quinta-feira, abril 17, 2014

O Dia da Terra


O que os ambientalistas dizem, normalmente, não possui respaldo estatístico e, portanto, se baseia mais em mito do que na ciência. Os militantes da "causa verde" se opõem, com recorrência, aos grandes projetos energéticos em países pobres, e estou pensando particularmente em hidroelétricas no continente africano, mas reiteram seu apoio às chamadas energias renováveis da biomassa que, no caso deste continente é responsável por grandes emissões de gás carbônico, além de milhões de mortos por doenças pulmonares. Em entrevista ao programa de Stossel, o estatístico Lomborg diz que todo o subsídio ao carro elétrico nos EUA, algo em torno de USD 7 BI não chega a constituir uma frota de 1 milhão de veículos e isto, por si só, apenas seria capaz de atrasar o aquecimento global em uma hora. Ou seja, todo este esforço dispensado obtém meramente resultados simbólicos. Ao passo se pegarmos toda tecnologia alternativa aos hidrocarbonetos acabam por emitir mais gás carbônico do que produz a tecnologia do fracking, da qual os ambientalistas são ferozes críticos alegando que envenena a água e pode produzir terremotos. O autor chama atenção para ganhos com a regulamentação sobre a poluição, e inovações tecnológicas que melhoraram a qualidade dos produtos, assim como diminuíram seu impacto ambiental, mas condena, como deve ser, a histeria ambientalista.

Cf.: Earth Daze on Creators.com
http://www.creators.com/opinion/john-stossel/earth-daze.html

terça-feira, abril 15, 2014

Entre o senso de dever e o privilégio de participar: o debate entre impostos e filantropia nos EUA



O interessante neste artigo é a ideia de um pacto, que nos falta evidentemente. Foi com Roosevelt, durante a II Guerra Mundial que o cidadão americano viu o ato de pagar um pesado imposto para a guerra como mais que um dever, viu como um privilégio. E nesta noção, de privilégio, a doação privada cresceu e supriu algumas necessidades durante períodos de crise. Mesmo hoje, durante a recente recessão que houve (e estão saindo), os EUA mantém taxas elevadas de contribuição filantrópicas. Ou seja, ninguém obriga, mas o rico se sente no dever de contribuir. Este senso nos falta como sociedade. Aqui, não é 'chique' contribuir e quando se discute isto se tem um sentido deturpado, de obrigatoriedade imposta pelo governo e também na qual, os chamados (na verdade, auto-intitulados) "excluídos" cobram benefícios via estado, como se os ricos, exclusivamente, e não o conjunto da sociedade devessem trabalhar para resolver o mau desempenho da economia. Eficiência econômica também é confundida com arranjos sociais, pois nestes, a parcela pobre da sociedade poderia fazer muito, como por exemplo, um bom e necessário planejamento familiar, mas não... O anti-malthusianismo herdado do marxismo tosco faz com que não se veja como necessário ter uma estabilidade financeira para garantir uma boa reprodução e criação dos filhos. É o futuro postergado pela inconsequência do presente e ignorância do passado.

Cf.: Happy Tax Day http://www.newyorker.com/online/blogs/newsdesk/2014/04/happy-tax-day.html?utm_source=www&utm_medium=tw&utm_campaign=20140414 via @NewYorker

segunda-feira, abril 14, 2014

Uma sociedade livre é uma sociedade que se defende


A Noruega tem o maior percentual de armas do continente (32%) europeu e a menor taxa de homicídios. Precisa dizer mais? Então, para quem contestar e clamar por "estudos sólidos", que tal este aqui de Harvard?

Harvard Study: No Correlation Between Gun Control and Less Violent Crime http://shar.es/Tqwe5 via Breitbart News
-----*Fiquem tranqüilos, pois não vou enfiar nenhum estudo com pesquisa de opinião mal formulada nesta página. 

