O que eu achei da declaração do Presidente da República hoje culpando a mídia, chamando as pessoas que se resguardam de histéricas, atacando prefeitos e governadores que têm sido proativos, se auto-elogiando por ter sido um “atleta” e que se for contagiado, no máximo, pegará uma “gripezinha”? O que eu achei dele??
Costumo boicotar este tipo de mensagem que foge ao tema principal do grupo, mas acho pertinente colocar uma opinião sobre uma decisão que terá reflexos diretos em nossas vidas. Tentarei faze-la com um máximo esforço para não ofender ninguém…
A República hoje funciona como uma balança e a depender do atual rumo dos acontecimentos, ela penderá cada vez mais para os governadores, que estão em um avançado cabo de guerra com o governo federal. Bolsonaro está cada vez mais isolado e por mais que queira lutar contra a estagnação econômica, tanto em termos de comunicação como de articulação política está falhando.
Quando digo ‘comunicação’ me refiro não só ao público em geral, mas à outras instâncias de poder, como os governos estaduais, prefeituras e, sobretudo, o Congresso Nacional. Se ele não mudar de postura e aprender a dialogar, temo que uma crise política leve a problemas mais duradouros em nossa economia.
O pior dos cenários, no entanto, ainda não está claro para mim (ainda bem), que seria uma cisão entre os militares que integram seu governo. Quero crer – e aqui uso de meu declarado wishful thinking – que haja uma homogeneidade e consonância na postura dos membros do exército que integram o governo, pois guerras civis são vitaminadas quando as forças armadas se dividem.
Bolsonaro repetiu diversas vezes que vivíamos um período similar ao pré-1964… Custei admitir que sim e que ele tem razão, com a grande diferença de quem irá ser derrubado é quem ele menos imagina: o próprio.
Quanto às declarações em si do Presidente, eu me esforço aqui para me conter e não expelir todo o rosário de impropérios que conheço contra esta pessoa.
O discurso do Presidente da República pode ser dividido em 5 pontos fundamentais: Socialismo; Ideologia; Amazônia; Criminalidade; Economia, não necessariamente nesta ordem. Os dois últimos tópicos foram bem colocados, os dos primeiros foram ruins e o terceiro, sobre a Amazônia poderia ter sido bem melhor. Acompanhe minha análise e dê sua sugestão, crítica nos comentários abaixo.
[*]RETIFICAÇÕES
Pessoal, errei em três pontos, a saber:
1º) Entre 6:40 e 6:50 atribuo a queda dos incêndios na Amazônia "aos governos subsequentes" ao de Jair Bolsonaro, o que evidentemente está errado, exceto se pudéssemos viajar no tempo. Foram, OBVIAMENTE, nos governos PRECEDENTES.
2º) Passei a impressão, aos 10:30, de que a queda na criminalidade se deveu ao governo federal. Não fui explícito nisto, mas passei uma impressão positiva desta causalidade. O colega Fernando Raphael Ferro de Lima (um dos autores do best-seller "Não Culpe o Capitalismo") me corrigiu, ao que lhe agradeço de que esta já era uma tendência que vinha se firmando desde 2018 no estado do RJ (provavelmente devido à Intervenção Federal).
3º E ÚLTIMO, UFA!) Aos 14:30 digo que doentes mentais, índios e crianças são inimputáveis perante a lei. Equivoquei-me. Segundo a psiquiatra Ana Paula Werneck, no Brasil apenas em casos de demência, psicose e retardo mental. Imagine o sujeito "fora de si", mais ou menos por aí, o que dista anos luz de alguém com depressão ou transtorno bipolar, o que não lhe afeta a consciência.
Isso aí pessoal! Se eu não fosse tão analfabeto digital faria colocaria aquelas tarjas com retificações no corpo do vídeo, mas fica para outra vida.
Boa noite,
a.h
Se você se inteirar do que foi
o governo de Juscelino Kubitchek e seu programa, incompleto, dos “50 anos em 5”
verá que houve um brutal desenvolvimento no país, mesmo que tópico e não geral.
