quinta-feira, abril 10, 2014

Não opine, apenas censure


Rachel Sheherazade diz que sofre pressão para ser calada e seus opositores a acusam de incitação ao crime. Leia mais aqui:

'Há pressão política muito forte para que eu seja calada', diz Sheherazade http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2014/04/1438135-ha-pressao-politica-muito-forte-para-que-eu-seja-calada-diz-sheherazade.shtml

Ela expressa opiniões de senso comum para muitos de nós, como a necessidade da revisão de leis penais brandas, é favorável à redução da maioridade penal, tem opiniões contra o Carnaval ser financiado com dinheiro público (meu comentário preferido), outras que não me interessam, mas que acho ótimo que existam dando voz a uma parcela da sociedade em que critica o ateísmo (sim, sou ateu) etc. Ela dá opinião após a exposição do fato, como qualquer um de nós faria, mas como não banca a jornalista neutra, o que é um mito. Por isto é acusada de incitação ao linchamento, como quando esboçou uma explicação para a retaliação popular a um bandido que fora preso a um poste pela turba indignada, como se estivesse incentivando isto. E tudo que ela disse após foi que a ineficácia do poder público em combater o crime é que induzia isto. Estas manifestações levam a chamá-la de "parcial" ou outras bobagens, mas e o que é a Carta Capital, a Caros Amigos, dentre outros meios de comunicação? Onde estão os críticos da “parcialidade jornalística” que não criticam isto? Ou vão me dizer que apenas relatar que há construções de estádios, festas populares, campanhas políticas, programas sociais sem emissão de opiniões não configuram uma manifestação indireta favorável que funciona muito bem como propaganda? O fato de não dizer que se apoia não quer dizer que não beneficia quem é “exposto no ar”. O que falta aos defensores da “mídia não opinativa”, que são hipócritas ou, na melhor das hipóteses, ignorantes é conhecer um pouco de Karl Popper: a objetividade científica (e, nesta analogia, o jornalismo) não é construída por um iluminado que se policie constantemente para não expressar suas convicções, mas sim pelo choque e embate de opiniões que se critiquem mutuamente até atingir o consenso a título de conclusão que, também pode ser substituído com o passar do tempo na medida em que ideias mais convincentes ou próximas da realidade se revelem satisfatórias. Ao contrário do que possa parecer, isto não é a defesa do relativismo opinativo frente ao absolutismo factual da verdade, mas sim o reconhecimento de nossa falibilidade e incessante busca pelos fatos. Bem... Alguém poderia arguir “como fica o povo?” Eu digo que a única solução não é sua condução para a busca do saber por um grupo de pretensos conhecedores do que o povo precisa assistir, mas sim a leitura e diversidade de fontes de consultadas, i.e., não só ler, mas ler mais fontes diversas para formação de opiniões próprias. E, no caso, em se tratando de TV assistir diferentes fontes, sobretudo na internet, mais plural. Porque não há outro caminho, quer se faça um jornalismo mais anódino, insípido e robotizado, a ignorância e incultura sempre serão aproveitadas como objeto de manipulação. Neste contexto, Rachel Sheherazade serve como um sopro de ar fresco neste ar pesado e fétido da falta de comunicação e expressão própria que infesta as redações das mídias brasileiras.

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