A posse de armas não é um problema, nunca foi e desarmar o cidadão que possui arma registrada é um equívoco. A mais alegada das causas da violência, a desigualdade social também se combate também com a defesa da propriedade contra “empresários do submundo” porque achar que desigualdade social só desenvolve a violência de uma classe (baixa) para outra (média ou alta) é que é puro preconceito, o preconceito de achar que “pobre é tudo bandido”. Eles são os que mais sofrem e têm direito à também devem ter o direito à legítima defesa.
E o “velho oeste” existe, só que no velho país de sempre, onde se exclui o cidadão de seus direitos naturais (como a autodefesa) com falsas “premissas sociais”. Daí, não é a toa que temos mais mortes em cinco anos do que americanos que já morreram em todas as guerras travadas por eles. Cadê os hipócritas da Viva o Rio para comentar isto? Estão mamando em alguma teta ongueira?
A matéria acima sobre o referido estudo trata de correlações, mas o que ela diz acertadamente é quem acusa, pautando-se em uma suposta correlação... De que mais armas levam a mais crimes é que tem que provar isto, pois os dados mostram exatamente o contrário. Cansamos de ouvir que se diminuíssem o número de armas em posse dos cidadãos e até cessassem sua produção, a violência inevitavelmente diminuiria. Pois então, não diminui.
Por que é importante observar efeitos e estabelecer correlações? Para evitar equívocos de apontar causas genéricas a situações específicas. Quantas vezes não ouvimos dizer que “a desigualdade social é a principal causadora de violência”? Além do preconceito embutido de pensar no indivíduo pobre como causador da violência, como já comentado, há um equívoco metodológico nisto... Um fenômeno é medido pelo seu efeito e não pelo fator que o causa. O efeito é um sinal de que houve uma causa temporária ou que há fator permanente. Por analogia, vejamos a temperatura, que é o que medimos. Ela acusa que há uma causa temporária, como o deslocamento de uma massa de ar ou um fator permanente, a posição de certa localidade em relação ao Equador. Assim, não se mede a violência pela desigualdade social, mas pelo efeito que, supostamente, ela, a desigualdade gera. Há sociedades mais igualitárias, miseráveis no conjunto, com alto grau de violência (Etiópia, Quênia, Mauritânia etc.), há outras, bem “pacíficas”, mas extremamente autoritárias (Arábia Saudita, Irã), com uma violência institucionalizada, i.e., perpetrada pelo estado e não mensurada, pois não é sequer vista como crime. Então, primeiramente, temos que diferenciar causa de consequência.
Por isto, ninguém aqui diz que o número de armas causou menos mortes, mas que ele evitou mais mortes. A consequência lógica da autodefesa é a eliminação de certo grau de risco de vida. Isto, se chama isolar variável e como tal, uma variável é parte. Isto está claramente implícito, no sentido de que a posse de armas é parte constitutiva da solução, mas não a única solução para toda crise na segurança pública. Pensar em fatores únicos, essenciais é próprio do modo de raciocinar holista, mágico e não analítico, segmentador. Separar não implica em ignorar outras partes, mas de vê-las detidamente em particular para depois agregar com outras sequências de observações e concluir.
Indivíduos agem por estímulos, positivos, como a busca pelo lucro ou negativos, como o medo de sentir dor. No caso, a posse de armas é um mecanismo dissuasório e não uma panaceia, se é que me entendem. A violência não terminará, mas com o fim da campanha do desarmamento e os obstáculos postos para quem deseja obter armas legalmente, ela pode diminuir aos níveis anteriores ao próprio Estatuto do Desarmamento.
Como foi dito na matéria, o ônus da prova recai sobre quem acusa a situação de violência ser causada pelo número de armas, tão somente. Esta ladainha é repetida como mantra no Brasil e no exterior. Ora, se há um enunciado monocausal é este, de que ARMA, logo MORTE. E, claro que não é assim.
No discurso recorrente dos pacifistas e politicamente corretos, se insinua que a pesquisa barrada,  censurada seja a que cidadãos armados causam mais mortes e não o tipo de pesquisa que afirma o contrário. Presumir que uma pesquisa seja perseguida e outra não, é má fé ou sintoma do espírito de nosso tempo, no qual um dos lados sempre posa de vítima e acusa os demais de o estarem perseguindo. Bacaninha isto, dá para dormir em paz com pastilhas de falsa consciência.

quinta-feira, abril 10, 2014

Não opine, apenas censure


Rachel Sheherazade diz que sofre pressão para ser calada e seus opositores a acusam de incitação ao crime. Leia mais aqui:

'Há pressão política muito forte para que eu seja calada', diz Sheherazade http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2014/04/1438135-ha-pressao-politica-muito-forte-para-que-eu-seja-calada-diz-sheherazade.shtml

