Precisamos é de uma guerra aos clichês sobre a guerra às drogas,
isto sim.
Sobre: Se esses 4 motivos não te convencerem quão estúpida é
a guerra às drogas, nada mais irá - http://spotniks.com/guerra-as-drogas/
Vamos
aos detalhes, que são eles que importam:
"1)
A GUERRA ÀS DROGAS É A PRINCIPAL RESPONSÁVEL POR CRIAR AS SUBSTÂNCIAS MAIS
PERIGOSAS DE NOSSO TEMPO."
-- A
proibição piora a qualidade do produto ofertado porque ele não é fiscalizado?
Tem lógica, realmente, mas a legalização sem fiscalização, i.e., sem nova
intervenção estatal também pode levar à oferta de produtos perigosos, uma vez
que basta reduzir custos para aumentar lucros de qualquer maneira. Portanto, a
mera liberalização também é danosa.
Agora,
se viessem me falar em LIBERALIZAÇÃO CONDICIONAL ou PROIBIÇÃO CONDICIONAL, daí
sim a conversa muda e amadurecemos.
Esta
parte de que o tráfico ilegal eleva salários de capangas e traficantes é viagem
de quem conhece o assunto via TV... No Freaknomics há uma interessante análise
mostrando como a maioria dos traficantes ganha pouco e ainda "mora com a
mãe".
O único
ponto que concordo com esta seção do artigo é que a ilegalidade se associal com
a violência. Realmente, sem a interferência estatal e seu "monopólio do
exercício da violência", a agressão se democratiza, i.e., está ao alcance
de todo cidadão.
"2)
OLHE AO SEU REDOR, QUEM VOCÊ ACHA QUE PAGA A CONTA MAIS CARA POR ISSO TUDO?"
-- Se a
violência atinge sobretudo as camadas mais pobres da população, não significa
que o tráfico esteja concentrado nas áreas ocupadas por estas camadas. É uma
péssima sociologia deduzir que o tráfico seja "coisa de pobre". Sei
que vocês disseram ao final desta seção "E dizer isso tudo não é afirmar
que apenas os pobres comercializam drogas ou que não há vida possível longe
desse cenário.", mas sinto muito, esta frase não aliviou o argumento
central de que a violência atinge e é resultado da repressão que existe sobre o
tráfico em periferias devido à pobreza gerada pelo estado (sua burocracia e
regulamentações). Se fosse assim tão simples, porque então o traficante que é
bem sucedido não está nas favelas? Por que a maior parte dos recursos
envolvidos não se concentra nas favelas? E eu não acredito se me disserem que
fica lá. O que "fica lá" é, e nem tenho tanta certeza disto, a ponta
da distribuição.
Definindo
o que é o quê... Que a violência diminuiria com a legalização, eu concordo,
ponto. Que "quem paga a conta" são os mais pobres porque eles são
mais atraídos pelo tráfico é um estigma criado para eximir os consumidores mais
endinheirados que, suspeito serem eventuais em sua maioria e não habitués.
Se vocês
se baseiam nos incentivos para justificar o apelo do tráfico às classes mais
pobres deveriam concluir, igualmente, que os mais ricos também se sentissem
atraídos para investir neste mercado; "Ah! Mas tem o desincentivo da
violência..." Ué?! Se há desincentivo aos mais ricos, os mais pobres que,
têm mais a perder.... Também sofreriam os desincentivos da violência se
concentrando em setores ilegais mais pacíficos, como roupas, brinquedos etc. Ou
seja, a lógica econômica bruta utilizada por vocês é de uma péssima sociologia.
"3)
AINDA NÃO INVENTAMOS UMA MÁQUINA QUE FAÇA NASCER UM POLICIAL DO CHÃO A CADA VEZ
QUE UM CRIME É COMETIDO."
-- Então
como não dá para "brotar policiais" não se combate o crime, certo?
Colega, "guerra às drogas" não se faz só com uma arma em punho.
Talvez este fosse um dos recursos mais remotos para acabar com esta hydra.
