Na verdade, rir de si próprio ou da situação, quando ruim especialmente, é algo disruptivo. Uma vez li um texto desses caras que eram de esquerda, mas criticavam a esquerda, um tal de Jean-Pierre Dupuy (acho que era esse o nome), Introdução à Crítica da Ecologia Política em que ele avaliava a importância da brincadeira entre os símios para a evolução da inteligência. E o problema desse pessoal (veja o mesmo acontecendo com os bolsonaristas que censuram com ferocidade quem escarnece de seu “mito”) é que quando perdem este senso de rir dos outros e de si próprio só lhes resta o dogmatismo para atrair novos filiados. Veja que os primeiros a rodarem e terem suas cabeças a prêmio foram os humoristas, Gentili, Adnet etc. Com o tempo, isso será educativo, mas a um alto custo para os brasileiros, os extremistas bolsonaristas e olavistas terão o mesmo destino dos petistas: cairão em total descrédito, exceto para sua massa de fanáticos manipuláveis.
Ió é o burrinho pessimista do desenho animado, Puff, o ursinho que faz loucuras para conseguir mel. Essa personagem criada em 1924 teve suas belíssimas versões animadas pela Disney em 1966. O burrinho é aquele animalzinho com ar depressivo que anda se arrastando e nem parece um burro, mas uma capivara obesa de tão gordo. Ió é o retrato de nossa época, com suas orelhas caídas, olhos e pálpebras idem, o burrinho representa o pessimismo, o vitimismo, a autocomiseração e, talvez, até a depressão.
Calma! Se você gosta da personagem, eu também. Na verdade, tenho até pena dela, mas justamente por isso, o burrinho condiz com a síndrome que nos afeta, o que faz parecer crer que estejamos adentrando um novo período geológico, o mi-mi-mioceno, pois tudo parece virar uma querela moral, um eterno “mi-mi-mi” e mesmo quem acusa o outro lado de querer “lacrar” também faz das suas. É o caso que já causa náuseas de falar, da Esquerda pautando seus temas em defesa das “minorias” (gays, negros, mulheres), que nem são minorias na maioria dos casos e a Direita retrucando da mesma forma apontando sua hipocrisia, mas também ignorando suas próprias contradições, como quando se diz “perseguida pela mídia”. Aliás, argumento este passível de encontrar em qualquer ponto dos extremos político-ideológicos.
Steven Pinker, em O Novo Iluminismo diz que isto já está instaurado há muito em nossa sociedade, na verdade, em nossa civilização. A ideia de que progredirmos, que melhorarmos de vida em geral e no geral não é mais aceita, sequer bem vista. Exceto por aqueles que denotam um pouco mais de apuro estatístico em suas análises, há uma massa de intelectuais que, por diversas razões, ostenta uma orgulhosa “progressofobia”. Isto pode ser sustentado por diferentes sentimentos, de que “estamos perdendo nossa essência”, seja lá o que isso for… Ou que “o mundo está cada vez pior”, “os agrotóxicos, os games, a violência simbólica, tudo!” E não são só os mais intelectualizados que nutrem este tipo de preconceito, a grande massa ignorante metida a intelectual, os chamados “intelectualóides” também o faz e os argumentos podem variar de que “tudo piora” até o “está tudo muito fácil hoje em dia”, o que revela uma contradição constante e falta de clareza no que se quer criticar.
Se conversarmos com as pessoas comuns nas ruas, a maioria vai nos dizer que sua vida não é tão ruim ou até mesmo é boa, mas experimente transferir a mesma pergunta para “a sociedade” e verás que a percepção geral muda 180 graus. É um rosário de lamentações, de perdas e perda de sentido, um sentimento de decadência que parece vir de alguém que realmente viveu aquilo até que… Surge a pergunta subsequente: como sabe disso? “Ah! Eu vi na TV… Um amigo me relatou… Fiquei sabendo que…”, ou seja, a grande maioria dos casos se baseia, quando se baseia em algo, em informações terceirizadas. É o que chamam na literatura de “disparidade de otimismo”, ele vale para o que é próximo porque a proximidade induz à realidade, mas some para o que se teme, a vida grupal fora de controle porque distante do nosso controle individual.
Já faz algum tempo também li n’O Ambientalista Cético de Bjørn Lomborg a respeito de uma pesquisa abrangente feita em vários países do que se achava sobre o meio ambiente de sua cidade. Certo ou errado, a maioria não tinha uma avaliação negativa ou muito negativa do mesmo, mas a resposta era totalmente adversa quando se tratava de avaliar o meio ambiente global. Daí as respostas eram realmente negativas, influenciadas provavelmente pelo tipo de matéria que é constantemente divulgada quando se trata do tema meio ambiente, sempre com adjetivos nada promissores, como “lixo”, “extinção”, “morte”, “destruição”, “poluição” etc.
Nossa percepção muda muito a partir do que conhecemos ou dizemos conhecer para o que imaginamos. Leve isto em conta, mesmo que não queira pecar pelo excesso de otimismo, não precisa ser um refém de uma visão negativa sem justificativa. Deixe o burrinho Ió para os desenhos, dos quais até as crianças já perceberam que ele é exagerado.
A floresta se agita, as árvores não se entendem e os arbustos clamam por luz, mas quem atinge o dossel ignora seus apelos. Cada espécie está convencida de sua certeza, mas nem todos conseguem uma clareira. “É natural. É assim que é, é assim que fomos feitos e é assim que sempre foi” dizem as maiores espécies. Afinal de contas, por que você não se contenta em viver nas sombras? Enquanto isso, animais que carregam sementes de ambas, animais que se beneficiam de seus frutos e espalham suas sementes, simplesmente fogem. A calma e a estabilidade foram perdidas e ninguém sabe se o amanhã será infértil ou um puro deserto. Os murmúrios que brotam da serrapilheira dizem “opressão!” Mas tudo que se ouve e vê é o som abafado do balançar de suas copas ignorando os apelos na penumbra onde nesgas de claridade são disputadas, enquanto que a maioria fenece.
