domingo, agosto 24, 2014

Repugna-me - 2


O legado da teorização sobre a educação brasileira tem muito a ver com a popularização do pensamento de Paulo Freire, mas como posso provar que tem a ver com este pedagogo?

Minha resposta não será satisfatória. Foi Paulo Freire quem iniciou o processo de decadência? Não, mas os atores responsáveis por isto via de regra são entusiastas de Paulo Freire. É uma aproximação, "achismo" se preferir, mas todos pedagogos com quem conversei (e não são poucos devido a minha profissão) foram unânimes em admitir que PF é a maior referência intelectual que possuem dentro de sua área E o autor mais lido em seus cursos (na USP e na UFSC). Pedagogos e professores que cursaram, por obrigação, disciplinas da pedagogia elaboram, anualmente, os programas curriculares de suas turmas, Isto, anualmente falando. Há aí um feedback ideológico à isonomia com que são tratados os professores (salários iguais e diferenciado apenas por tempo de serviço), i.e., com condenação, às vezes expressa, de qualquer forma de meritocracia que reflete na condenação do vestibular (que resultou na sua alteração e composição junto com o Enem e as cotas). Sindicatos adoram isto, não haveria inferno pior do que uma categoria internamente competitiva e, portanto, competitiva. Há, portanto, como afirmar que a pedagogia PF é o principal fator de um mau resultado no PISA? Não, pois teríamos que isolar esta variável e ver como o conjunto se comporta. Nem acredito que uma pedagogia seja o estopim de origem de uma situação decrépita, MAS é um fator FUNDAMENTADOR. Tal qual o islã radical que não pode ser restrito a uma explicação conceitual e literária, ele busca nos conceitos e literatura próprias seus fundamentos. E, cá entre nós, PF é explícito na sua ojeriza a qualquer forma de ranking, uma vez que isto seria "a reprodução de um sistema competitivo e alienante distantes do verdadeiro desenvolvimento". Como se vê nos resultados de pesquisas como o PISA, o desenvolvimento dos estudantes brasileiros é pobre, o que implica na formação de uma massa ignóbil apta ao mercado de manobra político.

“A maior parte dos professores nunca leu Paulo Freire.”

A maior parte dos comunistas ou simpatizantes do comunismo ou de ideologias próximas ao comunismo nunca leu Marx. E, provavelmente, nunca lerão. Veja... Eu li e consigo detectar marxismo mesmo quando alguém diz "não gostar de Marx", "não ser socialista" e "odiar o comunismo". Quantas pessoas tu já viu criticando a URSS ou mesmo Cuba, enquanto que fala da sociedade movida por classes sociais? Gerida por uma classe? A coisa é tão bizarra que algumas semanas atrás eu conversava com um corretor imobiliário aqui do meu bairro e comentei sobre a nossa possível "bolha imobiliária" e esperando mais informações ou a percepção do sujeito sobre o assunto fiquei boquiaberto com o rosário de melancolias que ele começou a destrinchar contra a "especulação imobiliária"! Cara! Ele é um especulador! É o tipo de agente social que vive da especulação. Via de regra eliminando os atravessadores como ele, os bens ofertados ficam mais baratos. Mas, o que quero dizer é que não é preciso se autodeclarar ou ter lido para usar uma lógica pertencente a um pensador ou escola de pensamento. Quanto ao mérito atribuído por 'experts' em pedagogia ao Paulo Freire é algo como me dizer que o Clube dos 13 fez uma avaliação positiva da FIFA. Não sei, mas provavelmente quem avaliou positivamente o legado de Paulo Freire seja farinha do mesmo saco. Com todo o respeito, não tenho respeito por pedagogos, se estes não tiverem sido professores com carga horária e semanal de trabalhador que precisa disto para fazer renda. Há pedagogos que simplesmente seguiram este caminho fazendo cursos de pós e passando a maior parte da vida em Faculdades de Educação, sem nunca terem tido experiência em escolas públicas do ensino básico ou particulares que, no geral, não trazem uma qualidade de ensino muito superior não.