Ela expressa opiniões de senso comum para muitos de nós, como a necessidade da revisão de leis penais brandas, é favorável à redução da maioridade penal, tem opiniões contra o Carnaval ser financiado com dinheiro público (meu comentário preferido), outras que não me interessam, mas que acho ótimo que existam dando voz a uma parcela da sociedade em que critica o ateísmo (sim, sou ateu) etc. Ela dá opinião após a exposição do fato, como qualquer um de nós faria, mas como não banca a jornalista neutra, o que é um mito. Por isto é acusada de incitação ao linchamento, como quando esboçou uma explicação para a retaliação popular a um bandido que fora preso a um poste pela turba indignada, como se estivesse incentivando isto. E tudo que ela disse após foi que a ineficácia do poder público em combater o crime é que induzia isto. Estas manifestações levam a chamá-la de "parcial" ou outras bobagens, mas e o que é a Carta Capital, a Caros Amigos, dentre outros meios de comunicação? Onde estão os críticos da “parcialidade jornalística” que não criticam isto? Ou vão me dizer que apenas relatar que há construções de estádios, festas populares, campanhas políticas, programas sociais sem emissão de opiniões não configuram uma manifestação indireta favorável que funciona muito bem como propaganda? O fato de não dizer que se apoia não quer dizer que não beneficia quem é “exposto no ar”. O que falta aos defensores da “mídia não opinativa”, que são hipócritas ou, na melhor das hipóteses, ignorantes é conhecer um pouco de Karl Popper: a objetividade científica (e, nesta analogia, o jornalismo) não é construída por um iluminado que se policie constantemente para não expressar suas convicções, mas sim pelo choque e embate de opiniões que se critiquem mutuamente até atingir o consenso a título de conclusão que, também pode ser substituído com o passar do tempo na medida em que ideias mais convincentes ou próximas da realidade se revelem satisfatórias. Ao contrário do que possa parecer, isto não é a defesa do relativismo opinativo frente ao absolutismo factual da verdade, mas sim o reconhecimento de nossa falibilidade e incessante busca pelos fatos. Bem... Alguém poderia arguir “como fica o povo?” Eu digo que a única solução não é sua condução para a busca do saber por um grupo de pretensos conhecedores do que o povo precisa assistir, mas sim a leitura e diversidade de fontes de consultadas, i.e., não só ler, mas ler mais fontes diversas para formação de opiniões próprias. E, no caso, em se tratando de TV assistir diferentes fontes, sobretudo na internet, mais plural. Porque não há outro caminho, quer se faça um jornalismo mais anódino, insípido e robotizado, a ignorância e incultura sempre serão aproveitadas como objeto de manipulação. Neste contexto, Rachel Sheherazade serve como um sopro de ar fresco neste ar pesado e fétido da falta de comunicação e expressão própria que infesta as redações das mídias brasileiras.

quarta-feira, abril 09, 2014

Apenas jogue






Jack, relax. Get busy with the facts. No zodiacs or almanacs, No maniacs in polyester slacks. Just the facts. 

Um dos pequenos e melhores solos de Lifeson para mim, a sonoridade de fundo da guitarra me apraz muito. Esta é uma das canções da maturidade do Rush que mais me agradam, que mais me tocaram. Em 2011 tive que retirar minha 2ª parótida e desta vez não estava "boazinha". Para quem ouviu do mestre da área que após cinco anos se tem 60% de sobrevida, o respeito às estatísticas aumentou, bem como ao método com o qual se as obtém. Mas, o que é um indivíduo na Via Láctea? Nada além de um grão de areia sob quilômetros de praia mutante ao sabor de ondas que estarão lá para destruir tudo. A permanência é uma ilusão e por isto que nos agarramos como carrapichos em galhos de qualquer crença satisfatória. Podemos não encontrar a melhor, mas alguma qualquer que nos ajude por um momento ou, ao menos, que nos dê a sensação de ajuda. Após 10 horas de 3 cirurgias contínuas, 1 mês de radioterapia e 4 sessões de quimio tive que ouvir quantos "chás que eram bons para câncer". Não me entendam mal, eu gosto de chás, para problemas diuréticos e meu paladar, não para lidar com o DNA. Se isto é suficiente para balançar teus sentidos, imagine o que faz com a turba? Não por acaso multidões apavoradas e temerosas de que o mundo tenha uma borda por onde caiam os oceanos para o fundo sem fim e sem sentido, as religiões nos dão segurança. Mas cobram um preço e que preço... Hoje, muitas estão mais flexíveis, mas a fé violenta e brutal ressurge como ideologia política. Está aí causando destruição para um mundo em busca de faróis. E por mais imagens de perfeição, luzes ao fim dos túneis ou mapas com caminhos para o Éden que afirmem ter, o fato... Sim, os fatos como diz Neil Peart, inegociáveis, surgem e só temos que esperar por chances, cujos coringas -- também chamados de "acaso" --, nos brindam com a desgraça ou a vitória. Embora, tudo que precisemos seja a sobrevivência, até que outra onda do infortúnio venha e nos carregue com uma corrente para destino incerto. Se é que há destino... Então, joguem os dados, os ossos, as conchas, mas apenas jogue.

