sexta-feira, janeiro 24, 2020

Vida nas Cidades: antes era melhor?


Eu cresci numa periferia da zona norte de P. Alegre que, diferente do que a palavra significa hoje, era só uma área periférica e não deteriorada ou perigosa como pensamos. Muitas das coisas mostradas no vídeo abaixo não eram populares, motos para todo o lado, mas outras sim, como brincar e jogar bola na rua, festinhas na garagem etc. Note que o vídeo mostra um fragmento da população e daí pensamos que “antes era tudo melhor”. Enquanto esta parcela vivia feliz e sonhava com um futuro, mulheres com casamentos desfeitos davam a luz filhos de pais diferentes que, sem nenhuma estrutura familiar e emprego volátil tiveram seus filhos que tiveram os seus que tiveram outros, tudo no mesmo padrão sequencial. O resultado é isto que temos aí, uma bomba criminal demográfica. Não dava para imaginar? Claro que dava. Mas onde estavam nossos pesquisadores sociais? Fazendo política. Imagine uma equipe de sociólogos, geógrafos e demógrafos analisando uma série de mapas urbanos das grandes metrópoles e dados de fecundidade disponíveis associados à estrutura educacional, emprego, saúde e habitação por um período de 10 anos, não dava para imaginar a merda que viríamos a ter nos anos 90 e 2000? Dava e dava para prever tudo isso, minimizar ou, pelo menos, mitigar. É isso que os governos militares falharam, é nisso que a Nova República de FHC falhou, os que vieram antes também, foi nisto que os governos petistas falharam e é nisto que o atual governo da “nova era da caneta bic” também irá falhar. Nós vivemos só de retórica e falsas narrativas… Veja você, o que nos disseram os professores de esquerda “não dá para só crescer o PIB, tem que redistribuir”… Pois bem, fizeram isto e o que deu? Alguma satisfação sem crescimento profissional e autonomia individual frente as benesses estatais. Agora veja você o que dizem os direitistas sobre Cuba: “antes do Fidel era melhor” ou sobre a Venezuela: “antes de Chávez era melhor”. Sim, era! Mas não era bom também. A Venezuela vivia a hiperinflação com o crescimento absurdo de favelas, Cuba era só um prostíbulo para turistas com produção de rum e açúcar, nada mais, com a maioria da população vivendo alijada do conforto do século XX como se fossem servos da gleba. Claro que daí vêm os populistas, de esquerda, como Fidel, ou de direita que depois bandearam para a esquerda, como Chávez, e com suas “soluções” imediatistas e redistributivistas sem projetar o crescimento e a educação e pioram tudo. Lembre-se: veneno é quantidade. Enquanto as donas de casa americanas compravam livremente suas drogas nas farmácias décadas atrás não era problema, mas quando o vício se expandiu se tornando um surto de grandes proporções se passou a proibir a droga. O que eu penso com esses exemplos do passado é que, provavelmente, temos hoje fenômenos embrionários que não conseguimos enxergar e que em um futuro não tão distante serão vistos como epidemias, pragas, “doença social” e por aí vai. Foi o que aconteceu com a favelização que na minha época ficava depois da Av. Sertório na Zona Norte, mas sempre me chamou atenção como se fosse um outro mundo proibido e que: AS PESSOAS EVITAVAM COMENTAR. Não passaram 10-15 anos as submoradias já tinha penetrado como metástase nos “bairros bons” e hoje se expandem, metamorfoseando a cidade e levando o mercado imobiliário a se adaptar, com as pessoas mandando às favas os códigos de posturas e transformando suas habitações em mini-bunkers. É isso que temos pro jantar… Claro que no meio disso tudo, coisas boas nascem e podem melhorar nossa vida no futuro (o uso de capacetes, p.ex., cuja ausência no vídeo é mostrada com saudosismo, desenhos animados muito bacanas que existem hoje em dia que criam novas sensibilidades etc.).
Só sei que no futuro, ainda teremos pessoas como eu e tu olhando para trás, nesta época atual que vivemos e conversamos em redes sociais, dizendo “como em 2020 era melhor”.
Anselmo Heidrich
24 jan. 20

Imagem “Planta do núcleo urbano inicial da cidade, 1840, ainda com a linha de muralhas assinalada” (fonte): Por Desconhecido – [1], Domínio público, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=7561089

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