terça-feira, julho 30, 2019

Anti-Pop


O lemingue é um tipo de roedor do norte da Europa que durante muito tempo se acreditou que se suicidava aos bandos em determinada época do ano. Era o animal perfeito para a pecha de “irracional”. Mas era pior do que isso, esse traço de comportamento é perfeitamente humano. Ao se deslocar em grupo, os indivíduos seguem aqueles que vão na frente em determinado rumo. Como são muitos se empurram jogando alguns penhascos abaixo nos fiordes. Seguir tendências irrefletidamente tem este “bônus”, pode te levar a um suicídio coletivo.
Lembro-me como se fosse hoje, estava caminhando na Av. Paulista indo para o trabalho quando um colega de pós-graduação junto aos seus segurava um cartaz da CUT e me perguntou se eu sabia de algum emprego para ele, isso lá pelos idos dos anos 90. Prometi levar um currículo, mas só fui revê-lo décadas mais tarde como chefe de dept do curso de geografia da UFSC. Ele se deu bem seguindo sua onda, mas minha consciência não me permitia fazer o mesmo.
Nisso eu me afastava cada vez mais daquele grupo e minhas leituras no boom da globalização me colocavam mais e mais na antípoda disso tudo. Acho que por volta de 2003 comecei a escrever no Mídia Sem Máscara e seguia o pessoal em muitos pontos em comum, mas logo comecei a divergir em detalhes aparentemente insignificantes que para mim faziam muita diferença, pois eram sobre premissas importantes, como a separação entre igreja e estado, a moralidade da guerra etc. E foi quando dois colegas foram rechaçados por suas críticas à religião que também dei um basta naquilo tudo e pulei fora defendendo os excomungados, mas não sem ampliar minha cota de haters.
Nas redes sociais eu colecionava desafetos quando discutia geopolítica em meio aos liberais e quando me mantinha intransigente quanto à liberdade de expressão em meio aos conservadores. Pela minha atuação firme nas manifestações pelo impeachment e oposição ao PT conquistei um espaço no anti-petismo. Porém, não demorou para perceber que muitos desses não eram defensores coerentes da liberdade, mas apenas petistas de sinal invertido (olavetes, bolsonaristas, intervencionistas e até alguns “liberais”). Segui na minha e, embora o Facebook te permita deixar de seguir ou se desligar de quem te desagrada, um bom lemingue não pode desviar da rota e ser o próprio capitão de sua nau. Não! Ele quer ser aceito por ti. E o que esses QIs de roedores do frio não entendem é que eu nunca fui de seu grupo, apenas casou de traçarmos juntos parte do percurso.
Recentemente descobri que esses imbecis simplesmente não têm rigor conceitual e não entende o mais básico dos princípios liberais como a liberdade de expressão. Eles adoram desnudar as tramoias esquerdistas, mas se seu representante eleito ou ícone de justiça for pego, mais que negar, passam a te odiar por expor sua hipocrisia ou, na melhor das hipóteses, contradição não intencional.
A verdade é que a verdade não exige carteirinha de sócio em algum clubinho, mas pode evitar que se caia em algum precipício.
Anselmo Heidrich
25 jul. 19
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O retorno das forças pró-russas à Ucrânia

Logo do partido Plataforma da Oposição

Há duas formas básicas pelas quais ocorre o retorno das forças pró-russas à política ucraniana: pelo Legislativo e pelo Judiciário. Na política, o grande agregador dessas forças se chamava “ Partido das Regiões”, que chegou a ser o maior partido da Ucrânia entre 2006 e 2014, chegando a ter mais de 700.000 filiados no Oblast de Donetsk (leste). Com as revoltas de Maidan em 2014 e a fuga de seus maiores representantes para a Rússia (Viktor Yanukovych, ex-Presidente, e Mykola Azarov, ex-Primeiro-Ministro ucraniano), o partido não participou mais das eleições e a maioria de seus membros o abandonou para se filiar a outros.
A dissolução do Partido das Regiões resultou na criação de duas novas agremiações: a Plataforma da Oposição— Pela Vida ( Za Zhyttia) e o Bloco da Oposição. Ambos têm as mesmas raízes e são o legado da fuga de Viktor Yanukovych. Sua secessão foi provocada por um dos membros do Bloco da Oposição, Vadym Rabynovych, fundador do “Canal 1+1”, que hoje pertence ao oligarca Ihor Kolomoysky. Ao sair do Partido, fundou outro, o Plataforma da Oposição, e também criou seu novo grupo de televisão, o NewsOne. Rabynovych justificou que o Bloco de Oposição não havia se comportado como uma verdadeira oposição.
Tanto a Plataforma quanto o Bloco de Oposição defendem os mesmos princípiosnão reconhecem a Rússia como um agressor e têm uma posição pró-russa. Como exemplo, ambos propõem a paz no Donbass, sob quaisquer circunstâncias,mesmo que isto signifique uma capitulação da Ucrânia frente a Rússia. Apresentam, no entanto, algumas diferenças meramente pontuais. A Plataforma de Oposição: (a) Rejeita a integração euro-atlântica (União Europeia e OTAN) para a Ucrânia; (b) Propõe a restauração do comércio com a Rússia; © Propõe a expansão do território que requer o uso do idioma russo etc. O Bloco de Oposição é mais genérico ao defender o cancelamento de leis e reformas discriminatórias, a unificação do país e proteção de minorias nacionais, o que significa reverter as mudanças feitas após o Euromaidan.
De mais de 41% dos assentos no Parlamento de 2012, o Partido das Regiões amargou uma derrota antecipada na conjuntura revolucionária de 2014, quando seu sucessor, o Bloco de Oposição, atingiu apenas 9,43% nas eleições antecipadas. A maioria desses políticos — grande parte do Leste -, que não apoiou aqueles que assumiram o poder após a Euromaidan, como o presidente Petro Poroshenko, se reorganizou nessas duas forças que agora disputam o protagonismo da oposição pró-russa: o Bloco e a Plataforma de Oposição.
Apesar de sua origem comum, da qual muitos dos políticos desses partidos russófilos são ex-membros do regime de Yanukovych (ex-Presidente foragido em 2014), também há grande diferença no desempenho entre a Plataforma de Oposição e o Bloco de Oposição. De acordo com as pesquisas,enquanto a Plataforma de Oposição demonstra reação e se coloca em torno de 12% das intenções de voto, o Bloco da Oposição não teria sequer capacidade de chegar ao Parlamento.
A reviravolta política em 2014 foi tamanha que ainda surpreende que esses políticos pró-russos tenham sobrevivido e se reinventado. Há uma hipótese para isso, a de que foi a cooperação do ex-presidente Petro Poroshenko com Viktor Medvedchuk, político ucraniano bastante próximo do Presidente russo, Vladimir Putin, que garantiu o controle do gasoduto da Rússia à Ucrânia. Nesse sentido, a explicação para a permanência de políticos pró-russos estaria no elo que fazem entre os dois países, uma ponte de negociações para abastecimento e transporte do gás.

