a.h
...
Este é o ponto: os republicanos que tinham dúvidas sobre o abraço do fanatismo dos cortes fiscais poderiam ter assumido uma posição forte se houvesse algum indício de que esse fanatismo tinha um preço, se pessoas de fora estivessem dispostas a condenar os que assumiram posições irresponsáveis.
Mas não houve esse preço. Bush esbanjou o superávit dos últimos anos de Clinton, mas gurus proeminentes fingem que os dois partidos dividem a culpa por nossos problemas de dívida. O deputado Paul Ryan, presidente da Comissão de Orçamento da Câmara, propôs um suposto plano de redução do déficit que incluía enormes cortes fiscais para as corporações e os ricos, e então recebeu um prêmio por responsabilidade fiscal.
Assim, não houve pressão sobre os republicanos para demonstrar qualquer tipo de responsabilidade, ou mesmo racionalidade - e certamente a coisa foi para o buraco. Se você está surpreso, quer dizer que fazia parte do problema.
Em Crise da dívida dos Estados Unidos é o apogeu de um processo de décadas,
por Paul Krugman
Não concordo com esse sujeito não. Primeiro, sim, ele está certo, o GOP (Great Old Party, apelido do Partido Republicano) se comporta como o PT, quando na oposição faz tudo para derrubar o oponente, mas depois que chega no poder adota políticas parecidas. Mas, minha concordância pára por aí... Como ele mesmo diz, Reagan e Bush não só reduziram gastos, eles também aumentaram receitas, i.e., impostos. Então, como que ele afirma que os adeptos do GOP sempre mantiveram o fanatismo. Quem é o fanático de fazer uma afirmação que contradiz parte do que afirma é ele mesmo. Outro detalhe não mencionado, embora os últimos governos republicanos tenham se caracterizado por maiores gastos indevidos, digamos assim, com guerras, ao longo da história foi o contrário, foram os governos democratas que mais provocaram intervenções externas, como é um exemplo claro a Guerra do Vietnã. Então, por isso e outras questões -- como o aumento de gastos públicos a partir do governo Roosevelt, democrata --, os dois partidos têm sim grande responsabilidade na atual crise e não só o GOP, como quer o partidário e pouco objetivo Paul Krugman.
...
Acho que errei feio neste post. Aqui vão os comentários de meu amigo, Fernando Raphael Ferro:
Anselmo:
Agora sim segue uma tabela com o resulado fiscal dos EUA, ou seja, a relação entre receitas e despesas do governo. A tabela original é um pouco mais complicada do que a aquela que eu estou te enviando, porque contem o detalhamento de cada uma das despesas e receitas do governo. Eu separei apenas o resumo da tabela, ou seja, total das receitas e despesas, e o total das receitas e despesas correntes. As receitas e despesas correntes são aquelas não financeiras, enquanto o total inclui tudo.
Você irá notar que desde 1969 o resultado fiscal americano só não foi negativa durante quatro anos do governo Clinton. Reagan e Bush pai derem uma significativa contribuição para ampliação deste déficit, o que foi resultado daquilo que Paul Krugman chama de "Vodu econômico", ou seja, dizer que reduzir impostos leva ao aumento da arrecadação. Os dados da tabela estão em bilhões de dólares e em valores correntes, ou seja, sem considerar a inflação ou o deflator do PIB, por isso o resultado do ano anterior é sempre menor. Contudo, se aplicarmos um deflator, veremos que no governo Reagan houve queda real na arrecadação sem correspondente queda nos gastos. Clinton foi o único governante que consegui equilibrar as finanças americanas desde Richard Nixon. A situação com Obama está caótica, mas a razão disso foi a queda da atividade econômica seguida de uma grande ampliação dos gastos públicos (decorrentes dos pacotes de salvamento de bancos e empresas, além dos aumentos com encargos sociais).
