguma forma de amor. Como única companhia no deserto, o homem projeta emoções humanas na fera, com quem vive em miraculosa harmonia. Um dia, contudo, um gesto brusco lhe dá a impressão de que o animal vai devorá-lo e ele o apunhala. Ele se apercebe tardiamente de que o gesto era um sinal de afeição da parte do animal. O narrador é um homem que, um dia, encontrou o soldado. Ele conta a história a sua companheira.” (Wikipedia)
O romance (tem um filme também) é uma parábola da solidão e necessidade de amar, que te leva ao estado análogo da loucura. Como podemos ficar loucos quando estamos solitários e apaixonados, por mais bizarro que seja o ‘objeto’ para o qual o amor se destina. Loucos ao ponto de amar outra espécie de modo profano e ao ponto de só solucionar isto matando sua amada. Claro que esta leitura é minha, não sei se o próprio Balzac concordaria com ela ou algum de vcs.
Vi em filme isso, triste, o cara mata sua amada com uma facada. Imagine um filme desses produzido hoje no Brasil, com um secretário de cultura como o que saiu.
Anselmo Heidrich
21 jan. 2020

Imagem “Panthera onca” (fonte): Por Wolves201 – Obra do próprio, CC BY-SA 4.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=60468401

sábado, janeiro 18, 2020

Alvim e os Esquivos


Todos devem estar bem a par do que nosso ex-Secretário Especial da Cultura, Roberto Alvim, disse ontem em discurso sobre a promoção da arte e da cultura brasileiras. O vídeo, para quem ainda não teve acesso, está aqui, em várias opções de edição ou análise:
E, como não poderia deixar de ser, os defensores do governo, “passadores de pano”, como são carinhosa e eufemísticamente chamados não poderiam tecer suas mais imaginativas teorias para justificar o injustificável:
A hipótese é que o secretário foi sabotado. Ok, digamos que, como que por encanto, a incompetência característica deste governo desaparecesse, alguém teria sabotado, mas não impediu Roberto Alvim de ter assinado embaixo desse discurso. E o que diz o discurso? O que ele defende? Ele, simplesmente, defende o controle da cultura pelo estado. E quem faz isto no mundo? Que tipo de país ou regime de governo atua desta forma? Vocês acham que países utilizados como referência por esta claque que se diz conservadora hoje no Brasil, Estados Unidos ou Reino Unido, p.ex., têm cargos como “secretários de cultura” propondo edições da cultura nacional enaltecendo apenas o heroísmo na clara iniciativa de criar mitos nacionais? Não, isto é típico de ditaduras, mas não qualquer ditadura e sim aquelas com pretensões a formar sistemas totalitários, isto é, aquele tipo de sistema que estrutura o autoritarismo não só em pessoas ou grupos, como partidos, mas nas próprias regras de convivência da sociedade.
Décadas atrás, conheci um professor de geografia, colega meu que viajara para Cuba. Voltando de lá me relatou, estupefato, como estudavam os professores… No caso, um de história que conhecera, cujo método consistia em ler exaustivamente um único livro, o oficial, que retratava a história oficial pelas lentes do Partido Comunista Cubano. Cada semestre era dedicado à leitura e memorização de um capítulo. Ao fim e ao cabo do curso de história, os graduados tinham conhecimento metódico e repetitivo do livro oficial que iriam, por sua vez, passar às futuras gerações de jovens cubanos nas salas de aula do ensino básico. O nome disso é doutrinação e são casos como esse que servem de exemplo quando o estado toma o controle da edição de fatos históricos para fomentar e produzir a cultura.
Quando os defensores do governo Bolsonaro, sua “ala ideológica”, todos olavistas, não criticam o conteúdo do discurso, mas somente o ex-secretário ter plagiado ou assinado embaixo de quem plagiou Goebbels se nota, pelo que não é dito, que o conteúdo não é o problema nem nunca será porque eles pensam exatamente assim.
Advogar o controle estatal da cultura não significa ser, necessariamente, nazista, mas sua hegemonia e monopólio fazem parte de um conjunto de características do totalitarismo, cujo modo de organizar a sociedade compreende regimes como o nazista, o comunista etc. Não encarar isto de frente é se esquivar e mostrar que se tratam de covardes mostrando falsa indignação. Não, se pudessem, se o ex-secretário não fosse denunciado e acusado, estariam hoje virando pro outro lado da cama emitindo seus gases pútridos, mas não mortais como os que ceifaram as vidas de dezenas de milhões em câmaras de gás. Câmaras estas ignoradas por gente que pensava como eles: “que há demais, foi só um discursinho?”
Anselmo Heidrich
18 jan. 20

