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terça-feira, janeiro 02, 2018

A Bússola de Kubrick


Em Marxism of the Right, texto de Robert Locke publicado em The American Conservative há um dos temas que me são mais caros: a liberdade total pode ameaçar um regime de liberdade? Ou o verdadeiro regime democrático-liberal pode se sustentar nos moldes ‘libertários’ ou ‘anarco-capitalistas’ onde não se leva em conta o peso da tradição e a limitação a liberdades que possam vir a ser destrutivas?
A democracia não poder se tornar uma ditadura da maioria, nem permitir que, democraticamente, se endosse um governo totalitário que atente contra as próprias liberdades civis é uma posição correlata à oposição a um liberalismo ingênuo que pensa que tudo é uma questão de opção. Como já desenvolvi alhures, eu não posso em nome de minha propriedade privada desenvolver ou praticar algo que venha a ferir um vizinho em seus direitos. Quem regula isto? A tradição e, por extensão, regras, leis que moldam o estado na sociedade. O que alguns ‘libertários’ defendem é que isto deve ser inscrito apenas dentro da lógica do laissez-faire, do próprio mercado. Mas, há problemas insolúveis aí, quando não se tem o judiciário como intermediário.
No entanto, eu discordo do último parágrafo quando diz que:
This contempt for self-restraint is emblematic of a deeper problem: libertarianism has a lot to say about freedom but little about learning to handle it. Freedom without judgment is dangerous at best, useless at worst. Yet libertarianism is philosophically incapable of evolving a theory of how to use freedom well because of its root dogma that all free choices are equal, which it cannot abandon except at the cost of admitting that there are other goods than freedom. Conservatives should know better.
Sim, liberdade requer juízo, com certeza. Mas, todas escolhas feitas livremente são iguais, ao contrário do que diz o autor. O problema é que o peso desta igualdade tem efeitos desiguais. Esta é a verdadeira questão, os efeitos e não as causas ou princípios. Por isto é que uma sociedade representada, legitimamente, por seu governo tem, evidentemente, o direito de reprimir tendências que atentem contra sua manutenção nos moldes que acha desejável. A imigração pode ser boa, mas se ela implicar em uma massa de indivíduos afeitos à políticas socialistas (como foi bem argumentado no texto) é claro que uma restrição à imigração pode ser benéfica.
Mas, é bom que se observe que se a liberdade destrutiva e irrestrita é perigosa, o conservadorismo irrestrito, inclusive aquele de naipe religioso também o é. Qualquer legislação tem que ser mínima, isto é, não “atulhar” de leis uma sociedade tolhendo esta em regulamentos excessivos que venham a estagnar sua atividade econômica. E, igualmente, não deve se propor a conformar tendências ou opções políticas. Pois, daí o risco de gerar insatisfações fica, proporcionalmente, maior. Este é o outro lado desta questão e um delicado equilíbrio entre liberalismo e conservadorismo deve ser almejado.
Faz pouco tempo, assisti novamente ao excelente Laranja Mecânica de Stanley Kubrick, baseado no romance de Anthony Burgess. A passagem em que o padre da prisão vocifera contra o método pavloviano de conformação comportamental do psicopata assassino ‘Alex’ (Malcolm McDowell) é, simplesmente, bárbara. Para ele, o bem não poderia ser condicionado ou inoculado: depende do livre-arbítrio. Esta é uma condição fundamental (que une liberdade e tradição), não sendo possível atingi-lo por pressão externa, engenharia social que seja.
Um filme tão rico assim, evidentemente que tem muitas mensagens. E é de se esperar que os esquerdistas tenham absorvido apenas a crítica ao establishment, a polícia e a política. Mas, visto por outro lado, o filme também permite se deduzir que a punição (tradicional) na prisão não é hipócrita como os métodos de “ressocialização” do criminoso.
Em situações práticas como o que fazer com assassinos-seriais, o libertarianismo se mostra uma tosca fábula do salvo-conduto da irresponsabilidade e covardia no enfrentamento de dilemas da vida.
O entendimento que tenho do anarco-capitalismo ou do ‘libertarianismo’, como preferir chamar, pelo pouco que já li, é de um anti-estatismo virulento. Algumas vezes tentei discuti-lo em comunidades orkutianas dominadas por eles e a experiência foi, realmente, desalentadora. Não porque não concordassem com minha visão liberal… Mais clássica, mas porque me parecia plena de um sectarismo anarquista às avessas. Ou seja, partilhavam dos mesmos erros dos anarquistas clássicos, embora com a pequena diferença de que defendessem a propriedade privada.
Ora, se as leis e, por extensão, o estado moderno se constituiram a partir de reformas induzidas por demandas sociais e articulações intra e interestatais na Europa Ocidental (assim como do outro lado do Atlântico), como se pode descartar a mediação deste mesmo estado (através do judiciário) adotando apenas formas pretéritas de organização social, como as “associações voluntárias”?
Por isto, tomando como exemplo o cenário do famoso filme de Kubrick, me utilizei de um caso extremo, o de assassinos pscicopatas que teriam que ser julgados e punidos, caso vivêssemos em um sistema(sic) anarco-capitalista. Me parece, mesmo que virtualmente, impossível se não tivermos leis, processos e instâncias de julgamento. Pois, no clamor dos acontecimentos, na urgência das medidas de contenção, como idílicas interações entre cidadãos livres permitirão a necessária retidão adotada por profissionais que administram a justiça e vêem casos como estes cotidianamente? Exceto, se estivermos vislumbrando um mundo formado por pequenas comunas, a laRousseau, a ausência de estado levaria a simples anarquia… No caso concreto a que me refiro, um linchamento.

