A sensação de novidade que produz qualquer estímulo tende a desaparecer depois de 10 minutos. Com essa ideia na cabeça, Jon Bergmann (Chicago, 1964), reconhecido em 2002 pela Casa Branca como o melhor professor de matemática e ciências dos Estados Unidos, rompeu com a metodologia de ensino tradicional. Deixou de basear suas aulas no discurso para não entediar os estudantes e começou a usar o chamado Flipped Classroom (em português, classe invertida). Desde 2007, os alunos de química do instituto Woodland Park do Colorado começaram a aprender a teoria em casa, com vídeos curtos feitos pelo próprio Bergmann e dedicar o tempo na aula para resolver dúvidas, pesquisar ou trabalhar em projetos.
Segue em Aprender ao contrário é mais eficiente http://brasil.elpais.com/brasil/2016/10/28/economia/1477665688_677056.html?id_externo_rsoc=TW_CC via @elpais_brasil
Olha... Não existe uma única forma de dar aula, já vi
professores diferentes, com métodos diferentes agradando, mas esta obsessão
pela novidade é algo que me incomoda. Algumas coisas na vida e creio que a
maioria, na maior parte do tempo são entediantes mesmo. Quando fiz meu
vestibular, eu acreditava que uma vez na faculdade seria só prazer. Não foi.
Algumas matérias como cartografia, álgebra e estatística eram entediantes e
outras que supunha não serem como geografia agrária também o foram, talvez
porque o professor não tenha me agradado. Agora eu pergunto: há como saber
disto sem uma pesquisa de opinião (subjetiva) e outra de resultados aferidos em
testes (objetiva) e cruzá-los? E o que é válido para uma época e lugar pode ser
comparado com outro? A cultura e visão de mundo (ideologia, chamemos assim) não
muda também? Já vi de professores que na antiga URSS não havia sinal de troca
de aula ou de fim de turno, mas qual o preço de um enregramento desses para a
própria sociedade? E no extremo oposto, já ouviste o volume dos sinais tocados
em escolas brasileiras?
Releia o 2º parágrafo para ver como se expressa esta nossa ilusão
contemporânea, em determinado momento diz que "nenhum estudante é deixado
para trás" para ao final completar com "a revolução deste método
pedagógico é não assumir que todos os estudantes vão avançar na mesma
velocidade". Muito bonito isto, mas eu enxerguei uma contradição aí,
flagrante aliás... Se não há a mesma velocidade (e sabemos que não há, de jeito
nenhum) e há ciclos de estudo, como acreditar que nenhum ficará para trás? Qual
o problema em repetir de ano quando isto se faz necessário para aprender e
reforçar conteúdos? A verdade é que quando se põe esta condição de passar,
passar e passar como prioritária se faz em detrimento da absorção do conteúdo,
como se o conteúdo fosse algo menor. Ora, vejam como um pedagogo moderno chama
um professor tradicional, entre outras coisas: conteudista. E
eles enchem a boca para falar como se estivessem apontando uma chaga que se
explica e aponta caminhos para sua solução. Besteira total, se não se absorve
conteúdo mínimo não há ensino. Agora, se este conteúdo precisa ser discutido e
redefinido, eu sou totalmente de acordo... Sou contra obrigar alunos de ensino
médio com vocação para exatas estudarem humanas de modo exaustivo, para mim,
como já disse várias vezes, eles tem que aprender linguagens que permitam
avançar em qualquer área, como gramática, matemática e idiomas.
Pelo que entendi do método inovador "Vire Sua Sala", em que
pese toda tecnologia aplicada (vídeos), ele consiste basicamente em um antigo
preceito: a tarefa de casa. E me pergunto, o que há de
inovador nisto? Só é inovador porque ele traz de volta algo que foi
praticamente abandonado pela maioria de meus colegas. Quanto aos vídeos, eu sou
totalmente favorável, meu filho aprende um monte com o YouTube, eu mesmo quando
estudo para provas de concurso etc. E fora disto, o conteúdo em geral
disponibilizado pelos youtubers é fantástico, seja em um Pirula que aborda
diversos temas (focalizando a biologia), seja em um Pondé na filosofia (assim como
Karnal e Cortella), seja em música com Márcio Guerra Canto (este
divertidíssimo) há um mundo, uma selva de conhecimentos nesta rede social. Isto
é inegável e só um toupeira para não admitir que um vídeo da NatGeo ou da
Discovery torna uma aula de geografia mais interessante que só o mapa, a lousa
e a voz, assim como negar que o mapa, a lousa e a voz foram avanços inegáveis
para uma época desde os gregos em que havia o quê? A voz e talvez alguns
rabiscos no solo. Não podemos ignorar o que agrega conhecimento, mas não
podemos ignorar que a rotina, o treino e o professor que é um comunicador são
importantes. E qual matéria que se fala nisto? Nenhuma. Qual livro
revolucionário com um método 'inovador' que comenta isso? Nenhum. O que me
incomoda nessas matérias jornalísticas não é a informação (aliás, bem vinda) de
novidades, mas sim este glacé narrativo em que se descobriu a roda, que tudo
agora daqui pra frente pode ser diferente quando não executamos corretamente o
passado. Esta verborragia é que me dá náuseas.