A passagem de uma situação de superávit para uma situação de déficit se deu justamente no governo Bush filho, como resultado das duas guerras da década. Isso mostra que em termos de resposabilidade fiscal, é melhor, pela análise histórica, confiar nos democratas que nos republicanos. Coloquei aquela tabelinha com os governos e os presidentes ao lado para ficar mais fácil a comparação. Por ali dá pra ver que os republicanos foram responsáveis por US$ 6.396 bilhões de resultado negativo, enquanto aos democratas coube US$ 4.296 bilhões, sendo que 60% deste total se deu no governo Obama, em função, sobretudo, da crise, que é a maior nos EUA desde 1929. Acho que diante destas informações, não dá mais pra dizer que o Reagan teve qualquer traço de "austeridade" em sua gestão.
Abraço
Fernando, agora ficou claro para mim. Então, se for assim, há algo que não se explica quando dizem que Reagan "reativou" a economia americana. Preciso estudar o assunto, pois vejo que não sei de nada mesmo.
Sem desconto da inflação. Para fazer isso, eu teria que buscar um deflator para a dívida americana, o que eu não encontrei. Na outra tabela, porém, há um dado do PIB americano. Dá pra pegar o déficit do governo e comparar com o tamanho do PIB, para ver o quão grande ele é hoje em relação ao que foi no passado.
Dizem que o Reagan "reativou" a economia americana porque os anos do Jimmy Carter foram anos de crise, recessão. Deve-se considerar que desde 1973 os EUA viveram uma situação de "stagflação", ou seja, inflação acelerada com estagnação econômica (acho até que vou escrever um texto sobre isso). Quando Reagan assumiu o governo, em 1980, ele reduziu os impostos (ampliando o déficit) e aumentou os gastos públicos (com programas militares). Além disso, como a alta do petróleo foi em 1979, decorrente da revolução no Irã, os preços internacionais entraram em rota de queda. Mas como resposta inicial a crise, os juros internos americanos (que não controlados pelos EUA), subiram. Com isso, mas também por causa do preço em alta do petróleo, os EUA passaram a receber muito investimento estrangeiro direto (IED), tanto em imóveis, como em fábricas, etc. Lembre-se que foi esta a década da "invasão japonesa", e dos petrodólares.
Impostos baixos e juros elevados motivaram a entrada de recursos estrangeiros nos EUA, acentuando a recuperação frente aos anos anteriores que foram de crise. Obviamente, este movimento especultivo resultou numa crise em 1988, no mercado de ações, que lançou o Japão na grande crise dos anos 1990 e 2000, da qual ainda não saiu. Os anos 1980 também foram uma década de grandes inovações: na informática e nas telecomunicações os avanços que mudariam o mundo começaram nesta década e os EUA eram líderes nestas tecnologias. Deste modo, não há como negar que houve forte crescimento econômico nos anos Reagan, mas isso não significa responsabilidade no plano fiscal, ou seja, nas contas do governo. Na verdade, dá até pra interpretar esta recuperação como uma resposta aos estímulos "keynesianos" dados à eonomia americana, uma vez que os os gastos governamentais continuaram crescendo acima das receitas, ou seja, houve um estímulo à demanda via gastos públicos, com um impacto posterior positivo sobre o crescimento do emprego e da renda.
No início dos anos 1990 ocorre outra crise, causada novamente pela instabilidade externa: a guerra no golfo faz piorar a economia americana, o que acentua resultado fiscal negativo no final do governo Bush. Tem até aquela famosa frase do Clinton (é a economia, estúpido), que se refere ao fato de que em 1992 os EUA estavam em recessão, com desemprego em alta e produção em queda. Clinton, aliás, fio eleito com a promessa de zerar o déficit, o que ele fez (como fica evidente nas tabelas que te enviei). Fez isso cortando despesas, sobretudo, militares, e tirando proveito da expansão da economia decorrente das novas tecnologias e dos grandes ganhos de produtividade que ela proporcinou.
