Ciclista folgado, pensa que a rua é dele |
O texto abaixo tem características de sofisma. Trata do 1º dia de multa em São Paulo para veículos que não respeitam o pedestre, na faixa de pedestres. A análise a seguir diz que "pedestres e ciclistas [têm de estar] no mapa mental dos motoristas", que temos a visão condicionada segundo o que valorizamos (daí vem um exemplo baseado em jogo de cores em uma partida de basquete). Sim, tudo isso é verdade, mas incompleta. A pesquisa, segundo a matéria abaixo, se limitou a cidades do "Primeiro Mundo" onde, supostamente, se respeita mais a pedestres e ciclistas. Só que lá, embora haja mais uso da bicicleta, não há necessariamente mais pedestres. Aqui tem de sobra, mas o que falta? Falta reciprocidade e justiça. Por acaso, numa Holanda é comum pedestres avançarem nas pistas fora das faixas de pedestres? Aposto que não. Então, meus caros, se for para punir os motoristas, eu assino embaixo se também houver regras para pedestres e ciclistas. Tenho andado muito pela Avenida Paulista e, de carro tenho de desviar de bicicletas a 10km/h, nas calçadas de skates fazendo tolinhas "manobras radicais" dignas de pivetes e mais e mais bicicletas. Quanto aos ciclistas, deixe-me dizer, eu posso estar numa velocidade baixa, digamos 40km/h, para protegê-los em uma pista que permite que se ande a 60. Daí paro no semáforo amarelo e o cara não tem que parar não?!?! Peraí! Só um momentinho... O sujeito, com capacete e shortinho enterrado se faz de cidadão cheio de direitos, mas na hora de proceder como condutor de um veículo que se acha igual, não tem que cumprir com nenhuma obrigação?
Palhaçada.
"Ele apareceu do nada. Eu juro que não vi." As duas orações acima são recorrentes quando o motorista tenta explicar como atingiu o pedestre, o motoboy ou o ciclista.
Mais do que uma desculpa esfarrapada, a frase revela algumas verdades cognitivas.
Embora não o reconheçamos, nossa capacidade de atenção é bastante limitada. Um experimento seminal de 1999 conduzido pelos psicólogos Christopher Chabris e Daniel Simons traduz com muito bom humor o tamanho do problema.
Eles fizeram um vídeo no qual seis pessoas (três vestindo camisetas brancas, e três, pretas) trocam passes com duas bolas de basquete. Estudantes são instruídos a contar mentalmente os passes do pessoal de branco enquanto assistem ao vídeo.
Um sujeito fantasiado de gorila entra em cena, encara a câmara, bate no peito e se retira. Ele aparece na tela por nove segundos.
Você o notaria? A esmagadora maioria das pessoas responde com um sonoro "sim".
O fato é que 50% das cobaias simplesmente não veem o gorila, porque estão ocupadas contando.
Está em operação aqui o que os psicólogos chamam de "cegueira por inatenção".
Trata-se de uma poderosa ilusão cognitiva com importante impacto social, que se materializa justamente na forma de acidentes.
O problema não é tanto não ver o gorila, mas acreditar erroneamente que seremos sempre capazes de fazê-lo. Nós imaginamos que podemos enxergar tudo o que aparece à nossa frente, quando na verdade só temos consciência de uma pequena porção das coisas que estão em nosso campo visual. Em geral, vemos aquilo que o cérebro já espera encontrar.
É por superestimar nossa capacidade de atenção que nos colocamos em situações de perigo, como dirigir em velocidade superior à calculada pelos técnicos (isso mesmo, aquele número que nos parece ridiculamente pequeno que aparece nas placas) ou falando ao celular.
A solução para o problema, além de obedecer às regras de trânsito, é colocar pedestres e ciclistas no mapa mental dos motoristas.
Quanto menos estes forem um elemento-surpresa, maiores as chances de serem vistos pelos condutores.
E, como mostrou um trabalho de 2000, é nas cidades onde há mais pedestres e ciclistas que eles estão mais seguros (considerados mortes e ferimentos por milhão de km caminhados ou pedalados). Esse estudo se restringiu a cidades do Primeiro Mundo.
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