Nesse mundo de natureza original, o fogo reconstrói permitindo a expansão de quem não conseguia se expandir. A seleção não é uma imposição de alguém, simplesmente existe. Em outros tipos de ‘florestas’, arbustos se unem sem entender que também precisam daqueles troncos finos, cujas copas mal são vistas e se unem carregando machados e serras.
Em tempos sombrios é fácil enxergar árvores sem perceber a floresta e é fácil achar que clareiras devem ser abertas de qualquer jeito. Só que esse jeito revolucionário de cortar árvores acaba com qualquer regeneração até que um dia, velhas ideias abandonadas no solo destruído voltem a germinar. E se não souberem como fazer este manejo político, um incêndio se imporá a todos que ignoraram a necessidade de reformas. Estas podem ser uma simples sequência de podas de galhos, trilhas para obter madeira ao invés de quadras, espera pela regeneração, florestamento em outras regiões etc., mas para nossa imensa ‘floresta’ seria o corte de privilégios que não são conquistas individuais.
Hoje, dia 21 de setembro se comemora o Dia Mundial da Árvore, mas no dia 7 de outubro, o que comemoraremos? Depois disso, quem sabem a mata não se expande e possamos ouvir os ruídos de novos animais que voltaram a investir nela?
Anselmo Heidrich 21–08–2018 __________ Adaptado de The Trees,Rush.
Independente da cultura, algumas coisas não mudam. Mas com o tempo melhoram…
Vocês nunca sentiram vontade de apelar para os caminhos fáceis? Para os atalhos? Não, não estou me referindo à corrupção ou roubo. Isto seria mais fácil responder. Refiro-me às questões da Vida, ao entendimento do Mundo e suas alamedas, esquinas, avenidas e, principalmente, as encruzilhadas.
Uma maneira de pensar a vida em sociedade em um sentido amplo é a perspectiva evolucionista, de que tudo muda, sempre muda ou, pelo menos o que há de mais abrangente na vida em grupo, a economia, as leis etc. Não está errado, o problema com esta visão é que ela deixa de lado outra visão fundamental, o que nós temos de perene e por que não dizer, essencial?
Não me refiro à essência humana, essa incógnita, mas há traços fundamentais de nossa espécie, como o paradoxal apelo à solidariedade, assim como somos, proporcionalmente, muito violentos, talvez os mais violentos e agressivos dos animais. Nosso senso utilitário temperado pelo código moral ou, como preferem alguns, nossa moral corrompida pelo utilitarismo. Não importa, o que importa é que nossas particularidades intrínsecas nos fazem ver o convívio social e a história em uma perspectiva menos otimista, mas não necessariamente pessimista. Dir-se-ia realista.
Mas com certeza, isto é um banho de água fria nos evolucionistas sociais ou, como alguns preferem chamar, darwinistas sociais que tomaram muitas das ideias de Charles Darwin e sua Teoria da Seleção Natural emprestada para adaptá-la à sociedade, tanto marxistas como anti-marxistas crentes no progresso das instituições do capitalismo. Depois de um breve interregno histórico no Séc. XX, que muitos chamaram de Nova Ordem Mundial, com o fim do Pós-Guerra se acreditou no nascer de uma nova Idade do Ouro regada por pão e mel fartos. O que se viu foi o descontrole das guerras no Terceiro Mundo que antes possuíam um freio da “guerra por procuração” das grandes potências. Potências essas que voltaram a atuar, como se vê no Oriente Médio, com a Síria.
Não dá para descartar os avanços da sociedade, seja na economia (parcialmente) de mercado chinesa, no desenvolvimento econômico africano (quem diria?) e leste europeu. Mas, claro que para nós latino-americanos incrustados no subcontinente da pasmaceira eterna, a antípoda do evolucionismo é bem mais sedutora. De qual cosmovisão estaríamos falando? Da Teoria do Eterno Retorno.
A visão de que nada muda, exceto em sua superfície também é sedutora. E ela não deixa de dar bons frutos, como o famoso dito “se desejas a paz, prepara-te para a guerra”. Eu, particularmente, carrego isto comigo, como se fosse uma arma, pois sempre desconfio de lobos a espreita. E eles existem mesmo.
É fácil observarmos nossa juventude, que se acha tão ilustre e iluminada repetir erros de fanáticos de outrora e concluir que realmente, pouco ou nada mudou. Mas se estaríamos assistindo a uma crônica da tragédia anunciada, também não veríamos isso na religião? Quanto mais ouço estudiosos do assunto falarem, mais similaridades vejo entre seitas de diferentes credos, como se o dom espiritual de se conectar com deus terminou com os apóstolos, no caso do cristianismo, o que não deixa de ser similar aos sunitas, no caso do islamismo. Sabe, as questões teológicas mesmo não me interessam. Aliás, nunca me interessaram, pois leva-las a sério seria dar um ar de credibilidade a invencionices. Mas o que as pessoas, com inteligência veem nelas… Ah! Isso sim me interessa e muito.
Esses padrões de comportamento e crença me fazem ver o eterno retorno como concreto, mas isto porque meu foco se dá no conflito. Se eu fizer um esforço para ver a outra metade do copo, a da paz e da harmonia, sinceramente, não é que ela perfaz mais do que a metade? Costumamos enfatizar a desgraça porque ela chama atenção. E seria estranho se valorizássemos mais a monotonia, mas esta paz tem evoluído positivamente. Mais uma vez, para nós latino-americanos que concentram as 10 cidades mais violentas do mundo no subcontinente e, no caso específico do Brasil, a maior taxa de homicídio do planeta, a Teoria do Eterno Retorno faz todo sentido.