Bush filho começou e terminou o governo em meio a crises: 2001 a bolha da informática (tem até aquele filme do Jim Carrey, Loucuras de Dick e Jane) e a de 2007, no mercado imobiliário. A de 2001 foi salva pelo 11 de setembro, que criou uma boa justificativa para ampliar os gastos governamentais via guerra (gasto do governo sempre estimula a demanda). Além disso, permitiu ampliar os gastos numa ambiente de queda dos preços, tendo em vista que a China passa a empurrar para baixo os preços dos bens industrializados, reprimindo a inflação (eu já escrevi algo sobre isso no blog), o que permitiu manter baixa a taxa de juros. A contrapartida foi que não apenas o governo se endividou muito no período mas também as famílias. O resto você já sabe (não que não soubesse a parte anterior). Por isso, eu entendo que a argumentação do Paul Kruman, na verdade, é está correta: a crise da dívida nos EUA é resultado de um processo que já se arrasta há décadas, cuja responsabilidade dos governos republicanos é bastante grande. Além disso, considero "Tea Party" um movimento de idiotas (não os políticos, muito espertos, mas dos seus apoiadores) que imaginam que um estado falido é a solução contra a China e a decadência americana no mundo. Para sair de mais esta crise, a solução é a mesma de sempre: ganhos de produtividade, o que se consegue com investimentos, trabalho e responsabilidade, não com consumo.
Abraço
Fernando R. F. de Lima.
...
Fernando, valeu pela verdadeira aula. Vou repassar para
quem eu tinha dado minha opinião equivocada. Gostaria de
reproduzir tua resposta em meu blog, evidente que com a a devida
autoria.
a.h
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Acho que errei feio neste post. Aqui vão os comentários de meu amigo, Fernando Raphael Ferro:
Anselmo:
Agora sim segue uma tabela com o resulado fiscal dos EUA, ou seja, a relação entre receitas e despesas do governo. A tabela original é um pouco mais complicada do que a aquela que eu estou te enviando, porque contem o detalhamento de cada uma das despesas e receitas do governo. Eu separei apenas o resumo da tabela, ou seja, total das receitas e despesas, e o total das receitas e despesas correntes. As receitas e despesas correntes são aquelas não financeiras, enquanto o total inclui tudo.
Você irá notar que desde 1969 o resultado fiscal americano só não foi negativa durante quatro anos do governo Clinton. Reagan e Bush pai derem uma significativa contribuição para ampliação deste déficit, o que foi resultado daquilo que Paul Krugman chama de "Vodu econômico", ou seja, dizer que reduzir impostos leva ao aumento da arrecadação. Os dados da tabela estão em bilhões de dólares e em valores correntes, ou seja, sem considerar a inflação ou o deflator do PIB, por isso o resultado do ano anterior é sempre menor. Contudo, se aplicarmos um deflator, veremos que no governo Reagan houve queda real na arrecadação sem correspondente queda nos gastos. Clinton foi o único governante que consegui equilibrar as finanças americanas desde Richard Nixon. A situação com Obama está caótica, mas a razão disso foi a queda da atividade econômica seguida de uma grande ampliação dos gastos públicos (decorrentes dos pacotes de salvamento de bancos e empresas, além dos aumentos com encargos sociais).
A passagem de uma situação de superávit para uma situação de déficit se deu justamente no governo Bush filho, como resultado das duas guerras da década. Isso mostra que em termos de resposabilidade fiscal, é melhor, pela análise histórica, confiar nos democratas que nos republicanos. Coloquei aquela tabelinha com os governos e os presidentes ao lado para ficar mais fácil a comparação. Por ali dá pra ver que os republicanos foram responsáveis por US$ 6.396 bilhões de resultado negativo, enquanto aos democratas coube US$ 4.296 bilhões, sendo que 60% deste total se deu no governo Obama, em função, sobretudo, da crise, que é a maior nos EUA desde 1929. Acho que diante destas informações, não dá mais pra dizer que o Reagan teve qualquer traço de "austeridade" em sua gestão.
Abraço
Fernando, agora ficou claro para mim. Então, se for assim, há algo que não se explica quando dizem que Reagan "reativou" a economia americana. Preciso estudar o assunto, pois vejo que não sei de nada mesmo.
Só uma dúvida, quando tu diz que 60% do déficit entre os democratas pertence ao gov.Obama está descontando a inflação ou se baseando naqueles valores nominais mesmo?
abs,
a.h
Sem desconto da inflação. Para fazer isso, eu teria que buscar um deflator para a dívida americana, o que eu não encontrei. Na outra tabela, porém, há um dado do PIB americano. Dá pra pegar o déficit do governo e comparar com o tamanho do PIB, para ver o quão grande ele é hoje em relação ao que foi no passado.
