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terça-feira, fevereiro 13, 2018

As Causas da Desigualdade Social Brasileira


Em As quatro causas da desigualdade brasileira – SpotniksLeandro Narloch faz uma boa e sucinta análise sobre as razões do Brasil ser uma país tão diversificado do ponto de vista socioeconômico.
Aqui estão elas:

O Brasil é desigual porque é livre
(…) Suponha que, de repente, todo o dinheiro do Brasil é dividido igualmente entre todos os brasileiros. De um dia para o outro, nos tornamos um país mais igualitário que a Noruega; o coeficiente de Gini cai a zero.[1] O banqueiro Joseph Safra e o cobrador de ônibus acordam com o mesmo patrimônio.
Agora imagine que, no dia seguinte a essa revolução igualitária, surge na internet um canal de humor chamado Porta dos Fundos. Os humoristas do Porta dos Fundos escrevem roteiros geniais; os vídeos que eles lançam logo geram comentários e milhões de visualizações. Ao clicar tantas vezes em links do Porta dos Fundos, os brasileiros dão mais dinheiro a esse grupo de humoristas que a outros, criando a desigualdade no mercado de humor pela internet. O Porta dos Fundos ficaria com a maior parte da verba destinada a canais de comédia do YouTube, sem falar nos anunciantes que, por vontade própria, decidirão usar sua parte da renda dividida igualmente entre os brasileiros para contratá-los como garotos-propaganda.
A situação inicial, em que todos os brasileiros tinham a mesma renda, terá desaparecido.
(…)

O Brasil é desigual porque é diverso
(…) a mistura de povos diversos num grande país – explica boa parte da desigualdade de renda do Brasil. Uma causa importante da desigualdade brasileira é uma das qualidades que nos dá orgulho: a mistura de povos e culturas. O fato de tribos indígenas e imigrantes suíços donos do Burger King conviverem dentro das mesmas linhas imaginárias empurra a estatística para cima.
Se eu estiver certo, preciso provar que há uma Dinamarca incrustada no território brasileiro. Pois ela existe, fica no Rio Grande do Sul. Das quinze cidades mais igualitárias do Brasil, doze são gaúchas de origem alemã (dê uma olhada na tabela a seguir). A cidade com a renda mais distribuída do país, São José do Hortêncio, tem um índice de Gini de 0,28, abaixo dos 0,29 da Dinamarca. Não houve nessas cidades nenhuma política pública de redução de desigualdade, nenhum imposto sobre fortunas ou coisa parecida. O que explica a igualdade por lá é simplesmente a semelhança entre os cidadãos. Assim como os dinamarqueses, quase todos ali têm a mesma origem cultural, o mesmo nível de educação. E muitos têm origem luterana, como os dinamarqueses, o que historicamente contribuiu para a igualdade. “Comunidades protestantes trabalharam para difundir educação que garantiria que todos pudessem ler a Bíblia, o que tanto aumentou o nível de educação quanto diminuiu sua variação”, diz o economista Edward Glaeser. (…)
Em contrapartida, para achar os locais com maior desigualdade de renda, é preciso mirar nas cidades em que grupos bem diferentes moram juntos. É o caso das capitais, que atraem tanto o João Paulo Diniz, herdeiro da rede de supermercados Pão de Açúcar, quanto o ex-boia-fria que sonha em ganhar mil reais por mês como jardineiro do João Paulo Diniz. Mesmo Florianópolis e Curitiba, as duas capitais mais igualitárias do Brasil, estão acima da média nacional de desigualdade.
No entanto, por causa da classe média expressiva, as capitais não são as campeãs nesse quesito. As cidades mais desiguais são aquelas que reúnem um pedaço da Dinamarca, outro do Quênia e só. É o caso de São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas, a cidade brasileira mais desigual. Com um índice de Gini de 0,80, ela supera de longe Seychelles, o país com renda mais concentrada no mundo (0,65). O motivo? Em São Gabriel da Cachoeira há apenas dois tipos de moradores: mais de 400 tribos indígenas, que formam 74% da população e não têm renda formal, e militares, médicos e outros agentes federais muito bem pagos. De fronteira com a Venezuela e a Colômbia, São Gabriel da Cachoeira é sede de batalhões e órgãos federais de vigilância. A cidade prova, como nenhuma outra, a importância da diversidade cultural para a desigualdade econômica. “Em países particularmente igualitários, como os da Escandinávia, a população é geralmente bem-educada e a distribuição de qualificação bem compacta”, afirma o economista Edward Glaeser. “Já países particularmente desiguais e em desenvolvimento, como o Brasil, são enormemente heterogêneos nos níveis de qualificação entre elites urbanas bem-educadas e trabalhadores do campo pouco educados.”
Talvez a miscigenação atue ainda de outra maneira. Provavelmente por vantagens evolutivas da lealdade de grupo, as pessoas tendem a contribuir mais com quem se parece com elas ou pertence à mesma identidade coletiva. Palmeirenses ficam mais contrariados com o dinheiro público gasto no Itaquerão que os corintianos. O economista Erzo Luttmer mostrou em 2001 que, nos Estados Unidos, o valor dos programas de redistribuição de renda é menor nos estados onde a população é mais diversa. “Se indivíduos preferem contribuir para sua própria raça, etnia ou grupo religioso, eles optam por menos redistribuição quando membros de seu grupo constituem uma parte menor dos beneficiários”, diz Luttmer. “Com o aumento da diversidade, a porção de beneficiários que pertencem a um grupo diminui em média. Então o apoio médio para redistribuição cai se a diversidade aumenta.” Isso leva a uma conclusão impressionante. Não foi o estado de bem-estar social que possibilitou a igualdade da Dinamarca, mas o contrário: a semelhança entre os cidadãos escandinavos possibilitou o estado de bem-estar social.

