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sábado, fevereiro 02, 2019

Mentiras Ambientais de Santa Catarina

Imagem: Pinheiro-do-Paraná (Wikipedia).
Faz algum tempo fiz algo raro para os dias atuais: comprei uma revista na banca. Encadernação luxuosa, a Revista de História Catarina em edição sobre “História Ambiental de SC” me deixou curioso, pois é um tema raramente tratado por historiadores, embora exista uma tradição disto, especialmente no exterior.
Como adquiro livros e os deixo em stand by para ler, até anos depois, com esta revista não foi diferente. Havia lido uma matéria sobre o desaparecimento das lagoas catarinenses, processo ligado ao assoreamento em que a urbanização e retilinização dos canais eram apontados como causadores. Mas… Quando fui ler a matéria principal, sobre as secas de 2003-2004, 2007-2008 e 2011-2012 relacionando-as com o fenômeno climático La Niña, que corresponde ao resfriamento das águas do Oceano Pacífico (ao contrário do El Niño) achei que estava lendo um artigo, realmente, científico focado no assunto. Enganei-me…
Nas suas seis páginas lá estavam as descrições generalistas dos danos causados pelas secas e suas causas. Dentre elas, o desmatamento. Até aí, ok, desmatamento leva ao empobrecimento do solo e dependendo da atividade que substitui a cobertura vegetal há um uso mais intenso da água. O desmatamento também pode diminuir a umidade local, que influencia no clima regional produzindo menos chuvas, mas a área reflorestada não é causa disto, até onde sabemos. E o reflorestamento para fins comerciais é necessário para que não se desmate a vegetação superior (florestas) remanescente.
Na metade do artigo, lá pela 4ª página começa a ladainha que aponta as causas das secas “pela introdução contínua de métodos capitalistas de produção”; “não há lastro para expansão de fronteiras agrícolas”; “este panorama produtivo, orientado para uma pecuária artificial sustentada por uma oligocultura para ela dirigida, é altamente insustentável ambientalmente”; “políticas públicas carentes de um planejamento adequado, costumeiramente direcionadas a facilitar a autorreprodução do capital”; “as calamidades resultavam da contraditória relação homem/natureza”; e como se não bastasse essa enxurrada de bordões de esquerda marxista, o autor conclui:
“Os registros de estiagens no Oeste, assim como o registro de outros desastres ambientais, têm crescido em decorrência da ação antrópica, com o aumento da população e a introdução de técnicas e utilizações dos solos, voltadas para a produção capitalista.”
Esta é a súmula e no parágrafo seguinte, como se fosse uma decorrência natural do capitalismo, o autor adiciona:
“Dentre as mudanças na paisagem que contribuem para o recrudescimento das estiagens, há que se destacar a aglomeração de edificações, a impermeabilização do solo e a poluição atmosférica, nos ambientes urbanos; a compactação do solo, o assoreamento dos rios, o desmatamento, e as queimadas, nas áreas rurais.”
Edificações decorrem do aumento populacional, não necessariamente do capitalismo. Ainda assim, pode se ter edifícios com mais áreas verdes intercaladas, o que não deixa de valorizar os imóveis diga-se de passagem, como apreciam os capitalistas (😂).
Impermeabilização do solo tem soluções fáceis e conhecidas, com a substituição de mantas asfálticas por lajotamento e paralelepípedos. As empresas não deixarão de existir, nem uma revolução comunista será necessária para isso.
As queimadas (coivara) em áreas rurais é tradição indígena adotada pelos colonos, não é prática do agribusiness. O que tem a ver o capitalismo com isso?
Assoreamento dos rios seria sensivelmente reduzido, caso houvesse uma melhor fiscalização por parte dos agentes ambientais e penalização pecuniária salgada e regular que adestre o agente produtivo criando incentivos à preservação parcial. O que, aliás, em uma perspectiva inter-temporal redunda em lucro, pois evita agregação de custos de fertilização e desassoreamento necessários.
A compactação dos solos pode ser evitada com o rodízio de culturas, técnica medieval.
Essas e outras causas antrópicas podem ser discutidas pela perspectiva TÉCNICA e não, IDEOLÓGICA ou SOCIOLÓGICA, como propõe o autor. Acontece que autores marxistas são reféns do método que advoga a TOTALIDADE. Só que por “totalidade”, eles entendem uma determinação imaginada por Karl Marx, com todos os eventos sociais, sim TODOS, inclusive as técnicas produtivas decorrentes da necessidade de acumulação capitalista e destruição ambiental. Para quem acha que estou imaginando, o próprio autor é quem diz quando:
“[A]s ações humanas (…) são frutos de demandas socialmente determinadas, não podem ser separadas das questões ecológicas, como se o meio ambiente não fosse transformado e formatado pelo Homem e como se este fosse um ser supranatural.”
Aqui fica clara a tentativa de domar a ciência ecológica à teleologia marxista, de que tudo que existe de destrutivo ou impactante decorre de um ciclo de expansão capitalista, como se esta mesma destruição inexistisse no mundo socialista ou que inovações menos impactantes, sustentáveis, tecnologias limpas não fossem criadas, justamente, no capitalismo.
Em suma, esta é a verborragia que vem em papel couché, com financiamento de empresários catarinenses que querem posar para fotos publicadas junto ao editorial de uma revista, cujas páginas eles sequer entendem e que alguns desavisados saem repetindo, doutrinariamente, como papagaios e arautos do fim do mundo. Este é o lixo reproduzido nos cursos de humanas de universidades públicas.
Urge privatizá-las e urge a nós, que vomitamos com tudo isto estabelecermos nossos próprios think tanks independentes que não se limitem a repetir cânones liberais (na economia) e conservadores (na cultura), mas que vamos além, propondo um diálogo com os especialistas de áreas técnicas para um trabalho de media watch não limitado ao jornalismo, mas que alcance e desmistifique essas produções pseudo-científicas.
Faço isso há anos, mas preciso de parceiros… Quem vem comigo?
Precisamos de subsídio e não me refiro à grana, não quero criar mais um meio de enriquecimento e formação de clubinho fechado, igrejinha ideológica. Preciso de parceiros para local de palestras, alguém que saiba filmar e editar vídeos e se proponha a fazer um trabalho de formiguinha em conjunto para destruirmos esta hegemonia obscurantista.
Se quiserem, contatem-me por aqui mesmo ou via e-mail: aheidrich@gmail.com

