terça-feira, abril 30, 2019

A Guerra no Leste da Ucrânia


Conselho Supremo da Ucrânia — Verkhovna Rada* — aprovou um apelo à comunidade mundial sobre a emissão ilegal de passaportes russos para os cidadãos do país residentes nos territórios de Donetsk e Lugansk, os quais o governo ucraniano considera ocupados. Petro Poroshenko, atual Presidente da Ucrânia e candidato derrotado nas eleições de 21 de abril, afirmou que esta decisão viola os Acordos de Minsk** e seu sucessor, Vladimir Zelenski, afirmou, através de um aplicativo, que vai “capacitar os migrantes para manter os laços com os cidadãos da Ucrânia nos territórios ocupados”.
Os protestos de 2014 e os conflitos entre grupos pró-russos e antigovernamentais, assim como a anexação da Crimeia, também alimentaram o conflito que já dura cinco anos na região de Donbass***, além do surgimento dos “ Estados” autoproclamados da “ República Popular de Donetsk” e “ República Popular de Lugansk “, (RPD e RPL, respectivamente) apoiados pela Federação Russa.
Segundo o governo ucraniano, paramilitares russos passaram a integrar as milícias pró-russas no auge do conflito, em 2014. Em agosto do mesmo ano, a entrada do “ comboio humanitário” russo, sem autorização de Kiev, ocorreu juntamente ao bombardeio de posições ucranianas. Após a ofensiva russa, as lideranças do RPD e RPL conseguiram recuperar territórios retomados pelas forças ucranianas. Foi neste contexto em que os governos da Rússia, ucraniano e dos rebeldes pró-russos no Donbass assinaram o Protocolo de Minsk, em 5 de setembro de 2014.
Os acordos, no entanto, não foram suficientes e a trégua foi interrompida diversas vezes, com dezenas de mortos todos os meses em 2017 (um soldado ucraniano a cada três dias). Conforme foi divulgado na mídia, neste período foram avistados 6.000 soldados russos, 40.000 separatistas na região de Donbass e cerca de 30.000 pessoas vestidas com trajes militares passando por dois dos pontos de fronteira entre a Rússia e a Ucrânia.
A situação de um “conflito congelado”, no qual nenhuma das partes se submete aos acordos de paz ou cessar-fogo levou a mais de 20 tentativas de trégua fracassadas. Com um saldo de 13.000 ucranianos mortos, ocorreu uma significativa redução do número de óbitos, após o último acordo, em março de 2019.
Em comunicado do Kremlin de março de 2014, por ocasião da anexação da Crimeia, Vladimir Putin declarou que, após a dissolução da União Soviética, “a nação russa se tornou um dos maiores, se não o maior grupo étnico do mundo a ser dividido por fronteiras”. As minorias russas em territórios da extinta União Soviética fazem parte do eixo central da política externa atual do Kremlin e a resolução do impasse gerado por ela é a base para que o sucesso das negociações de paz no Donbass possa ocorrer.
— — — — — — — — — — — — — — — —
Notas:
Verkhovna Rada (Верхо́вна Ра́да Украї́ни, em ucraniano) é o poder legislativo unicameral da Ucrânia, composto por 450 cadeiras parlamentares preenchidas através do sufrágio universal. Trata-se do único órgão legislativo nacional, situado na capital, Kiev.
** Os ou Protocolo de Minsk, como também são chamados, foram assinados por representantes da Ucrânia, Rússia, dos territórios ocupados de Donetsk e Lugansk para acabar com a guerra no Donbass, no leste da Ucrânia, em 5 de setembro de 2014. A sua assinatura foi realizada em Minsk, capital da Bielorrússia, sob supervisão da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE). No entanto, até o presente, as tentativas de cessar-fogo foram fracassadas.
*** A definição mais comum se refere às regiões de Donetsk e Lugansk, tradicionais áreas mineradoras, desde o século XIX, localizadas no leste do país, com alta concentração demográfica e industrial.
— — — — — — — — — — — — — — — —
Fontes das Imagens:
Imagem 2 Situação da Guerra no Donbass, em julho de 2016” ( Fonte): https://en.wikipedia.org/wiki/War_in_Donbass#/media/File:Map_of_the_war_in_Donbass.svg