O Brasil é desigual porque as famílias pobres tinham muito mais filhos que as ricas
(…) mais filhos significam mais gastos – e menos dinheiro para investir na educação de cada um. “O número de filhos que um casal decide ter possui forte relação com o nível de educação que os pais conseguirão fornecer aos filhos”, dizem Hausmann e Szekely. Cada criança começará a vida com uma parte menor da renda dos pais e com menor escolaridade. Um estudo de 2014 mostra que até 40% da queda da desigualdade de renda são explicados pela queda na desigualdade de escolaridade.
Fica ainda pior. Crianças com pouca escolaridade, quando crescerem, vão concorrer no mercado por vagas de pouca qualificação, aumentando a oferta de trabalhadores não qualificados. Uma vez que salários, assim como qualquer preço, são definidos pela oferta e procura, o salário de pessoas não qualificadas vai cair, aumentando a diferença de renda entre pouco e muito qualificadas. O maior número de filhos ainda resulta numa poupança menor – e um país com menos economias tem menos capacidade de investimento.
(…)
O poder dessa máquina de desigualdade já foi calculado. Em 2010, 45,2% dos brasileiros eram donos de apenas 10% da renda do país, enquanto 5,9% dos brasileiros ficavam com 40% da renda. Como seriam esses números se a fecundidade de 1980 tivesse permanecido estável até 2010? Teríamos mais pobres dividindo os mesmos 10% e menos ricos desfrutando os 40% da renda nacional. “Se a natalidade não tivesse caído, as proporções comparáveis seriam de 62% e 4,1%, respectivamente”, diz a pesquisadora Ana Amélia Camarano, do Ipea.
O demógrafo Jerônimo Muniz, da UFMG, tem estudos similares. Ele calculou o que aconteceria com a desigualdade social no Brasil entre 1990 e 2000 se todas as variáveis, com exceção da demografia, ficassem constantes. Em 1990, a diferença de fecundidade entre mulheres pobres e ricas era bem menor que nas décadas anteriores, mas ainda existia. “Se a demografia fosse o único componente do cálculo, a proporção de pobres aumentaria 28% entre 1990 e 2000. Isso corresponderia a 42% da população. Já a desigualdade seria até 40% maior”, diz Muniz. Por causa da estabilidade da moeda e o crescimento (ainda que pequeno) da economia, houve um movimento modesto na direção contrária: a pobreza caiu 9% entre 1990 e 2000.
Estaria eu culpando a vítima ao dizer que as mulheres de classe baixa são responsáveis pela alta desigualdade do Brasil? Nunca me esqueço de uma vizinha da minha mãe que pagava menos de um salário mínimo para a empregada e não cansava de dizer que os pobres eram pobres porque nada faziam além de ter filhos. Não: culpa não é um conceito que funciona bem em economia. Os pobres provavelmente ficaram presos numa armadilha: sem dinheiro e informação, tiveram muitos filhos, o que os deixou com ainda menos dinheiro e informação. Não é correto culpar os pobres nem os ricos pela desigualdade. Basta entender que é a demografia, e não tanto a opressão das grandes empresas e do capitalismo, que explica boa parte da concentração de renda no Brasil.…