terça-feira, abril 08, 2014

Professor julga opinião própria como conhecimento objetivo


Um professor de filosofia elaborou uma questão jocosa sobre o que seria uma "grande pensadora contemporânea" e causou polêmica ao atrair críticas e defesas de sua intenção (e opinião) ao "provocar o debate", como disse:

A questão foi uma provocação, diz professor de Filosofia autor da prova http://blogs.estadao.com.br/radar-pop/a-questao-foi-uma-provocacao-diz-professor-de-filosofia-autor-da-prova/ via @estadao


O problema não é este somente. Fosse em outro contexto, como comentário sobre o que seria um pensador ou filósofo em sala de aula, vá lá, mas o que fez foi cobrar um conhecimento objetivo, sobretudo porque a questão era um teste com múltipla escolha em que não havia espaço para argumentação. Eu tiro duas conclusões sobre o ocorrido e que não se referem à "cantora": a inutilidade de se manter com nossos impostos uma cátedra de filosofia para alguém que elabore uma questão destas e o descaso, desrespeito e ignorância do professor que elaborou a mesma para com o instituto e método de aferimento do saber que constitui uma prova. Não se trata de perspicácia, inteligência, ou seja lá qual for o adjetivo que o fã de não estudar dê a isto, ele abusou da boa fé dos alunos que não tinham a obrigação de concordar com sua opinião. Ele é o perfeito exemplo de entertainer que atua no local errado. Ninguém acha que um juiz vá digressar sobre preferências ideológicas, ele tem que cumprir a lei, assim como em uma prova, que é um documento de desempenho, o professor tem que cumprir com sua função específica. Mas, o professor em questão foi totalmente inapropriado ao cobrar com pretensa objetividade algo que poderia ser objeto de dissertação em um modelo diferente de questão, e não em um teste com alternativas para serem assinaladas. Se ele quis escarnecer do trabalho sério e consciencioso atingiu seus objetivos. Defender esta atitude em nome da liberdade também é sofismar sobre a situação, pois a liberdade pode ser exercida em situação específica, como no momento de aceitar determinado trabalho... Se o professor assumiu dar aulas de filosofia, isto não significa que em nome da liberdade possa partir para a mais rasteira das militâncias ideológicas. O professor manifestou liberdade criativa, mas sem garantir a defesa dos alunos ao expressar seu voluntarismo de modo autoritário. Se pensasse nos direitos alheios, não abusaria de sua posição impondo opiniões de modo totalitário. Os alunos foram os grandes perdedores e me pergunto quantos desses alunos anônimos estão sendo prejudicados por tipos assim, que se acham engraçados, mas proporcionam um desserviço para suas turmas. E ele não é um, mas sim uma legião sem referências morais que infesta este país.

sexta-feira, abril 04, 2014

Teoria do valor em Marx - 01


A teoria do valor de Marx não serve para nada em termos práticos. Ou discutimos casos reais, a partir de mercados concretos ou elaboramos megateorias pretensamente científicas que pretendam explicar qualquer situação de mercado no mundo sem levar em conta fatores subjetivos na formação do preço. Como se poderia formular este segundo modelo? Simples, isolando uma única variável que, no caso de Marx, foi o tempo, medido em horas. Lembremos que a pretensão de Marx era uma teoria geral do capitalismo, como parte de algo mais grandioso ainda, uma teoria dos modos de produção (sistemas econômicos) que fazia parte de algo ainda mais megalomaníaco, uma teoria da história. Marx não estava preocupado com uma teoria de funcionamento de um mercado conhecido, bem delimitado no tempo e no espaço. Ele acreditava que elaborando um corpo teórico unificado, que explicasse a exploração, a alienação, a mudança (e a revolução), também seria capaz de explicar o valor atribuído aos bens (mercadorias) no mercado. Lembremos também que a própria ideia de “mercado”, como algo que pressupõe liberdade dos agentes econômicos é totalmente alienígena ao pensamento marxista. Pensem em determinação que estarão se aproximando mais do pensamento de Marx.