Originally published at https://ceiri.news on April 30, 2019.

segunda-feira, abril 29, 2019

"Cursos Livres" não são submetidos à legislação do MEC

Fonte: O Globo

Bolsonaro divulga vídeo de aluna que filmou professora em aulahttps://oglobo.globo.com/sociedade/bolsonaro-divulga-video-de-aluna-que-filmou-professora-em-aula-23628113?utm_source=Twitter&utm_medium=Social&utm_campaign=compartilhar
Se se tratar de um curso privado, seja ele preparatório para vestibular ou concurso público, a denúncia da aluna deve se dirigir ao mercado e não a sua judicialização. Não há nada que o Ministério da Educação deva fazer, nem é esse seu papel. Se o atual ministro Abraham Weintraub for ingerir nisto será o equivalente ao ministro Sérgio Moro continuar julgando casos da Lavo-Jato.
Mas o mercado é mais eficaz e rápido do que a judicialização, ele é melhor. Basta que a direção do curso e seus mantenedores tomarem conhecimento de que isso trouxe repercussão negativa e talvez perda da clientela que rapidinho eles dão um jeito na professora-manipuladora.
Sobre a aula em si, é possível sim, perfeitamente ensinar e dar sua opinião sem deixar de ser justo, isto é, colocar outras visões em pauta para que os alunos possam refletir e quiçá, optar por sua visão própria ou até construir alguma a partir de um mix de opiniões. Por que não?
Mas o que ocorre não é isso, nós sabemos. Vira puro proselitismo político-ideológico em nome da mera da “liberdade de cátedra”. Claro que isso não é uma aula desejada por quem tem interesse em aprender alguma coisa para passar numa prova, mas cabe a esses alunos irem protestar diretamente com o coordenador e depois, rápido para não perder o calor do momento chamar atenção de seus superiores e donos da empresa.
Se queres mudar algo mesmo tens que ser “o chato”. Se ficar acomodado aí porque não queres ser mal visto, não reclame depois quando teus sucessores, herdeiros e filhos saírem por aí quebrando lojas, agências e queimando ônibus ou viaturas.
É aí que começa a loucura dos nossos tempos: em nossa omissão.
Anselmo Heidrich
29 abr. 19

Manipulação Explícita de Professor em Escola em Florianópolis





Publiquei uma crítica lá, é interessante que todos façamos a nossa:

Chega a ser grotesco, como um semi-analfabeto desses foi parar ali… pior que eu sei, mas não deixa de ser chocante. E malicioso, pra não se queimar inventou um critério de que para ser criminoso tem que lucrar um milhão por mês sabe-se lá como.
O caso foi no colégio ou foi no cursinho? Se foi no colégio, o professor está submetido a uma legislação educacional e tem que ser coerente com ela. Se ele quer tecer uma crítica ao capitalismo, que o faça com maestria, atitude relativa a um mestre e não com manipulação torpe que é o que faz mostrando uma montagem pobre e mal feita, utilizada como “obra de arte” algumas semanas atrás nas redes sociais.
Eu poderia facilmente quebrar o discurso manipulador dele apontando como a metade esquálida da foto, de um menino subnutrido pertence à regiões mundiais onde grassa a guerra civil, as quadrilhas que afrontam a ordem institucional e afastam investimentos, isto é, empresários, capitais, fatores de crescimento econômico, geração de renda, empregos e tributos que serão investidos na educação e no emprego. Eu poderia facilmente mostrar dados e discutir metodologias de pesquisas que os utilizam, sem que o referido professor, na verdade, um manipulador se utilizou.
Se vocês quiserem e aprovarem, eu proponho um debate. Ou façam algo melhor, demitam alguém que pode até ser admirado pelos alunos, mas que não cumpre seu papel de professor de verdade. Afinal, agradar não é o mesmo que ensinar. Muitos jovens adoram seus fornecedores de drogas e nem por isso, esses traficantes lhes oferecem a verdade dos efeitos colaterais dos momentos de prazer que irão ter.
Agora, se for um professor de “cursinho”, de pré-vestibular ou preparatório de concursos, a lei não se aplica, pois são “cursos livres”, não submetidos à legislação educcional. Aí a mera pressão mercadológica e denúncia faz com que a clientela rejeite este tipo de empresa que não se preocupa com a qualidade das aulas.