AGORA PRESTE ATENÇÃO: todos os fatores de desigualdade econômica aventados pelou autor, Leandro Narloch são sociais, isto é, dependem da sociedade se conscientizar e querer mudá-los, mas invariavelmente são confundidos com fatores políticos, como se bastasse pressionar representantes para proporem e executarem “reformas estruturais”. Ledo engano… Demografia, homogeneidade cultural, o ímpeto pelo estudo e a liberdade de mudar ou escolher o que fazer da vida, estudar, trabalhar etc. não são coisas que dependam de projetos de lei, votações, plebiscitos etc. NO ENTANTO, o próximo fator SIM. Quando nossa Esquerda e críticos do capitalismo atribuem toda e qualquer situação de desigualdade ao capitalismo estão enxergando um problema, mas atirando no alvo errado.

ENTÃO, qual é este ALVO?

ÊI-LO:

O BRASIL É DESIGUAL PORQUE O ESTADO ESCULHAMBA O PAÍS
Uma opinião comum nas discussões sobre economia é que, se o governo deixar, as grandes corporações vão avançar sobre os pequenos empresários e os ricos concentrarão toda a renda do país.
Não, é o contrário.
Grandes empresas recorrem a políticos para se tornarem monopólios. Empresários estabelecidos num negócio pressionam o governo para aumentar regras e exigências, dificultando a vida de possíveis concorrentes. Leis urbanísticas protegem o patrimônio dos ricos contra a desvalorização. E os brasileiros de classe A são quem mais recebe dinheiro público.
Quem diz isso é um cara de esquerda, o economista Joseph Stiglitz, prêmio Nobel de 2001. No livro O Preço da Desigualdade, Stiglitz dedica todo um capítulo sobre ações do governo que deixam os pobres mais pobres e os ricos mais ricos. Seu principal alvo é o rent-seeking – a arte de conseguir benefícios e privilégios não pelo mercado, mas pela política. “O rent-seeking tem várias formas: transferências ocultas ou abertas de subsídios do governo, leis que tornam o mercado menos competitivo, leniência com as leis de proteção da competição, e regras que permitem às corporações tirar vantagem dos outros ou transferir custos para a sociedade”.
Stiglitz diz que a América Latina é rica em privilégio a grandes empresas – e ele está certíssimo. Dos casos recentes da política brasileira, o exemplo mais bem-acabado é o da Braskem, a maior petroquímica brasileira. A Braskem é a única fabricante nacional de diversas resinas plásticas usadas na fabricação de brinquedos, embalagens, cadeiras de plástico, carpetes, seringas, peças de carros e eletrodomésticos, tubos, canos – enfim, de quase tudo. Na média mundial, o imposto de importação de resinas é de 7%. No Brasil, era de 14%, mas em 2012 a presidente Dilma elevou a taxa para 20%. Na época, o aumento causou revolta, pois reverberaria em toda a cadeia de produtos plásticos made in Brazil. “A iniciativa beneficiará somente um monopólio instalado no país, o da Braskem, prejudicando toda uma cadeia produtiva e, o que é mais grave, os consumidores pagarão a conta”, escreveu José Ricardo Roriz Coelho, então presidente da Associação Brasileira da Indústria do Plástico. Com os concorrentes estrangeiros fora do páreo, a Braskem pôde cobrar mais pelas resinas que vendia a 12 mil fábricas brasileiras. Entre janeiro de 2013 e fevereiro de 2014, o aumento dos produtos da empresa foi de 27,6%. Agora, adivinha quem controla a Braskem? Nada menos que a Odebrecht, empresa envolvida até a alma em escândalos de corrupção e propinas para o partido no poder. Durante a operação Lava Jato, o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa e o doleiro Alberto Yousseff disseram que a Braskem pagava propina em troca maiores lucros em contratos com a Petrobras.
Outros motores estatais de desigualdade não são tão fáceis de perceber. As leis urbanísticas, por exemplo. Em muitas cidades brasileiras, a prefeitura impõe um limite de área construída em relação à área do terreno. É por isso que o Brasil não tem prédios com mais de cem andares, como em qualquer lugar civilizado. A regulação urbanística cria uma escassez artificial de espaço urbano, empurrando o preço para cima. Esse fenômeno não é exclusividade do Brasil. Leis que dificultam a construção de prédios aumentam o preço dos imóveis em 800% na cidade de Londres e em 300% nas metrópoles Paris e Milão.


sábado, fevereiro 10, 2018

A Desigualdade Social pode ser boa?