Vejamos como o erro se processa... Suponhamos que eu leve 2 horas para encher um colchão de palha e um pescador qualquer 1 hora para pescar um peixe. Na visão marxista, na qual o valor é determinado pela quantidade de tempo, eu não devo aceitar menos que 2 peixes pelo meu colchão. Simples e atraente este modo de pensar, se o único fator determinante para a criação de valor fosse o tempo... Agora, quem disse que eu acho justo encher colchões enquanto que o mané passa os dias ao Sol, sentindo o vento e apreciando a paisagem para pescar enquanto beberica um traguinho? Para mim, isto é flagrantemente injusto e vou exigir muito mais do que dois míseros peixes pela minha estafante tarefa em um quarto lúgubre cheirando a mofo mexendo na palha. O fator de aptidão e apreço pelo trabalho não entra de nenhuma maneira no cômputo marxista. Simplesmente não há espaço para a subjetividade e, consequentemente, a intersubjetividade que geraria um preço de mercado. Para Marx, o preço é formulado às expensas dos indivíduos. Vamos complicar mais ainda... E se o custo da palha, da matéria prima em geral estiver em alta, o que não afetará o tempo que levo para encher o colchão, mas sim o preço final do meu produto? Ou, do outro lado, se os cardumes escassearem devido a uma sobrepesca (tragédia dos bens comunais) ou por fatores totalmente alheios à causas humanas, como alterações cíclicas na temperatura da água? Para Marx, nada disto deveria influenciar na formulação do preço, pois o que importa é o tempo necessário para produzir e ser explorado. E os tributos correspondentes à diferentes tipos de produtos, ou serviços, ou de acordo como localidades específicas? Pensem em n variáveis que mudem a composição de preços e vejam quão inoperante, inútil e anticientífica pode ser uma formulação geral abstrata como a de Marx. Explicar a formação dos preços implica em entender o funcionamento de mercados reais, mas se Marx tivesse feito isto não teria feito marxismo!

Os preços não obedecem a uma lógica dada pelo valor trabalho de acordo com as horas dispensadas para produção. Esta teoria ignora, em primeiro lugar, as diferenças inatas de talento. Eleger um critério, como o tempo dispensado é algo tão absurdo quanto escolher qualquer outro critério para efetuar uma transação como, p.ex., o peso de um saco de batatas e outro de arroz, trocando um kg de batata por um kg de arroz, como se o mesmo peso significasse mesmo valor. Para Marx, a força de trabalho é mais uma mercadoria como qualquer outra e a forma de lhe atribuir um preço se dá pela quantidade de trabalho invertida na produção e essa quantidade se dá pelo tempo que foi gasto medido em horas. Mas, como diferenciar o valor do trabalho qualificado, mais caro, com maior valor agregado do trabalho não qualificado? E como comparar, através do método marxista, o trabalho artesanal que voltou a receber maior valorização recente frente aos produtos uniformizados em escala industrial? O que diferencia seus preços não é a quantidade de tempo dispensada em cada atividade e sim uma conjunção de fatores que é variável dentro de uma mesma sociedade, quanto mais de sociedade para sociedade em diferentes momentos históricos.

O principal erro de Marx nesta teoria do valor é o de procurar uma explicação independente das intenções e predileções individuais que afetam a formação do preço, através da apreciação individual do trabalho. Como analisar todos os indivíduos? Não dá, por isto mesmo é que se analisa o resultado de suas interações, que são os preços de mercado.

Que muitos não queiram perder tempo lendo Marx, eu entendo perfeitamente. Mas, procurar uma tábua de salvação em um nome como o dele sem conhecê-lo, não passa de “argumento de autoridade”. Qualquer caixa de banco saberá nos ajudar muito mais para entender preços (e valores) do que toda filosofia hermética, ultrapassada e anacrônica de Karl Marx.