Dizem que o Reagan "reativou" a economia americana porque os anos do Jimmy Carter foram anos de crise, recessão. Deve-se considerar que desde 1973 os EUA viveram uma situação de "stagflação", ou seja, inflação acelerada com estagnação econômica (acho até que vou escrever um texto sobre isso). Quando Reagan assumiu o governo, em 1980, ele reduziu os impostos (ampliando o déficit) e aumentou os gastos públicos (com programas militares). Além disso, como a alta do petróleo foi em 1979, decorrente da revolução no Irã, os preços internacionais entraram em rota de queda. Mas como resposta inicial a crise, os juros internos americanos (que não controlados pelos EUA), subiram. Com isso, mas também por causa do preço em alta do petróleo, os EUA passaram a receber muito investimento estrangeiro direto (IED), tanto em imóveis, como em fábricas, etc. Lembre-se que foi esta a década da "invasão japonesa", e dos petrodólares.
Impostos baixos e juros elevados motivaram a entrada de recursos estrangeiros nos EUA, acentuando a recuperação frente aos anos anteriores que foram de crise. Obviamente, este movimento especultivo resultou numa crise em 1988, no mercado de ações, que lançou o Japão na grande crise dos anos 1990 e 2000, da qual ainda não saiu. Os anos 1980 também foram uma década de grandes inovações: na informática e nas telecomunicações os avanços que mudariam o mundo começaram nesta década e os EUA eram líderes nestas tecnologias. Deste modo, não há como negar que houve forte crescimento econômico nos anos Reagan, mas isso não significa responsabilidade no plano fiscal, ou seja, nas contas do governo. Na verdade, dá até pra interpretar esta recuperação como uma resposta aos estímulos "keynesianos" dados à eonomia americana, uma vez que os os gastos governamentais continuaram crescendo acima das receitas, ou seja, houve um estímulo à demanda via gastos públicos, com um impacto posterior positivo sobre o crescimento do emprego e da renda.
No início dos anos 1990 ocorre outra crise, causada novamente pela instabilidade externa: a guerra no golfo faz piorar a economia americana, o que acentua resultado fiscal negativo no final do governo Bush. Tem até aquela famosa frase do Clinton (é a economia, estúpido), que se refere ao fato de que em 1992 os EUA estavam em recessão, com desemprego em alta e produção em queda. Clinton, aliás, fio eleito com a promessa de zerar o déficit, o que ele fez (como fica evidente nas tabelas que te enviei). Fez isso cortando despesas, sobretudo, militares, e tirando proveito da expansão da economia decorrente das novas tecnologias e dos grandes ganhos de produtividade que ela proporcinou.
Bush filho começou e terminou o governo em meio a crises: 2001 a bolha da informática (tem até aquele filme do Jim Carrey, Loucuras de Dick e Jane) e a de 2007, no mercado imobiliário. A de 2001 foi salva pelo 11 de setembro, que criou uma boa justificativa para ampliar os gastos governamentais via guerra (gasto do governo sempre estimula a demanda). Além disso, permitiu ampliar os gastos numa ambiente de queda dos preços, tendo em vista que a China passa a empurrar para baixo os preços dos bens industrializados, reprimindo a inflação (eu já escrevi algo sobre isso no blog), o que permitiu manter baixa a taxa de juros. A contrapartida foi que não apenas o governo se endividou muito no período mas também as famílias. O resto você já sabe (não que não soubesse a parte anterior). Por isso, eu entendo que a argumentação do Paul Kruman, na verdade, é está correta: a crise da dívida nos EUA é resultado de um processo que já se arrasta há décadas, cuja responsabilidade dos governos republicanos é bastante grande. Além disso, considero "Tea Party" um movimento de idiotas (não os políticos, muito espertos, mas dos seus apoiadores) que imaginam que um estado falido é a solução contra a China e a decadência americana no mundo. Para sair de mais esta crise, a solução é a mesma de sempre: ganhos de produtividade, o que se consegue com investimentos, trabalho e responsabilidade, não com consumo.
Abraço
Fernando R. F. de Lima.
...
Fernando, valeu pela verdadeira aula. Vou repassar para
quem eu tinha dado minha opinião equivocada. Gostaria de
reproduzir tua resposta em meu blog, evidente que com a a devida
autoria.
a.h
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