Anselmo Heidrich

(texto de 2008)

segunda-feira, junho 12, 2017

Por que libertários detestam John Rawls?



“Nenhuma sociedade poderá ser, é claro, um esquema de cooperação no qual os homens se posicionariam de forma voluntária; em qualquer sociedade, cada pessoa se encontrará colocada, ao nascer, em uma posição determinada, e a natureza de tal posição afetará substancialmente os seus projetos de vida. Já uma sociedade que satisfação os princípios da ‘justiça como equidade’ tenderá a aproximar-se ao máximo, de um esquema voluntário, para que se possa chegar aos princípios equitativos, aos quais pessoas livres e iguais consentiriam em submeter-se. Neste sentido, seus membros seriam autônomos e as obrigações seriam, reconhecidamente, auto-impostas” (Rawls, 1981, p.34).

“(...) parece que o princípio de utilidade é incompatível com o conceito de cooperação social entre indivíduos iguais com o objetivo de se obter vantagens mútuas. Parece inconsistente que a ideia de reciprocidade venha implícita na noção de sociedade em boa ordem. E isto, em qualquer que seja o grau; esta será a argumentação que sustentarei em minha discussão” (35).

Seria correto falar que “os sacrifícios de uns seriam compensados por um maior benefício para o agregado” só podem ser mantidos com desigualdade de autoridade? Rawls é taxativo, “[n]ao haverá, no entanto, injustiça que um maior benefício fosse ganho por alguns, desde que a situação das pessoas menos favorecidas seja, de alguma forma, melhorada” (35). E não há como não opor a visão moral de Rawls contra as “vantagens naturais fortuitas” ou as “contingências das circunstâncias sociais adversas” (36).

Ocorre que se não temos um ponto de vista histórico, uma teoria formadora da justiça pode ser abstrata o suficiente para nunca ter ocorrido e é esse o ponto crítico de Rawls quando assume que “(...) as tarefas, a que nos referimos, são totalmente hipotéticas: um contrato englobando certos princípios teria sido aceito numa situação inicial bem definida” (36). Simplesmente não há como garantir que a firma consensual de um contrato social imaginário possa ter ocorrido partindo do pressuposto voluntarista. As pessoas não firmaram nada, tudo é induzido para elas como se assim fosse porque deveria ter sido.