O aumento da desigualdade pode ser benéfico à sociedade sob algum ponto de vista? Não? Então leia isso:
“E o que ajuda a aumentar a desigualdade, segundo o estudo que vocês realizaram?
“Basicamente são os salários e a previdência que contribuem com a maior parte da desigualdade. A tributação direta ajuda a reduzir a desigualdade. Isto é, o imposto de renda e as contribuições obrigatórias para a previdência promovem igualdade. Os tributos têm um peso muito maior – na ordem de vinte vezes – do que todas as políticas de assistência social juntas. Embora haja rendas que contribuem para aumentar a desigualdade, não se pode julgar isso superficialmente, nem toda contribuição para a desigualdade é intrinsecamente ruim. Por exemplo, quando o Estado contrata médicos, professores, enfermeiros, policiais, contrata pessoas que ganham mais do que os trabalhadores sem qualquer qualificação – que são a maioria da força de trabalho – acaba contribuindo para a desigualdade, mas isso não é intrinsecamente ruim. Veja bem, aumentar o salário das professoras do ensino primário para contratar professoras mais qualificadas é uma coisa desejável. Mas se fizer isso a desigualdade brasileira vai crescer. Isso porque as professoras, embora não ganhem muito bem, ganham mais do que a maioria das pessoas que têm pouca educação. Só que esse crescimento não é um problema grave. Aliás, isso também vale na outra direção, nem toda redução da desigualdade é boa. Por exemplo, durante a Segunda Guerra Mundial, a desigualdade caiu muito nos países da Europa que foram destruídos, mas isso não foi bom, porque ninguém ganhou com isso. Não se pode fazer uma interpretação rasteira do que é bom e o que é ruim no comportamento da desigualdade. A redução da desigualdade é boa quando alguém ganha com isso, quando há redistribuição. Há situações em que aumentar da desigualdade pode ser justificável se os benefícios forem muito superiores aos custos.”
Já sei… Você é daqueles que não valoriza, mesmo que o conteúdo seja bom ou tenha bons argumentos lógicos etc. Ainda mais se for de um blog liberal-econômico, certo? Eh eh, pois bem, caso te interesse saber a fonte e se aprofundar no assunto, aqui vai:
Um conselho amiguinho: deixe a retórica ideológica de lado por alguns minutos e parta para a análise da realidade baseada em fatos e dados. Faz bem para não se perder nesta tormenta de interpretações mal fundamentadas que são as redes sociais nos dias atuais.
Anselmo Heidrich

domingo, novembro 27, 2016

A desigualdade nunca foi o grande problema


Imagine que tivéssemos uma máquina do tempo e viajássemos para qualquer lugar do Brasil no início do século XX. E chegando nesta época conhecêssemos um cidadão de classe média, que vivesse em uma cidadezinha afastada sem acesso a um serviço médico permanente, sem água tratada e tivesse que içar um balde de um poço para encher sua tina d’água diariamente, sem sistema de coleta de dejetos, que com muito custo e dificuldade conseguisse poupar um dos filhos da lida rural e o pusesse na escola para garantir uma vida melhor (enquanto que todos os outros, normalmente mais de seis) o financiassem com seu trabalho bruto. Este cidadão, no entanto, contava com uma casa humilde, porém sua, mas tivesse que fazer uso de tração animal para se deslocar ao trabalho e levar sua produção ao mercado local, pois não havia ainda veículos motorizados que reduzissem o tempo e, portanto, o custo da produção e distribuição. Veja... Este indivíduo, em relação à imensa maioria da população pobre era considerado “classe média” e, nos comovendo com sua situação penosa de vida lhe propuséssemos o seguinte “o Sr. gostaria de viajar conosco uns 80 anos para a frente e desfrutar de uma vida muito, mas muuuiiitooo mais cômoda, com água quente e frequente, luz ao simples toque, carroças que andam tão veloz quanto um pássaro, todas as crianças com direito aos estudos, grandes armazéns com tantos produtos que perderíamos dias contando seus itens e a mágica da cura e do tratamento na maioria disponíveis em ‘balinhas’ etc.?” O cidadão, caso acreditasse em nós e não tentasse nos internar, muito provavelmente aceitaria a oferta de pronto. Daí, sabendo da posição que iria deter na escala social achamos por bem lhe dar o aviso “mesmo estando em uma posição bem melhor que a atual neste bravo novo mundo que irá se descortinar perante o Sr., devemos lhe informar que vossa família estará situada em um dos níveis mais baixos de nossa sociedade. Mesmo tendo todos estes itens de conforto disponíveis e de fácil acesso, alguém em situação média deterá um nível socioeconômico muito superior ao Sr. e seus dependentes”. Surpreso com esta informação, o cidadão pensa um pouco e diz “preciso refletir melhor e consultar minha esposa...”

