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segunda-feira, dezembro 30, 2019

Pense bem antes de responder


Há quatro anos atrás…
Contar um causo de tresontonti pr’ocês.
Estava na farmácia com meu filho (3,5 anos) e ao me dirigir ao caixa ele me pergunta:
— Papai, o que é isso?
Bem em frente a ele, na altura de seu rosto, várias camisinhas, embalagens coloridas etc.
— Ah… isso é pra dar segurança quando for namorar.
O guri me olhou como sem entender nada. Meu papo não tinha pé nem cabeça. Só que eu não desisto fácil…
— Isso é pra não nascer ninguém e não ficar doente. Pegar vírus ou ter nenem.
A essa altura não era só ele que me olhava como se eu fosse um ET tentando cantar em russo, o atendente do caixa já apertava o lábio segurando uma risada.
Às vezes a sabedoria manda recolher o time e tentar uma outra vez, mas a situação já tinha virado uma questão de honra para mim.
— Ah… É tipo uma luva de boxe, tu põe no xixi para dar soco…
Eu deveria ter calado minha boca. Ele me olhava como se eu estivesse drogado. Apareceu uma mulher do nada também se segurando pra não rir e o atendente, provavelmente com pena de mim dizia “é… dá, tipo uns socos mesmo”.
Bem… conclusão da história:
1) Se eu fosse um estatista baixaria um decreto proibindo a exposição de camisinhas a menos de 1 metro do piso;
2) Como eu sou um liberal fui pra casa pensando em estudar uma forma de explicar o assunto pro garoto.
Mas por ora, FELIZ ANO NOVO PRA VOCÊS!
Anselmo Heidrich
31 dez. 19

Imagem Condoms (fonte): http://pngimg.com/download/45244

domingo, dezembro 29, 2019

Faça sexo, não faça guerra


Por que sexo e comércio têm um papel preponderante na paz entre as nações? Por que ambos, sexo e comércio, são mais relevantes do que o que chamamos de ‘amor’? E, finalmente, por que o sexo pode ser subversivo e construir novas identidades que confrontam o instinto tribal que leva aos conflitos?