Referências


RAWLS, John. Uma Teoria da Justiça. Brasília, Editora Universidade de Brasília, 1981.

sexta-feira, novembro 13, 2015

O aborto e suas fronteiras


Um dos (fortes) dissensos internos ao libertarianismo.



O aborto hoje é banalizado por grupos feministas que entendem o direito de executá-lo como mera liberdade de cuidar de seu corpo, como se a morte de um inocente não fosse algo diferente de um direito exercido por ela, como pintar o cabelo ou usar piercing. Pode se dizer que há um limite, fronteira entre o que é moralmente aceitável, aborto antes dos três meses de vida, quando seu sistema nervoso funcional ainda não existiria, mas "fronteira" ainda é uma figura de linguagem que nos remete à permeabilidade, uma vez que são mais ou menos fechadas. A questão é o limite rígido e quando não se tem um aval consensual científico ficamos neste limbo legal, ou melhor, político, pois a lei pode ser clara, mesmo que moralmente equivocada.
Quanto ao tópico em si, está óbvio que por "banalização" quero dizer isto mesmo, o conceito de que feministas (abortistas) têm de que sendo seu o corpo, elas podem fazer o que quiserem com ele. Poder, podem, dever é que não, pois este último verbo nos remete a uma premissa moral. Este é o ponto, elas querem abortar quando bem lhes der na telha, mas não admitem serem acusadas pelo que fizeram com um jugo moral negativo. Ora, está mais que claro que os casos previstos em lei, saúde da mulher, saúde do feto (caso de anencéfalos), estupro etc. são mais do que suficientes para justificar um aborto, mas o que não pode, ou melhor, o que não devemos permitir é a noção de que uma mulher pode ir a um posto de saúde ou clínica apoiada pelo sistema público de saúde e tirar uma vida com a mesma facilidade de quem abriu as pernas alguns meses atrás só porque acha difícil controlar seus impulsos e ordenar sua vida com contraceptivos, ampla e facilmente encontrados hoje em dia. Isto também não tem nada a ver com a noção espúria de que "nós homens não queremos nos comprometer", pelo contrário, acho que não só podemos como devemos e se há uma das poucas coisas que, legalmente, funciona neste país é a responsabilização paterna pelo seu filho. Só uma feminista que ainda, criada nos estertores da década de 60 para achar que se trata de uma "guerra entre sexos". Outro detalhe, mesmo que porventura, o aborto venha a ser permitido sob circunstâncias mais elásticas do que atualmente, eu acho um absurdo que tenha que custear, indiretamente, através do SUS ou algo que o valho por algo que eu, taxativamente, discordo e desaprovo. Isto tem que ser discutido nacionalmente, pois não é algo que afeta só a um grupo de indivíduos, mulheres, mesmo que atingidos mais diretamente. Isto afeta a todos nós, mesmo que digam que "não sofremos como elas", uma vez que atinge nossos orçamentos e isto é fruto de meu esforço, minha liberdade. Legalizar e defender o aborto como mera questão de "saúde pública" sem questionar as causas desta "epidemia" ou propor um sem número de medidas que poderiam vir antes é que é prova maior de insensibilidade e indiferença perante os outros.




quarta-feira, maio 06, 2015

Provocações: estado mínimo v. anarquismo


Deem uma lida nisto:

"Na verdade, as sociedades com governo mínimo ou inexistente imaginadas pelos sonhadores de esquerda e direita não são fantasias; elas existem de fato no mundo em desenvolvimento contemporâneo. Muitas partes da África subsaariana são o paraíso de um libertário. Toda a região é uma utopia de baixos impostos, com o governo incapaz de arrecadar mais de 10% de tributos comparados com mais de 30% nos Estados Unidos e 50% na Europa. Em vez de liberar o empreendedorismo, esta alíquota baixa confere fundos insuficientes para serviços públicos básicos como saúde, educação e enchimento de buracos. Inexiste a infraestrutura física da qual depende uma economia moderna, como as estradas, os sistemas de justiça e polícia. Na Somália, não existe um governo central forte desde o fim dos anos 1980, pessoas comuns podem possuir não apenas fuzis de assalto, mas também granadas propelidas a foguete, mísseis antiaéreos e tanques. As pessoas são livres para proteger suas famílias e, na verdade, são forçadas a fazê-lo. A Nigéria tem uma indústria de cinema que produz tantos títulos quanto a famosa Bollywood indiana, mas estes precisam gerar um retorno rápido, porque o governo é incapaz de garantir direitos de propriedade intelectual e impedir a pirataria."
 
--FUKUYAMA, Francis. As Origens da Ordem Política. 2013, p. 28. 

E aí, o que acharam?

sexta-feira, novembro 07, 2014

Classificação política e falta de objetividade


Sobre esquerdas e direitas – O Diagrama Scar http://t.co/UeHz8Yonok


A questão de que a chamada direita atual ter sido a esquerda do passado, séculos atrás está correta, assim como a caracterização da evolução subsequente. Neste sentido, o artigo é rico e bastante informativo. Como relatado, lá pelos idos do séc. XIX, ainda existia quem defendia a monarquia contra a democracia. Estes eram os direitistas de então, mas... Veja que ele não cita esta palavra, Democracia, sua análise está totalmente centrada no Capitalismo e esta é uma falha. 

Os anarco-capitalistas -- ancaps --, autoproclamados 'libertários' que estariam na extrema direita para ele seriam a favor da liberdade total, totalmente pelas vias do mercado livre, mas atente que sendo assim, discordam da democracia como meio de regulação. E os comunistas na extrema esquerda também não ligariam para ela, a democracia. Deste ponto de vista, quando o poder individual ou, na oposição, o coletivo descartam a negociação e equilíbrio de aceitar pontos divergentes para manutenção da ordem, de meu ponto de vista, não estão separados, mas próximos. Então, eu trocaria o Diagrama Scar, que ele propõe por outro, uma ferradura. Que aliás, não é ideia minha... Conferir aqui a Teoria da Ferradura (Horseshoe Theory). Os extremos, anarco-capitalistas e comunistas descartam a negociação e se tornam autoritários, um para o indivíduo e outro para o coletivo. Adicionaria aí também o detalhe que a extrema esquerda também sempre foi lembrada pelo movimento anarquista que, antes dos ancaps era tido como essencialmente de esquerda. Estes rótulos enfim, cansam porque estão sujeitos a interpretações diversas -- quem os define, define como lhe convém e fica nítido que o autor, Scar, tem uma queda pelo liberalismo. Nada condenável, aliás, pois também tenho, mas se tem que assumir este dado e não tratá-lo como se fosse objetivo e imune a nossa subjetividade na escolha. Por exemplo, já ouvi um liberal dizer que a social-democracia (se referindo aos nórdicos europeus) "não dá certo"... Patético, tanto "não dá certo" que existe há décadas. E outro erro é tomar o que eles definem como "socialismo" como algo socialista na teoria de Marx. É bem diferente. A propósito, a Nova Zelândia, um país que prima pelas excelentes avaliações em rankings de liberdade econômica foi colonizada por imigrantes trabalhistas e socialistas. Quem diria...

Então mais cuidado e cuidado especialmente ao definirmos o que é algo a partir de um simples nome, pois este pode não significar aquilo que uma velha teoria queira nos dizer. E sim, não sou isento, eu critico o teor do artigo porque discordo que possamos construir uma ordem duradoura sem democracia e senti a ausência do termo no mesmo. 