"Hummm...." Sim, já ouviram falar de serviços de inteligência? Pois
bem, nisto é que não tem se investido como deveria. Outro ponto curioso é vocês
separarem, arbitrariamente, quase como sofisma, o combate às drogas do combate
aos homicídios que via de regra estão associados. Quê? Sim, esqueceram que parágrafos
acima (quem paga a conta?) vocês mesmos alegaram que o combate ao tráfico gera
mortes? Então, se elimina este combate para acabar com homicídios
desnecessários e se concentra em homicídios de outras causalidades ou se
elimina os centros de distribuição e acesso para se evitar a distribuição e a
guerra que também leva a mais homicídios. Há várias formas e, sinceramente, não
testamos todas para termos certeza de que uma ou outra nada resolvem. Vocês
apostam? Eu também sei apostar.
Também
há hipóteses interessantes a considerar (e veja que eu humildemente falo em
'hipóteses'...), como a chamada Tolerância Zero, conhecida estratégia adotada
por Rudolf Giuliani no final dos anos 90 em NYC ao combater duramente os crimes
de menor periculosidade e com isto evitar os piores. Quem sabe incluirmos o
consumo e tráfico de "aviõezinhos", os meninos que avisam a chegada
de drogas aos morros como nesta categoria? Sensato e lógico. Eficaz? Só
testando. E aí, vamos encarar? Só que a maioridade penal tem que ser menor ainda...
"4)
TRAFICANTES NÃO SÃO DIVINDADES COM PODERES SUPERNATURAIS QUE OS PROTEGEM DAS
CONSEQUÊNCIAS ECONÔMICAS."
-- Este
é um argumento forte, eu reconheço. A diluição da produção e distribuição
legalizadas tiram o poder concentrado nas mãos de quem faz uso opressor dele.
Concordo com o final, PORÉM (sempre tem um porém...), nada funciona de modo
justo sem assumirmos que existem externalidades negativas. Se o uso legalizado
não tiver CONDICIONANTES, i.e., local, modo e regulamentação de uso, injustiças
associadas a ele surgirão aqui e ali. "Tipo?" Tipo aumentar o número
de acidentes no trânsito pela ingestão de uso de narcóticos (como já ocorre com
o uso indiscriminado de álcool), tipo aumentar o número de internações para
dependentes químicos no SUS etc. Além disto há mais, a partir de qual idade
está liberado o consumo? Em porta de escola na saída da 4ª série também pode?
Por que não? Por que discriminar após a descriminalização? Ah, tem que ser
maior de idade... Pois bem, perfeito. Quem vai fiscalizar? O policial que
faremos "brotar do chão"?? Eh eh...
Coleguinhas,
deixe-me dizer uma coisa pra vocês, apesar de não parecer, sou sim um liberal
de pensamento anarquista, embora eu abomine a proposta anarquista de sociedade
porque é ingênua como qualquer utopia idiota. Enfim, desconfiem de quaisquer
filosofias políticas que supõem a lógica basta. Na vida, o que mais existem são
dilemas e toda solução enseja um novo problema e, de certo modo é bom que assim
seja... Mas, quanto à questão inicial, sim, SOU FAVORÁVEL À LIBERAÇÃO DAS
DROGAS, P O R É M (LEIA ISTO), tudo é condicional: como já aventei, em quais
condições e, eu não aceito pagar a conta de quem não soube utilizar um produto
nocivo. Que o faça, após liberação total, após uma reforma constitucional que
acabe com o SUS. No mínimo isto. E claro, um esforço maior pela execução de
criminosos no trânsito. Com esta vontade declarada de punir, de executar quem
lesou a liberdade alheia, quem fez uso da liberdade de oprimir outrem, só daí é
que ficarei tranquilo quanto ao uso livre das drogas porque sou favorável a que
decida fazer o que quiser com sua vida. Que se mate coleguinha, mas não me faça
pagar pelo teu cadáver.
Atenciosamente,
Anselmo
Heidrich