Abaixo, nosso maldito legado pela ideologização do ensino e preconceito à meritocracia:


quinta-feira, agosto 21, 2014

Verdade e Opinião


"The opposite of a correct statement is a false statement. The opposite of a profound truth may well be another profound truth." - Niels Bohr (1885-1962)


Por uma reforma educacional - 01

Uma boa reforma educacional vai muito além da mera distribuição de
vouchers para alunos de escolas públicas. (Imagem: eagnews.org).

Uma coisa que fica evidente e que se pode observar pela demanda do mercado de trabalho são os cursos técnicos, seja para o setor privado ou para funções públicas. Isto, na minha opinião, deveria ser multiplicado através de empresas educacionais e também por instituições públicas na medida que supram deficiências de mão de obra qualificada. Agora, proibir de que cursos privados existam, eu acho errado. Se uma determinada faculdade é ruim, que se deixe que as pessoas decidam que vão cursá-la ou não. O que o governo pode e deve fazer neste sentido é um ranking para divulgação da qualidade que ela (corpos docente e discente) atingiram, segundo critérios dotados de transparência. O método utilizado para avaliar tem que ser acessível, se não até aí teria mutretagem, servindo os mesmos testes para prejudicar empresas educacionais de quem não come na mão de secretarias de educação ou do MEC. 

Quanto à qualidade das instituições privadas VS. públicas, eu penso que um modelo não deve excluir o outro. Numa das últimas avaliações de qualidade de ensino no Brasil feita através do ENEM, embora as públicas estivessem pior cotadas, a maioria das escolas particulares também não se saiu bem. Destacaram-se algumas escolas privadas e os institutos federais (ver aqui). E eu me pergunto o que muda para termos estes resultados? Minha resposta não é baseada em estudo sistemático nenhum, mas na minha experiência: melhores alunos provenientes de lares que a leitura é incentivada e melhores professores que são atraídos por melhores condições e isto inclui, obviamente, salários. Como eu acho que uma educação básica melhoria em escolas públicas municipais e estaduais? Premiando com salários maiores os professores que, repetidamente, apresentarem melhor desempenho (avaliado de modo externo, isto é importante). Quanto à parte dos alunos se deve enfatizar na leitura e cobrar pesado português e matemática. Isto funcionando, o resto é consequência. 

E os vouchers? Sou simpático à ideia, mas não acredito que eles por si só melhorarão a qualidade de ensino no Brasil. Eles fazem, evidentemente, parte de uma estratégia de realocação e otimização dos recursos públicos, mas o salto de qualidade quer gostaríamos de ver levaria uns 25 anos (uma geração) através de modificações, também na postura empresarial e cultural de nosso "consumidor educacional" (pais e responsáveis dos alunos). O que eu quero dizer com isto? Pensem: quantos pais saem por aí se gabando que a escola de seu filho tem uma sala de informática? Que significa isto? Como estes terminais são utilizados? É besteira. Agora, quantos pais vocês já ouviram falar bem da formação e, sobretudo, da experiência do profissional que toma a responsabilidade de ensinar seus filhos? Eu, pelo menos, nunca vi. Já vi sim falar do pátio com pônei, da horta, da feira de não-sei-o-quê, da excursão (que se for de adolescentes serve, primordialmente, para azaração). Claro que não imagino os recursos sendo revertidos em qualificação de mão de obra sem redução dos tributos cobrados dessas empresas educacionais. Mas não sejamos ingênuos, isto não ocorrerá magicamente por boa vontade. Nós todos procuramos maximizar nossos benefícios em quase tudo que fazemos, se for possível aumentar o lucro cortando custos, o faremos. Então, a única maneira que vejo é incentivando a concorrência. E vejo um papel governamental aí ao criar uma política educacional ao incentivar a competição entre elas através de vários campeonatos e divulgação de resultados dando ênfase aos fatores que levaram ao sucesso.