A Ucrânia, país chave para a estabilidade regional europeia e mundial é palco de acirrada disputa política entre forças pró-ocidentais e pró-russas. 

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Ukraine, a key country for European and global regional stability, is the scene of fierce political dispute between pro-Western and pro-Russian forces.

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Україна, ключова країна європейської та глобальної регіональної стабільності, є ареною жорстокої політичної суперечки між прозахідними та проросійськими силами.

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Украина, ключевая страна для европейской и глобальной региональной стабильности, является ареной ожесточенного политического спора между прозападными и пророссийскими силами.
Viktor Medvedchuk e Vladimir Putin durante visita ao mosteiro Nova Jerusalém em VoskresenskyOblast de Moscou em 2017



Nesse sentido, conclui-se que a intenção de votos, ainda pequena, do partido Plataforma de Oposição pode vir a ser uma força desintegradoradentro da Ucrânia, se não for combatida pela política presidencial. Acrescente-se a isso que, podem não ir além, ou podem estar em sua fase embrionária, mas protestos significativos têm ocorrido (cinco, apenas no mês passado — Junho) contra decisões favoráveis ao retorno de políticos pró-russos. Após a posse de Vladimir Zelenski como Presidente da Ucrânia, alguns políticos e funcionários que se refugiaram na Rússia após os eventos de 2014 arriscaram um retorno à vida política se candidatando como deputados, não sem protestos em contrário de ativistas.
São políticos com destaques variados, que vão de blogueiros anti-euromaidianos que divulgam propaganda pró-russa, até outros, como Andriy Kliuiev, Secretário do Conselho Nacional de Segurança e Defesa e Chefe da Administração Presidencial durante a presidência de Yanukovych, com quem escapou do país em 2014. Kliuiev, que reside na Rússia, tem sentença para ser detido assim que entrar na Ucrânia, mas, caso seja eleito, adquire imunidade parlamentar automaticamente.
Pesam contra o ex-chefe de segurança acusações como “ lavagem de dinheiro, ordem de espancamento de manifestantes e a participação de audiência em Moscou, em 2016, onde reconheceu os eventos de 2014 como um ‘golpe de Estado’”. Este é apenas um exemplo de como a revisão de sentenças judiciais tem um potencial explosivo para as novas eleições parlamentares, com manifestações e protestos já em curso.
A última barreira que separa os ex-funcionários da administração Yanukovych da política é a Lei da Lustração, legislação adotada pelo Parlamento Ucraniano em setembro de 2014 que proíbe qualquer acesso à política aos funcionários que serviram em cargos principais durante a presidência de Victor Yanukovych. O Bloco de Oposição contesta esta lei junto ao Tribunal Constitucional, porque não respeitaria a presunção de inocência. Também se alega que muitos juízes estariam na mira da mesma legislação porque já trabalhavam durante o período do Presidente deposto.
Apesar do Tribunal Constitucional ter adiado várias vezes a decisão sobre a referida lei até o momento, ele tem adotado decisões que diminuem o sucesso das reformas ucranianas, como o cancelamento de penalidades para enriquecimento ilegal e também da lei que concede à Agência Nacional Anti-Corrupção (NABU) o poder de invalidar acordos de práticas corruptas, caso detectadas.
São vários atores políticos, alguns dos quais remanescentes de conjunturas políticas anteriores às transformações ocorridas a partir de 2014, cuja onda de manifestações — a Euromaidan — resultaram no afastamento, quando não oposição explícita à Moscou. Mas, parte expressiva dos observadores e especialistas considera que atribuir o atual abrandamento das posições políticas ao Presidente eleito seria prematuro e reducionista, mesmo porque algumas ações partem da instância do Judiciário. Por outro lado, as alianças com as forças do Leste que servem como amálgama entre a economia russa e ucraniana ainda serão necessárias por muitos anos, e isto implica em aceitar a presença de sua representação política, seja pelo Bloco ou pela Plataforma de Oposição, seus partidos mais representativos.
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Fontes das Imagens:
Imagem 1 Logo do partido Plataforma da Oposição” ( Fonte): https://uk.wikipedia.org/wiki/%D0%A4%D0%B0%D0%B9%D0%BB:Opozyziyna_platforma_Za_Zhyttia_logo_2018.jpg
Imagem 2 Viktor Medvedchuk e Vladimir Putin durante visita ao mosteiro Nova Jerusalém em VoskresenskyOblast de Moscou em 2017” ( Fonte): http://en.kremlin.ru/events/president/news/56095



Originally published at https://ceiri.news on July 29, 2019.

quinta-feira, julho 18, 2019

A Crimeia sofre com desabastecimento de água

Canal Crimeia Norte, 2008.