Caso tenha entendido o que se passou aqui, o grande problema não é a desigualdade socioeconômica e sim a pobreza absoluta, mas não é isso que, infelizmente, é percebido com clareza. Para a maioria da sociedade, uma situação melhor para cada unidade familiar não é percebida como tal se não deixamos nosso vizinho “comendo poeira”, isto é, se não nos destacamos na escala social porque, simplesmente, nossa percepção é relativista, toma parâmetros em comparação. A desigualdade significa, em termos simples, em diversidade e o problema real é a igualdade que nivela todos por baixo. O mau uso das palavras, seja na mídia, seja na academia, no dia a dia enfim é que impede que tenhamos o foco nos reais problemas dificultando o entendimento desta sociológica porque, na verdade, somos reféns de uma psicológica, que tem a inveja como ponto nevrálgico: eu me comparo ao vizinho e não comigo mesmo, eu quero demonstrar aos outros que estou melhor e não provar para mim mesmo que lutei, cresci e venci.




domingo, setembro 04, 2016

A velha equação educação/desigualdade/crime está gasta


Um velho amigo, social democrata me argumentou que o problema do crime é a falta de investimento em educação e a desigualdade social. Minha resposta segue abaixo:


Discordo, se há criminosos em classes baixas, provavelmente, sua participação é irrelevante, assim como em outras classes. Aliás, essa retórica de "desigualdade social como fomentadora do crime" também não me convence. Em primeiro lugar, porque não vejo o Brasil como um país profundamente desigual e sim, bastante igualitário. Explico-me, a questão é semântica e este jogo foi também engolido pelos liberais, na medida em que se toma o hiato entre os extremos como prova de desigualdade. Ora, se temos uma imensa maioria numa determinada faixa de renda não temos uma grande desigualdade, mas sim uma grande porção demográfica em uma faixa de renda, isto é, uma homogeneidade de renda, o que também poderíamos chamar de igualdade. Desigualdade para mim, ao contrário, é bom, pois significa faixas diversas de rendimentos, o que não necessariamente inclui a pobreza. E, enquanto a desigualdade é um conceito relativo, a pobreza é um conceito muito mais objetivo, uma vez definido seus critérios. Há quem pense exatamente o contrário, por isso o primeiro passo é definir, rigorosamente, os conceitos em uma discussão e este é meu ponto de divergência: se assume como fato, definições dadas por professores que vem de geração em geração e ninguém para, para se perguntar o porque, sua origem e como funciona. Isso nos remete àquela velha discussão em nosso grupo no tópico sobre áreas preservadas: há 25 anos que leio e ouço dizer que resta apenas 7% da área de Mata Atlântica no país, enquanto que as mesmas ONGs que se alardeiam isto (SOS Mata Atlântica, por exemplo), se gabam de suas ações estarem contribuindo para a redução do desmatamento e reposição do bioma!!!! Ué?! Então não seriam mais meros 7%. E leio isto há 25 anos!!!! Algo me cheira muito mal nesta história toda, aliás, fede. E eis que agora, por causa desta polêmica da doutrinação nas escolas, eu retomo minhas leituras de livros indicados pelo MEC e me deparo com um dado de que a Mata Atlântica tem apenas 27% de sua área original. Esses 20% vieram de onde? Alguém replantou ou alguém está ignorando que propagou uma falsidade? Durante décadas. “Livro didático” dirão alguns... Sim, assim como os dados mais pessimistas foram divulgados por eles, com dados fornecidos pelo MMA e, antes, por órgãos ambientais como o IBAMA.
Qual o paralelo entre os dois problemas? Nossos órgãos públicos não têm feito pesquisas ou se pautado em pesquisas cientificamente. Eles agem e divulgam ideologicamente. Tudo bem, quem quer mentir, quem minta, mas o problema é por serem órgãos públicos, eles tem divulgado essas informações com meu dinheiro, com nosso dinheiro. Então, minha proposta é a extinção do MEC ou sua redução drástica para tratamento objetivo de áreas mínimas e essenciais, como português e matemática. Ah! E sobre esta teoria de que o crime advém da falta de educação, isto é relativo, pois o setor educacional reflete o que a sociedade já é. Para mudá-lo, o que desejo, o apoio a leis e procedimentos de leis já existentes, mais restritivos e punitivos tem que ser endossado. Não adianta ficar dizendo que a educação tem que ser isso e aquilo, quando a própria letra da lei é ignorada por quem mais deveria preservá-la. Insisto, onde estão os educadores do país para defender este instrumento jurídico essencial que ora se discute no país?
Lei Harfouche