E vocês do Atitude, qual atitude tomarão? Deixarão passar em branco? Como dizem na internet, “o print é eterno”. Ou tomarão uma atitude correta e darão um ultimato a quem desmerece seu ofício?

Link para se manifestar: 


Anselmo Heidrich
29 abr. 19

quinta-feira, abril 25, 2019

Sequestro no Mar Vermelho é filmaço!


“Domine o medo, domine tudo.”
Filmaço, filmaço, filmaço.
Para quem gosta de filmes de guerra, com direito à batalha de tanques em meio à tempestade de areia em Djibouti. Uma equipe tenta salvar membro da embaixada sequestrada por terroristas fundamentalistas. Mas não é só isso, em que pese um certo estranhamento meu com a atuação dos atores, “meio rústica”, eu diria, o enredo é ótimo.
Uma coisa que me chamou muito a atenção: a jornalista que discorda de um capitão sobre a operação, querendo que se elimine (isto mesmo) o cabeça dos terroristas, a célula, o grupo todo é bem nacionalista. Aliás, o filme todo é bem nacionalista e deu pra perceber que este é o clima cultural, pelo menos do cinemão chinês, de afinação de acordes entre responsáveis pela Defesa – o Exército – e os produtores da Ideologia – a mídia. Bem, beeeeeemmmmmm diferente do que rola hoje nos EUA.
Mas a China chegou lá, não é só kung fu, aliás, nunca foi. O país tá fazendo cinemão!
Outras duas coisas que me chamaram atenção que, aliás, têm a mesma raiz, a jornalista questiona o capitão dizendo:
— E se uma ordem é errada?
— Eu assumo a responsabilidade — responde dignamente.
Mais a frente, ele se deixa seduzir por esta maneira de pensar e convoca os que restaram (morre quase todo mundo) e diz:
— Esta operação ainda não está autorizada — tipo, “quero saber se decidem ir comigo”, ao que todos colocam seus punhos juntos. Trata-se de capturar o “bolo amarelo”, um elemento radioativo que falta à fórmula para construir um artefato nuclear pelos terroristas.
Entonces, mi camaradas. Não tem jeito, parem com essa paranoia anti-chinesa, porque os caras vieram pra ficar. Aprenda a lidar com eles como, aliás, fez o Papa Pop Messi Francisco (veja vídeo do VisualPolitik com meu comentário no post abaixo).
Agora preparem-se, é selvageria mesmo. Os caras continuam lutando mesmo sem orelha ou braço. Isto chama a atenção também, toda guerra tem isso, claro, óbvio, mas o chinês, diferente do americano ou do europeu não tem “dedinhos” em apresentar a realidade crua. Por quê?
Duas filosofias constituíram o “Império do Meio”, como é chamada a China, o taoísmo, de Lao Tsé e o confucionismo. A primeira filosofia, não necessariamente nessa ordem, ensina o instintivo e primitivo e o confucionismo, a ordem. Em certo sentido, isto explica episódios sangrentos e extremamente violentos da história chinesa que entremeiam a ordem e aparente passividade daquela sociedade milenar. Os dois extremos conviveram neste império e quando a revolução comunista ocorreu, foi uma vitória desse instinto primal contra a ordem dos burocratas mandarins, cultos, professores (esta, uma classe odiada por Mao Tsé-Tung). Mais tarde, quando a sociedade estabiliza, sobrevém novamente o espírito ordeiro e regulador. Estes dois extremos são claramente percebidos no filme, que parece caricatural, exagerado, mas acho que não é isso e sim um auto-retrato da sociedade chinesa.
Agora, vamos para nós…
Caro socialista, os chineses estão fazendo que raios no Mar Vermelho? Trata-se de uma rota importante com passagem em um estreito — Bab-el-Mandeb — onde sobra atividade de pirataria. Aliás, o filme começa com um combate aos piratas, fantástico diga-se de passagem e deixa os filmes de Stallone no chinelo. Entonces, mi camarada, a China não tem nada de “promover a igualdade”, é capitalista mesmo, mas sob orientação do estado, o que chamamos de “mercantilista”, como eram as nações europeias na época colonial.
Caro liberal, por mais que você odeie o estado, esse mundo não foi feito para Pollyanas como você, sem a defesa de exércitos, teu livre-comércio vai ser “livre” só onde nenhuma força tem interesse. Talvez em alguns inlandsis por aí. Aprenda a desejar e operar por um estado limitado, mas a ausência da força especializada só te tornará aquele velhinho que não sabe argumentar sem o pronome “SE”.
Caro conservador, deixe de ser tonto, a China é conservadora, e não existe só o conservadorismo cristão. Atente para isso.
Caro democrata, torço para que um dia a democracia seja abraçada pelo governo chinês, mas isto só vai funcionar naquele gigante quando houver uma descentralização de poder, territorialmente falando. E para tanto, temos que ter mais pólos econômicos longe do litoral e de Pequim. Isto fragmentará as elites tornando a democracia viável. Antes disso, a concentração política refletirá o que já acontece territorialmente em termos econômicos. Lento e gradual, lembre-se.
Como eu disse, filmaço. Pode assistir:
AH! QUASE ÍA ME ESQUECENDO! O filme termina, belíssimo, com honrarias em um navio de guerra aos heróis mortos em combate (conseguiram eliminar o religioso terrorista) e com uma frota de navios de guerra no Mar da China Meridional avisando outras embarcações para caírem fora (não necessariamente piratas, pois a região é alvo de disputas entre países devido aos recursos petrolíferos, entre outros). Indireta mais direta impossível, a China está até construindo ilhas artificiais para garantir a posse dessa região contra a Indonésia, a Malásia, a Tailândia, as Filipinas e, claro, os EUA.
Sinófobos, tremei! Olavettes, borrai nas carça!
Anselmo Heidrich
25 abr. 19