Como diz a Ciência, se há um cisne negro no mundo, o enunciado de que todos os cisnes são brancos cai por terra. E esse é o caso com a hecatombe de violência e agressividade, em termos proporcionais não aumenta, mas diminui. Estatisticamente falando, não dá para dizer que “tudo permanece igual”, tampouco dá para ignorar nossos mais primitivos impulsos animais. Em suma, nem o evolucionismo social, nem o eterno retorno explicam o mundo.
Acusar a censura aos atos de assédio e punição com demissões como sendo características da “Idade Média”, “corporações de ofício” etc., toda sorte de equiparações descabidas apenas eximem a imoralidade de sanções. Não faz sentido, sobretudo porque uma ordem moral baseada em castas, estamentos ou profissões formando um círculo fechado se define pela origem dos trabalhadores e não no comportamento comum e necessário à convivência que não é dado pela origem. Leiam este excerto:
Discordaaannndoooo…. Em primeiro lugar, esse papo de Idade Média. Na I.M., um senhor feudal podia desposar a esposa de um de seus vassalos, na data das núpcias. Ele tinha o privilégio. No referido caso, da moça em meio aos brasileiros que a enganaram ou das russas sendo assediadas pelo funcionário, a propriedade primeva delas que é seu corpo não pode ser objeto de uso, sem seu consentimento. Já aí acho descabida tal comparação. Se tu estiver pensando em uma espécie de censura, sinto te dizer, esta sempre existiu, porém às vezes era tão consensual que não havia todo esse questionamento que estamos tendo, cuja maior transparência caracteriza nossa época. Se não gosta do comportamento de alguém, do procedimento de uma empresa, as coisas ficaram só mais explícitas, enquanto que em passado recente (décadas) nem se discutia, se obedecia. E o problema que enxergo não é sobre qual padrão de comportamento deve ser acatado, mas sobre a liberdade de se aceitar ou não a convivência com determinado comportamento. Refiro-me ao dono da empresa ou quem for designado para decidir sobre isto. A empresa, até onde sei não sofreu pressão externa, ainda mais judicial (isso sim é que caracterizaria algum tipo de “ditadura do comportamento”, “politicamente correta”), mas foi sua opção. Recentemente, um padeiro americano ganhou, na Suprema Corte(!) uma causa que o desobrigava a fazer bolos para casamentos gay porque a Constituição Americana preserva, na sua 1ª Emenda a Liberdade de Expressão. Veja, o casamento gay não é atacado, mas a liberdade de não aceitá-lo, não sendo obrigado a trabalhar para ele também é garantida. Este é o ponto. Tu, obviamente, não pode (e também não deve) expulsar teus alunos por terem algum comportamento inadequado, mas em um país realmente livre, um empresário do setor deveria ter o direito de fazê-lo, caso quisesse. Claro que quem pagou pelo serviço teria direito à indenização pela interrupção, mas não se pode impedir a interrupção em nome de uma idealização de sociedade anti-medieval. A questão aqui não é, pois, o que a(s) menina(s) sentiu(ram) em relação ao assédio, mas sim o que o empregador sentiu e quis. O direito dele empregar quem ele quiser DEVE ser preservado e dane-se se é pelo comportamento impróprio, se for pelo gosto musical recém descoberto ou o diabo do perfume. Não importa. Analogamente, SE tu tivesse uma faculdade particular poderia expulsar um aluno por algo que atentasse contra o que tu enxerga adequado para tua empresa que, obviamente, não seria a nota na prova, pois esta faz parte do processo de ensino sendo boa ou ruim. Quanto ao piloto do avião que mostrou o dedo médio para a Polícia Federal – PF vamos supor que tu esteja certo, que havia uma legislação para puni-lo em função disto (estamos supondo, não sabemos ao certo), o que torna a questão mais clara em que uma empresa pode punir um cidadão por mau comportamento, mas desnecessário. Se não há lei especificando o que NÃO SE PODE FAZER, no caso, como não pode demitir, todo o resto deveria ser possível. No entanto, eu aposto que não havia nada específico e a empresa realocou o sujeito para que não ficasse exposto trazendo mais prejuízo financeiro para ela. Ah! Mas e a Civilização… Pois é, ledo engano achar que esta se estabelece sem a censura espontânea entre as pessoas. Na Inglaterra Vitoriana, nobres imitavam o comportamento da realeza e eram imitados por seus subordinados e assim por diante num efeito cascata. Isto, ao ar livre, em parques, nos passeios de rotina. Este co-adestramento é um dos tantos exemplos de como se formou uma ética de convivência nos espaços públicos. Isto é civilização. Por outro lado, de certa feita pude presenciar alunos de uma escola de elite em Florianópolis apresentando um número de dança, ao som de violino e música renascentista durante o intervalo de almoço junto à praça de alimentação de um famoso shopping. Quando parecia que ia melhorar, as crianças começaram a dançar “na boquinha da garrafa” simulando penetração vaginal no gargalo da garrafa com suas ancas abaixando e subindo. A música de décadas atrás já não toca mais, mas a retardada da sociopata da professora continua lá, ensinando isto. Crianças sim, de cerca de 8-10 anos. Pode? Pior, elas form aplaudidas… Pior, elas foram aplaudidas por seus pais. Então, em meu país ideal, eu teria liberdade de pôr esta professora no olho da rua no dia seguinte, sem precisar que exista uma lei ou interferência jurídica para puni-la. Este é o ponto.