Se nem quem mais deveria se interessar pelo assunto está informado sobre ela, o que posso esperar do setor? Os meus colegas professores estão preocupadíssimos em discutir como ensinar sexualidade a um aluno (assunto de foro íntimo, para mim), enquanto que isto sequer é observado:
Brasil, no topo do ranking de violência escolar
BBC Brasil - Pesquisa põe Brasil em topo de ranking de violência contra professores

Minha contestação a tua visão é simples, eu não espero nada de promissor ou revolucionário vindo da escola brasileira. Não com este tipo de professor que predomina, que não está nem aí para os problemas reais do país, a começar pelo seu ambiente de trabalho e, além do mais, ainda incentiva alunos a irem para o campo de batalha destruir o trabalho e propriedade alheia. E eu os conheço.

Bom domingo,
Anselmo Heidrich

segunda-feira, novembro 30, 2015

NÃO CULPE O CAPITALISMO na UNIBRASIL


Dia 26 de novembro passado, eu, Anselmo Heidrich, Fernando Ferro e Luis Diniz estivemos na Unibrasil, em Curitiba divulgando nosso trabalho. Como se tratava de uma semana acadêmica promovida pelo curso de direito procuramos voltar nossa discussão para temas relacionados, como capitalismo e criminalidade; capitalismo e desenvolvimento econômico; propriedade privada e favelização etc. Assista aos vídeos a seguir que vale a pena e nos sugira temas novos, novos adendos, perspectivas ou faça críticas que nos serão úteis.
Grato pela atenção,
a.h











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sábado, dezembro 06, 2014

Novo colunista da Veja sabe criticar



Ele sabe escrever e seu estilo é como tapa com luva de pelica, diferente de outros com estilo barraqueiro. Além do conhecimento que ele nos traz, de modo direto e sintético, o que eu também gosto em seus livros é uma provocação indireta... Já vi professores de história criticarem-no por "não ser da área", "não ter credibilidade" e outras bobagens similares. Ora, desde quando o que importa é o mensageiro e não a mensagem? Se estes professores se acham melhores, então que façam algo melhor! Por que não o fazem? Ou será que estão com inveja porque a linguagem hermética que adotam e o manancial de referências apenas esconde sua incompetência em mostrar o mesmo velho passado histórico sob uma perspectiva nova?


Cf.: País rico é país sem pobreza? http://veja.abril.com.br/blog/cacador-de-mitos/2014/12/04/pais-rico-e-pais-sem-pobreza/

Mas cá entre nós... Aproveitar o copo de requeijão e secar a roupa atrás da geladeira é muito funcional.


terça-feira, outubro 15, 2013

Tolerância ∞ e entropia social

Sobre:
E: 
João e Paulo (por @diegoquinteiro) http://diegoquinteiro.com/joao-e-paulo/