Mesmo que se diga que a democracia não define um sistema econômico por inteiro (o que é verdade), também é verdade que enfatizar a dicotomia Capitalismo v. Socialismo é por demais pobre... Eu prefiro discutir "Sistema Social" e aí não entra somente o modo como a propriedade é regulada, mas também a cultura e sua organização jurídica. Importante porque há países, regiões, estados (em fortes federações) ou até cidades e condados nos quais se pode ter razoável ou forte liberdade econômica sem paridade na liberdade política (Singapura, p.ex.), embora o contrário seja difícil. 

Enfim, eu endosso o liberalismo e me defino como liberal, mas sem os arroubos e delírios anarco-capitalistas ou anarquistas, cujo ódio e preconceito contra tudo que enseja a palavra estado não conseguiram construir nada melhor do que sociedades clânicas (como a Somália) e chegam ao absurdo de dizer que na monarquia se tinha maior justiça econômica que na democracia. Claro que sim, para o senhor feudal...

Dizem que o espaço é curvo. Talvez o espectro ideológico político também não fuja disto e necessitemos de uma revolução epistemológica na ciência social...


sexta-feira, outubro 10, 2014

Liberais v. Conservadores; Libertários v. Anarcocapitalistas : algumas definições conceituais


Sonho de todo anarcocapitalista: desfrutar da tecnologia que lhe dê liberdade, sem a estrutura social (e jurídica) que proporciona a segurança para tanto (imagem: reddit.com/r/Anarcho_Capitalism/).

Sobre: Liberais, libertários e conservadores, uni-vos
http://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2014/10/1526258-liberais-libertarios-e-conservadores-uni-vos.shtml

"Conservador" e "liberal" muda muito o conceito de acordo com a realidade em que se insere. A confusão é mais de semântica do que ideológica. "Conservatives", nos EUA e no mundo anglófono em geral é o conservador moral, mas também anti-revolucionário e anti-intervencionista. porque as duas coisas estavam ligadas à Liberdade. O conservador brasileiro é que não tem sentido, se trata de alguém que iria valorizar tudo que causa dano às nossas instituições e sociedade, como o fisiologismo, o clientelismo etc. Então falar em conservadorismo aqui no Brasil, tem que vir entre aspas porque confunde as pessoas. Por outro lado também, 'libertarian' nos EUA corresponde ao nosso liberal, o liberal-econômico europeu, porque 'liberal', (lí-beral) nos EUA é o liberal dos costumes, um progressista que quer mudanças sociais rejeitando o que é mais caro aos anti-estatistas porque tais mudanças deveriam vir via legalista, i.e., com força de lei se necessário (caso das Ações Afirmativas, como as cotas raciais, p.ex.). Eu não gosto de chamar os radicais de 'libertários', pois estes somos nós, defensores do estado mínimo ou minarquistas. Os radicais que apoiam até liberação do comércio de órgãos e privatização da polícia (uma bobagem) são ignorantes em relação às externalidades econômicas negativas (danos causados a outrem indiretamente, poluição etc.). Ocorre que estes "anarquistas de direita" (são como os anarquistas do século XIX, só que defendem a propriedade privada) não compartilham das preocupações sociais e morais dos liberais originais, como Adam Smith, eles acham que a economia resolverá todos os problemas, inclusive os de ordem cultural, moral etc. São, na verdade, "anarco-capitalistas" (ancaps) ou "anarco-liberais". Por isso fica um pouco confuso aqui no Brasil e há diferenças gritantes entre muitos deles em temas controversos, como a percepção de alguns paranoides de que há um "governo mundial" em curso e outros que apoiam explicitamente o enfraquecimento dos estados em prol de comércio internacional livre, como eu. O texto é bom, só não faz o reparo de contextualizar o significado dos termos em diferentes países e culturas.

