Acabo
de assistir à Homeland, esta
fantástica série sobre espionagem, terrorismo e Oriente Médio, imperdível
mesmo. Quem já pode assistir vai ficar na memória a excelente atuação de que
interpretou Carrie Mathison (Claire Danes), a agente
bi-polar da CIA, bipolar mesmo, pois sofria desse transtorno mental. A série
tem quatro temporadas e ao cabo da terceira, a personagem principal – Carrie – perde quem se apaixonara, um fuzileiro
(e ex-congressista... confuso?), Nicholas
Brody (Damian
Lewis)
que havia se convertido ao islã e se preparava para cometer um atentado. Claro
que neste ponto ele já estava em pleno dilema e atuava coagido, “cooptado” pela
agência de inteligência. Na quarta e última temporada (até o momento, Netflix
no Brasil) que, não sei porque me disseram que seria a menos interessante, pois
achei justamente o contrário, o cenário é menos americano, iraniano e se passa
em pleno Paquistão contra o Talebã. Nesta temporada, os dilemas de quem tem que
atuar pela Razão de Estado, muitas vezes se aliando com antigos inimigos
intensifica. Enfim, é muito para comentar aqui, mas uma coisa ficou clara para
mim, quando tudo termina e um novo acordo parece se configurar entre um
terrorista antes procurado e agora, um aliado da CIA, que vê nele alguém com
potencial de estabilizar a região. “Que
mundo nós criamos que nenhuma opção é correta?” pergunta Carrie, ao seu
comparsa e nova paixão, Peter Quinn (Rupert Friend).
Corta agora... 2016 foi um ano de avanço e choque
para o Brasil. Choque no freio ao projeto de poder do PT, cujas manifestações
de rua foram um forte combustível para queimar a legenda e pressionar nosso
judiciário. E um avanço paulatino, pois muita coisa não mudou e só vai mudar se
os movimentos políticos que encabeçaram a pressão pelo impeachment e outros que
, porventura venham surgir, evoluírem em propostas e métodos mais claros do que
precisa ser mudado no país: nossa
opacidade institucional, hipertrofia estatal e desigualdade sim, mas não a
desigualdade socioeconômica que tanta alardeia nossa imaginativa esquerda e
sim, a desigualdade jurídica. Em que pese nossas pollyannas, mais conhecidas como “operadores do direito” gostam de
acreditar no contrário.
Alguns dos críticos, simpatizantes petistas,
simpatizantes inconfessos e niilistas em geral dizem “o que mudou?” Realmente,
se buscarmos uma revolução, nada mudou, apenas amenizou. Mas quando uma revolução
foi bem sucedida no Brasil e na maior parte do mundo, mesmo? Este é o cuidado
que devemos ter, a sedução revolucionária, como a de um enfermo com câncer que
prefere acreditar em panaceias em um chá milagroso de medicina oriental a
enfrentar uma arriscada cirurgia com pós-operatório complicado. O que irá mudar
para as complicadas alianças da CIA com um Trump, só o tempo dirá, mas é este
tipo de experimento que queremos com a sociedade brasileira? Ainda mais com o
tipo de posologia intervencionista que fanáticos de direita (que não saem da
frente do micro, nem tiram seus pijamas fedidos) propõem? Uma luta armada sem
meta, sem projeto, apenas com o vago mote de acabar com a corrupção e defender
o Brasil? Por acaso isto é diferente, em carga sentimental, do que a esquerda –
os “comunistas” – fazem? Todos que não rezam a cartilha de direita são comunistas
para eles. Esta gente sofre de verdadeiro tenesmo intelectual...
Imagem: blogfa.com |
Se há algum sentido em marcarmos o tempo serve para
perceber mudanças, tímidas que sejam, mas não para abandonar o passado, jogando
fora o bebê com sua aguinha suja. Por que nos embasamos tanto em marcações de
tempo chamadas datas? Justamente
porque temos necessidade de entender uma transformação com uma expectativa de
mudança, uma esperança. Mas quando se
fala em ciclo da vida, não se espera
por esta ascensão progressista, mas sim em um nascimento, crescimento, ápice e
a inefável morte. No fim das contas, parece que nada mudou em nossa perspectiva
de tempo, mas talvez sim em um prazo que não vislumbramos. É como se
estivéssemos em um trem vendo a monótona paisagem da planície se descortinar ao
nosso lado na janela, mas se pudéssemos subir no teto de um dos vagões e sentir
toda sua amplitude e panorama teríamos outra visão, outras conclusões.
Esta necessidade de entender ciclos, além da
esperança que constitui o que realmente não sabemos, mas desejamos, também
corresponde ao nosso medo do desconhecido quando achamos que entendemos a
mudança, que temos uma previsão de algo que está por vir. Daí que era esperado
que nas manifestações e movimentos que formamos ao longo desses anos (de 2014
para cá), os mesmos fantasmas ressurgissem, ciclicamente, para nos atormentar,
a esquerda burra, com seus sindicalistas de Q.I. de psitacídeo e uma direita
igualmente limitada, paranóide e intervencionista. Se analisarmos por este
ângulo, a pergunta vem novamente, o que mudou? Talvez nada de significativo, se
não imprimirmos nenhum novo significado ao que percebemos. Ter fé para ver pode
ser mais do que negar a fé que traz nossa visão, pode ser o que falta para experimentarmos
algo novo. Despacito, despacito... Como deve ser todo ensaio e erro.
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