terça-feira, abril 23, 2019

Segundo turno das eleições ucranianas confirma vitória de Zelenski


O segundo turno das eleições ucranianas está confirmando a vitória de Vladimir Zelenski. Pesquisa de boca de urna aponta 73% dos votos para este candidato, enquanto que seu rival, Petro Poroshenko, ficou para trás, com apenas 25%. Com uma taxa de comparecimento nas urnas de mais de 45% dos eleitores, o segundo turno das eleições apontou que o povo ucraniano decidiu ter como Presidente do país alguém com disposição de dialogar com Moscou, pondo fim à guerra de Donbass*, sem abandonar os projetos de integração com o Ocidente.
No debate da última sexta-feira, dia 19 de abril, no estádio Olympiyskiy, em Kiev, com capacidade para 70.000 pessoas, mas com apenas 22.000 presentes, a maioria favorável ao atual Presidente não intimidou Zelenski, que se comportou como showman. Poroshenko levou até banda de rock em seu momento de apresentar-se, mas frases de impacto como “eu não sou seu oponente, sou sua sentença!”, proferidas a ele por seu rival agora vitorioso, além de gestos por parte deste, como ajoelhar-se diante da multidão e dizer que estava ansioso por fazer o mesmo para as mães que perderam seus filhos no conflito do Leste, revelaram um homem que sabe teatralizar no jogo político.
O ponto forte da campanha de Zelenski, feita basicamente em redes sociais, é a imagem de um candidato “ independente”, um outsider, que “ não é um político”, como gosta de afirmar. Mas em que pese isto ser verdadeiro, as ligações políticas não são eliminadas e elas apontam para um caminho tradicional da política ucraniana. O Relatório investigativo do site Bihus.info aponta para conexões com quatro grupos que coordenaram sua campanha:
  • “Tio”, grupo do magnata Ihor Kolomoisky e dono do canal “1 + 1”, que veiculava a série “Servo do Povo”, em que Zelenski representava a principal personagem antes de entrar para a política;
  • “Lower”, o segundo grupo formado por uma equipe de advogados para aconselhamento legal e financeiro, mas cujo líder, o advogado Sergei Nizhny, é proprietário de um dos apartamentos que pertencera ao deputado e associado do Ministro do Interior, Anton Gerashchenko, que apoiou abertamente Zelenski;
  • “Regiões”, o terceiro grupo, que é coordenado por Ilya Pavlyuk, cuja função é a coordenação de finanças dos representantes regionais, mas com menções na mídia que se referem ao período de atividade de Viktor Yanukovich (o Presidente foragido após as manifestações de 2014). Na época, Pavlyuk era mencionado por “intermediário alfandegário”, ou “desalfandegamento”, ou, mais precisamente, como “rei do contrabando”;
  • “Quarter”, é o quarto grupo, cujos coordenadores são os parceiros comerciais de Zelenski na indústria cinematográfica, os irmãos Sergei e Boris Shefiry.
Nenhuma dessas equipes ou membros foram publicamente anunciados como representantes da equipe de campanha política de Zelenski e só vieram a público através de investigação jornalística. Ressalte-se, também, que parte do mérito desta eleição não se deve exclusivamente ao novato e sua capacidade de articulação política, mas ao próprio presidente Poroshenko que, apesar de ter fortalecido o Exército, fracassou no cumprimento de promessas de campanha, como modernizar a economia e combater a corrupção (sempre lembradas por Zelenski), o que tornou a sua reeleição muito difícil.
Enfim, em uma nação desgastada por um conflito interno com milhares de mortos e falta de perspectivas com a economia assolada por acusações de graves casos de corrupção, envolvendo até mesmo o setor de Defesa, a eleição de Vladimir Zelenski mostrou-se como sendo mais que um voto de protesto, possivelmente uma aposta em alguém capaz de dialogar com dois polos de poder político que interferem diretamente na vida ucraniana, casos da Rússia e da União Europeia.
 — — — — — — — — — — — — — — — — 
Nota:
é uma região geográfica, histórica e cultural no leste da Ucrânia, posicionada geograficamente ao sudoeste da Rússia. É uma rica área mineradora e industrial cortada pelo curso do rio Donets. A região de Donbass envolve três óblasts (províncias) da Ucrânia: Dnipropetrovsk (em torno da cidade de Pavlohrad); a parte meridional de Lugansk; e, na oblast de Donetsk, ocupa a parte norte e central. Nesta área desenvolveu-se de forma intensa e violenta a revolta separatista no país.
 — — — — — — — — — — — — — — — — 
Fontes das Imagens:
Imagem 1 Vladimir Zelenski em 31 de março de 2019” (Fonte): https://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Volodymyr_Zelensky_in_March_31,2019(I).png
Imagem 2 Mapa de Donbass, no leste da Ucrânia” (Fonte): https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Map_of_the_Donbass.png

Originally published at https://ceiri.news on April 23, 2019.