domingo, julho 01, 2012

Elegia ao espaço público / Elegy to the public space


Este é o tipo de assunto que passa desapercebido da maioria de nossas considerações e, sinceramente, a falta de espaço público é um fator que amplifica nossa falta de sociabilidade. Estranhamente, nossos estatistas de plantão não atentam para isto como um grave problema. Para dizer a verdade, nunca os vi considerando isto como um problema. Já, os liberais fundamentalistas, leia-se “libertários” em seu mito do “Homem Econômico Racional”, como se tudo fosse orientado pelo objetivo do lucro, não percebem que um motor capitalista competitivo depende de uma sociedade minimamente estável e esta estabilidade não se dá apenas por uma maior renda média.

segunda-feira, fevereiro 27, 2012

Liberalismo vs. Libertarianismo

Porque eu apoio o Partido Liber, embora não acredite no anarcocapitalismo? Por razões diferentes do autor do excerto abaixo, porque eu creio no liberalismo enquanto ele no libertarianismo. O comum entre nós é que tem que se passar pelo primeiro:
"Uma crítica interessante ao anarco-capitalismo, que não me lembro de ter sido feita por ninguém, tem a ver com o fato de que a estratégia política para se eliminar o Estado conta unicamente com a persuasão racional do público. Nenhum libertário advoga a revolução violenta. Acontece que essa premissa também fundamenta o programa do liberalismo ortodoxo. É impossível constituir e manter uma sociedade sem Estado, sem o apoio da opinião pública, da mesma forma que é impossível atingir e preservar uma sociedade na qual o Estado seja reduzido ao mínimo necessário dos liberais clássicos (Segurança e Justiça) sem o apoio da opinião pública. Então é mais fácil chegar e ficar no liberalismo clássico, pois o anarco-capitalismo causa muita estranheza e escândalo. Quanto a mim, prefiro mirar no libertário nem que seja para só acertar no liberal clássico."
-link original, porém quebrado: http://www.midiasemmascara.com.br/artigo.php?sid=3543

quarta-feira, janeiro 25, 2012

Libertarianismo, o falso liberalismo

Um imbecil 'libertário' me disse:
Se oferta criasse demanda, qualquer um poderia ser empreendedor. Bastava ofertar qualquer coisa que magicamente apareceria alguém pra comprar. Se usarmos a lógica até o fim, dá pra provar que se a oferta cria demanda, então o empreendedor explora o empregado. 

É justamente o contrário, o empreendedor é importante porque ele tem que DESCOBRIR qual é a demanda, apostar nisso e ainda organizar a produção da maneira mais eficiente possivel. Por isso nao é qualquer um que consegue ser empreendedor.

Bens imateriais, como idéias ou sentimentos, são sempre inexauríveis. Ar ou agua salgada um dia ainda podem se tornar exauríveis. Todo bem físico é exaurível, portanto pode-se tornar propriedade privada se virar umitem escasso.
A verdade é que qualquer um pode ser empreendedor. Poder pode, mas se alcançar, são outros 500. O que diferencia as pessoas não é o direito, mas a vontade e teimosia. O preconceito básico de que a demanda cria oferta tão somente é o que nos impediria de apresentar novidades e pensar assim, logicamente, nos faz crer que o único modo de colocar novidades na prateleira é através de um planejamento central, seguro o suficiente para nos garantir o retorno. Ora, mercado é risco e este risco compõe a premissa que leva a mudanças tecnológicas. "Descobrir qual é a demanda" é tão obtuso porque parte do preconceito implícito de que os seres humanos têm um escopo limitado de necessidades. Vejamos a culinária, para que tanto se, de acordo com a obtusa ideia de que a demanda, tão somente cria a oferta bastaria a nós para manutenção de nosso metabolismo uma dieta balanceada de uma ração similar a dos chimpanzés da NASA, absolutamente saudável, mas sem a magia que faz com que pratos novos sejam criados? 

