"Interrogo-me
ainda, perplexo, sobre a razão pela qual os que de fato creem em liberdade
neste país não só permitiram que a esquerda se apropriasse desse termo quase
insubstituível, mas chegaram a colaborar nessa manobra, passando a usá-lo em
sentido pejorativo. Isso é lamentável sobretudo porque daí resultou a tendência
de muitos verdadeiros liberais a se autodenominarem conservadores. É sem dúvida
verdade que, na luta contra os adeptos do estado todo-poderoso, o verdadeiro
liberal deve às vezes fazer causa comum com os conservadores. Em certas circunstâncias,
como na Inglaterra de hoje, ser-lhe-ia difícil encontrar outro meio de
trabalhar efetivamente pelos seus ideais. Mas o verdadeiro liberalismo
distingue-se do conservantismo e é perigoso confundi-los. Embora elemento
necessário em toda sociedade estável, o conservantismo não constitui, contudo,
um programa social; em suas tendências paternalistas,nacionalistas, de adoração
ao poder, ele com frequência se revela mais próximo do socialismo que do
verdadeiro liberalismo; e, com suas propensões tradicionalistas,
anti-intelectuais e frequentemente místicas, ele nunca, a não ser em curtos
períodos de desilusão, desperta simpatia nos jovens e em todos os demais que
julgam desejáveis algumas mudanças para que este mundo se torne melhor. Por sua
própria natureza, um movimento conservador tende a defender os privilégios já
instituídos e a apoiar-se no poder governamental para protegê-los. A essência
da posição liberal, pelo contrário, está na negação de todo privilégio, se este
é entendido em seu sentido próprio e original, de direitos que o estado concede
e garante a alguns, e que não são acessíveis em iguais condições a outros."
O Caminho da Servidão, F.A. Hayek