Parece palhaçada, mas acredito mesmo nisso… É comum ouvir “faça amor, não faça guerra”, pois bem, amor tem um sentido muito vago, ainda mais hoje em dia. Já, se substituirmos por outros termos, como sexo ou comércio, todos saberemos exatamente do que se trata e não por acaso, eu acredito que estas duas atividades, amor e sexo é que evitam mesmo a guerra.
Sabe aquela história de que países democráticos não entram tanto em guerra quanto não democráticos (o que é verdade), mas o fato é que são democráticos porque são mais livres econômica e socialmente (imprensa, religião etc.) e, consequentemente, se tornam democráticos porque este regime permite lidar melhor com os dissensos políticos. A democracia, assim como a paz não é a causa, mas uma das consequências de uma estrutura econômica que permite menor dependência de um poder autocrático.
Fica fácil entender porque mais comércio leva a menos guerras, mas e o sexo?
Há quase quarenta anos atrás, quando eu estudava em uma escola na Av. Alberto Bins, em Porto Alegre, tive um amigo de ascendência árabe, o que pouco me importava, pois eu não estava nem aí para esse tipo de identidade étnica. Minhas preocupações com meus 15 anos se resumiam à garotas e música, rock’n’roll para ser mais exato. Era, basicamente, só o que eu tinha na cabeça. Bem… Na verdade, não só isso, já começava minhas divagações com livros como o de George Woodcock, Os Grandes Escritos Anarquistas, mas era algo muito abstrato para me preocupar com a política internacional e seus reflexos na capital gaúcha.
Meu amigo, que vou chamar de Rahid, para proteger seu nome verdadeiro e me livrar de um processo, caso ele não tenha amadurecido porra nenhuma nesses anos todos, era um entusiasta da causa pan-árabe e como tal, um ferrenho anti-semita. Não era só anti-sionista não (anti-Israel), mas odiava judeus ou, ao menos, dizia que odiava…
Com o tempo fui começando a sacar que havia outros ‘envolvidos’ em causas distintas na minha turma e, dentre eles, garotos judeus bem conscientes da sua situação. Havia muitas garotas e não vou me alongar em detalhes aqui para não dar uma de Bukowski, mas eis que chega na nossa turma uma aluninha transferida. Em seu peito, diferente de um crucifixo como muitos portavam, uma bela Estrela de Davi. Óbvio que Rahid começou a resmungar e fingir raiva.
Só que enquanto a doutrinação que lhe foi impingida se reproduzia pela sua língua, muito provavelmente, seus hormônios não ligavam para aquela bobajada. A gurizada logo sacou que ali estava uma espécime que ultrapassava qualquer limite fronteiriço territorial ou mental, uma guria, quase mulher e, como eu disse, não vou dar uma de Bukowski, mas… Seu cabelo castanho claro caindo nos ombros, sardinhas e corpo esguio afetavam Rahid mais do que qualquer um. Porque nós só víamos uma garota e ele não conseguia ver nela só um inimigo, ele estava seduzido por ela.
Aquilo se tornava uma obsessão doentia, não aguentava mais ver o cara só falar da menina. Puxávamos conversa sobre qualquer coisa, futebol, festas, drogas, bebidas, música, até AULAS, mas não queríamos mais vê-lo falar mal de uma guria que não saía da mente dele.
Outro dia, ele e seu grupo, pelo que entendi, seu pai estava envolvido, colaram cartazes da OLP (Organização de Libertação da Palestina) pela cidade. Melhor, por parte dela, no Centro e no chamado Bonfim, bairro boêmio com concentração judaica. Não deu um dia e os cartazes deles foram cobertos com outros denunciando o que era e o que fazia a OLP. Ele ficou puto.
Gostava de ostentar um medalhão, sim, já não era anos 70, mas ele usava um medalhão com a efígie de Muamar Kadafi, ex-Primeiro Ministro Líbio, na verdade um ditador financiador do terrorismo internacional. E como tal, os judeus da turma olhavam discretamente para ele e riam, inclusive a ninfeta da qual falei. Mas o tempo passa… E numa dessas, eles caíram em um grupo de trabalho juntos. Eh eh, a biologia venceu e os dois “ficaram juntos”.
Bem, por que não dá para fazer mais desses encontros? Bem que a ONU podia organizar algum encontro às escuras em zona fronteiriça etc. e tal, mas não dá por isso, por esse apartamento territorial. Sei que isso parece brincar com coisa séria, mas o problema ali é mais behaviorista que religioso de verdade. Se formos puxar lá detrás quem tem razão, ela, a Razão vai mudar de lado conforme a perspectiva histórica. Só sei que não dá para apagar a vida e suas possibilidades porque nos cegamos a essas circunstâncias.
Queria, a essa altura do campeonato encontrar o tal Rahid e tomar uma cerveja com o cara rindo disso tudo e de outras coisas, mas como não dá, só sobra um desejo de que tenham fornicado o suficiente para abafar os estampidos de bomba em suas mentes.
Quando você estiver ouvindo os estouros dos rojões no Ano Novo lembre-se que eles podem ser substituídos por gemidos frêmitos de luxúria. E os mísseis e crateras abertas substituídos por… Bem, vocês sabem o quê.
Boa noite e Breve Feliz Ano Novo,
Anselmo Heidrich
29 dez. 19

Imagem “Slightly Feminine” (fonte): https://www.flickr.com/photos/21935306@N08/2734821900

Porque Feliz Ano Novo



Nove anos atrás topei com um sueco maluco que me disse tanta asneira que só um litro de Coca-Cola foi capaz de me trazer à Razão. Dois dias antes do Natal desejei a todos felicidades, inclusive aos malucos. Hoje, com outra tropa de doidos rondando as pessoas mentalmente sãs, eu vos desejo um Feliz Ano Novo.
Anselmo Heidrich
29 dez. 19