Alguém tinha dúvidas de que isto um dia ressurgiria? Nesta rica matéria, que mostra as raízes do nazismo sueco, de meados do século XX, o pior não é saber como pode perdurar por tanto tempo, mas sim, como pôde ressurgir com tanto vigor? Eu tenho minhas pistas e elas são o clima de medo instaurado pelas políticas de “fronteiras abertas”. Veja, como diz no texto abaixo que tais movimentos, como este de Malmö têm os liberais(no sentido distinto do adotado no Brasil) e conservadores, além da esquerda tradicional, seus inimigos. Ou seja, todos aqueles que não são fortemente estatistas, autoritários e segregadores, ou seja, em uma palavra, totalitários são seus inimigos.Como combustível a tais movimentos temos comunidades que já não têm mais segurança, onde se investe mais em uma internacionalização de problemas que no próprio orçamento de segurança local, mais com refugiados que com a própria polícia no país inteiro, p.ex. Uma expressão utilizada no texto abaixo, “espaço vital” que está na origem do movimento nazista, mas que é anterior, remetendo aos políticos e pensadores que defendiam o expansionismo ou justificavam este, como Friedrich Ratzel na Alemanha é utilizada com precisão no discurso segregador. Embora, os novos nazistas suecos não se digam racistas (piada…), eles se baseiam no mito de uma “cultura pura” e esta não admitiria interferências ou competição. Ou seja, se substitui a espécie pela raça e agora pela “cultura” e temos uma nova desculpa para uma luta desenfreada nesta nova “Seleção Natural do Darwinismo Social” engendrado na cabeça desses malucos. Mas a culpa… Ou responsabilidade se preferirem pelo caos social que brota no horizonte tem relação, direta, com o caos que encobre a Europa com o lucro da “indústria da migração de refugiados”. E como reação a um processo marcado pelo conflito e choque cultural não se responde com a firmeza do estado de direito e rigor da lei, mas sim da expansão do estado sobre o indivíduo que já não consegue mais viver em comunidade.
Sempre tivemos mais peso das versões dos fatos do que análise dos fatos, mas agora, com a internet e as redes sociais, as versões se impõem e os leitores não procuram mais por ler e entender o outro, os pontos de vista alheios, nem que seja para criticá-los com mais fundamento. Isto fica evidente quando de um “os judeus não foram as únicas vítimas do Holocausto”, o que é verdade para “existe uma conspiração sionista internacional que torna a resistência física e agressiva contra os governos legítima”, o que é um sofisma e uma mentira grosseira. O doido nessa história toda é que de uma simpatia e interesse mútuo de nazistas e governos muçulmanos no século passado (contra os judeus), o nazismo contemporâneo baseado no mito de uma “cultura pura” que se perde tem a todos os estrangeiros como seus inimigos, sejam imigrantes sejam de alguma religião minoritária em seus países, como os judeus. E a justificativa factual, crimes cometidos por imigrantes que têm sido relevados e um crescente problema com comunidades que não se integram cresce para uma situação caótica em que o medo é explorado em benefício de um movimento que prega o mito do “homem nacional” (similar ao “novo homem” do comunismo), do estado e da “preservação da cultura”, o nacionalismo como refúgio. Os canalhas… Venceram.
Muitas coisas que me deixavam infeliz na política
partidária, mesmo entre os ditos liberais é a mania de só enxergarem grandes
temáticas. Fernando Gabeira quando retornou do exílio e se disse inclinado a
lutar por causas ambientais, raciais ou sexuais foi acusado de "se
preocupar com as minorias" por seus colegas de partido. Pois bem, qual
retórica está viva hoje em dia? A da luta de classes ou a de gênero, meio
ambiente ou cotas? Quem "estava certo" em estabelecer um programa
ideológico? Não estou afirmando que Gabeira estava certo quanto ao objeto em si
de sua preocupação, mas que esta preocupação o levou a uma estratégia
vitoriosa. Aliás, tão bem sucedida que hoje nem sabemos a paternidade.
Paternidade essa que nem é dele. Para dizer a verdade foi gestada pela New
Left, só não sei se europeia ou americana. Tendo a achar que foi europeia
devido aos frankfurtianos (Adorno, Horkheimer, Marcuse etc), mas como sempre
'amplificada' nos EUA, país que exporta tudo de bom e de ruim também.
Michel Foucault, de quem não gosto nas premissas e conclusões,
mas aprovo (parcialmente) no método de estudo foi muito feliz no título de sua coletânea,
Microfísica do Poder porque dá importância a aspectos legados a segundo
plano (ou terceiro ou quarto...) pelas esquerdas. Dentre os quais, a
arquitetura e conformação dos espaços urbanos – o urbanismo – como formadores
(ou pretensamente formadores) de padrões comportamentais, em suma, domínio. Tentei
em vão chamar atenção de meus colegas sobre, p.ex., a importância das calçadas,
dos espaços públicos como fomentadores, instrumentos que facilitam a
sociabilidade de cidadãos na constituição de uma sociedade que valorizaria o
respeito, a tradição e se oporia a corrupção já nos pequenos e constantes
serviços urbanos. Sabe quando te olham como se tu estivesse aramaico? Pois é...
Mas é justamente aí que a coisa se cria e reflete em marcroestruturas da
sociedade, uma coisinha que os militantes desconhecem, o cotidiano. Quando discutia isto, inclusive com ancaps
(anarco-capitalistas, supostamente mais sensíveis às práticas anárquicas),
cheguei a ouvir que prefeituras não eram interessantes de se assumir, pois não tinham
autonomia frente ao poder federal. Ora! Se não se muda padrões de comportamento
(prestação de serviços e gastos) aí, em outro nível não é que vai se
convencê-los do contrário. Óbvio que nem discuto com socialistas, mais
centralistas que quaisquer outros, mas os liberais deveriam ser mais atentos a
isto por princípio. No entanto, ainda são muito pouco sensíveis a aspectos
cotidianos que não passam por questionamentos clássicos.
Bem... Com o tempo espero que isto mude. Mas que fique
claro, nada muda naturalmente, mas por insistência erosiva da ideias contra as rochas
da ignorância.