Se tomarmos o que foi o Plano Real e sua revolução no consumo, o primeiro
governo FHC aliado ao programa de privatizações foi um marco na história do
Brasil (malgrado não tenha continuado criativo no segundo mandato). Bolsonaro,
por sua vez, tenta aos trancos e barrancos aprovar reformas parciais, como a da
Previdência e, embora haja ministérios com bom desempenho (Infraestrutura,
Economia, Agricultura, Saúde), outros como a Educação e as Relações Exteriores
variam de ruim à péssimo, sem nem falarmos no próprio Executivo que cria crises
totalmente desnecessárias, como se ainda estivesse em campanha eleitoral. Eu
gostaria de chamar de um “governo medíocre”, mas sinto dizer, inclusive para
mim, que é pior do que isto porque está abaixo da média. Sei bem das
dificuldades herdadas pelo descaso, corrupção, incompetência e crimes
corporativos dos governos anteriores, mas isto não serve como desculpa para
criar toda uma outra ordem interminável de crises desnecessárias, inclusive
atacando órgãos e agências governamentais nas quais deveria se pautar. Se, por
outro lado, IBGE, INPE, MEC etc. “não se mostram mais confiáveis”, que se
reformule, se readapte, que se critique, **PROFISSIONALMENTE, **e não de modo a
tratar uma questão séria e complexa como um “barraco”, pois pior do que a má
impressão é a impressão de não resolutibilidade e efeito positivo. Se os
govenos anteriores mentiam sobre “a esperança venceu o medo” não adianta apenas
matar a esperança. O que falta, além de um norte moral claro é a capacidade
técnica e não adianta, portanto, colocar “amigos” e “simpatizantes da causa”.
Se você não domina a diplomacia, caia fora, se você não domina a educação, caia
fora, se você não domina a legislação e a laicidade, caia fora. Não há problema
em ser religioso, desprezar a ciência e ser truculento, desde que você não
queira governar uma nação dessa forma. A corrupção anterior não serve como
passe-livre para manter uma corrupção atual em menor escala e descaso com a
lei, a competência técnica e o respeito ao próximo.
Vamos aos exemplos, nada melhor do que os exemplos:
Em agosto de 2018 a Califórnia ardeu em incêndios e o presidente Trump culpou a legislação ambiental por obrigar a desviar águas do estado para o Oceano Pacífico.* Até faria sentido, se fosse o caso… Na verdade, a utilização das águas serve a vários setores no estado californiano, inclusive como reserva para áreas naturais estratégicas e, em último caso, o que sobra é desviado para o oceano (verificar link da matéria citada na nota abaixo). Por fim, como “bom político” que é ignorou o que disse após ser corrigido e insistiu culpando o governador da Califórnia, Jerry Brown por desviar águas para o Pacífico. Ou seja, Trump é do tipo que pego no flagra continua negando até o fim, simplesmente negando e caluniando os demais.
Quando pensamos no “Trump brasileiro”, como gosta de se auto-denominar Bolsonaro, dá até para desconfiar que haja um assessor comum para ambos.
Bolsonaro, como sabemos, cogitou que ONGs pudessem ter ateado fogo na Amazonia e tudo que se sabe até o momento foi que, aliado ao período normal de seca para a região, produtores locais combinaram de provocar incêndios. Ao que um dos mandantes já foi preso sob esta acusação,* sem quaisquer envolvimentos com ONGs como foi sugerido pelo Presidente.**
Mas nós teríamos algum líder mundial que seja uma referência no tratamento a esta questão? Temos sim, ou melhor, tivemos e ele se chama George W. Bush, presidente dos Estados Unidos entre 2001 e 2009. Em eu escrevi o seguinte artigo para o site Mídia Sem Máscara:
Bushfire
por Anselmo Heidrich em 24 de janeiro de 2004
Resumo: Já faz algum tempo a notícia soava como escândalo, Bush quer cortar árvores para impedir incêndios e uma chuva de spams, mais tentando incendiar do que apagar a proposta do presidente americano se disseminou pela web.
Já faz algum tempo a notícia soava como escândalo, Bush quer cortar árvores para impedir incêndios e uma chuva de spams, mais tentando incendiar do que apagar a proposta do presidente americano se disseminou pela web. Ironias dos internautas como mais uma “solução genial de Bush”, associadas às contumazes “falhas” e “lapsos” de jornalistas eram algumas gotas no oceano de calúnias que se tornou comum em torno do nome de Bush.
Enquanto nossos jornalistas tupiniquins entendem que “podar” pode significar o mesmo que “cortar” árvores, para a engenharia florestal não é bem assim. Há uma sensível diferença entre cortar totalmente a árvore impedindo que ela cresça e poda-la nos galhos impedindo que um incêndio se alastre pela mata. Mas como se diz por aí, uma calúnia é como a cinza jogada ao vento que ninguém consegue agarrar:
“O presidente americano, George W. Bush, defendeu nesta segunda-feira seu plano de cortar árvores de florestas nativas (…)” e “nós devemos podar nossas florestas”
(AFP/notícias UOL, 11/08/2003).