Porque Feliz Natal

Hoje foi um dia de cão. Comprei 3m3 de brita para preencher espaços com terra no pátio e passagens. São ótimas para drenagem e… Gosto do barulhinho que fazem. Mas, o caminhão não pôde entrar no terreno e deixou a carga junto ao portão. Quando vi o que teria que carregar para dentro de casa com um carrinho de mão, pude sentir a plenitude da palavra arrependimento. O que que eu fui fazer… Não imaginava como é difícil manter uma vida com certa autonomia. Seria tão mais fácil contratar um pessoal melhor preparado por 50 pila para dar conta do recado. Como o tempo nublado convidava a um esforço, agi sem pensar e comecei a usar a pá.
Quem passava ao lado ou de longe de carro dizia “vai emagrecer, meu!” ao que respondia “é… to precisando.” E eis que surge, de bicicleta e capacete meu vizinho sueco, jazzista, saxofonista coisa e tal. Um cara descolado, como se diz por aí, que resolveu abandonar o estilo de vida do 1º Mundo para se aproximar da Natureza. Vendo-me naquela situação e, vai saber por que, simpatizou comigo e deu uma paradinha para uma prosa. Paradinha essa que estragaria o seu dia. Acometido pelo espírito natalino, distribuí algumas pedras nos buracos da rua.
— Se a prefeitura, ao menos aplainasse a rua, me disse.
— Só que daí teria um custo muito grande para fazer com todas, redargüi.
— A solução então é fazer uma ravina para drenagem, com a rua côncava.
— Olha, se for para resolver mesmo, calçamento com lajota então, mas já daria para fazer os canais laterais fixando grama nas suas paredes, evitando com isso a erosão precoce para que não se formassem voçorocas.
O papo ameno ia neste sentido, mas me enfadei e, numa leve mudança temática perguntei-lhe o que está por trás da acusação de assédio sexual de Julian Assange? Refiro-me ao mantenedor do site Wikileaks, que alega deter 250.000 arquivos do Deptº de Estado americano.
— Nem entro no mérito de se foi ou não pedofilia, mas por que foi acusado justo agora?
Meu interesse era entender alguma ligação entre o governo sueco com o exterior, de que forma, o que dizem etc. Por meu vizinho ser sueco imaginei que tivesse uma análise. Uma análise, não uma teoria da conspiração como o que viria a ouvir:
— Isso veio de cima… Julian Assange é gay assumido desde os 15 anos… As meninas que tiveram caso com ele se vangloriam do fato em seus blogs, etc. etc.
Até aí tudo bem, mas…
— George Soros está por trás disso.
— Por quê? 
Perguntei. Não houve resposta coerente e inteligível. Bem, na verdade houve uma hipótese com lógica para quem for bastante tolerante com a falta de fatos que a sustentem ou, em outras palavras, verossímil para aqueles que crêem em duendes: “eles querem controlar a internet!” Em primeiro lugar, “eles” quem? E como controlar a internet se o procedimento é, justamente, descontrolando-a? Sabe… Se fala tanto em legalizar as drogas… Para quê? A troco de que se muita gente hoje em dia já apresenta os sintomas sem usufruir delas?
Tentei dizer que havia informações importantes que tornariam a política externa mais realista, embora muito do que foi divulgado já se presumia como o desejo saudita de que o Irã seja atacado ou a opinião da cúpula petista sobre as Farc etc. A conversa involuiu a passos largos, embora eu estivesse me recuperando de horas a fio carregando brita. Tentei, em vão, demonstrar a ilogicidade de seu argumento ao que meu oponente replicou “o problema é o capitalismo, esse sistema que esgota os recursos” e “que essa guerra ao terror é que é um absurdo”. Disse-lhe que estava confundindo os temas ao falar de capitalismo quando se trata de decisões políticas e que se a guerra ao terror é controversa, o combate ao terror me parece totalmente legítimo. Veja o caso do muçulmano que estudou na Inglaterra, mas que tentou detonar duas bombas na Suécia, país que tinha endereço e trabalho. Fui rechaçado como preconceituoso, que os árabes são vítimas da pior entidade terrorista, o Estado de Israel e nem quis saber se o caso nada tinha a ver com a situação do Oriente Médio.