Quando nisto iam, descobriram trinta
ou quarenta moinhos de vento, que há naquele campo. Assim que D. Quixote os
viu, disse para o escudeiro:
— A
aventura vai encaminhando os nossos negócios melhor do que o soubemos desejar;
porque, vês ali, amigo Sancho Pança, onde se descobrem trinta ou mais
desaforados gigantes, com quem penso fazer batalha, e tirar-lhes a todos as
vidas, e com cujos despojos começaremos a enriquecer; que esta é boa guerra, e
bom serviço faz a Deus quem tira tão má raça da face da terra.
— Quais
gigantes? — disse Sancho Pança.
— Aqueles
que ali vês — respondeu o amo — de braços tão compridos, que alguns os têm de
quase duas léguas.
— Olhe
bem Vossa Mercê — disse o escudeiro — que aquilo não são gigantes, são moinhos
de vento; e os que parecem braços não são senão as velas, que tocadas do vento
fazem trabalhar as mós.
"Os militares que, baseados no precedente da derrubada de João
Goulart, alegam nada poder fazer enquanto a "sociedade civil" não se
pronunciar, enganam-se -- ou nos enganam -- num ponto essencial: em 1964 a
mídia praticamente inteira era independente o bastante para posicionar-se contra
o governo.Como comparar os bravos jornais e canais de TV da época com aqueles que
durante dezesseis anos ocultaram a existência do Foro de São Paulo,
protegendo-o com um manto de silêncio para que crescesse em segredo, longe de
toda fiscalização popular, e só se tornasse conhecido quando fosse tarde para
deter a realização dos seus planos macabros? O clamor popular que não chega às
manchetes, que não chega ao noticiário da noite, pode ser o mais veemente de
todos os tempos, mas, para quem só respeita o que vem de cima, é como se não
existisse.Sem o silêncio obsequioso da Folha, do Estadão e do Globo, o PT já teria
caído do poder há mais de uma década, quando se comprovou o seu conluio com
governos estrangeiros e com organizações criminosas para dissolver a soberania
nacional num monstrengo continental chamado "Pátria Grande". Os
militares sabem perfeitamente bem que a revolta popular existe, e não poderiam
ter obtido melhor prova disso do que o entusiasmo antipetista que tomou as ruas
durante a campanha eleitoral, enquanto o partido governante mal conseguia
juntar numa esquina trezentos militantes pagos.O que parecem não saber é que estão atrelando o seu patriotismo à voz de
comando de uma mídia vendida e subserviente, que jamais os convocará à ação. Só
respeitar a voz do povo quando vem com a chancela das grandes empresas
cúmplices do PT é desrespeitá-la. Qualquer que seja o caso, estão esperando um
apelo que sabem que jamais virá. Ou deveria eu escrever "PORQUE sabem que
jamais virá"? Espero, sinceramente, que não."
Maluco... A maioria do povo quer justiça e não, intervenção militar.
Olavo se faz de desiludido para ver se toca a sensibilidade dos militares que,
coagidos pela piedade a este insignificante iriam salvar-nos das ameaças de
organizações internacionais. O que ele não tolera é que sim, a reação popular
ora em curso conta com a organização autônoma da própria sociedade que sequer
conhece as teorias conspiratórias que se fertilizam no solo úmido do cérebro
olaviano. A grande desilusão desse sujeito é que, organizações civis que só
ampliam seu crédito com a população são objetivas e têm foco alvejando a
corrupção, o estado hipertrofiado e a impunidade, entre outros. Seja o
Movimento Brasil Livre o Vem Pra Rua etc., ninguém deve nada a este embusteiro.
O prazo de validade de suas fantasias expira, os regimes bolivarianos caem
devido à própria insustentabilidade econômica e institucional, nada a ver com
uma reação conservadora. Engula isto Olavo, você não passa de um placebo
filosófico para quem ainda acredita que moinhos não são só moinhos.
Esta matéria diz que um elefante, um filhote de elefante chorou cinco horas seguidas após sua mãe tentar matá-lo assim que nasceu. Os tratadores o salvaram e após duas horas, sua mãe tentou atacá-lo novamente.
"A mãe pode ter tentando matar seu filhote porque a vida em cativeiro muda o comportamento tradicional das famílias e isso interfere nos instintos protetores dos animais em relações aos bebês."
Eu não acredito nisto. Há muitos e muitos animais, creio que a imensa maioria que não adota este tipo de comportamento. Não há evidência que o cativeiro (e eu não estou defendendo o cativeiro, aliás, eu o abomino) leve a isto. Acho que o instinto maternal é forte demais para sucumbir à pressão do cativeiro sobre o comportamento. A etologia não é determinada única e exclusivamente pelo condicionamento ambiental, nem este condicionamento tem como objetivo levar mães ao assassínio de seus filhotes. Outra situação recorrente é a depressão pós-parto, que não existe por
causa do cativeiro.
O que houve então? Isto eu não sei dizer, mas sei dizer que há algo que carregamos geneticamente ou, como diziam os antigos "que nasce com a gente", que dá no mesmo, a diferença é que a primeira forma de dizer dá um ar 'científico'. Dito de outra forma, alguém se torna psicopata ou nasce psicopata? Ora, alguns de nós simplesmente o é, não se torna algo. Comprovações? Evidências? Não as tenho, não estudo o assunto, mas sei dizer que na minha geração se acreditava muito mais que "o meio transforma o
homem" e isto é cada vez mais questionável. Lembro-me claramente de como desdenhávamos dos mais velhos, dizendo que eram 'retrógrados', 'reacionários' por estigmatizarem quem era diferente, não pensando que "não tiveram a
mesma chance que nós". Nada a ver! Tem gente que, simplesmente, teve todas as chances, economicamente falando, mas trilhou outro rumo, da indiferença, completa ausência de empatia por outros seres para atingir seus objetivos. E se for assim conosco, por que não com outras espécies?
Suzane Richthofen, quem coordenou o assassinato de seus pais poderia nos dar uma pista...