Outra coisa muito importante e isto ainda é minha especulação. Enquanto o sitema de vouchers não for disseminado e as escolas públicas ainda responderem por parte massiva das matrículas, eu apostaria na municipalização do ensino tanto quanto possível. Diretores não seriam cargos doados por prefeitos, mas eleitos e dotados de orçamento próprio, anual, fiscalizado pelas associações de pais e mestres. Isto daria autonomia às escolas e levaria, obrigatoriamente, à participação dos envolvidos sobre como os recursos estariam sendo utilizados. Houve roubo? Denúncia, processo, condenação? Ano seguinte, escola fechada e troca do staff envolvido. 

Ideias mirabolantes todos temos, já como fazer é que são elas. O que o Partido Novo poderia fazer a este respeito seriam projetos pilotos, só que eu ignoro completamente como isto seria possível do ponto de vista legal. Alguém aí pode me dar uma dica?


Bom dia,
a.h

quarta-feira, agosto 06, 2014

Notas sobre a doutrinação escolar - 01


O professor da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília (UnB) Bráulio Porto também criticou o excesso de ideologias na formação dos professores e considerou a inserção de temas transversais nas disciplinas tradicionais brasileiras como prejudiciais. “O excesso de doutrinação ideológica reduz o espaço dedicado à alfabetização e aos outros conhecimentos básicos como português, matemática e ciências. Enquanto as faculdades de educação de Cingapura oferecem 18 disciplinas de matemática, ciências e língua materna; no Brasil, as faculdades costumam oferecer apenas uma ou duas disciplinas de matemática, ciências e língua”, observou.
[Especialistas criticam excesso de ideologia na formação de professores, http://www.todospelaeducacao.org.br/educacao-na-midia/indice/29001/especialistas-criticam-excesso-de-ideologia-na-formacao-de-professores/]

Assino embaixo. Quanto a ter opinião é o seguinte: toda pessoa tem, eu mesmo tenho e é forte, não abro mão, exceto, é claro, que alguém prove que eu esteja errado. Agora, como professor que sou, acho um absurdo em entrar em sala e passar, sistematicamente, a impingi-las. A Geografia, matéria que ministro é pródiga nestes casos e há temas que são mais consensuais, como os abarcados pela Geografia Física, afinal uma montanha não se move de lugar por opinião (nem por fé...), mas o que fazer com a montanha, exploração, preservação, habitação, como habitá-la, se for o caso, etc., sim, é plenamente passível de opinião e posicionamentos programáticos e políticos acerca dessas opiniões. O que um professor, de verdade, deve fazer? Passar ao aluno todas as opiniões possíveis para que ele escolha ou construa a sua. “Ah! E a prova?” Deve ser composta por questões exatas sobre temas tidos como consensuais, do ponto de vista científico e questões livres, dissertativas se for o caso, sobre opiniões, abertas, mas passíveis de análise e julgamento pelo professor a partir de dados corretos e construção do raciocínio. “Ah! Mas quem faria isto? Como ver se o professor está agindo corretamente em sala?” Perfeito. Concordo com este temor e preocupação. O professor, assim como qualquer profissional, DEVE ser avaliado externamente e uma dessas avaliações deve ser a partir de provas externas aplicadas aos alunos, i.e., o desempenho destes sobre questões objetivas será um forte indicador de quão deturpada pode estar sendo seu programa de aulas.
Não há razão para não executar um programa de avaliação de desempenho indireto do profissional, o que é mais interessante que aplicar uma bateria de provas ao próprio professor é investigar o produto de seu trabalho, ou seja, como os alunos aprenderam o conteúdo ministrado em sala de aula. E o foco do avaliador que avalia o professor é entender a dinâmica da sala de aula e qual ou quais são as razões de problemas que são recorrentes. Temer isto não passa de um pueril corporativismo que lesa toda a sociedade com o mau resultado combinado de ideologia, falta de profissionalismo e acomodação numa carreira estável (se for pública) e que não zela pelo estudante porque, nesta equação, o estudo não está sendo ... estudado.