Quem quiser me ajudar a divulgar meu trabalho e combater esta chaga ideológica que nos assola, além deste artigo, há o vídeo:
Imagem O Secretário Roberto Alvim se reúne com Irene Ferraz (fonte): https://www.flickr.com/photos/ministeriodacultura/49395100193

sábado, janeiro 11, 2020

The general, the plane and the imbeciles


I’ll show you how to play: ‘Yesterday’, assholes protested the annihilation of an Iranian general, terrorist promoter and bloodthirsty oppressor of his own people, but when the Iranian army takes down a commercial plane killing 176 innocents, all what you hear is the absolute silence.
The other day, too, the UN declared that Cuba’s ‘More Doctors’ program, which burdened Brazil’s public coffers with more than $ 1.7 billion, really was a kind of slave labor, which we already knew. But imbeciles who claim the UN is part of a world domination scheme, called ‘globalism’ to impose socialism on the people, said nothing, only criticized the PT governments in Brazil and the Cuban involved. It matters no consideration about being mistaken about the UN, as this would testify against one of the main premises of his theory of domination.
It’s simple, just SELECT the data that interests you and build your NARRATIVE to COMPLETE what you already want. That simple! And everything goes by as if there is nothing else, as if reality doesn’t matter at all.
Anselmo Heidrich
January 11, 2020

Image “imbécile favoris pitre chapeau” (source): https://svgsilh.com/fr/image/1295112.html

O general, o avião e os imbecis


Eu vou mostrar pra vocês como é que se joga: ‘ontem’, imbecis se comoveram com a aniquilação de um general iraniano, promovedor de grupos terroristas e opressor sanguinário de seu próprio povo, mas quando o exército iraniano abate um avião comercial ceifando a vida de 176 inocentes, tudo o que se ouve é o mais absoluto silêncio.
Outro dia também, a ONU declarou que o programa ‘Mais Médicos’ de Cuba, que onerou os cofres públicos brasileiros em mais de sete bilhões de reais era mesmo um tipo de trabalho escravo, o que já sabíamos. Mas imbecis que alegam a ONU estar mancomunada em um esquema de dominação mundial, chamado de ‘globalismo’ para impor o socialismo aos povos não disseram nada, apenas criticaram os governos petistas e o cubano envolvidos no esquema.
É simples, apenas SELECIONE os dados que te interessam e monte sua NARRATIVA para CONCLUIR o que já queres. Simples assim! E tudo passa como se não houvesse mais nada, como se a realidade não importasse absolutamente nada.
Anselmo Heidrich
11 jan. 20

Imagem imbécile favoris pitre chapeau (fonte): https://svgsilh.com/fr/image/1295112.html

terça-feira, janeiro 07, 2020

MENTIRA NÃO! Greta Thunberg


MENTIRA NÃO!
Esse negócio de dizer que a #GretaThunberg não criticou o governo australiano é uma MENTIRA. Basta uma busca rápida na rede para constatar o CONTRÁRIO: Greta Thunberg calls for political change amidst bushfire “catastrophes” https://www.nme.com/…/greta-thunberg-scott-morrison-austral… via @NME Music News, Reviews, Videos, Galleries, Tickets and Blogs | NME.COM
Tanto que o Primeiro Ministro, Scott Morrison respondeu às suas críticas: Scott Morrison Responds After Greta Thunberg Criticised His Government For Inaction On Bushfire Crisis https://www.ladbible.com/…/news-scott-morrison-responds-aft…
Ou aqui: Morrison responds to Greta Thunberg by warning children against ‘needless’ climate anxiety https://www.theguardian.com/…/morrison-responds-to-greta-th…
Basta uma pequena pesquisa… Digitei “Greta criticized the Australian government” e obtive Aproximadamente 3.360.000 resultados (em 0,47 segundos) no Google.
Então, tome vergonha na cara e pare de esparramar mentiras. Discordâncias a parte com a menina, SEJA HONESTO.
Anselmo Heidrich 7 jan. 20
(4) ANSELMO HEIDRICH