Gostei de sete das oito propostas para combate à criminalidade presentes no seguinte texto. E, particularmente, a sétima. A questão da proximidade (não meramente física) do policial com a comunidade da qual faz parte, preferencialmente esta o faz conhecedor de muitos dos processos que levam a violência e criminalidade locais, antes destas evoluírem para formas mais agressivas e letais. E até soa desnecessário dizer, mas o combate aos desvios de conduta da força policial é algo que amplia a própria força policial através da credibilidade concedida pelo cidadão. É como se ela além de polícia ancorada na lei apresentasse uma credencial de legitimidade.
Por outro lado, a número de armas legais, isto é, registradas diminui sim a criminalidade ou desacelera seu crescimento. Eu duvido muito da objetividade desta pesquisa do IPEA que, provavelmente, não levou em conta esta distinção, entre armas legais e as do mercado informal obtidas que são, no mais das vezes, por criminosos mesmo. E mesmo que seu proprietário não seja um típico criminoso é aquele tipo de pessoa que transita entre "dois mundos", o da legalidade e o da contravenção sendo, portanto, muito mais recorrente decidir suas desavenças na bala. Sendo porte legal de armas na maioria dos casos, dificilmente seu portador vai ignorar a conduta correta de utilizá-la porque sabe que será mais facilmente rastreado.
O erro da charge do topo do tópico é analisar um conceito oriundo da administração - meritocracia - para a sociedade como um todo. É como comparar quem bate mais pesado, um peso pena ou um peso pesado ou, adversamente, quem é o mais ágil. Claro que o ideal seria que concorressem de igual para igual, mas este pressuposto 'igual' significa que tenham pontos de partida similares. Para que se reduza a vantagem da largada nesta corrida, não temos que aproximar todos os corredores em um determinado ponto fictício na linha de tempo, mas permitir a criação de vários, inúmeros traçados com atalhos, ruas asfaltadas, avenidas, metrôs, caminhos de terra, trilhas para que cada um encontre o seu método, único ou inter-modal, não importa. Um "sistema liberal" não é e nunca vai ser um sistema tecnocrático com todas as chances distribuídas de modo equânime, mas um sistema em que o critério de justiça se paute também na possibilidade de criar meios de superar as aparentes injustiças que se formam na sociedade. O que não se pode admitir é que em nome da "justiça social" todos que tenham chance de se desenvolver sejam obrigados a se igualar na mediocridade. Se há um grande potencial mal aproveitado no ensino público, então ao invés de investir mais a fundo perdido no ensino público tem é que se permitir meios de desenvolvimento em outras modalidades mais eficazes, seja no ensino privado, seja em casa, seja em cursos livres etc., com o pressuposto da flexibilização das avaliações para obtenção de qualificação para trabalho e ainda, pensando de modo mais abrangente, até eliminar a necessidade burocrática de certas qualificações em nome da demanda e jugo do mercado, que é no fundo, a verdadeira avaliação.
Por que sou contra as cotas raciais para o ensino público superior e serviço público?
O assunto obviamente é
polêmico, mas se formos objetivos e quisermos, realmente, minorar as distorções
existentes no país, quiçá em um futuro distante extingui-las mesmo, o critério
para incentivos de toda ordem (educacionais, emprego, distribuição de renda
etc.), não deveria ser racial e sim, social, i.e., de acordo com a renda
familiar. Porque, a bem da verdade, dependendo da região e estado, quem está no
patamar inferior da sociedade em termos de renda, nem sempre é de uma raça e/ou
etnia específica e também porque em várias outras áreas do país a tendência
predominante, de longe, não é o negro ou o branco, mas sim o mestiço, no caso,
entre brancos e negros, o mulato que, estranhamente parece ter sumido de nosso
vocabulário social cotidiano onde todos que se veem como 'excluídos' preferem a
designação negro, mesmo sem nem sempre ser um. Nada contra, mas esta divisão
rígida é sim uma importação cultural de outra realidade onde a cisão foi muito
mais abrupta. E antes que me acusem de insensiblidade, não se trata de negar o
racismo, mas de compreender a forma fluída e diferenciada com que ocorreu no
Brasil. Precisamos ser mais específicos quando se trata de criar institutos
para desenvolvimento social no país, sob o risco de, se não o fizermos,
criarmos outra segmentação que anule os propósitos para os quais foi criada. Se
em determinada região, a maioria mais empobrecida da sociedade é constituída
por negros, então, as cotas sociais, melhores e mais abrangentes do que as
cotas raciais atingirão o objetivo de ajudá-los e, se em outra região for outro
grupo étnico, branco, não-branco, pardo, amarelo etc., as cotas sociais
novamente serão mais justas que as raciais. Estas ainda têm como efeito
deletério o fato de criar um estigma de incapacidade associada à raça, enquanto
que se trata na verdade, apenas de falta de oportunidades devido à desigualdade
de renda, uma vez que, geneticamente falando, todos temos as mesmas condições.
O que nos separa é o abismo socioeconômico que pode ser sanado por institutos
com melhor foco e menos ideologia.
Nem tudo que tem lógica constitui uma prova para uma teoria científica...
(...)
Em entrevista para a Veja, em 2006, falando sobre seu livro A
Vingança de Gaia, lançado naquele ano na Inglaterra, Lovelock brandia o
apocalipse. O repórter, não por acaso um dos crentes no efeito estufa, queria
saber quando o aquecimento global chegaria a um ponto sem volta. Respondeu o
guru, com a convicção dos profetas:
- Já passamos desse ponto há muito tempo. Os efeitos visíveis da mudança
climática, no entanto, só agora estão aparecendo para a maioria das pessoas.
Pelas minhas estimativas, a situação se tornará insuportável antes mesmo da
metade do século, lá pelo ano 2040.
- O que o faz pensar que já não há mais volta?