Eles falam contra o "monólogo do professor e o aluno
passivo"... Ah! Que tal fazer matérias em exaustivas aulas para ver,
realmente, que o professor raramente é ouvido e se condiciona a passar metade
da aula (ou mais) enrolando. A começar pela ridícula chamada... Se perde tempo
precioso nessa atividade monástica, sem sentido algum. Que se faça um controle
por catracas eletrônicas e se não há recursos para tanto que se faça um por
cadeiras vazias etc. Isto, claro, quando a escola não for tão ridiculamente a
toa que não faz um espelho de classe com assentos específicos para cada aluno.
Mas elas são assim, majoritariamente, a toa.
Para finalizar (mas não acabar o assunto) me pergunto como seria o
Flipped Classroom em um treino de basquete? Ou para um estudante de ballet?
Policial, bombeiro, médico etc. Será então que só os professores e seus alunos
passivos sofrem com uma educação errada e todos os outros podem insistir em
antigos modelos? Veja... Reitero o que disse, o método descrito de tarefas com
mais criatividade deve ser muito útil, o que me oponho é à visão de achar que
isto resolve os problemas e torna tudo muito fácil de fazer, como se todos nós
fôssemos burros por não ter tentado algo tão óbvio.
Quanto às crianças que "ficam para trás" não estou advogando
que fiquem para trás e ponto, mas que a diferença nos resultados sempre vai
existir e se isto se torna um problema para a vida do indivíduo é porque sua
visão pessoal de mundo está determinada pela sequência formal de estudos. Aí
sim há um problema e não se pode resolvê-lo somente em sala de aula (embora
possa se fazer muito aí também). Valorizar habilidades e desempenhos diferentes
é papel da escola, mas se não houver um cultura familiar que valorize a
evolução individual sem se comparar aos demais como se isto for uma competição
teremos só ensino sem educação. Querem mudar isto com vídeos em casa? Acho que
agrega conhecimento, mas desconfio de qualquer proposta revolucionária porque a
visão de revolução é uma visão que ignora o passado. É uma visão arrogante, no
fundo, de que não há nada de bom ou de útil no que já foi feito até aqui.
Segundo o autor, este método revolucionaria a educação (imagem: washington.edu). |
Tens Netflix? Assine, é barato e muito bom. Daí assista à série Rita,
uma professora na escola pública dinamarquesa. Imperdível. TÁ AÍ! Uma
tarefa pro jornalista que escreveu esta matéria: assistir à série.
Há vários anos atrás eu visitei uma escola Waldorf em São Paulo. Os professores (ao menos nos primeiros anos) acompanhavam o aluno por 7 anos, e isso estimulava a postura de "não deixar para trás": empurrar o aluno sem saber apenas aumentaria o problema daquele mesmo professor no ano seguinte. Eu não tenho detalhes sobre a eficiência do método, a não ser os elogios unânimes das poucas pessoas com quem conversei que estudaram em escolas assim. Tinha também muita ênfase em atividades práticas.
ResponderExcluirQuanto à sua crítica aos jornalistas, isso é geral: desde textos sobre descobertas científicas até sobre assuntos jurídicos, é frequente perceber que o jornalista não domina o assunto e que dá uma inflada na matéria pra ser mais atraente, dando um tom de ineditismo, novidade ou espetáculo que não correspondem à opinião de quem de fato conhece o assunto. Isso quando não passa a impressão de texto deliberadamente comprado.
Seja bem vindo Alexandre! Há várias técnicas pedagógicas que enriquecem o ensino, com certeza, mas esse ar de panaceia que nunca foi adotado é que cansa. O aluno estudar em casa era a coisa mais comum antigamente e é absolutamente natural que em pleno Século XXI se faça com vídeos, nada de revolucionário aí, apenas uma evolução tecnológica aplicada a uma técnica bastante antiga. Quanto ao método Waldorf de ensino, eu não gosto devido ao radicalismo deles, mas se houvesse uma escola dessas mais moderada e flexível, eu com certeza matricularia meus filhos. Bem... De certa forma, meio que achamos uma assim aqui.
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