Agora, burrice tem limite, ar e água não são exauríveis. Este pessoal não tem a mínima vergonha de dizer estultícies como estas?! Pode-se sim arguir que a limpeza deles tem um custo, mas o que não é o mesmo que alertar seu esgotamento ou extinção. E de acordo com este exemplo, tosco, o alerta de grupos ambientalistas-melancia* faz todo o sentido. Não, eles estão errados, o problema não é a quantidade, mas a qualidade do que nos interessa e queremos. O que sustenta o meio ambiente em equilíbrio (dinâmico, não nos esqueçamos) é o salto tecnológico. Não tem a menor chance de  se obter uma fundamentação teórica legítima de acordo com o libertarianismo a ideia de que só bens exauríveis possam se tornar propriedade privada. Do jeito que falam, o libertarianismo é tão anarquista que chega ao ponto de se lixar para a propriedade privada, pedra fundamental de nossa sociedade.

_____________________
*Verdes por fora, vermelhos por dentro, isto é, falsos ambientalistas que são, no fundo, velhos ideais socialistas com nova roupagem, pretensamente ecológica.

segunda-feira, janeiro 09, 2012

domingo, janeiro 08, 2012

Atalhos gramscistas


Por isso mesmo, faz-se mister compreender, por exemplo, que não há contradição alguma se um libertário ingressa no serviço público com o fito de lutar por dentro da máquina estatal para o seu fim. Segundo a definição de Gramsci, este estaria agindo como um verdadeiro intelectual em prol da causa revolucionária, pois se utilizando da consciência de classe (no caso, a libertária), atuaria para cooptar 
mais pessoas para esta luta, alertando-as para a real natureza do sistema em que vivem. Notem que assim, o papel de qualquer libertário dentro de uma sociedade estatal deve ser o de agir como um verdadeiro anti-intelectual (termo cunhado pelo filósofo Hoppe em um dos seus artigos), derrubando os argumentos e a ideologia estatista “por dentro” do sistema, colocando-a em seu lugar os fundamentos da filosofia libertária. Essa deve ser a natureza da contra-ideologia libertária.
Gramsci e o Libertarianismo

O que está ausente neste libelo é a (a) democracia e a (b) verdade. Gramsci se baseava na imposição cultural do marxismo através da ideologia, o que não é um debate aberto sincero e honesto em busca da verdade que pode ser atingido através do fórum democrático. Libertários buscando esta forma de proceder, irão se tornar, gradativamente, iguais aos que criticam na estrutura estatal. Não tem jeito, o caminho é democrático e isto abarca setor público e privado que podem e devem ter suas representações em diversas instâncias, conselhos que reúnam seus representantes. Esta tática de espelho de criar anti-intelectuais infiltrados dentro de uma estrutura inimiga só irá levar a participar de mais jogos de poder e não há como não se contaminar. 

Os libertários parecem estar buscando um caminho fácil para se impor, indo direto à cúpula do poder, mas isto não sedimentará suas bases de partido, que tanto precisam para terem o necessário feedback de suas ideias, programas e ações. No nascedouro já se vê o germe do fracasso através do erro conceitual. O óbvio só não vai ser compreendido se viseiras intelectuais de um autor comprometido com a mentira e manipulação guiarem os militantes deste novo partido.

terça-feira, agosto 23, 2011

Além do simplismo de mercado


Dica para aqueles que estão cansados de simplificações a partir da lógica de mercado para entender toda sociedade:
(...)
A segunda razão é que a atenção à diferença pode fazer com que os liberais parem de tentar invocar o autointeresse tanto como “eficiente” quanto “moral” em todas as situações. O liberalismo não requer ação por puro autointeresse em uma família ou em uma empresa, e não há nada iliberal em se comportar altruisticamente e em se preocupar com o todo de uma organização. O comportamento autointeressado em ordens íntimas é rude e frequentemente imaturo, e tentar racionalizá-lo através de uma filosofia política faz com que o indivíduo pareça narcisista e bitolado. A compreensão da distinção hayekiana entre ordens e organizações pode ajudar os liberais a evitarem tanto as más teorias sociais quanto o mau comportamento social.
Nem tudo é um mercado | OrdemLivre.org
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