- Por modelos matemáticos, descobre-se que o clima está a ponto de fazer um
salto abrupto para um novo estágio de aquecimento. Mudanças geológicas
normalmente levam milhares de anos para acontecer. As transformações atuais
estão ocorrendo em intervalos de poucos anos. É um erro acreditar que podemos
evitar o fenômeno apenas reduzindo a queima de combustíveis fósseis. O maior
vilão do aquecimento é o uso de uma grande porção do planeta para produzir
comida. As áreas de cultivo e de criação de gado ocupam o lugar da cobertura
florestal que antes tinha a tarefa de regular o clima, mantendo a Terra em uma
temperatura confortável. Essa substituição serviu para alimentar o crescimento
populacional. Se houvesse um bilhão de pessoas no mundo, e não seis bilhões,
como temos hoje, a situação seria outra. Agora não há mais volta.
- O senhor vê o aquecimento global como a comprovação de que sua teoria está
certa?
- O aquecimento global pode ser analisado com base na Hipótese Gaia, e, por
isso, muitos cientistas agora estão se vendo obrigados a aceitar minha teoria.
Quem se viu obrigado a fazer meia-volta – quem diria? – e negar sua própria
teoria, foi Lovelock. Como o planeta teimava em não aquecer-se, Lovelock
confessou em abril de 2012 ter sido alarmista: "cometi um erro".
(...)
Faz parte do trabalho
científico aventar hipóteses, mesmo inverossímeis. O erro não está em quem as
divulga, mas em quem as segue cegamente. Quando comecei a escrever sobre isto
(e já abandonei o assunto) lá por 2003, meu intento inicial foi refutar os
exageros publicados pela Carta Capital. Vi isto quando de possíveis
consequências morfológicas e, talvez, demográficas de um fenômeno climático
imaginado (o aquecimento antropogênico), mais rápido do que o normal (este ocorre periodicamente, de ordem natural), o jornalista pulou para consequências
geopolíticas com argumentos pretensamente lógicos. E penso que aí é que está o
problema: confundir o tema científico em questão, seja climatológico,
geológico, demográfico etc. com um tema paralelo, na verdade,
"circundante", que é a sua sociologia do conhecimento ou da ciência.
Acho que discutir, claramente, o que ocorre politicamente em torno do tema é algo
que ainda não tive o prazer de ler, exceto por matérias investigativas
jornalísticas, algumas tão ou mais vulgares e alarmistas quanto o próprio
alarmismo ambientalista que denunciam. Veja, p.ex., a crítica de cunho
liberal(-econômico) que subjaz aos questionamentos à teoria aquecimentista que
virou moda a partir dos anos 80. Ela nega a possibilidade de aquecimento para a defesa do capitalismo. Ora, e SE fosse verdade? Para um defensor do
liberalismo, o sensato não seria negar o aquecimento, mas sim propor políticas
econômicas de cunho não intervencionistas no mercado ou críticas às outras políticas econômicas socialistas, estatizantes etc. Mas,
não. O que eles fazem? Negam a possibilidade de aquecimento. Digamos que não
haja aquecimento, mas resfriamento global (que é outra possibilidade, talvez
iminente, segundo o Molion), qual seria a postura de defensores da
produtividade econômica e do engenho humano? Criticar o ciclo geológico e
climatológico ou propor o desenvolvimento de novas tecnologias para nos
adaptar? Veja, não se trata de defender a teoria, que talvez esteja errada
mesmo (sou simpático a esta ideia), mas de colocar as coisas em seus lugares: uma
coisa é avaliar o que se passa no ambiente natural, avaliar as pesquisas e,
como não somos da área, confrontar o que dizem os especialistas, dando o mesmo
destaque para vozes discordantes, uma vez que democracia não é um conceito
aplicável à ciência; outra, bem diferente, é analisar o uso político que se faz
de uma ou outra ideia. Veja, caso análogo, da "superpopulação"? Quem
fala mais nisto? Saiu de moda, sobretudo agora quando o continente europeu
passa por um decréscimo na sua taxa de natalidade e envelhecimento da
população. Acho um tema instigante os liames entre sociedade e natureza, mas
justamente por se tratar de área interdisciplinar é onde mais se encontram, digamos
assim... Aventureiros.
Não é besteira, não. É fato, São Paulo conduz o país, gostem ou não gostem. Não sou paulista, antes que venham com pedradas, sou gaúcho. A questão não é ideológica, mas factual. Querem mudar a realidade? Sem problemas, façam por merecer e produzam como se faz no estado de SP, que não só o país agradece, mas o mundo que também precisa disto. São Paulo, se é que se pode criticar alguma coisa, só não é melhor quando infectado pelo raciocínio simplista da tribo, da cultura regional dos vizinhos. Isto sim, um verdadeiro atraso. Ter particularidades regionais não significa colocá-las acima do espírito cosmopolita que recebe a todos desde que venham somar, trabalhar em conjunto competindo dentro de regras claras e consensuais. Há uma enorme, colossal diferença entre isto e o ódio e preconceito xenófobos. Alcançar a supremacia porque se tem ambição de melhorar o quadro em que vive não é o mesmo que nutrir inveja, ressentimento e desgosto profundos pelo outro pelo simples prazer de não ver ninguém em sua frente. Falem mal de São Paulo, pois toda vez que o fizerem, estarão simplesmente atestando sua incompetência sob a sombra de um gigante.
Quando escrevi Civilidade pela metade também tinha em mente os defensores de ciclovias e de transportes alternativos como representantes de uma nova e petulante ordem urbana, na qual os automóveis e demais veículos automotores passam a ser demonizados. Tudo bem, desde que os mesmos venham a obedecer regras análogas como as que cobram dos condutores motorizados. Sobre uma defesa das bicicletas e crítica (sem auto-crítica) aos seus críticos conferir:
Excelente ideia! Hoje, mais do que nunca, é saudável e recomendável o "retorno à Natureza", especialmente se estiver acompanhado (e conectado) com a tecnologia de última geração.