sábado, abril 20, 2019

A Páscoa e seus Significados


Go to the profile of Anselmo Heidrich

Qual é a tua verdade? Nenhuma. Ninguém tem a sua verdade, ela é uma só.
Não confunda verdade com opinião. Mesmo que tenhamos conhecimento temporário sobre algo, um fato e a explicação deste são objetivos.
É fácil perceber como nos traímos, porque somos escravos de nossos desejos. Quantos não afirmam que a liberação das drogas não deu certo no Uruguai porque a taxa de crimes aumentou, mas ela diminuiu em Portugal. Ora, se aumenta em um país e diminuiu em outro parece evidente que a causa determinante não é a liberação da droga, as o ambiente em que o experimento foi feito.
Cidades europeias têm parques e nesses espaços, geralmente, há espaço para viciados se matarem aos poucos. Embora os países platinos como o Uruguai tenham espaços públicos semelhantes aos europeus, não se pode dizer o mesmo do comportamento nesses espaços públicos. Querer, p.ex., dizer que na Holanda “deu certo a liberação” é esquecer que se fuma maconha, mas nos cafés apropriados. Algo diferente de fumar enquanto dirige seu Uber, certo?
A seleção de dados que nos é conveniente e o método que nos favoreça em nossas crenças é regra geral para os seres humanos que se acham inteligentes porque não assumem a fragilidade de seu raciocínio.
Basicamente deve funcionar assim: quanto mais eu creio em algo, mais tenho que testá-lo. Quem o faz pra valer?
Socialistas latino-americanos são bons em dizer que “o socialismo deu certo porque a social-democracia é o melhor sistema e os europeus não querem destruí-lo”, mas esquecem de dizer que “socialistas” lá não são defensores do “socialismo” como tal apregoado por Karl Marx e sim um sistema que visa tributar o capitalismo para garantir benefícios sociais ao invés de constituir um estágio pós-revolucionário.
Mas se você acha que a ignorância é exclusiva do socialista se engana, os liberais também são patéticos quando falam de “social-democracia”. Primeiramente, isto é mais um rótulo que qualquer outra coisa. Basta uma pequena leitura de fontes originais para ver que as tais “social-democracias europeias” são muito mais liberais economicamente do que as sociedades latino-americanas.
Se for manter benefícios aos militares, isso é votado na Suíça; se for criar um sistema público de saúde ou apenas expandi-lo, isso pode ser negado através de plebiscito na mesma Suíça; se for definir o que será gasto no orçamento municipal (eu disse municipal e não, nacional), isto será votado na Suécia ou outro país com organização similar. Esse negócio de “orçamento vinculado” não é praxe e o que é corriqueiro hoje pode não mais exister amanhã. Enquanto isso, liberais tupiniquins desinformados que são acham que a social-democracia é uma forma de socialismo amainado. E pior, no maior contrasenso dizem que só têm riqueza porque antes foram mais liberais e conseguiram acumular capital. Ou seja, se comportam como aquele sujeito que acha que a riqueza é estática e quem hoje é rico só o é porque seus antepassados acumularam, como se estes patrimônios não fossem facilmente dizimados no nosso mundo de hoje.
