Ou como justificar a revolução a partir dos atentados à Noruega
Vejamos aqui mais um texto tolo sobre os atentados na Noruega explicando seu por que. Meus comentários seguem adiante:
(...) ao longo dos últimos dois anos, observamos diversos pacotes de austeridade econômica tentando ser aprovados nos parlamentos europeus, enquanto Irlanda, Grécia, Portugal e Espanha, por exemplo, caíam em profunda depressão. Assim, para responder às crises, dos EUA à Zona do Euro, bilhões de dólares de contribuintes eram utilizados para sanar os prejuízos deixados por banqueiros e megainvestidores milionários.
Agora, ainda que os jornais pouco falem sobre o assunto estruturalmente, estamos em uma intensa crise do sistema capitalista. Além de se espalhar pela Europa – atingindo outros países, como a Alemanha e a Itália –, ela está de volta aos EUA, com a crise da dívida, e já ameaça chegar ao Brasil, durante o governo Dilma.
“Somente uma crise – real ou pressentida – produz mudança verdadeira. Quando a crise acontece, as ações que são tomadas dependem das ideias que estão à disposição. Esta, eu acredito, é nossa função primordial: desenvolver alternativas às políticas existentes, mantê-las em evidência e acessíveis até que o politicamente impossível se torne o politicamente inevitável.”
A conclusão é de Milton Friedman, o guru do capitalismo neoliberal. E ele tem toda razão. Neste momento, como vemos nos movimentos populares europeus, os danos abandonaram a virtualidade do capital financeiro para atingir a vida real, com sérios prejuízos socioeconômicos, já que a pauta anticrise dos governos é a mesma: privatizações e cortes profundos nos direitos sociais.
Nesse contexto, abre-se um leque de possibilidades de futuros acontecimentos. Um deles, de que o atentado na Noruega é símbolo, é a ascensão de governos neofascistas, como já vimos acontecer depois da Crise de 29. O episódio norueguês, como sabemos, não é um caso singular. Na Suécia, um homem foi preso na cidade de Malmö, acusado de envolvimentos em uma dúzia de tiroteios contra imigrantes. Nos EUA, o Tea Party ganha força. Na Alemanha, com o recém-fundado A Liberdade, já são quatro os partidos de extrema-direita. Na França, pesquisas apontam que a Frente Nacional, ultraconservadora, pode chegar ao segundo turno. Na Holanda, o Partido para a Liberdade do Povo Holandês, também de extrema-direita, acabou de conquistar 15,5% de votos nas eleições de 2010.
Outra possibilidade, que cabe à (verdadeira) esquerda mundial, é aproveitar o momento de mobilização popular para mostrar as contradições inerentes ao capitalismo, um sistema que não pode ser reformado, como pregam os socialdemocratas. Um sistema de organização socioeconômica que deixa, hoje, mais de dois bilhões de pessoas em situação de fome e que faz aumentar, cada vez mais, a distância entre ricos e pobres. A juventude mundial, que ocupa as praças ao redor do mundo, de Portugal ao Egito, deseja mudanças. Mas sem organização política, sem um projeto de sociedade, elas não acontecem. E que venha a luta.
Que crises sejam momentos favoráveis ao recrudescimento do ódio, sobretudo o inter étnico, não há dúvidas, mas quem disse que a Noruega, país não membro da União Européia (portanto, que não padecia de seus problemas econômicos) estava em crise? Outra questão que se impõe é o timing da operação: Breivik levou anos para estruturar seus ataques, comprar fertilizantes para sua fazenda, estudar para justificar a insanidade de seus ataques etc., muito mais do que a recente crise européia levou para acontecer. Fato, aliás, sempre é bom lembrar, que não se abateu sobre a Noruega, detentor do 1º IDH mundial. Se parte da motivação que levou o norueguês a matar os próprios cidadãos do país se relacionava a postura governamental com relação à imigração, isto não decorreu de crise alguma. A imigração de mão de obra barata vem de longa data e quando ocorre, geralmente reflete o oposto de uma crise, reflete sim um boom econômico que, justamente, demanda mais força de trabalho. Se avaliarmos assim, Breivik não seria um “sintoma da crise econômica”, mas o contrário, um espasmo reacionário contra a força do desenvolvimento econômico e da globalização. O texto do blog Controvérsia, simplesmente inverteu a sua suposta razão econômica porque não pode admitir que o terrorista se posiciona contrário a um processo de desenvolvimento capitalista associado a democracia e o estado de direito. Isto serviria de apologia ao objeto de crítica de seu editor, furando totalmente a lógica de seu texto.
O capitalismo é “um sistema que não pode ser reformado, como pregam os social-democratas”... Mas, não foi exatamente o contrário do que fizeram? Vide o próprio exemplo dos estados de bem-estar sociais da Escandinávia, região onde se encontra a Noruega. Não pode ser reformado, mas efetivamente foi reformado! Tais mentiras abundam em sites, blogs que não têm o compromisso de se basear em fatos, nem de buscar dados. Como dizer que a distância entre ricos e pobres só aumenta, enquanto que na realidade, os índices socioeconômicos melhoraram para a maioria da humanidade.
A visão revolucionária se assemelha a uma onda varrendo a propriedade privada no Velho Mundo e depois, como uma tsunami vermelha chegando ao outro lado do Atlântico. Só delírio assim para concluir que jovens ocupando praças ao redor do mundo, “de Portugal ao Egito” pressupõem um processo revolucionário contínuo e uniforme dotado de coerência interna e alvos comuns. Ora! As razões dos manifestos podem ser similares – a derrubada de seus governos –, mas certamente que o tipo de governo proposto difere em questões essenciais. Vejamos aqui como muitos egípcios acreditam como deve ser a lei em seu país: “só” mais de 80% crêem que se deva aplicar a pena de morte para aqueles que abandonem o islã. Será que os jovens também pensam assim na terra do fado?
Então, meus amiguinhos vermelhinhos, ponham o rabinho assanhado entre as pernas porque o mundo não é tão simples como seu sonho infanto-juvenil de “fazer a revolução”. O comunismo foi sim um dos piores lixos da humanidade e, não há justificativa alguma para reencaminhar novas gerações a esta insanidade coletiva. Por outro lado, se quiserem tentar, lembrem-se que por mais estúpido que possam ser algumas ações humanas, há uma nesga de vontade própria que nos move. Seu nome, liberdade, o que por si só já nos diz que somos essencialmente anticomunistas, com ou sem gene específico para isso.
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