(...)

quinta-feira, abril 03, 2014

Classes sociais em Marx - 01


Classes sociais existem, mas não são o mais importante para entender a sociedade e, em segundo lugar, Marx não é e nem nunca foi à última palavra no assunto.

O cerne da teoria social de Marx reside no conceito de luta de classes, tanto que se tornou comum lermos uma de suas mais famosas frases, presentes n’O Manifesto... “a história da humanidade é a história da luta de classes”. Estúpido, pois em um mundo cindido por questões étnicas, barreiras linguísticas, conflitos religiosos e disputas geopolíticas, limitar a história da humanidade a um único tipo de conflito não é preciso. A estratificação social é cada vez mais fluída, pois as classes sociais alteram muito sua renda ao longo da história pelas redefinições do mercado, ao passo que Marx as via como situadas em uma estrutura produtiva.

Mercado... Já viram como os marxistas adoram reificar categorias dependentes de ações individuais como se tivessem vida própria? O capital é seu melhor exemplo, pois parece uma entidade na lógica da explanação marxista, como se fosse um nevoeiro que permeia os indivíduos que, por sua vez, não portariam nenhuma consciência e autonomia sendo meros títeres de seu poder. O que nos parece um completo absurdo faz todo o sentido se pensarmos a partir do método marxista: para quem buscava um corpo de teorias integradas, cujos fenômenos ou fatos sociais fossem explicados basicamente por um a única causa ou fator, o pensamento marxista é um prato cheio. Pensem na história como um motor e as relações de classe como seu combustível, até que sua luta constitua veneno ou um ingrediente que corroa as peças da máquina. Para Marx, este momento de destruição interna é uma passagem de consciência coletiva, de “classe em si” para “classe para si”. Quando a “classe subjugada” adquirir consciência da dominação sofrida estará configurado uma situação pré-revolucionária.

A classe social em Marx porta um conceito bem específico. As classes sociais ocupariam lugares próprios na estrutura da produção e não podem ser divididas arbitrariamente, como fazemos, segundo estratos de renda.[1] Em segundo lugar não se trata de duas classes sociais apenas, pois assim não haveria lugar para as chamadas “alianças de classe”, conceito fundamentais para a análise política de Marx. Em um mundo onde posições de status, renda são fundamentais para entender uma sociedade e seu modo de funcionamento, circunscrever a análise a uma mera situação no mundo do trabalho é por demais empobrecedor, sobretudo em classes sociais específicas da Inglaterra do século XIX. Critérios culturais-informais como honra e status ou jurídico-formais como cargos não teriam nenhuma importância para Marx em sua limitação economicista e empobrecedora da realidade social. A estratificação social existe e conceitos como renda, ocupação e status são centrais para sua análise, mas isto não implica em adotar certos grupos como centrais em seu papel na história e com relações definidas essencialmente pelo conflito. Se os indivíduos podem ser agrupados por hábitos, consumo, desvios, saúde etc. não quer dizer que correspondam, necessariamente, a classes sociais. Dar ênfase a este tipo de estratificação, tão somente implica em submeter à riqueza da análise científica à pobreza da militância ideológica. Isto já deveria ser consensual no atual debate sobre o capitalismo, porque a sua época Marx estava mais preocupado com questões econômicas gerais, ignorando por completo eventos cotidianos fora do lugar de trabalho e que, hoje em dia, ocupam um tempo cada vez maior em nossas vidas.

Um problema sintomaticamente ignorado pelos marxistas, é que se fosse verdade que a história da humanidade é a história da luta de classes, então a teoria das classes sociais deveria servir para explicar coerentemente qualquer sociedade, seja aquela em que a propriedade dos meios de produção fosse individual ou corporativa, pelo estado, igreja ou grandes empresas etc. Mas, não é assim que funciona, uma vez que o comportamento de mercado e formas de dominação mudou ao longo da história.

(...)



[1]  E é exatamente isto que faz o autor deste artigo: http://www.nytimes.com/roomfordebate/2014/03/30/was-marx-right/a-return-to-a-world-marx-would-have-known, sem perceber que usa Marx sem conhecer seu método porque hoje falar em desigualdade social parece ser domínio exclusivo de marxistas. Tolice.