Ficava cada vez mais difícil argumentar, ainda mais quando não se considera a complexidade da história e que, tratar genericamente os árabes como terroristas é tão equivocado quanto o que ele pensava sobre Israel. O mesmo mecanismo mental levava a suas conclusões sobre a economia de mercado confundindo-a com o mercantilismo e o conluio do estado a grupos empresariais privilegiados. Perguntei então por que não se mudava para Cuba? Ficou indignado e me disse nervoso que eu tinha que dar a graças a deus por não ter nascido no Iraque. Foi embora pedalando instável sobre as minhas britas aliadas.
Eu nunca pensei que fosse trabalhar com um sorriso sádico sob um Sol que me tostava de modo inclemente e o cabo da pá tirando a pele de meu polegar. Dei um tempo e entrei em casa em busca do Merthiolate, que os médicos atuais desautorizam taxando-o de inócuo. Nesta situação, não adianta, sou tradicionalista “o que arde cura, o que aperta segura” dizia minha avó e assim continuei com mais dois band-aids. Uma caneca térmica da Starbucks, empresa global do capitalismo que esgota os recursos naturais saciou minha sede várias vezes antes do ciclista jazista cool voltar bufando menos.
— Olha, por que o cimento brasileiro é tão caro? Por que tu achas que o monopólio disto no Brasil tem seu maior proprietário sempre ao lado de qualquer governante, seja qual for? Isto não é mercado livre, se importar cimento, até o IBAMA inventa que a carga está contaminada até que endureça e te leve a falência.
— É, mas a Coca-Cola acaba com a água, o capitalismo é isso, não deixa esta situação ideal surgir, replicou.
— Mas, a maior contaminação não vem da agricultura? Coma menos, então. Estas conspirações que alegas, são tantas que não dominam, se anulam. Há uma competição sim, mas política, opaca.
Em vão, tentei explicar que o problema está na falta de lisura de procedimentos governamentais e dificuldades impostas por agências de estado. Que sou favorável a imigração generalizada, disse, mas não admito que quem quer que venha de um país com costumes totalmente diversos tente impor sua cultura a quem os recebeu. Este é o ponto.
— Tu estudou física básica? Como prédios gigantescos ruíram? Não pode… Se referindo ao 11 de Setembro.
Daí, chutei o balde, já que o carrinho de mão estava cheio de brita:
— Isto não passa de uma busca obstinada por um culpado majoritário que expie todos nossos males. É coisa de religioso travestido de investigador, quem vai se auto-destruir para combater o terrorismo? Assim como quem vai liberar informações via internet para acabar com a liberdade na rede global? Não passa de teoria da conspiração sem nenhuma base factual e… Onde compraste este capacete?
— Não sei, não me lembro.
— Pois então, onde foi feito?
— Acho que na China.
— E qual o sistema que o produziu?
— Plástico.
— Não! O sistema econômico?
Com um ar de indignação tardia respondeu atônito “o capitalismo”.
— Pois então…
Não se dando por vencido finalizou “eu não tomo Coca-Cola, aquela porcaria (…) ter é algo efêmero, o que importa é o ser.” A bicicleta voltou a rodar trêmula e se foi.
Agora eu estava com sede, entrei em casa e peguei a garrafa pet de Coca-Cola do congelador e me servi um copo tão gelado que amorteceu a testa. Sensação que tive pela 2ª vez na vida, cuja lembrança da 1ª me persegue desde que tomei meu primeiro milk-shake no Rib’s em Porto Alegre. 
Efêmera, efêmera foi minha sede, que acabava de ser saciada com o líquido negro do imperialismo. Saúde!
Nisto passa um gaúcho velho que doma cavalos para passeios no verão:
— Ulha! E aí! Fazendo uma forcinha nesse mormaço?!
— Isso, ta de matar…
Povo não odeia o capitalismo, vive a vida. Quem odeia é a elite privilegiada que se entrega aos prazeres superiores da arte e um cotidiano sem Coca-Cola, nem celebram o Natal porque é contra o consumismo.
Percebi que ter não é grande coisa mesmo. Com o sax meu vizinho entoa odes para os cárceres dos quais refugiados atravessam mares em jangadas improvisadas em busca da liberdade. A liberdade também pode ser efêmera, tal qual um copo de refrigerante e um dia que ocorre só uma vez no ano, mas sua busca não, esta é eterna mesmo.
Qualquer semelhança com a realidade não passa de mera coincidência. Portanto, uma feliz coincidência e um Feliz Natal para todos vocês. Um abraço.