A “ guerra da água” está em curso na Crimeia. A península pode se tornar um deserto salgado, pois os moradores já enfrentam escassez de água potável. As autoridades do Kremlin culpam Kiev pela situação e a Rússia poderá preparar um ultimato para o desbloqueio do canal de fornecimento de água, caso contrário utilizarão a força para normalizar a situação.
Com a situação crítica na península, o consumo de água já caiu cinco vezes em 2016 em comparação com 2014, a área de irrigação foi reduzida em 92% no leste e indústrias e pesca sofrem. Seu abastecimento depende das águas do Rio Dnipro, através de um canal, o Crimeia Norte, que foi fechado pela Ucrânia após a “ ocupação da Crimeia” (para os ucranianos) ou “ reanexação “ (para os russos).
Quando foi construído nos anos 60 ao norte da península, o canal não teve suas margens muito povoadas, devido à aridez da região. Mas, com sua extensão pelo Oeste, na Península de Kerch, reservatórios d’água construídos trouxeram aldeias e cidades para as vizinhanças. Uma transformação sem precedentes ocorreu, com áreas irrigadas do canal triplicando a de fontes locais. Nos melhores anos, o abastecimento chegou aos 3 bilhões de metros cúbicos, mas, com a escassez de recursos dos anos 80, sua ampliação foi interrompida e projetos de resorts turísticos no Sul não saíram do papel.
A importância deste canal para a região é inconteste. Atividades outrora inviáveis como a piscicultura, jardins e vinhedos se tornaram viáveis. Até mesmo a rizicultura, que demanda muita água e, portanto, impensável para o clima árido da Crimeia, foi viabilizada. Seu desabastecimento, no entanto, já vinha ocorrendo antes da ocupação da península pelos russos, em 2014, o que não se deu por nenhuma alteração climática, mas por exclusiva falta de recursos, já que as estações de bombeamento dependem de eletricidade.
Antes mesmo do conflito ser instaurado, apenas 8 dos 23 reservatórios disponíveis foram completados com água. Claro que, depois da ocupação, a Ucrânia bloqueou completamente o canal, em abril de 2014, e o governo ucraniano ainda construiu uma barragem permanente no canal para evitar qualquer perda de água que, porventura, viesse a passar em direção à Crimeia, em 2015. A justificativa foi para aumentar a área irrigada do Oblast* de Kherson, ao norte da península.
Canal Crimeia Norteparte do Rio Dnipro até o extremo leste na Península de Kerch.

Segundo especialistas, sem a água do Rio Dnipro, que abastecia o canal atualmente bloqueado, a Crimeia tem água para 1 milhão de pessoas, enquanto que sua população total em 2017 era de 2.340.920 (de acordo com estatísticas locais). Para Mykhailo Romashchenko, chefe do Instituto de Problemas da Água e Melhoria: “Estimamos o abastecimento de água de diferentes regiões da Ucrânia. Crimeia tem 380 metros cúbicos por pessoa por ano, enquanto 1.700 metros cúbicos por ano é considerado a norma por pessoa de acordo com a classificação da ONU. Portanto, classificamos a Crimeia como uma região com um suprimento de água catastroficamente baixo”.
As propostas de soluções russas, por sua vez, têm sido consideradas paliativas. Uma delas é o bombeamento de água subterrânea para a superfície, que está cada vez pior devido à concentração de sais minerais, processo conhecido por salinização do solo**. A intensa extração de água potável no passado também levou à substituição por água salina no subsolo. Anos de uso da irrigação geraram uma dependência, cujo corte repentino do fluxo de água teve consequências:
· Elevação do nível do lençol d’água subterrâneo nas áreas irrigadas, tornando os assentamentos nas proximidades sujeitos a inundações;
· Salinização do solo e poluição por fertilizantes e pesticidas das áreas que se tornaram agricultáveis após a irrigação;
· O fundo do canal foi revestido com placas de concreto que não foram suficientes para evitar o desperdício de água.
Outras soluções também são vistas como insuficientes, como o redirecionamento do rio local Biyuk-Karasu para o canal, a partir do sul da península, já que parte da água se perde no percurso devido à evaporação. Ou ainda a construção de outro canal, o Krai de Krasnodar, na Rússia, do outro lado do Estreito de Kerch, mas que também se trata de uma região árida, sem a quantidade necessária de água.
Há perdas na produção agrícola, com o abastecimento de água que é priorizado ao consumo humano, fábricas que precisam de refrigeração têm o risco de fechamento, hotéis e atividade turística também sofrem com prejuízos etc. Moradores locais já utilizam água salgada para parte de suas necessidades e o processo de dessalinização terá que ser adotado, apesar de caro.
Sem solução diplomática à vista, a crise política na península já extravasou para um conflito ambiental, uma vez que a dependência hídrica era garantida pelo abastecimento de água da Ucrânia, atualmente embargada.
A militarização da região devido à disputa, inclusive de reservas de gás e petróleo no mar territorial da Crimeia, tende a complicar a situação, antes restrita ao uso territorial como base de apoio ao controle do Mar Negro, particularmente pelo porto de Sebastopol. Por enquanto, a principal aposta ucraniana tem se limitado à busca de apoio na União Europeia e Estados Unidos, através da imposição de sanções econômicas.
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Notas:
é uma divisão política e administrativa do território em países eslavos e da ex-União Soviética, equivalente aos nossos estados, ou a províncias.
** Salinização do solo: durante o transporte, os sais minerais dissolvidos na água são carregados para o solo e depositados nos horizontes inferiores — camadas mais profundas — do solo. No entanto, sem retorno do fluxo, a umidade do solo evapora e a concentração desses sais aumenta, prejudicando a atividade agrícola, outrora beneficiada e agora prejudicada pelo declínio da irrigação.
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Fontes das Imagens:
Imagem 2 Mapa do Canal Crimeia Norteparte do Rio Dnipro até o extremo leste na Península de Kerch” (Fonte): https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Nord-Krim-Kanal.png

Originally published at https://ceiri.news on July 17, 2019.