O conto acima de Diego Quinteiro pressupõe uma explicação/teoria que parece lógica, mas não é, pois deixa detalhes importantes de fora. Se a causa da criminalidade fosse assim, fruto da desigualdade social os principais criminosos, os que dirigem máfias organizadas viriam das classes mais baixas, assim como teríamos muito mais criminosos do que temos porque ainda há uma imensa população que pode ser considerada pobre. O fenômeno da Classe C, uma classe média ascendente é muito novo e se a desigualdade fosse causa principal do crime teríamos a maioria dos pobres trilhando este caminho. Note que atribuir, a priori, a criminalidade ao pobre é, antes de tudo, preconceituoso, pois se esquece de ver que a maioria é constituída por trabalhadores que ralam para manter sua economia doméstica em dia. Para quem assiste canais de documentários como o ID – Investigação Discovery – sabe que há psicopatias que induzem ao crime. E boa parte dos crimes violentos é causada por doentes mentais, o que não quer dizer que não mereçam penalidades, só que estas incluem tratamento. Na maioria dos casos, pelo que sei, não há cura para isto, mas tratamento constante que implica em manter o interno recluso, apartado da sociedade ou com liberdade condicional porque ele oferece risco. Por outro lado, ao nos referirmos aos crimes sobre o patrimônio, furto etc., esses têm mais a ver com educação. Só que esta é muito mal entendida hoje em dia... Por educação me refiro ao condicionamento social mesmo. Veja que nós estudamos e trabalhamos porque (a) gostamos, (b) pode nos trazer benefícios, inclusive financeiros, (c) aumenta nossa auto-estima etc., ou seja, há uma série de incentivos pelos quais batalhamos diariamente. Estes seriam fatores preventivos que evitariam que o indivíduo fosse atraído para o mundo do crime. São importantes e com o lixo de educação pública (e também particular) que grassa no Brasil de hoje é verdade que não temos sido eficazes nesta parte da equação. Mas, mesmo que funcionasse bem ou, ao menos, melhor do que o caos instaurado hoje em dia, mesmo assim, não bastaria. Veja bem, eu não disse que “não serviria para nada”, mas que NÃO BASTARIA. Qual a diferença? Que a outra parte da equação, desde tempos imemoriais é que é necessário PUNIR, como estratégia de dissuasão para aqueles que a educação/condicionamento social não basta. E te pergunto, qual a força disto quando se sabe que até atingir a maioridade penal, alguém não será punido com encarceramento como qualquer outro assassino ou ainda terá sua punição (medida socioeducativa) sensivelmente abrandada? Além da impunidade que existe neste caso, o assassino jovem tem aí um forte incentivo ao crime, sobretudo ao assassinato porque ganha status perante colegas de quadrilha e gangue.
Quanto ao consumismo ser fator de desigualdade e crime é um equívoco. Isto é coisa de socialista redistributivo, para ser redundante, pois socialistas gostam de fazer caridade com o dinheiro alheio mesmo... Em primeiro lugar, o consumo sustenta e pode ampliar o comércio gerando empregos, isto é, diminuindo a pobreza. Ainda reduz o preço dos produtos devido a maior escala da produção permitindo o acesso aos produtos outrora restritos a uma minoria. Então é o contrário, exatamente o contrário do que diz o cérebro esquerdista. Agora, se a ostentação do consumo for causa de inveja, se há gente boçal que não sabe comprar e consumir sem se exibir, este é um problema de cultura que, definitivamente, não é o caso da maioria. Basta perceber ao teu redor, teus vizinhos e amigos, a maioria não age assim. Quando um garoto paga sua academia para praticar boxing, está consumindo e investindo na saúde, segurança, bem estar e condicionamento físico. A rigor, não está se exibindo, mas seguramente deve haver muito pitboy em academias que faz para ameaçar e se exibir. É justo pegar o exemplo negativo para condenar todos os outros? Claro que não. Agora, no dia das crianças dei brinquedos baratos para meu filho, porque são muito legais, carrinhos hot wheels para eu brincar junto com ele (custam menos de 5 reais!) e que na minha época eram muito mais caros. Ainda são importados, mas estão cada vez mais acessíveis. Também comprei giz de cera e papel porque ele adora desenhar etc. Estes brinquedos não são para ostentar, mas para brincar, aproximar pai e filho, aprender com o aspecto lúdico etc. 
Um economista antigo chamado Frédéric Bastiat disse certa vez que “se os produtos não atravessarem a fronteira, o soldado o fará”. O que ele dizia é que se não houver comércio entre as nações há guerra, invasão, possessão. Analogamente, para evitar que haja uma guerra social, como a que assistimos no Brasil, o comércio (consumo) tem que ser incentivado e, nosso governo deveria começar reduzindo impostos sobre o comércio e atividade produtiva, bem como desburocratizando estas atividades. 

Negar esta liberdade é que é incentivar o crime.