São os mesmos desinformados que acham que estados mais conservadores como o Texas tiveram mais governadores Republicanos em sua história, enquanto que foi exatamente o contrário: os Democratas predominaram. E de longe…
Como eu dizia, cada um escolhe o que lhe convém. Outro dia, um sujeito arrogante escreveu no seu story — do Facebook — que “a mídia errou flagratemente todas suas previsões de poucos anos atrás”, no que ele se referia a alterações climáticas. Começou errado ao citar “a mídia”. Qual delas? Que periódico, quando? Não há “a mídia”, mas “mídias” e elas variam — e não é pouco — ao longo do tempo.
Questionei que o buraco na camada de ozônio contribuísse com o aquecimento global. Essa hipótese não é consensual entre cientistas da área, mesmo porque o primeiro facilita a entrada de um tipo de radiação na atmosfera que não provoca o “efeito estufa” (aquecimento necessário feito com outro tipo de radiação).
Por que a insistência? Devido a uma matéria sensacionalista e este foi o dado — que chamo de “fato” — no qual se baseou para desautorizar uma “previsão”, o que chamaríamos hoje de “fakenews”.
Fakenews são, na verdade, bem old. A diferença é a amplificação das redes sociais hoje em dia, mas inventar e/ou condicionar visões de mundo ou a simples manipulação são tão velhas quanto a escrita.
Cada um acredita no que quer e chama a isso de “minha verdade”. É tua ignorância, na verdade.
Tenho algumas frases preferidas e duas delas se relacionam a este tema. A primeira, de Nietzsche que diz:
“Quanto ousa, quanto suporta um espírito.”
E a outra do maior gênio em humanidades que já li, Max Weber, bem na mesma linha:
“Faço ciência para saber quanto posso suportar.”
Que é o que eu dizia lá no início, se crês, confrontes sem cessar. Esse é o princípio de validação o falseamento de uma teoria para verificar sua força e resistência.
Já começou a Páscoa, data comemorativa da Ressurreição de Cristo. Cara… Nessas datas, a sensibilidade dos fiéis está a flor da pele, então fica fácil expiar os males do mundo procurando culpados e nós, ateus somos a bola da vez.
Deixe-me dizer, quando os soviéticos ou maoístas mataram dezenas de milhões, não o fizeram por serem ateus, mas por serem genocidas. Analogamente, da mesmíssima forma, o longo histórico de matança que se fez em nome de deus ou de uma religião não ocorreu por um conceito metafísico de um ente superior e criador, mas por comportamento apreendido e estrutura tribal em que se persegue e mata o que teme. Humanos, somente isto. E para dar uma invertida lógica final, da mesma forma que a imensa maioria de religiosos não sai por aí assassinando hereges, os ateus também não o fazem com crentes. Mas eu sei como dá vontade de explicar o mundo em termos simplistas e querer voltar ao passado, não é?