Mas como o ambientalismo é cheio de contradições, não me surpreendeu quando lia Ecologia do Medo de Mike Davis, um professor de teoria urbana californiano e, claramente ligado aos movimentos da esquerda americana. O livro é basicamente uma crítica à especulação imobiliária da Califórnia Meridional, mas não deixa de ser coerente quanto à pesquisa factual. Independente das conclusões que Davis possa tirar, isto não me impede de utilizar seus próprios dados que, justamente, pela sua afiliação ideológica, me deixam a vontade para usa-los, ou seja, usar o veneno da esquerda contra ela própria.
Por que é importante ter um plano de manejo ambiental como proposto por Bush? Acho que os dados abaixo, levantados por Davis, falam por si:
TEMPESTADES DE FOGO EM MALIBU, 1930–96
Ano e mês Localidade Hectares Residências Mortes
1930, outubro Potrero 6.000
1935, outubro Latigo/Sherwood 11.554
1938, novembro Topanga 6.700 351
1943, novembro Woodland Hills 6.200
1949, outubro Susana 7.710
1955, novembro Ventu 5.106
1956, dezembro Sherwood/Newton 15.165 120 1
1958, dezembro Liberty 7.215 107
1970, setembro Wright 12.500 403 10
1978, outubro Kanan/Dume 10.100 230 2
1982, outubro Dayton Canyon 22.000 74
1993, novembro Calabasas/Malibu 7.500 350 3
1996, outubro Monte Nido 6.000 2
Total 1636 16
Mais pequenos incêndios aprox. 2.000
[Fonte: Registros do Los Angdes Fire Department.]
Tais dados poderiam ser negados por quem quer que seja como trágicos? Isto significa encampar a tese da destruição completa das florestas para manutenção das habitações? Não, pois não é disto que se trata, mas da simples poda das árvores embasada em técnicas de engenharia florestal para evitar desgraças humanas e compatibilizar um equilíbrio entre sociedade e ambiente.
Pode se observar nas fotos de satélite da NASA os últimos incêndios californianos em novembro passado:
Os focos em vermelho correspondem aos incêndios na fronteira amazônica entre Brasil e Peru de setembro passado que são bem, mas bem mais intensos que os fogos norte-americanos.
A origem desses fogos é a mesma que provocou o mega-incêndio de 1998. À época, nossa “sensata imprensa” noticiou que uma área equivalente à Bélgica, baseando-se em imagens de satélite que retratavam a fumaça. Se, é verdade o dito popular que “onde há fumaça há fogo”, não é verdade no entanto, que a extensão do fogo é a da própria fumaça. A área queimada na Amazônia brasileira foi enorme sim, mas não do “tamanho da Bélgica” e sim equivalente à área urbana da cidade de São Paulo. Também não foi verdade que este mega-incêndio ocorreu em área florestal, mas em savanas[1], o cerrado de Roraima (llaños, como são conhecidos na vizinha Venezuela), tendo se expandido para as matas posteriormente.
Os ambientes mediterrâneo do sudoeste americano e superúmido da alta floresta amazônica são muito distintos, necessitando de manejos distintos — a poda não seria possível em nosso caso. Mas o que se vê é uma falta generalizada de informação, pressa na apresentação dos fatos e dados e um “molho crítico” de um esquerdismo que beira a infantilidade. Se Bush propõe uma solução passível de crítica por técnicos e especialistas do setor, não se quer saber, pois ele pode levar algum crédito com isto. Se no Brasil, malgrado ano de El Niño, fenômeno climático que provoca anomalias climáticas globais, muito difundido e pouco entendido, coincide com a estação das queimadas, a culpa é totalmente do governo que não faz nada. Ou seja, a população local com suas técnicas arcaicas, num passe de mágica, é totalmente isenta de sua responsabilidade. E se as ONGs ambientalistas, líderes europeus, a própria ONU sugerem que a própria Amazônia brasileira (e dos países vizinhos) deva ser administrada por uma comissão internacional, nada parece indignar nossa incauta imprensa ávida pelo antiamericanismo que ajuda a engrossar._
O que nossos militantes cegos pelo ódio aos EEUU lembram? De uma mentira amplamente divulgada na internet, um conhecido hoax que volta e meia retorna, de um suposto livro de geografia escrito para o ensino médio nos EEUU que defende a Amazônia como área de controle internacional sob um projeto da ONU[2].
As queimadas (“coivara”) consistem numa ancestral e tradicional técnica indígena herdada pelos colonos pobres de preparar a terra para o plantio, inclusive de pastagens que devastam a biomassa. Não se trata de “grande capital” ou de “descaso da civilização capitalista”, mas de falta de adequação às técnicas de produção modernas e hipocrisia ambientalista que sustenta a exploração ambiental em moldes ultrapassados.
Talvez Bush tivesse alguma boa idéia para nós já que os próprios ambientalistas se perdem em informações falsas e análises tendenciosamente espúrias.