É bobagem dizer que Hitler era esquerdista

Hitler em Munique (1931) na saída da sede do Partido Nazista.

“Mas a opinião de Hitler vale alguma coisa?” Depende, tudo depende. Assim… Vamos dizer que tu queiras combater o racismo, certo? Quem foi o maior expoente do racismo, que propôs a extinção de seus inimigos raciais e não só teorizou sobre isto como IMPLEMENTOU isto? Sim, ele mesmo, o pintor austríaco frustrado que tinha avó judia e perdeu a namorada para um judeu e também foi rejeitado como pintor, ADOLF HITLER. Então, mesmo assim tu ainda acha que a opinião dele não deve ser analisada? Pois quando dizemos “valer alguma coisa” não significa concordar com a mesma, mas levá-la em conta ao ponto de analisar seu impacto.
Assim, não ignore seu inimigo. Estude-o para melhor conhecer suas falhas, combatê-lo e vencê-lo. É tão básico isso que o simples fato de eu ter que explicar já explica muito sobre a incapacidade das pessoas em entender o óbvio se desvinculando de suas paixões.
Quanto ao artigo abaixo, quando Hitler fala que os nazistas não tinham nada a ver com comunistas, o posicionamento não é sobre a pauta econômica. Dizer que eram sim farinha do mesmo saco é totalmente anacrônico. Vamos por partes:
1. Naquele momento histórico e naquela sociedade, praticamente todos grupos políticos, a maioria defendia o intervencionismo estatal. Achar que então todos eram “esquerdistas” seria o mesmo que eu dizer agora que os governos militares também eram de esquerda na medida que avançaram a estatização da economia;
2. O erro aí está em não enxergar a dualidade Direita/Esquerda como o que é, RELATIVISTA, pois o termo “direita” e o termo “esquerda” não encerram em si mesmo nenhuma essência, eles dependem do contexto histórico no qual são utilizados. Tanto é assim, como é bem sabido, que esta dualidade surgiu em um momento histórico, pós-revolução francesa onde a esquerda era liberal e formada por comerciantes e a direita adepta da oligarquia, que seria no máximo defensora de um capitalismo de estado, algo que a direita atual, americana e brasileira dizem combater.
3. Ambos os regimes criados por Hitler e por Lenin foram genocidas, o nazismo tendo matado mais em menos tempo e o comunismo tendo matado mais em um prazo maior. Isto seria então suficiente para pô-los do mesmo lado político-ideológico? Não, pois se vermos assim, governos conhecidos pela sua posição à direita são os mesmos que mataram milhares de pessoas, como o de Pinochet no Chile só para citar um exemplo mais conhecido. Alguém poderia objetar que um governo que mata milhares ainda assim é melhor do que um mata dezenas de milhões… Sim, do ponto de vista meramente quantitativo, mas em termos de princípios, não. Daí, a diferença esvanece por completo. Notem que essas pessoas que acham que o número dá uma legitimidade moral são as mesmas que eximem Daltan Dallagnol de qualquer culpa por desvios de função para ganhar mais dinheiro, mas acusam os petistas de corrupção pelo desfalque de bilhões. Sem dúvida que para a economia, o último foi o pior, de longe, mas em termos de moral nenhum pode arrotar superioridade.
A diferença é que direitistas assim são melhores em grau, mas não em princípio. Ambos são corruptos, pois anulam os procedimentos que garantem a defesa dos direitos do indivíduo. Ser direitista não te torna, necessariamente, um defensor das liberdades individuais. Esses direitistas, aliás, valem tanto quanto os esquerdistas que conhecemos: porra nenhuma.
Popper, em livrinho ótimo chamado A Miséria do Historicismo (que parodia criticamente A Miséria da Filosofia de Karl Marx) faz a distinção entre o que ele chama de ESSENCIALISMO e NOMINALISMO. A primeira vertente filosófica é a que procura “essências verdadeiras” em fenômenos que só são explicados pela sua conjuntura histórica, tipo quem diz “o verdadeiro comunismo de Marx não é isso aí etc.” Ora, isto não explica nada, no máximo que a teoria de Marx não era tão acurada, pois não previu a realidade. O comunismo de fato é o que foi feito. Sendo assim, o mesmo vale para o capitalismo. Não adianta tu vir com a balela de que “o verdadeiro capitalismo seria…” se nunca o vemos. O que podemos, na melhor das hipóteses, é COMPARAR modelos de capitalismo REALMENTE EXISTENTES e dizer como poderíamos melhor um ou outro. Portanto, não existem essências que tornam uma Direita Ideal modelo a ser seguido, nem uma Esquerda Ideal outro modelo a ser seguido, o que existem são os CASOS de governos de Direita e de Esquerda para serem estudados, porventura seguidos ou adaptados e, na maioria dos casos, REJEITADOS.
Agora, quando assumimos uma postura mais científica na filosofia, o que chamamos de NOMINALISMO encaramos cada caso como único e que o que o une a outro sob o mesmo nome é isso apenas, SEU NOME. Isto quer dizer que o comunismo chinês tem de ser estudado pelo que ele é, um fenômeno chinês e não porque é um sistema derivado do modelo teórico de Marx. Chineses antes do comunismo já matavam em massa, apenas se setiram legitimados depois, russos idem (estudem o czarismo) e assim vai. O desenvolvimento social e moral é um fenômeno anômalo, esta é a triste verdade e para segui-lo requer um esforço descomunal a passo de tartaruga na história. Portanto, TODO MOVIMENTO QUE DIZ TER FEITO UMA REVOLUÇÃO, SOBRETUDO NA ÁREA DOS COSTUMES ME CHEIRA A FALSIDADE.
Se eu já detestava petistas, esse nojo agora me vem quando vejo gente arrogante e que se acha imune às críticas fazendo movimentos e passeatas por um governo patético como o de Bolsonaro. Se Guedes acertar em algo (e torço por isso) serei analítico e ponderarei, mas NUNCA baixarei minha cabeça para uma personalidade fazendo culto a ela, NUNCA. Esta bobagem deixo para seres sub-humanos que precisam de ídolos e mitos.
Outra coisa que não sabem sobre o nazismo que coloca este movimento a direita do que havia na Alemanha é que, ao contrário do comunismo ele era religioso, cristão. Muitos dirão que falsamente cristão, mas este é o ponto, toda nova seita não é bem vista pela ortodoxia, tanto que aqueles que se auto-denominam “ortodoxos” vêem os outros como falsos, corrompidos. Ou vocês acham que a mistura de cristianismo com paganismo de Hitler é muito mais heterodoxa do que os mórmons primitivos que defendiam a poligamia? Além do mais, para todo cristão do oriente, o que se expandiu para o ocidente séculos depois no Império Romano deveria ser algo estranho e alienígena que pouco tinha a ver com o culto original porque, basicamente, tudo se adapta à realidade local. Fenômeno conhecido como SINCRETISMO e que tem no Brasil um exemplo notório.
Bem, se pouco importa que comunismo e nazismo tenham sido direita ou esquerda, exceto pelas suas posições políticas relativas em um dado momento histórico e na sociedade em que se desenvolveram, o que os une? Sim, eles têm algo em comum que é o que realmente importa, o TOTALITARISMO, um sistema autoritário nas regras, além das pessoas, que persegue dissidentes e tenta controlar a comunicação e reage às críticas taxando as pessoas de “esquerdistas” ou “direitistas” e sequer querendo debater civilizadamente. Eu vi este lixo ontem no PT, hoje eu vejo no Governo Bolsonaro. Eu tenho asco dessa gente. Eu tenho asco de um babaca grande e careca que vi segurando uma bandeira do Ustra, quando fui a uma manifestação contra o PT. A última que fui, pois o movimento pró-impeachment, democrático e civilizado tinha se degringolado completamente. De legítimo passou a ser meramente OPORTUNISTA.
Eu não me arrependo do que fiz, de lutar pelo impeachment, era necessário, mas é triste ver que um movimento social que se separava dos intervencionistas se tornou um movimento, desidratado, que deu voz a esta minoria autoritária que só quer legitimar o governo que está no poder e tenta calar a força os que discordam. Se quer governar, tem que aguentar as críticas, mas insuflar manifestações é uma maneira de não responder com conteúdo.
Espero que isto tudo termine um dia, mas temo que o pior ainda aconteça para que a maioria perceba seu erro. Para ficar claro, o povo acertou em derrubar um governo corrupto e ineficaz do PT, mas erra em apoiar um governo eximindo-o de seus erros (e não são poucos). De um movimento crítico se passou a um gado chapa-branca.
Portanto, minion, quando tentar colocar Hitler como “esquerdista” para preservar tua Direita, tu só estás tapando o Sol com uma peneira. Pois nazismo e comunismo são totalitários, simplesmente, contrários à liberdade individual, assim como o sentimento de gado é contrário à liberdade de expressão individual.
Anselmo Heidrich
17 jul. 19
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Imagem: “Hitler saindo da sede do Partido Nazista em Munique, 1931” (Fonte): https://www.flickr.com/photos/recuerdosdepandora/7106028925

