A teoria do valor de Marx não serve
para nada em termos práticos. Ou discutimos casos reais, a partir de mercados
concretos ou elaboramos megateorias pretensamente científicas que pretendam
explicar qualquer situação de mercado no mundo sem levar em conta fatores
subjetivos na formação do preço. Como se poderia formular este segundo modelo?
Simples, isolando uma única variável que, no caso de Marx, foi o tempo, medido
em horas. Lembremos que a pretensão de Marx era uma teoria geral do
capitalismo, como parte de algo mais grandioso ainda, uma teoria dos modos de
produção (sistemas econômicos) que fazia parte de algo ainda mais
megalomaníaco, uma teoria da história. Marx não estava preocupado com uma
teoria de funcionamento de um mercado conhecido, bem delimitado no tempo e no
espaço. Ele acreditava que elaborando um corpo teórico unificado, que
explicasse a exploração, a alienação, a mudança (e a revolução), também seria
capaz de explicar o valor atribuído aos bens (mercadorias) no mercado.
Lembremos também que a própria ideia de “mercado”, como algo que pressupõe
liberdade dos agentes econômicos é totalmente alienígena ao pensamento
marxista. Pensem em determinação que estarão se aproximando mais do pensamento
de Marx.
Vejamos como o erro se processa...
Suponhamos que eu leve 2 horas para encher um colchão de palha e um pescador
qualquer 1 hora para pescar um peixe. Na visão marxista, na qual o valor é
determinado pela quantidade de tempo, eu não devo aceitar menos que 2 peixes
pelo meu colchão. Simples e atraente este modo de pensar, se o único fator
determinante para a criação de valor fosse o tempo... Agora, quem disse que eu
acho justo encher colchões enquanto que o mané passa os dias ao Sol, sentindo o
vento e apreciando a paisagem para pescar enquanto beberica um traguinho? Para
mim, isto é flagrantemente injusto e vou exigir muito mais do que dois míseros
peixes pela minha estafante tarefa em um quarto lúgubre cheirando a mofo
mexendo na palha. O fator de aptidão e apreço pelo trabalho não entra de
nenhuma maneira no cômputo marxista. Simplesmente não há espaço para a
subjetividade e, consequentemente, a intersubjetividade que geraria um preço de
mercado. Para Marx, o preço é formulado às expensas dos indivíduos. Vamos
complicar mais ainda... E se o custo da palha, da matéria prima em geral
estiver em alta, o que não afetará o tempo que levo para encher o colchão, mas
sim o preço final do meu produto? Ou, do outro lado, se os cardumes escassearem
devido a uma sobrepesca (tragédia dos bens comunais) ou por fatores totalmente
alheios à causas humanas, como alterações cíclicas na temperatura da água? Para
Marx, nada disto deveria influenciar na formulação do preço, pois o que importa
é o tempo necessário para produzir e ser explorado. E os tributos
correspondentes à diferentes tipos de produtos, ou serviços, ou de acordo como
localidades específicas? Pensem em n variáveis que mudem a composição de preços
e vejam quão inoperante, inútil e anticientífica pode ser uma formulação geral
abstrata como a de Marx. Explicar a formação dos preços implica em entender o
funcionamento de mercados reais, mas se Marx tivesse feito isto não teria feito
marxismo!
Os preços não obedecem a uma lógica
dada pelo valor trabalho de acordo com as horas dispensadas para produção. Esta
teoria ignora, em primeiro lugar, as diferenças inatas de talento. Eleger um
critério, como o tempo dispensado é algo tão absurdo quanto escolher qualquer
outro critério para efetuar uma transação como, p.ex., o peso de um saco de
batatas e outro de arroz, trocando um kg de batata por um kg de arroz, como se
o mesmo peso significasse mesmo valor. Para Marx, a força de trabalho é mais
uma mercadoria como qualquer outra e a forma de lhe atribuir um preço se dá
pela quantidade de trabalho invertida na produção e essa quantidade se dá pelo
tempo que foi gasto medido em horas. Mas, como diferenciar o valor do trabalho
qualificado, mais caro, com maior valor agregado do trabalho não qualificado? E
como comparar, através do método marxista, o trabalho artesanal que voltou a
receber maior valorização recente frente aos produtos uniformizados em escala
industrial? O que diferencia seus preços não é a quantidade de tempo dispensada
em cada atividade e sim uma conjunção de fatores que é variável dentro de uma
mesma sociedade, quanto mais de sociedade para sociedade em diferentes momentos
históricos.
O principal erro de Marx nesta teoria
do valor é o de procurar uma explicação independente das intenções e
predileções individuais que afetam a formação do preço, através da apreciação
individual do trabalho. Como analisar todos os indivíduos? Não dá, por isto
mesmo é que se analisa o resultado de suas interações, que são os preços de
mercado.
Que muitos não queiram perder tempo
lendo Marx, eu entendo perfeitamente. Mas, procurar uma tábua de salvação em um
nome como o dele sem conhecê-lo, não passa de “argumento de autoridade”.
Qualquer caixa de banco saberá nos ajudar muito mais para entender preços (e
valores) do que toda filosofia hermética, ultrapassada e anacrônica de Karl
Marx.
(...)
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