quinta-feira, agosto 04, 2011

Um bom acordo pressupõe um pouco de insatisfação


Até os anos 70, a Ecologia sequer era considerada uma ciência no Brasil. Agora estamos em plena era da ecologia como fenômeno de massa, moda, mas antes que o assunto passe a ser seriamente discutido já temos os opositores da moda, ou seja, gente que não se dedicou o suficiente para estudar o assunto.
O artigo abaixo de Reinaldo Azevedo acerta no tema central, a necessidade de implantação do Novo Código Florestal, mas erra em tantos outros que não há como deixar passar batido. Transcrevo trechos aqui para que comentar logo abaixo: 



Se tivermos de fazer o bem, pensam os amigos da natureza, que importa o povo? Ele que se dane! O homem, agora, não é mais natural! É uma besta alienígena, que baixou no planeta para atrapalhar a doce harmonia da Mãe Terra, sempre tão generosa com os seus frutos, não é mesmo? De tempos em tempos, é verdade, ela se zanga, manda uma catástrofe qualquer, mata alguns milhares, mas tudo bem… A intenção é essencialmente boa.  “Chega!”, dizem os amantes de Géia. O homem, esse piolho nas esferas, tem de parar de infestar a Terra!
(...) 
Aldo Rebelo está certo. No post anterior, ele faz uma analogia entre a margem de proteção à beira dos rios e a alíquota de Imposto de Renda. Faz sentido, sim, quando se pensa em pessoas. O leitor não é besta nem come mato. Pense numa propriedade de 4 módulos rurais à beira de um rio e numa outra, à margem deste mesmo rio, de 40 módulos. Querem os amigos da natureza que ambas reservem 30 metros de cada lado do curso d’água além de manter 20% da área (se for o Nordeste, por exemplo) para recomposição de reserva. Muito bem! Quem tem quatro módulos e inviabilizou para exploração agrícola 20% da área “colaborou” com a natureza em igualdade de condições com aquele que tem 40? Isso pode significar o seu fim. No caso das margens do rio, a questão, então, é escandalosa: em termos percentuais, o pequeno estará sendo esmagado.
(...)
E para encerrar: “Aumento de produtividade” passou a ser, agora, a resposta metafísica da turma, como se isso pudesse ser conseguido da noite para o dia; como se o Brasil pudesse diminuir a área plantada amanhã e depois compensar o estrago num estalar de dedos. Não, valentes! O Brasil precisa aumentar a produtividade sem perder área de produção, entenderam?
(...)
Por Reinaldo Azevedo
Tags: código florestal 
Código Florestal – O homem não é uma besta alienígena que está aí só para atrapalhar o planeta 


         A questão da proporção está correta, se um agricultor proprietário de 4 módulos rurais tiver que preservar os mesmos 20% de sua área como outro proprietário com 40 módulos rurais também, apesar deste auferir mais em termos de renda, seus custos também são proporcionalmente maiores. Todos têm um ônus financeiro, não vejo como objetar isto. Se o pequeno padece, mecanismos compensatórios têm que ser criados, mas diminuir a área de proporção (embora Reinaldo não tenha sugerido isto...), não atingiria os objetivos ambientais e, já que se trata de harmonizar preservação e produção, isto não faria sentido propor. E, claro, para se aumentar a produção na mesma área restante ela tem que ser aumentada intensivamente, i.e., por unidade de área e não em mais espaço. Os ecologistas estão sim corretos em exigir aumento de produtividade, embora também estejam errados em querer que a área de proteção seja maior ainda. Daí não sobraria muito para produzir... Lembre-se, um bom acordo é quando ambas as partes saem parcialmente satisfeitas. Mas, como se consegue isto? Aí que o Reinaldo deveria se informar, bem como seus alvos de crítica, a resposta está na tecnologia, no agronegócio e no grande capital químico e de insumos agrícolas. Ou seja, aquele mesmo pessoal que os verdes adoram detonar como causadores de grandes males.
         E Reinaldo, se um dia chegar a ler isto, quando os catastrofistas de plantão nos ameaçam com suas paranóias coletivas de fim do mundo, basta elencar uma série delas que não se concretizou, bem como tantos outros benefícios que nossa civilização já conquistou. Não se aflija de não conseguir convencê-los, dificilmente o conseguirá, quase ninguém consegue, pois não é isso que eles querem. A réplica que fazemos é para outros, leitores não bitolados que querem realmente conhecer algo. Dessa forma, se autodenominar poluidor uma “besta desprezível”, mesmo que em tom de ironia não refuta nada. A evolução tecnológica que já se atingiu com redução de emissões de poluentes e novas matrizes energéticas já está em curso. Lento, dirão alguns... Talvez, mas aí eu discordo das estratégias atualmente adotadas. Não creio que funcionará como se faz com acordos entre estados – protocolos como o de Kyoto – mas sim com ganhos de rentabilidade, economia, para os consumidores. O foco deveria ser outro, individual e não, estatal, o que será motivo para outro post.
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