quinta-feira, janeiro 02, 2020

Gente de Bem pode ser Corrupta


Este texto é claramente provocativo, reconheço, mas não é sem sentido. A ideia que vou defender aqui é polêmica, muitos de nossos amigos ou conhecidos podem estar envolvidos em atividades corruptas e se dizerem claramente contra a corrupção, sem perceber que fazem de um esquema maior e mais danoso à sociedade.
Anos atrás conheci um sujeito que trabalhava com prospecção de água em outro país e boa parte de seus clientes, fazendeiros, obtinha recursos para contratar seus serviços com crédito público, do principal banco estatal nacional.[1]
Em tese era algo justo e correto economicamente, o que poderia haver de errado em subsidiar produtores que trariam renda e emprego em regiões que eram pobres, em parte, devido a sua aridez. Só que o sujeito me confessou, na ingenuidade mesmo, como alguns desses clientes, fazendeiros, o recontratavam para sondar as mesmas propriedades ano após ano. Isso mesmo! Esses produtores, alegados produtores, o contratavam para prospectar o que já havia sido pesquisado, mapeado e encontrado nos anos anteriores. E ele sabia que estava errado, notem, embora não tivesse conhecimento legal sobre o assunto.
Vocês já devem estar sentindo nojo do cara, mas isso sempre ocorre quando não se tem proximidade com as pessoas que são acusadas e, por isso mesmo para se acusar e/ou defender alguém se deve ter um bom distanciamento da pessoa, isto é, não conhece-la como amiga ou inimiga. Qualquer operador de leis entenderia isso, mas nesses tempos de ampliação das notícias se faz necessário reforçar esta noção, básica. Obviamente que esses grandes corruptos que vemos constantemente nas manchetes de jornais e sites não são vistos como más pessoas pelo seu círculo de amigos e pessoas com quem mantêm relações.
Pense na ex-assessora de Bolsonaro que ocupava um cargo parlamentar e mantinha atividades como personal trainer no Rio de Janeiro, no mesmo período de trabalho ou outro ex-assessor de Lula que fazia pagamentos em dinheiro a grandes empreiteiras acusadas de reformar o sítio do ex-presidente. Tudo “ex”, não é? Mas relações de compadrio como estas devem estar ocorrendo a todo vapor nos dias de hoje e por quê? Por que são vantajosas para os envolvidos? Não é somente isto, pois elas são condenadas por muitas outras pessoas, o que por si só demoveria muitos de atuarem desta forma. O problema, como já falei, é que isto não é visto como imoral. Não se trata do que é ou não ilegal porque a grande maioria dos cidadãos, onde me incluo, não tem conhecimento dos meandros da lei, se trata do que se vê como moral ou não e nossas relações sociais, grandemente ancoradas, no conceito de ajuda mútua não prescindem do famoso toma-lá-dá-cá, esta é a verdade.
O sujeito do qual lhes falei não era um bandido, tipicamente falando, mas fez parte de uma relação que suga recursos nacionais, de impostos, para sustentar uma máfia difusa, daquelas que age como bactérias se multiplicando e infeccionando o organismo social. E quanto mais aprofundarmos seu estudo, mais veremos que a capilaridade de suas relações perpassa vastas extensões do país. Imagine um mobile de teto como arranjo de quarto… Agora, o nível superior sustenta outros dois que sustentam outros dois que sustentam outros e assim vai. Obviamente que a principal parcela dos recursos está lá em cima e nos fixamos nela quando tecemos nossas críticas, mas sua força consiste na aceitação dos níveis inferiores deste organograma oculto, pois diferentemente do mobile, ele não se sustenta com um gancho no teto, mas com bases sólidas fincadas no chão pelo nosso constante e diário modo de ver e se comportar.
A esta altura do campeonato, muitos de vocês devem estar enxergando nestas linhas uma justificativa para o crime, uma tosca tentativa de passar pano numa das maiores chagas nacionais. Não é não, mas estou indo além de querer focar só em figurões e mostrar a todos vocês como estes mafiosos se legitimam. Meu conhecido me dizia que estes fazendeiros tinham investimentos em propriedades no litoral, apartamentos que alugavam ou revendiam e como não eram produtores, de fato, mas meros especuladores, rêmoras de rent-seeking[2], acabavam por concentrar renda estabelecendo estas falcatruas. Agora, para as comunidades locais onde atuavam, eram padrinhos, conselheiros influenciando até em namoros e casamentos, cujas opiniões não eram impostas, mas demandadas pelos indivíduos que ignoravam completamente o conceito de cidadania como autonomia política. As pessoas delegam sua liberdade e responsabilidade em nome de uma hierarquia informal e aí está boa parte da disseminação da corrupção.
Acho necessário dizer isto quando vejo tantos apoiadores de Bolsonaro justificando que é muito menos do que o que fez o PT. Sim, isto não está em discussão, mas é assim que se começa. Quando o PT era pequeno, financeiramente falando, ouvi de muito esta explicação “ah, se os outros podem por que nós também não?” e, como vocês sabem, deu no que deu. O traço essencial é que o corrupto convicto da corrupção se esconde e mente, o corrupto ideológico justifica seu método para atingir um fim nobre e neste quesito, petistas e bolsonaristas só se diferenciam pelo grau do dano causado, pois são exatamente a mesma coisa.
Não se esqueçam, não se trata de defender corruptos de grande calibre, longe disso, povo, longe disso. Apenas lembre-se de que antes de apontar o dedo para bandidos-mor, nossos pequenos delitos diários são que os mantêm no poder. Reconheça isto para começar um ano novo com a casa em ordem depois do caráter em ordem.
Anselmo Heidrich
2 jan. 20

Imagem “A lemon shark with ramoras in the Bahamas” (fonte): https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Lemonshark.jpg

[1] Qualquer um dos casos citados à título de ilustração neste texto não passa de mera coincidência ou invenção do autor.
[2] Rent-seeking consiste numa forma de obter renda com a manipulação do ambiente político e econômico, como fazem os lobbies de grandes companhias ou investidores ligados ao governo. As rêmoras são peixes com ventosas na cabeça que nadam fixadas em tubarões. A figura dá uma ideia do que são os que beneficiam de predadores vorazes que atacam a fauna local.