Anselmo Heidrich
2 fev. 19

quinta-feira, junho 23, 2016

Tem algo errado no ensino privado em Santa Catarina?


Sérgio Roberto, professor de história em Chapecó critica os baixos salários do setor privado em sua região:
Cf. Sem frescura: Tem algo errado no ensino privado.: Falar sobre educação é necessário e sempre muito importante, principalmente porque sabemos das enormes carências e deficiências que ainda t... 
Os baixos salários dos professores da rede privada em Santa Catarina são compreensíveis, embora imorais e injustificáveis se tomarmos em consideração que esta deveria ser uma das principais políticas públicas no país. Mas, são compreensíveis exatamente porque o estado detém a menor taxa de natalidade do país, logo de reposição de jovens no mercado de trabalho, nativos, catarinenses mesmo. O efeito disto é lógico: há menos demanda pelos serviços educacionais e os professores não tem sua oferta reduzida na mesma proporção, o que leva a um excesso de oferta desses profissionais. O resto é Lei da Oferta e Procura, muita banana na feira, banana em promoção. Triste, duro ouvir isso, mas estamos oferecendo muitos profissionais e, cá entre nós, de nível cada vez mais sofrível em um estado com cada vez menos jovens (proporcionalmente falando). Como se tudo isto não bastasse, ainda temos uma elevada taxa de evasão no ensino médio. Como resolver? Valorizando, i.e., pagando melhor o profissional da rede pública porque isto reflete no setor privado. Se não há fundos para tanto deve se reconfigurar os gastos públicos para setores essenciais (Educação, Saúde e Segurança) que, como bem sabemos, tem sido muito mal gastos neste país. 