Na 1ª imagem abaixo fica patente que a admiração pelo comunismo das novas gerações não passa de uma busca por mitos, que quanto mais distantes da realidade e dos fatos, mais fácil se torna a adoração. Neste caso, qual a diferença do conceito abstrato de comunismo ou de deus? Forte, não? Te machuquei mesmo? Mas a força da tua fé não é suficiente para te blindar desses meus ataques infantis? Deixe estar, deixe sangrar.
Analogamente, quando um conservador americano criado com Kellogg’s e Donuts enaltece uma América perdida nos anos 50, ele esquece que eram anos de medo do comunismo para depois, nos 60 e 70 ser do holocausto nuclear e da superpopulação e nos 80 e 90, das mudanças climáticas, do envelhecimento populacional, das epidemias, vírus e migrações.
Toda época tem seus fantasmas, por isso precisamos de religiões, deuses e muito Prozac. Mas como já disse o Pirula e Jordan Peterson concordaria com ele baseado em Dostoiévski, ateus é que são a anomalia. Correto. Analogamente… Países prósperos também. Então, curta tua páscoa. Se empanturre com o chocolate, reflita, mas não venha me dizer que “os ateus são responsáveis por isso e aquilo”.
Se quiser fatos, eu os tenho também, nas transformações do leste europeu, dissoluções de estados, guerras civis, como na Iugoslávia com três religiões dividindo o país, um outro, mais ao norte se separou como um casal de velhos amigos, a Tchecoslováquia. Outro dado é o que o índice ateísmo também era o maior da região (2ª figura).


Não sou tolo para querer que a humanidade perca a fé em uma vida no além. Eu mesmo espero que haja alguma coisa, mas não faço disso um cavalo de batalha para discriminar quem diverge de mim, seja por um conceito metafísico, muleta filosófica ou time do coração. Já discuti muito sobre “qual era a melhor banda” na minha adolescência e acho que não quero reviver aquele clima.
Por que atacar os fiéis numa data tão sagrada? Justamente por isso, para mostrar que se se leva a sério as tais lições, tem que me aceitar. Afinal, por que faz tanto sentido defender um humorista e sua liberdade de expressão contra uma sentença injusta de seis meses de detenção e não a liberdade de expressão de um ateu? Que duplicidade ética é esta?
Mas apesar disso tudo, eu desejo uma boa Páscoa a todos, por ser um dia que prezam e nos toca pelos nossos entes queridos, de carne, osso, sangue, sais minerais e consciências ou como preferem chamar, vá lá… “Espíritos.”
Pode parecer coisa de um velho amargo, mas eu já era assim quando jovem. Apenas estou conservado.