sábado, julho 06, 2019

Devido Processo Legal pra que, né?

Por que defender o devido processo legal? Por que defender a lisura da justiça? Sei que isso soa como uma tentativa de defender a soltura de bandidos condenados pela Lava-Jato, especialmente Lula, mas não é… Este, creiam-me, é o menor dos problemas. A oposição JÁ capitalizou politicamente em cima de tudo que aconteceu e não nos deixará esquecer. O problema mesmo é outro e muito maior. O que está por vir, por causa desta “tecnicalidade”, como querem diminuir a gravidade do fato da ausência, não é escassez, mas total ausência de isenção de Moro é muito, muito pior do que tudo que ganhamos ou, supostamente, ganhamos no combate à corrupção.
Seguindo o exemplo de Moro, logo teremos vários juízes torcendo e manipulando processos contra empreendedores porque são favoráveis a organizações de classe sindicalizadas. Daí é que eu quero ver o tiozão patriota comemorar. Quero ver comemorarem quando tudo que é juiz espalhado pelos rincões do país, filhos diletos do coronelato regional achar que tem cheque em branco para fazer o que bem entender com os casos que lhes caírem no colo na defesa de seus interesses e do seu clã.
E quem acha que não irá surgir uma verdadeira “indústria de processos”, muito mais lucrativa do que a alegada “indústria de sentenças” não sabe como a venda parcelada se torna muito mais lucrativa do que vender a vista.
Em um futuro não muito distante, os lúcidos de gerações que ainda não pisaram nesta terra ainda se dividirão em vários grupos políticos, tendências ideológicas como sempre ocorreu, mas serão unânimes em um ponto:
Combater a corrupção com métodos corruptos tem efeitos colaterais tão ou mais deletérios do que a primeira forma.
Não sei como definir o sentimento que tenho por quem idolatra mitos e não enxerga o que está por vir. Só sei caracteriza-lo como um misto de pena e nojo de quem vive para servir, mas não serve para viver.
Anselmo Heidrich
6 jul. 19