Anselmo Heidrich
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Fas est et ab hoste doceri – Ovídio


Se concorda, compartilhe.

domingo, fevereiro 22, 2015

Questões e falsas questões sobre educação


Uma questão central no processo educacional é entender quem são os nossos professores, o que pensam e o que fazem. Por isto mesmo eu temo que nosso processo educacional ainda precise de uma bela faxina geral, pois a militância é uma das principais razões de termos este setor à deriva. Imagem: marcobueno.pro.br.

Eu costumo fazer, para fins didáticos, uma distinção entre EDUCAÇÃO vista como um conjunto de atos e programas envolvendo a incorporação do aluno na escola e, o que é bem menos comentado em matérias sobre o assunto, ENSINO visto como a apresentação e treino de disciplinas (matérias) passadas nas séries (os atuais "anos", na nova terminologia).

Não é verdade que o ensino de escolas privadas seja essencialmente superior em nosso país. Para tanto basta analisar como se saem as escolas de ambos os tipos em avaliações nacionais. Há as boas escolas privadas e públicas e um "oceano de incompetência" no sistema público e privado. O mercado tem seu mérito, sem sombra de dúvida, pois os problemas administrativos, tão comuns de se ver em escolas públicas, dos quais a estabilidade do servidor, geralmente alcançada após os três anos iniciais de serviço induz os profissionais a usarem seus direitos, o que inclui uma certa quantidade de faltas sem justificativa necessária, dentre tantos outros. No sistema privado isto é impensável. Com raras exceções (Santa Catarina é uma delas), as escolas privadas pagam melhor. E isto não decorre porque o aluno paga por seu estudo, mas porque a lógica do sistema público parte de uma má remuneração pela hora de aula e busca de horas extras como "atividade" (planejamento, correção de avaliações etc.) que redunda muitas vezes na presença obrigatória em sua escola sem obrigação de ministrar aulas. Um absurdo no meu entender, pois se objetiva uma diluição do trabalho e não sua intensificação. Assim, a renda auferida se torna proporcionalmente menor pelo tempo que se depreende, pari passu à produtividade do trabalho. Ou seja, ao invés do professor do ensino público objetivar maior renda por hora, ele busca menos trabalho (efetivo) no total. Surreal, um absurdo.

Quanto à qualidade do ensino, uma vez instituído a chamada Progressão Continuada, mais conhecida como "aprovação automática" (introduzida pelo PSDB em S. Paulo e popularizada nacionalmente pelo PT), o aluno ri da tua cara, caso seja chamado a trabalhar e se empenhar nos estudos. Ou seja, só "roda" por faltas e, assim mesmo, em conselhos de classe é capas de ser aprovado conforme os ânimos do momento e a conjuntura política. Não, não foi força de expressão, uma vez que diretores escolares não se submetem a nenhum critério objetivo para serem eleitos em muitos municípios, se tratando apenas de indicação política.

Há muito o que comentar, como os bons índices educacionais em avaliações como o IDEB, que não passam de números fake, porque o índice de aprovações conta positivamente. E, como eu disse, praticamente ninguém mais é reprovado. Simples assim, uma realidade paralela com a pílula azul da Matrix. Lixo, uma civilização que é homeopaticamente drogada e jogada no lixo. Não existe escola sem repressão disciplinar, se trata de condicionamento necessário. O que vemos é um antro de encorajamento à delinquência que só muda quando o bairro ou conjunto de bairros em seu entorno tem características razoavelmente boas. Portanto, não são só professores e governo, os grandes culpados... Uma figurinha não pode passar em branco: PAIS. Quando eles são realmente atuantes e cobram, inicialmente indo às reuniões que são convocados, a escola reflete melhor com decisões corretas e ações conjuntas.

Por ora é isto, mas tenho muito mais para contar.

(...)