E entenda porque o autor não tem bons argumentos contra o cantor Lobão:
1- Chamar atenção para ele ser uma "celebridade";
2- Tentar desdenhá-lo ao classificar seu livro como "delírios mentais do autor";
3- Se contradizer ao caracterizá-lo como "desinformação e fanatismo". Ora, fanáticos mantém informações que sustentam seu fanatismo que podem estar erradas, é verdade, mas o que os define não é a informação, mas sim sua opinião e crença;
4- Quem desdenha do processo de "golpe branco" pelo qual passa o Brasil em que os poderes são ameaçados, com o Judiciário podendo ficar no cabresto pelo Legislativo (pouco corrupto...) é o autor do blog.
5- Para Dilma Rousseff ser acusada de algo precisamos do aval de ditadura alguma? Ainda estamos em uma democracia e, como tal, se o acusado se incomodou que acione o "mentiroso". Por que a presidente não o faz?
Tende-se a esquecer, nestes tempos, que o melhor meio de comunicação já inventado é a palavra
Qual é a minha porta? Está o leitor, ou a leitora, diante dos toaletes de um restaurante, um teatro ou hotel, e com freqüência experimentará um momento de vacilação. Não que tenha dúvida quanto ao próprio sexo. A dúvida é com relação àqueles sinais inscritos sobre cada uma das duas portas -- que querem dizer? Olha-se bem. Procura-se decifrar seu significado profundo. Enfim, vem a iluminação: ah, sim, este é um boneco de calças. Sim, parece ser isso. E aquela silhueta, ali ao lado, parece ser uma boneca de saia. Então, esta é a minha porta, concluirá o leitor. E aquela é a minha, concluirá a leitora.
A humanidade demorou milhões de anos para inventar a linguagem escrita e vêm agora as portas dos toaletes e a desinventam. Por que não escrever "homens" e "mulheres", reunião de letras que proporciona a segurança da clareza e do entendimento imediato? Não. Algumas portas exibem silhuetas de calças e saias. Outras, desenhos de cartolas, luvas, bolsas, gravatas, cachimbos e outros adereços de uso supostamente exclusivo de um sexo ou outro. Milhões de anos de progresso da humanidade, até a invenção da comunicação escrita, são jogados fora, à porta dos toaletes.
(...)
Fonte: "A televisão e a volta às cavernas." Veja 25/06/97.
Roberto Pompeu de Toledo está redondamente enganado. Em primeiro lugar, a utilização de símbolos não é indireta, mas justamente o contrário. O símbolo de homens e mulheres para banheiros são praticamente universais. Se estivermos em um país anglo-saxão, provavelmente conseguiremos, devido à influência cultural, ler o que está escrito nas portas dos banheiros, mas e se estivermos na Índia ou Paquistão teremos a mesma facilidade com idiomas que não nos são familiares? Não sentiremos falta do símbolo, um ícone integrador? Linguagens comuns e de fácil acesso encurtam as distâncias entre os povos e as culturas. Claro que tudo depende das circunstâncias, pois em situações que requerem linguagem mais elaborada, porque o raciocínio exigido também o é (um tribunal, defesa de tese, comunicação jornalística, debate político etc.). Culpar o recurso tecnológico, como celulares e computadores é o caminho fácil e equivocado de quem não conseguiu estabelecer um nexo correto entre causa e efeito. Façamos um exercício mental... Imaginemos nossos alunos de escolas públicas utilizando recursos tecnológicos após um excelente curso de português e literatura, com integrações de currículo com outras matérias, das exatas às humanas. Será que depois de meses sendo educados como se deve, não fariam um uso mais rico de seus instrumentos tecnológicos? Será que não apreciariam programas educativos sobre natureza e história na TV? E mesmo nas programações mais banais, como filmes, desenhos ou novelas, eles saberiam contextualizar no tempo e espaço onde se desenvolvem as narrativas. Saberiam também melhor entender os noticiários confusos que mais parecem uma colcha de retalhos ensangüentada. Se hoje temos analfabetos funcionais com celulares nas mãos, antes tínhamos analfabetos completos sem escolas.
O autor se utilizou de um "raciocínio extremista". Para dizer a verdade, ele foi bem reducionista em sua análise, pois com uma boa educação familiar, as crianças e jovens em geral não "substituirão seus pais" por programas televisivos. O que me surpreende é como se torna fácil criticar inovações sem compreendê-las... Não quero generalizar, mas acho que este tipo de crítica incorre em um erro comum, o de temer o novo. Se na TV há verdadeiros lixos culturais como o BBB, também há pérolas como documentários em certos canais ou mesmo programações mais leves com bom humor.
Lembro-me de quando eu era criança (e faz um bom tempo), quando ao cair da noite, as famílias colocavam cadeiras na rua para conversar. Aos poucos esta cena foi sendo substituída pelas luzes azuladas nas janelas da sala. Era a TV ligada em todos os lares e, aos poucos, a "falta de assunto" foi sendo substituída pela falta de contato humano. Mas, eu ainda sou um pouco otimista... Já li que o uso da internet faz cair o número de horas gasto com a TV em certos países. E o que se busca na internet senão o velho contato humano que perdemos? Talvez, com facilidades e inovações no transporte do futuro possamos novamente substituir o contato virtual pelo real ou, o que parece mais provável, mesclar os dois.
O problema é o prazo e o populacho, inclusive a chamada "classe média", esta nebulosa prefere apostar suas fichas no aqui e agora do subsídio e das bolsas-esmola do que regar o solo de colheitas futuras. Quem tem culhões de dizer que vamos passar meia década cortando gastos e mais meia década para, na melhor das hipóteses, nos estabilizarmos para, talvez, se tudo der certo, depois crescermos? Ingênuos preferem apostar em personagens romantizados de filmecos subsidiados.