sexta-feira, julho 05, 2019

Entre Vistas - Larissa Bombardi

O discurso da doutora não é científico: Eduardo Galeano, "soberania alimentar", "projeto de nação", "tragédia..." Na boa, se ela quer convencer alguém tem que falar sobre a composição orgânica, sobre os efeitos patológicos, sobre a produtividade etc. E é ridículo que um cara do MST venha dar pitaco aí, uma vez que a imensa maioria desses assentados através do movimento não produz (nem auditoria eles permitem). O termo "contradição" tem um juízo de valor que mostra, de antemão, que eles já têm um julgamento negativo. Daí pulam para falar de impostos, 'divisão internacional" etc., mas não têm nada sobre incidência de doenças cancerígenas, nada que correlacione ao aumento da expectativa de vida, que deveria diminuir e não aumentar, segundo o quadro catastrófico que ela pinta. Na boa, os OGMs até precisam menos de produtos químicos (termo mais técnico do que "agrotóxico"). Parei, perda de tempo. Outra ainda. não é a UE que determina a quantidade de químicos que utilizamos, mas sim nós mesmos. Se as empresas químicas são de lá e nos vendem, nós vamos responsabilizá-los por algo que nós decidimos como fazer? Cara... Toda vez que ouço "divisão internacional do trabalho" já paro, não dá. "Concentração fundiária", "interesses de classe", "empresas transnacionais", "exportando commodities", "tornando doentes nossa população". Cara, isso é ZERO CIÊNCIA. Adiós!

O que somos nós?


Este foi um dos vídeos que meu filho (7 anos) assistiu hoje a tarde: “O que é VOCÊ?” [https://youtu.be/tJEoR79nTvs]. O guri adora biologia… Mas, meus questionamentos vão além (ou aquém, dependendo do ponto de vista) da biologia. “O que somos NÓS?” eu perguntaria.
youtuber, cujo nome me escapa fez uma analogia da regeneração celular de nossos corpos com a substituição do barco de Teseu, da Grécia Antiga, cujas peças são todas novas e prova que um barco não é mais o mesmo barco depois. O mesmo ocorreria conosco, portanto, nós não somos “nós” mesmos como enxergávamos antes. O erro me parece óbvio, pois o que somos nós não é apenas orgânico, físico, já que temos consciência e esta é uma outra questão.
Esses dias eu me debati com vários “adicionados”, como prefiro chamá-los, os “amigos” do Facebook, uma vez que não faz sentido ter um amigo que nunca vi pessoalmente. Bem… Corrijo-me, não faz sentido até certo ponto: já conheci alguns que se mostraram mais próximos do que outros que vi de perto. Mas, me causou espécie como eu parecia um peixe fora d’água para os dois principais grupos que se embatem na internet, a saber, bolsonaristas e petistas. Estes últimos já abandonei faz tempo, pois não admito a defesa de uma máfia cleptocrata que aparelhou o estado brasileiro e que ainda que não fosse a principal representante da corrupção terceiro-mundista, ela ainda mantém a crença em um modelo econômico estatizante e distributivista-clientelista que não se sustenta, não desenvolve a economia e é embrião da estagnação do mercado de trabalho.
Mas os primeiros estão em destaque atualmente, talvez porque na minha “bolha” (meio virtual criado para cada um de nós pelos algoritmos que nos aproxima de quem pensa ou “curte” os mesmos temas e opiniões nos dando uma falsa sensação de maioria). Os bolsonaristas ou “bolsominions”, mistura de apoiadores de Jair Messias Bolsonaro com os “minions”, agregado de fanáticos que acompanham seu líder na animação “Meu Malvado Favorito” se esmeram na agressividade, citação de motes, clichés e chavões típicos de grupos organizados, cujos elementos se retroalimentam, concordando e repetindo uns aos outros. São como… Para uma analogia apropriada, um câncer.
Observando estes dois grupos cheguei a conclusão de que nada muda na dinâmica grupal, que isso sempre foi assim, é assim e sempre será. Se trata de uma busca por poder e por isso a sedução de estar ao lado de quem pensa igual. Ambos os grupos, petistas e bolsonaristas são revolucionários, se veem como capazes de mudar tudo rapidamente, solapando as estruturas do status quo. Isto é uma ilusão e o Presidente da República teve um breve vislumbre disso ao entrar em choque com o Congresso e poder do Presidente da Câmara, Rodrigo Maia. Nosso Presidente, como sabemos, provém do “baixo clero” da política e não tem experiência em círculos mais elevados do establishment. Sua atuação é calcada em um marketing político marginal e que preza pelo estardalhaço e situações vexatórias. O ataque ad hominem feito aos seus adversários, internamente e no exterior prova como lhe falta flexibilidade e inteligência para lidar com adversidades.
Mas se somos isto mesmo, elementos atomizados em busca de um grupo com espírito tribal para nos protegermos, não é a toa que a Filosofia Liberal, apesar de simples e verdadeira em suas premissas é tão difícil de ser entendida… A dificuldade está na aceitação interna de nós enquanto indivíduos. Partir do pressuposto que somos sós, que temos interesses individuais e não devemos contar com um grupo para fazer valer nossos interesses, direitos e deveres coloca a responsabilidade em nosso colo. Bem, pensando assim parece que a humanidade se encontra, como sempre esteve em um beco sem saída civilizacional. Ou seja, não funcionamos sem repressão.Parece isso, mas tem uma maneira sim de atuarmos de modo mais racional uns com os outros que é deixarmos de usar a estrutura coercitiva chamada estado diminuindo seu poder, o que significa, diminuir seu tamanho e extensão.
O sistema de pesos e contrapesos, típico das modernas democracias é um caminho para atingir um modelo de sociedade mais livre, a chamada “sociedade aberta”, mas podemos adicionar outros ingredientes a esta receita, como, por exemplo, a descentralização administrativa levando o governo mais próximo ao cidadão. Neste excelente texto, reproduzido aqui neste blog hoje temos um exemplo.
Não temos muito mais “consciência” do que o homem em seus primórdios, mas podemos elaborar estruturas onde o poder decisório não se concentre ao ponto de gerar conflitos internos na sociedade, o que, dentre outras coisas significa não levar a família em peso para dentro da política.
Quem sabe mais alguns anos, este governo cronicamente instável consiga separar as coisas e diagnostique o que são atritos desnecessários derivados de uma absurda concentração de poder nas mãos de filhos do Presidente. Empresas familiares costumam ser ruins, mas política familiar tem tudo para ser bem sucedida na corrupção ou para ser um fracasso em termos gerenciais.
Mas então, o que nós somos? Somos seres propensos a se encaixar em um sistema com facilidade, mas cuja somatória gera conflitos devido a sobreposição de poderes e concentração do mesmo nas mãos de um déspota. Família é tudo, logo todas as outras categorias devem se submeter a ela. O que vemos hoje em dia é um espraiamento do conceito de grupo, família, clã em detrimento de organismos maiores, como a sociedade, o país, a nação.
Vamos mudar isto secando a fonte que alimenta esses grupos. Vamos privatizar ao máximo e diminuir a extensão da política governamental e estatal em nossas vidas.
Anselmo Heidrich
03, jul. 2019
Photo by Trace Hudson from Pexels