Feliz Páscoa!
Anselmo Heidrich
21 abr. 19

Debate na TV pode influenciar as eleições na Ucrânia

Go to the profile of Anselmo Heidrich
No dia 19 de abril de 2019, próxima sexta-feira, haverá o debate presidencial entre Vladimir Zelenski e Petro Poroshenko, no estádio Olímpico, em Kiev, com capacidade para 70.000 pessoas, dois dias antes do segundo turno das eleições que ocorrerá no dia 21 de abril. Em tom jocoso, o candidato e comediante Zelenski propôs que fosse feito exame antidoping para provar que o futuro presidente da Ucrânia “ não será um alcoólatra nem um viciado em drogas”, além de que Yulia Tymoshenko, ex-Primeira-Ministra e candidata colocada em terceiro lugar no primeiro turno, fosse a mediadora. Poroshenko aceitou o desafio do que será o segundo debate da TV ucraniana. O primeiro ocorreu em 2004, entre Viktor Yushchenko (ex-Presidente que fora envenenado com poderosa toxina durante a campanha) e Viktor Yanukovich (ex-Presidente que abandonou o cargo após a onda de protestos conhecida como Euromaidán, em 2014).
Segundo o Instituto de Sociologia de Kiev, 74% da população utiliza a TV como principal meio de informação. Mas, de acordo com o Instituto Ucraniano para o Futuro, 76% da programação televisiva no país é controlada por quatro oligarcas: Victor Pinchuk, Rinat Akhmetov, Dmytro Firtash e Ihor Kolomoisky. Este último é conhecido por suas ligações com Zelenski, acerca das quais seu rival, Poroshenko, faz acusação de que o candidato é um mero fantoche do bilionário.
Basicamente, a TV na Ucrânia se divide claramente entre os canais favoráveis ao presidente Petro Poroshenko, os contrários a ele e os neutros. Na primeira categoria temos o TRK Ukraine, de Akhmetov; o Inter, de Firtash, que é um dos canais mais assistidos no país; além do Canal 5, de propriedade do próprio Poroshenko. Outros como o ZIK veiculam notícias com as versões de aliados de Poroshenko e o Pryamii, que elogia o Presidente e critica com veemência seus adversários, além de mais outros, como o Canal 112 e o NewsOne, que também entram nesta lista. Como oposição ao governo há o “ 1 + 1”, de Ihor Kolomoisky, que apoia Zelenski, o 24 e a TV Nash, pró-russa. Canais como o ICTVNovyi Kanal e STB têm uma abordagem bastante neutra, abrindo espaço para todos os candidatos.
Na sociedade emerge a questão de saber quem se sairá melhor no segundo turno, se será o ator, conhecido das telas, ou o dono de um canal de mídia com apoio de vários outros canais. O presidente Poroshenko tem conquistas como ter estabilizado a economia e racionalizado a distribuição de gás. Pesquisa realizada em sites como o Foreign Affairs e o Atlantic Councilmostram que ele tem a simpatia e apoio ocidentais. Ressalte-se que ele é o candidato pró-Ocidente, leia-se União Europeia e OTAN, mas cujo governo é acusado de incompetência na execução das reformas propostas e no combate à corrupção. Por outro, apesar de ter vários canais ao seu lado, Poroshenko não tem o mesmo apelo midiático de seu rival.
O candidato melhor colocado no primeiro turno das eleições ucranianas em 31 de março, com 30% dos votos, foi Vladimir Zelenski que não é um político conhecido, tampouco experiente, mas um ator que se notabilizou no seu país pela série “O Servo do Povo”. Nela, o candidato interpretava um professor, “ Vasyl Petrovych Holoborodko”, que, indignado com a corrupção em seu país, se lança à disputa para a Presidência, sendo bem-sucedido. Zelenski defende a ideia de plebiscitos, não tem histórico de rusgas com o presidente russo Vladimir Putin, fala fluentemente o russo e busca integração com o Leste. Por isso, ele se torna o candidato favorito do Kremlin.
Com apenas 18% dos votos no primeiro turno, acredita-se Poroshenko não perderia em participar do debate a dois dias do final da eleição, quando se adentra no estágio em que as ações caem na condição de valer tudo ou nada. No caso da exposição pública de Zelenski, esta daria aos eleitores a chance de conhecer, de fato, o homem atrás da personagem.
— — — — — — — — — — — — — — — —
Fontes das Imagens:
Imagem 1 Logo do Canal 5de propriedade de Petro Poroshenko” ( Fonte): https://commons.wikimedia.org/wiki/Category:5_Kanal_(Ukraine)
Imagem 2 Logo do Canal 1 + 1, de propriedade de Ihor Kolomoisky” ( Fonte): https://commons.wikimedia.org/wiki/File:1%2B1logo.png

Originally published at https://ceiri.news on April 16, 2019.