Para
contestar que o islã não é uma religião com uma minoria violenta, Ben Shapiro,
sutilmente, usa outras palavras, exatamente aos 30 segundos. Vejam:
“Claro que ele não está sozinho nesta opinião de que os islâmicos são liberais e tolerantes.”
Ora! A
questão original não era esta, mas se o islã tem uma minoria violenta. Como se
trata de matemática, o que deveria ser feito, a priori, é definir o que se
entende por ‘violento’. Apoiar fatwas
contra o ocidente? Bater nas mulheres? Entender a jihad como “guerra santa”? O que, exatamente? Para cada uma dessas questões
teremos um diferente postulado, apontando para um grau maior ou menor de apoio
à violência.
Se
observarmos atentamente o vídeo dele, aliás, muito didático e dinâmico, por
isto mesmo sedutor, veremos que o que ele entende por muçulmano violento, na
maioria dos casos, é o muçulmano em países majoritariamente islâmicos ou
ocidentais que diz apoiar a lei islâmica, a Shari’a.
vejamos, a Shari’a é a base do islã, se um muçulmano que se diz muçulmano não
acatá-la não faz o menor sentido dizer-se muçulmano. Daí, o jogo é nós, na
Bíblia temos muitas passagens que são violentas e poderíamos fazer apologia a
ela, mas não derrubamos aviões ou destruímos prédios. Engraçadinho... Hoje não,
mas na idade média, quando a palavra da Igreja era quase absoluta, o que se
fazia com hereges? O que se fazia com judeus como Shapiro? Claro, a igreja
neste período histórico não derrubava aviões porque não existiam aviões, mas existiriam
aviões se não fosse o papel de hereges e gente que desafiou a cosmovisão da
igreja? Obvio que não. A questão, para que fique bem claro o que estou dizendo,
não
é de Islã v. Cristandade, mas de qualquer forma de totalitarismo, inclusive o
religioso contra o mundo livre, característico do Ocidente, mas não restrito a
ele.
Shapiro
também fala de apoio a Osama Bin Laden e de maus tratos às mulheres e nisto ele
tem razão, os muçulmanos, em grande parte não traduzem uma cultura que seja
exemplo de tolerância. Mas justamente porque eles não tiveram efetivamente a
separação entre igreja e estado como nós, no ocidente cristão. E quando tiveram
não foi no sentido de reforço às instituições que garantissem os direitos civis
e à liberdade de expressão, mas sim às ditaduras laicas, como a de Saddam
Hussein ou monarquias absolutistas, como os Assad na Síria.
Agora, é
fácil se mostrar radical em uma cultura permeada pela falta de instrução e
divulgação de ideias, exceto quando os efeitos disto também atingem os próprios
muçulmanos. Vejamos a seguir aqui, uma excelente pesquisa feita em 2015 pelo Pew Institute:
http://pewrsr.ch/1MkLqee
De acordo
com a tabela abaixo disponibilizada na referida pesquisa, 10 de 11 países têm
mais de 50% dos pesquisados com visões negativas ou muito negativas acerca do
estado islâmico (ISIS):
A única
exceção é o Paquistão, berço do Taleban de
onde saiu a militância da al Qaeda,
com 28% desfavoráveis (outros 62% não souberam informar e apenas 9% se
mostraram favoráveis).
Agora, se
você acha que estas pesquisas não levaram em conta o fator religioso (seitas)
está enganado. Com o ISIS é sunita seria de se pensar que outros sunitas também
o apoiariam... Ledo engano. O que se na próxima tabela é prova disso, países
majoritariamente sunitas, como o Líbano também se mostraram contrários às ações
do ISIS:
Já, 20% de
apoio ao ISIS vieram da Nigéria. O que podemos deduzir disto? O Líbano sofre de
perto as ações do terrorismo do ISIS, bem como com a crise dos refugiados
sírios. A Nigéria é exatamente o oposto, distante, não tem como opinar sobre um
assunto que conhece praticamente pela TV ou internet, media em geral. É como se
fizéssemos uma enquete no Brasil para ver quem mais apoia o MST. Com certeza
teríamos um índice maior de aprovação das áreas urbanas e bem menor nas áreas
rurais, porque nas primeiras se está distante do barbarismo e nas segundas se
sofre com a barbárie do MST.[1]
Além disto, a Nigéria vive em guerra étnica, onde os muçulmanos ao norte (etnia
hausa) já tiveram uma guerra civil
com o sul (igbos) e atualmente sofre
com as ações do grupo terrorista Boko
Haram que, obviamente, recebe apoio de parte da população.
Cuidado,
portanto, com esta sanha de “novo cruzado”. Eu não tenho nenhuma simpatia pelo islã, aliás, por religião nenhuma...
Mas, uma coisa tem que ser dita, neste momento, tomar o universo muçulmano como
inimigo e apoiador do ISIS, autor intelectual dos atentados na Europa é
temerário e nada estratégico. Como primeiro efeito levantaria e agregaria
mais muçulmanos contra o ocidente. Não precisamos admirá-los, sequer gostar de
sua cultura, mas se for para agir, temos que se atingir os sujeitos
responsáveis por determinada ação e não uma cultura que, bem ou mal, existe e
vai continuar existindo.
...
[1]
Quando digo barbárie, não estou brincando. Clique aqui para entender: http://www.sindicatoruralczo.org.br/system/filemanager/download_3_1241112495.pdf.
Acesso em 19 nov. 2015.
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