quinta-feira, julho 04, 2019

O que significa o 4 de Julho

Photo by Tim Mossholder from Pexels 

Feliz 243 anos de vida,
Estados Unidos da América!

Em que pese seus defeitos (como todos os países do mundo hão de ter), se trata de um país com mais méritos que deméritos, sem sombra de dúvida. Entre os primeiros, como fonte inspiradora ad eternum, A SEPARAÇÃO DOS PODERES E A ISENÇÃO DA JUSTIÇA.
Sem isto, nós nunca poderemos subir no pódio deste tipo de sociedade. Nunca.
Não é de i-phones e moletons bregas com marcas de outdoor que se constrói uma nação, mas com PRINCÍPIOS INCORRUPTÍVEIS.
Quando cruzamos a linha desta separação de poderes até podemos pegar carona no desenvolvimento, com mais importações/exportações e bugigangas baratas, mas nunca o modo de convivência que garante tua defesa contra a opressão. E se você acha que trancafiar um reconhecido bandido mafioso vai compensar uma “pequena escorregadela” torço para que teus filhos não sofram pelos mesmos desvios que hoje tu acha legítimo.
Enfim, se deliciem com um texto de quem honra a Lei*:
Anselmo Heidrich
04 jul. 2019
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*Se você não gosta de uma Lei em particular, mude-a através da Democracia, caso saiba o que isto significa…

