Chamar "desigualdade" de
grave problema social que impede o brasileiro de entender o capitalismo não é
acertado, em termos liberais. Porque se o capitalismo é a única alternativa
para tornar as nações ricas, mesmo rico, a desigualdade não deixará de existir,
apenas a base desta estratificação ficará muito melhor, o que para mim já é
suficiente. Dizer que a desigualdade é uma “mazela social” subentende que a
igualdade pode (e deve) ser alcançada pelo capitalismo. Na verdade, sociedades
que se estruturam sob o capitalismo são profundamente desiguais, mas isto nunca
foi um problema se há grande mobilidade
social nessa mesma sociedade. Se uma nação recebe milhões de imigrantes
todos os anos, provavelmente estes se situarão nos patamares inferiores de sua
escala social, mas se dentro de alguns anos, sua situação já pode ser sensivelmente
alterada em comparação com o que viviam, então senhores e senhoras, este
sistema é altamente includente.
Agora, as mentiras, ele diz que a
social-democracia não torna nações mais ricas esquecendo de observar que
social-democracia não é o oposto de capitalismo, mas uma variante dele. Dizer
que "só redistribui uma riqueza já existente" é uma contradição com o
que ele já havia dito ao afirmar que o capitalismo enriqueceu os países ao
longo do tempo... Ora, a social-democracia existe há décadas. Décadas... Na
Nova Zelândia, quem primeiro começou com isto, a partir do século XIX foi no
último ano deste século. Vai redistribuir o quê? O que havia antes de riqueza?
O que uma Nova Zelândia apresentava de riqueza a ser distribuída do século XIX,
ou Alemanha e Inglaterra no início do século XX? Sinceramente, não há
consistência nenhuma em dizer que a social-democracia só distribui a riqueza,
se ela foi parte constituinte do desenvolvimento da sociedade que gerou a
própria riqueza. Por outro lado pode se questionar se sem esta organização
política não haveria maior índice de riqueza; se formos conjecturar que a
social-democriacia não é tão dinâmica, que terá ou já tem dificuldades devido à
transição demográfica etc. Aí tudo bem, estas seriam questões relevantes, mas
dizer que "só redistribui a riqueza já existente" é desonesto ou
muita desinformação.
Apoiar o estado mínimo é o óbvio para
qualquer liberal, no entanto dizer que o estado não costuma gastar, alocar os
recursos de impostos de modo eficiente é um equívoco, pois esquece de comparar
casos que é o que nos dá uma base para análise. Como funciona a educação finlandesa?
Como funciona a pesquisa espacial americana ou o sistema de transporte público
europeu? Todos estes setores têm forte participação estatal, mas numa análise
rasa, não são recursos bem alocados porque o fundamentalismo antiestatista me
impede de reconhecer variantes que desautorizem meus dogmas. Paradoxalmente, o estado
é tratado como uma igreja e defendê-lo para desenvolver o capitalismo e sua
sociedade aberta é pregação. Assim, quem se mostra um pregador barato e sem
profundidade é quem acusa ao não se deter em detalhes. Buscar seletivamente
apenas informações que corroborem meus princípios de fé não é uma postura
investigativa digna de um analista social.
O problema quando se lê um artigo
assim é que deixamos de observar os detalhes nem tão precisos porque nos
fixamos nas banalidades das quais concordamos. Isto precisa mudar na nossa
cultura, a tosca mania de procurarmos nos agrupar com quem concordamos no geral
porque temos que formar mais uma “igrejinha de pensamento”.
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