quarta-feira, julho 03, 2019

Reformar el sistema político para preservar la libertad

Neste interessante artigo, o autor especula como deveria ser um Legislativo ideal, a partir de um ideal de sociedade livre, com governo mínimo, que nem sequer deveria ser chamado de “governo”, mas sim uma espécie de “agência de seguridade”.
É fundamental partir da premissa de que uma sociedade livre não se baseia em um governo que dirige sua economia, mesmo que por supostas “causas nobres”, pois a tentação ao dirigismo é constante. Exemplos cotidianos não faltam, como a invocação para aumentar as exportações, quando não é esta, a forma mais sustentável necessariamente, de gerar superávits (não esqueçam da entrada de capitais através da balança de pagamentos).
Trata-se de um texto conciso, mas denso, cujas reflexões servem de base para aprofundar o debate com vistas à constituição de um modelo que devemos construir em nossa vida política.
Anselmo Heidrich
09, jul. 2019
Por Alberto Benegas Lynch (h)
Desde los orígenes del monopolio de la fuerza que denominamos gobierno, la faena de los espíritus libres ha sido la de contener el abuso de poder. Aun cuando en ciencia política la teoría apunta a que los aparatos estatales son para proteger y garantizar los derechos de los gobernados, en la práctica se han salido de cauce permanentemente. Tal como ha consignado Benedetto Croce la historia es un peregrinar por la libertad, en todos sus tramos apunta a ser “la hazaña de la libertad”.
Hoy observamos problemas muy graves en cuanto a los desvíos de la sociedad abierta (para recurrir a terminología popperiana), no solo en nuestra región latinoamericana sino en Europa y en Estados Unidos con los constantes ataques del nacionalismo con sus características de xenofobia y el mal llamado “proteccionismo” que en verdad desprotege a los ciudadanos encerrados en aberrantes fronteras alambradas. Mario Vargas Llosa ha mostrado lo absurdo y altamente perjudicial de “considerar lo propio como un valor absoluto e incuestionable y lo extranjero un desvalor, algo que amenaza, socava, empobrece o degenera”.
Desde los mercantilistas del siglo xvi y Friedrich List cada tanto surgen las sandeces en torno a la industria incipiente y el “vivir con lo nuestro” que bajo la fachada de las fuentes de trabajo los empresarios prebendarios se alían con el poder de turno para consolidar sus privilegios a contracorriente de los intereses de la gente. Con el argumento que no pueden competir proponen que de momento se establezcan aranceles en lugar de comprender que si un proyecto arroja pérdidas en las primeras etapas para luego más que compensarlas con ganancias, deben ser ellos, los empresarios, quienes deben afrontar los quebrantos y no endosar la carga sobre las espaldas de sus congéneres.
Y si se alega que no cuentan con los suficientes recursos para afrontar el cimbronazo inicial, pueden incorporar socios para tal fin. Si nadie acepta involucrarse en ese emprendimiento es por dos motivos: o se trata de un cuento chino (lo cual es habitual) puesto que el retorno sobre la inversión no justifica el negocio o, siendo rentable, hay otros más urgentes y como todo no puede llevarse a cabo simultáneamente, el proyecto de marras deberá esperar su turno.
En este contexto buena parte de los gobernantes de las economías del denominado mundo libre despotrican contra balances comerciales desfavorables e intentan modificar la situación con insólitas guerras comerciales. En verdad, lo relevante no es la balanza comercial sino el balance de pagos que contempla los movimientos de capital. En nuestros casos personales lo ideal sería comprar, comprar y comprar sin necesidad de vender nuestros servicios o bienes pero eso significaría que los demás nos estarían regalando permanentemente. Idéntico fenómeno ocurre con un grupo de personas que asimilamos a un país: lo ideal sería importar permanentemente sin necesidad de exportar, pero no podemos convencer al resto que nos regalen bienes y servicios por lo que no tenemos más remedio que exportar. La exportación es el costo de la importación. Cuando las importaciones exceden a las importaciones quiere decir que la entrada de capitales compensa la diferencia.
Los nacionalismos y las cerrazones fronterizas (y las mentales) no se percatan de estos principios económicos y en su lugar manipulan el tipo de cambio y los gobiernos se endeudan lo cual naturalmente produce desajustes mayúsculos. Por esta razón es que Jacques Rueff en The Balance of Payments sugiere enfáticamente que los gobiernos no lleven las estadísticas del comercio internacional ya que “constituyen una tentación para intervenir, lo cual genera los problemas”.
En realidad los nexos causales de la economía no se modifican por el hecho de interponerse un río, una montaña o una frontera. Desde la perspectiva liberal la división del globo terráqueo en naciones es al solo efecto de evitar los riesgos de concentración de poder en un gobierno universal, para fraccionar a su vez en provincias y municipios.
Como es sabido la raza es una fantasía ya que las modificaciones exteriores son consecuencia de climas diversos y solo hay cuatro grupos sanguíneos distribuidos entre todos los humanos. Es de interés insistir en el ejemplo de los sicarios nazis que tatuaban y rapaban a sus víctimas para distinguirlas de sus victimarios.
Esta introducción sobre los dislates de los nacionalismos se hace necesaria para subrayar muy telegráficamente los peligros que enfrenta el mundo de hoy dado que nuevamente surge esa amenaza.
Ahora bien, si ese es el cuadro de situación y como resultado observamos que la noción de la democracia se ha degradado a niveles que en buena medida ha permutado en cleptocracia, a saber, el gobierno de ladrones de libertades, de propiedades y de sueños de vida. Lo contrario de lo expresado por los Gionvanni Sartori de nuestra época.
Entonces, sin prejuicio de trabajar en terrenos educativos que constituyen la clave del asunto a los efectos de trasmitir valores y principios compatibles con el respeto a las autonomías individuales, sin perjuicio de ello decimos, se torna urgente el trabajar las neuronas para imaginar nuevas vallas al abuso del poder político.
Hay diversos frenos y propuestas para el Poder Ejecutivo y para el Poder Judicial pero en esta nota periodística centro la atención en el Poder Legislativo para evitar el amontonamiento de personas que en gran parte se burlan de la ciudadanía y hacen negocios con sus cargos al tiempo que se sienten obligados a promulgar legislaciones que en realidad se oponen frontalmente al derecho en línea con pseudoderechos, es decir, la facultad de echar mano al fruto del trabajo ajeno por la fuerza.
En otra oportunidad sugerí que el Poder Legislativo en ambas cámaras sean ad-honrem no reelegibles como era en algunos cargos gubernamentales en las antiguas repúblicas de Florencia y Venecia. En este caso, luego de haber estudiado las elaboraciones de Edwin Fulner -ex presidente la Heritage Foundation- Natalia Basil -doctoranda en administración de negocios- y Gabriel Gasave -a cargo del Intependent Institute de Washington- concluyo que también puede considerase que los legisladores sean part-time con un límite máximo de sesiones y trabajando en sus respectivos emprendimientos privados tal como ocurre en Norteamérica en los estados de Texas, Virginia, Montana, Nevada y North Dakota.
Estos sistemas fueron establecidos por los Padres Fundadores al efecto de limitar el ímpetu legislativo y para que se centraran exclusivamente en la preparación y el contralor presupuestario y en el dictado de leyes que tuvieran como solo objeto la protección de los derechos de la gente, siempre anteriores y superiores a la misma existencia del gobierno.
Incluso Leonard Read insistía en que no se recurra a la expresión “gobierno” y se reemplazara por la de “agencia de seguridad” puesto que aquella denominación “equivale a llamar gerente general al custodio de una empresa”. En el tercer tomo de Law, Legislation and Liberty el premio Nobel en economía Friedrich Hayek sostiene que si queremos que los principios de la sociedad libre sobrevivan es indispensable reformar nuestro sistema político. Si no nos parece lo sugerido propongamos otras medidas pero no es responsable quedarnos con los brazos cruzados esperando un cataclismo.
El autor es Presidente de la Sección Ciencias Económicas de la Academia Nacional de Ciencias de Buenos Aires.

Originally published at https://independent.typepad.com.